Relato Baia de Hanamenu:
Baia de Hanamenu, Hiva-Ao
Posição 09°45'926S 139°08'390W
Junto com o Gabian, resolvemos ir visitar a Baia de Hanamenu em Hiva-Oa dita ter uma cachoeira com água potável. Essa baia fica a umas duas horas velejando de onde estávamos em Tahuata. Quero encher umas garrafas com água potável não dessalinizada, pois tenho sentido o gosto da água dessalinizada e acabo bebendo menos água, o que não é muito bom.
No dia 24 de Julho as 10hs saímos para Hanamenu e foi uma ótima oportunidade de testar o guincho. Tudo funcionando perfeitamente. Depois de uma velejada tranqüila, chegamos a Hanamenu. Logo na entrada tem um morro em formato de monumento esculpido em pedra pelos tempos. Na baia já estavam alguns conhecidos nossos, incluindo o Marcus do Marionete, os suecos, e dois franceses que já conhecíamos de Atuona. Ancoramos entre o Marionete e o barco de alumínio dos franceses, logo atrás do Gabian. Usei quarenta metros de corrente em seis metros de água. Depois de observar o barco por uns minutos, resolvi recolher um pouco da corrente, pois os outros barcos à minha volta estavam com menos corrente na água.
Preparei o botinho e fui com a Lilian para terra. Havia um riozinho que saia pela direita da praia e lá parecia ter menos ondas, então fomos para lá. Lá chegando, carregamos o botinho para cima da praia e entramos a pé pelo rio, mas não por muito tempo... pois fomos atacados pelos borrachudos pólvora, maruim, chitras, nonos, tse-tsé ou o que quer que sejam chamados. Impossível ficar por lá. Corremos de volta para o bote, voltamos ele para a água e saímos rapidinho, depois de muitas picadas. Fomos um pouco contra o vento para tirar a nuvem de mosquitos de cima da gente e não chegar ao barco com aquilo. Paramos no Gabian para uma visita e por lá ficamos até o anoitecer.
No dia seguinte, fomos juntos com o Etienne e a Chantal conhecer a tal cachoeira de água potável e explorar um pouco o lugar. A cachoeira praticamente sai da encosta da montanha, mas com água em abundancia, e empoça em uma piscina natural funda o suficiente para um banho de imersão. Bebemos um pouco de água, uma delicia, e fomos caminhar para dentro da mata, onde ouvimos dizer que existem porcos, cavalos e cabras selvagens. Logo encontramos os cavalos, ou melhor, eles nos encontraram, pois me ouviram abrir côcos com o facão e parecem adorar a carne de côco, pois vieram direto para mim e praticamente tomaram o côco da minha mão. Era uma égua com cara e jeito de brava, com um potrinho novo muito arisco. Eventualmente eles foram embora enquanto apreciávamos as ruínas de alguma civilização antiga que por lá morou um dia. Reconhecemos uma pedra que parecia um altar de sacrifícios e muitas construções de pedras amontoadas. Continuamos nossa caminhada mata adentro e demos em um rio, que seguimos por um tempo, e de onde saiam varias picadas que pelos rastros reconheci como de animais locais, pois tinham marcas de cavalos, cabras e porcos, além de marcas de galinhas que por aqui viraram selvagens. Todas as ilhas tem muitas galinhas selvagens, e penso que um espingarda de pressão proporcionaria ótimas refeições...
Depois de caminharmos uma boa hora, demos com dois caçadores que retornavam da caçada aos bodes selvagens, mas sem bode. Conversamos com eles um pouco e a Chantal perguntou qual o caminho que levava ao alto do morro que dava para a ponta da baia, pois todos queriam fotos lá de cima. Um dos caçadores muito amigavelmente se disponibilizou para mostrar-nos o caminho, e o seguimos pela mata. Um pouco à frente demos em uma armadilha que consistia em uma caixa construída de troncos, como a nossa arapuca, só que bem mais pesada, com um gatilho que quando tocado pelo porco que lá entrava para comer os côcos que eles punham de isca, derrubava a caixa em cima do porco. Quando os caçadores voltavam para checar as armadilhas, se elas tinham porco, eles o matavam com um tiro de espingarda. Os tripulantes do Marionete nos contaram que eles haviam comido porco junto com os caçadores. Eles contaram também que eles haviam passado um arrastão pequeno na praia e que pegaram alguns caçonetes e os caçadores prepararam os peixes também. Isso tinha sido uma festança para eles, pois, com pouco dinheiro, fazia tempo que não comiam em quantidade.
Depois de caminhar por umas trilhas que ficavam cada vez mais densas, resolvemos que não queríamos mais ir ao topo, e voltamos para um banho refrescante na piscina natural. Que água deliciosa! Além de fria, era mesmo gostosa de beber. Enchi uns doze galões de cinco litros de água potável e levei para o barco. Enquanto enchia os galões, os caçadores preparavam uma comida e fiquei observando como faziam. Prepararam uma fogueira e em uma panela dessas queimadas pelo uso em fogo direto, puseram caranguejos, cebola e não sei mais o que. Depois ralaram uns quatro côcos e espremeram o leite, usando o bagaço do côco para espremer o côco ralado e extrair o leite de côco. Puseram o leite dentro da panela com todo o resto que lá já estava e levaram ao fogo. Fiquei tentado de me convidar para o almoço, e frustrado por não dominar o francês para poder conversar com eles sobre suas aventuras.
Retornamos para os barcos para almoçar e descansar, e partimos de volta para Tahuata depois do almoço. Não vimos o vento até chegar na entrada do canal entre Hiva-Oa e Tahuata, e aí vimos que o vento estava acima dos trinta nós. Saímos com riso dois, tirei um riso enquanto estávamos atrás de Hiva-Oa, e voltei para riso dois quando vi a marca do vento na água na nossa frente. Risei a genoa a um terço, e mesmo assim, era muita vela para os trinta e mais nós que entraram. Atravessamos o canal assim, mas estava perdendo altura para a área de Tahuata que queríamos ir, então tirei genoa e liguei motor para ajudar a empurrar o barco para a aldeia de Hapatoni. Apanhamos um bom bocado para chegar na aldeia, mas lá chegando encontramos um bom lugar para jogar ancoras e ancoramos perto do Gabian que lá já estava.
Fomos ao Gabian para uns drinks e levamos uma sopa Nuttry para usar como aperitivo. Combinamos de regular o estaiamento do Matajusi no dia seguinte pela manha e depois ir para a aldeia de Hapatoni.
No dia seguinte pela manha, chegou o Etienne como combinado para me ajudar a ajustar o estaiamento, pois a genoa ainda estava um pouco solta, e o mastro estava muito inclinado para trás, o que provoca o barco a ir para a orça (contra vento) em qualquer rajada de vento, ficando difícil de manter o barco estável nessas condições.
Afrouxamos os brandais e o estai de popa, caçamos o mastro para a frente com as duas adriças de balão, e assim conseguimos desmontar a base do enrolador e tiramos mais um centímetro do ajuste de baixo do enrolador. Eu já havia ajustado um centímetro em San Cristobal, Galapagos, mas a genoa continuava um poço mole. Feito isso, regulamos de novo os brandais e o estai de popa, e o resultado parece bom pois o mastro não tem mais aquela curva acentuada para trás. Vamos testar no vento e ver se precisamos de mais ajustes.
Enquanto estava trabalhando no ajuste do estaiamento, uma coisa bizarra aconteceu. Um inseto voador não identificado, talvez uma mosca, ou uma vespa, deu uma trombada, que agora acho de proposital, no meu olho esquerdo. Na hora senti algo no meu olho e corri para a Lilian, que enxerga muito bem de perto, para ela tirar. Ela tirou, mas continuei sentindo algo me arranhando dentro dos olhos. Terminando o ajuste do estaiamento fomos conhecer a aldeia, e uma vez lá, meu olho começou a incomodar cada vez mais. Nessa altura, estávamos na casa de uns garotos marquesans, que nos convidaram para comer um peixe marquesan que eles haviam preparado. Tentamos o peixe, e era difícil segurar a vontade de vomitar, mas escondemos e fingimos que estava bom, mas que havíamos acabado de almoçar e estávamos sem fome... Para demonstrar como eles preparavam o peixe, um dos garotos foi dentro da casa e trouxe um frasco com pernas de lagosta apodrecendo dentro de uma água morna. Esse era o tempero do peixe! Hora de sair de fininho e ir cuspir e achar uma água para lavar a boca... Mas não antes da Lilian encontrar algo se mexendo dentro do meu olho, que ela tirou com a unha... Parecia que a coisa andava debaixo da pele da pálpebra... Hum! Hora de voltar para o barco correndo...
Chegando ao barco, peguei uma lupa e uma luz forte e pedi para a Lilian ver se tinha mais daquela coisa se mexendo no meu olho... e tinha! Mais oito naquela noite e mais no dia seguinte! O diabo do inseto plantou os ovos dele no meu olho! E eles estavam nascendo e se transformando em vermes brancos com a cabeça preta, que andavam, ou melhor, corriam dentro do olho, debaixo das pálpebras, e se agarravam com unhas e dentes e sei mais o que, e eram quase que impossíveis de saírem dali! Tirei foto macro de um deles e quero pedir aos botânicos que tiverem lendo meu relato, que identifiquem esse inseto que pratica esse ataque a olhos, alvo redondo de fácil identificação e com ambiente alcalino, aparentemente próprio para chocar seus ovos e o que fazem outras criaturas que não tem lupas e Lilian com olhos de águia para tirar as praguinhas do olho!
Enchi o olho de antibiótico e fomos dormir, mas com a sensação de que as coisas ainda estavam por lá... Acordamos com despertador a cada três horas para lavar os olhos, por mais antibiótico e ver se tinham mais vermes. Durante a noite não achamos nenhum, mas de manha, senti claramente o passeio vermelogico dentro do meu olho e lá foi Lilian, lupa, lâmpada forte, cotonete com lacrima-plus de novo para a caça aos vermes. Ela encontrou mais um, mas muito pequeno, não sabe se conseguiu tirar.
Bom, vou conectar para ver se meu irmão recebeu meu pedido de help mandado na noite passada com idéias de como matar essa praguinhas e aproveito e posto esse relato. No próximo, conto como ficou a estória dos vermes no olho...
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