Hiva-Oa
Baia de Tahauku, Atuona, Ilha de Hiva-Oa, Marquesas:
Chegamos praticamente junto com o Green Coral do Peter e Rose, e atrás de nós vinha o Ascalia do Cyriaque e Isabel. O DuFre do Galapagos que já estava por lá ajudou a todos a lançar ancoras de popa para deixar os barcos alinhados com a ondulação dentro da baia e usando menos espaço, assim cabia todo mundo dentro. Com cinco metros de profundidade, usei minha ancora Bruce de vinte kilos na proa, com trinta e cinco metros de corrente e a minha fortress sem corrente, com uns vinte metros de cabo de dezesseis milímetros na popa. Na Bahia já estava o Yhogan que havíamos conhecido em Fatu-Hiva.
O primeiro dia é sempre para organizar o barco, só depois disso começamos as excursões pela cidade e outros sítios da ilha. A cidade fica a uns quatro kilometros caminhando, e os locais não se oferecem para ajudar com caronas, mesmo dirigindo sozinhos em carros grandes como a Hilux, o que mais tem por aqui. Tentamos pedir carona, mas não deu melhor resultado. De repente parou uma pequena pickup e era o Dufre, que haviam emprestado o carro do Eric Le Lyonnais, o amigo dele para quem minha staff em SP mandou meus remédios que haviam acabado, e ele nos levou até perto do centro. Fizemos nossa primeira excursão e exploração do local, e achamos vários lugares para provisionar o barco. Compramos algumas coisas, e com dois sacos grandes, nos preparávamos para caminhar de volta, quando um francês que estava no supermercado se ofereceu para nos dar uma carona. Aceitamos de pronto, e soubemos que ele era uma artista local que tinha um atelier do outro lado da ilha. Ficamos de visitá-lo se fossemos por aquele lado.
Encontramos queijo emental muito bom, e relativamente barato. Compramos muito, pois esse queijo não me faz mal porque não tem lactose. Tinham muitos chocolates com cara de bom, mas abrimos cinco e todos estavam com lagartas grandes dentro. Desistimos do chocolate!
Ficamos dois dias assim, caminhando ou pegando carona para a cidade, pois era comemoração da independência da França (Dia da Bastilha) e tinham comemorações locais com danças, competições, bandas, entre outras, então foi uma boa oportunidade para ver um pouco da cultura local. Não havíamos trocado dólar por moeda local, e as tendas de comida regional na festa não aceitavam dólar, então foi aquela de ir ao parque ver as crianças comer pipoca. Ficamos só na vontade. No dia seguinte, a mesma coisa. Por sorte, encontramos com o Peter e a Rose que nos ofereceram um sanduíche de pão baguete com salame, presunto e queijo emental, que eles também haviam comprado.
Depois do feriado da Bastilha, fomos regularizar nossa estadia nas Marquesas, pois estávamos ilegais desde nossa chegada em Fatu-Hiva. Como soubemos pelos amigos franceses que a policia já havia retornado para Papeete, pois já estávamos em Julho, não nos incomodamos em ficar uns dias, ou semanas, sem registro de entrada nas Marquesas. Havíamos hasteado a bandeira francesa que mandamos fazer em Galapagos, e não hasteamos a de quarentena (amarela). Ninguém perguntou ou falou nada, e uma meia parte dos barcos que chegam por essas épocas, ficam ilegais até chegarem ao Tahiti.
No dia quatorze chegou o Gabian, o catamaran Outmer 55 dos nossos amigos Ethiene e Shantal, já conhecidos do Panamá, e aqueles que haviam nos visto e chamado do mirante da eclusa de Mirafiores. Eles fizeram a travessia em apenas doze dias, com media de quase 10 nós por hora! Eles ficaram surpresos de nos ver, e nós de vê-los também, pois na última vez que falamos, nós estávamos indo para o Equador, e eles iam ficar pelo Panamá. Fomos fazer-lhes uma visita e acabamos combinando de sairmos juntos. Eles são ótimos e topam todas. Desde programas mais caros, como restaurantes mais requintados ou alugar um carro, até programas de índio como andar no meio do mato. Fomos juntos para o final da festa da Bastilha, e acabamos no único restaurante aberto de Atuona. Eles comeram pizza, a Lilian comeu pato ao molho de mel, e eu comi um contra-filé na brasa que estava delicioso! Fazia já algum tempo que eu não comia carne, então matei minha vontade. Acabei ajudando a Lilian com o pato, que ela não gostou muito e ela comeu um pouco da pizza da Shantal. Na volta, o dono do restaurante nos deu uma carona.
No dia quinze fomos a pé com o Ethiene e a Shantal registrar nossa chegada às Marquesas, e, conforme haviam nos dito, nos pediram o Bond, um depósito de US$2.700 dólares para cobrir uma passagem de volta para o Brasil para cada um de nós dois, um sistema burocrático e antiquado, que sugiro seja implementado para todo o Francês que chegue ao Brasil de barco, assim um dia eles acordam e tiram essa burocracia absurda. Eles nem aceitam o registro do barco até você ir ao banco e pagar esse absurdo. Você pode pagar de várias formas, uma sendo em dinheiro, somente dólar, euro ou francos franceses, e outra sendo em cartão de crédito. Prefiro pagar em dinheiro, mas quando eles me devolverem, quando estiver saindo da Polinésia Francesa, eles me devolvem em francos polinésios, e ai eu tenho que converter de volta para dólar, e eles me cobram a comissão da conversão, total absurdo! Não é a toa que muitos barcos ficam ilegais por aqui.
No dia dezesseis fomos com o Cyriaque e a Isabel do Ascalia de carona com um amigo deles, o Françoise, e mais seus dois filhos pequenos, para um sitio arqueológico chamado Ta'a Oa a uns sete quilômetros ao sul da ilha. É uma experiência interessante a visita a esses sítios, pois consigo sentir no ar as execuções e sacrifícios que aconteceram por ali. Procurei por vestígios e achei pedras que eram usadas para afiar as lanças e machados, além de algumas esculturas que não entendo o motivo. O sitio não é muito bem cuidado, tipo o forte do outro lado de Bertioga, mas pelo menos tem um quadro com explicações do que era aquilo. Achei uns côcos verdes e fiz um furo para bebermos a água, e depois quebrei em uma pedra cortante para extrair a polpa, que dividi com todos. No meio da mata achamos também uma frutinha amarela caída de uma árvore grande, que desconheço, mas o Françoise disse ser boa para comer. Experimentamos e de fato era bem saborosa, mas não sei o nome ou origem. Demos em um rio e todos aproveitaram para se lavar. Os mosquitos eram infernais, mas o repelente que comprei em Curaçao amenizou bem o problema.
Retornamos ao barco e usamos o resto do dia para algumas manutenções. A Lilian lavando roupas e limpando o barco, e eu revisando a instalação do Duo-Gen que não está carregando como devia. Encontrei um fio meio solto e isso pode ser a causa do problema. Apertei todas as conexões, mas tenho que esperar pela próxima travessia para testar de novo. Outro dia tive que refazer todas as conexões do antena tuner do radio SSB, pois estavam todas azinabradas. Fechei todas com Corrosion X dentro e fita vulcânica por fora assim elas devem resistir por mais tempo. O rádio melhorou muito.
À noite, convidamos o Peter e a Rose do Green Coral e o Cyriaque e a Isabel do Ascalia para um jantar no Matajusi. Peixe frito e macarrão de arroz, ao molho de alho e óleo foi o menu, com brigadeiro para sobremesa. A Lilian ensinou a Rose e a Isabel como se faz brigadeiro. Ficamos até a uma da manhã no papo, e no dia seguinte tivemos que levantar cedo, pois havíamos combinado de rachar um carro alugado com o Ethiene e a Shantal do Gabian e irmos até outro sitio arqueológico de Hiva-Oa do outro lado da ilha.
No dia seguinte acordamos umas seis e meia para preparar tudo para irmos para o outro lado da ilha, e na pressa de sair, a Lilian esqueceu uma panela de água quente no fogo... ela só lembrou disso quando já estávamos voltando e o Ethiene que estava dirigindo veio a ritmo de Rally Dakar de volta para Atuona. Chegamos e fomos rapidinho verificar o barco, que ainda estava lá no porto de Atuona e não parecia fazer fumaça, mas de fato, o fogo estava ligado e a panela junto com o barco todo, estavam muito quentes. Oito horas de fogo alto na panela, panela boa, fogão bom, gás bom e tudo funcionou como devia. Fora o aquecimento geral, sem outros problemas, mas, podia ter tido final diferente, resultado, vamos tomar mais cuidado com o fogão...
O passeio foi lindo! Atravessamos a ilha pelos caminhos de terra que ziguezagueiam de baixo para cima e de volta para baixo do outro lado. No caminho, colhemos bananas e mamões. O sitio arqueológico de Me'ae Iipona tem vários deuses Tiki esculpidos em pedra, e pelo que entendi da leitura da descrição do site, por lá moravam uns Lords Marquesanos, que capturaram um rei de outra área de Hiva-Oa e o sacrificaram nesse sitio. Os seguidores desse rei sacrificado vieram e dizimaram a população desse lugar, e transformaram o lugar em um tipo de demonstração do poder deles.
No caminho, passamos por várias baias, mas todas pareciam ter ondas desconfortáveis para virmos de barco, além disso, não achamos aquela água azul que esperávamos. Paramos em uma delas para fazer um pick-nick com os baguetes, queijos e patês que compramos na saída. Não fomos ao Oeste da ilha que tem uma baia que pode ser mais calma para os veleiros.
Depois da volta em rally para Atuona, fomos de novo para o sitio arqueológico de Ta'ae Oa, pois o Ethiene e a Shantal ainda não conheciam. Por lá, coletei uma fruta pão, alguns limões e cocos verdes, para bebermos a água.
Amanhã devemos estar indo para Tahuata, uma ilha ao sul de Hiva-Oa, e lá não tem internet. Agora só nas Tuamutus, se tiver, senão, no Tahiti, então melhor eu postar esse relato hoje enquanto tenho internet.
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