domingo, dezembro 26, 2010

Em SP, Natal com familia...
















Com a matriarca dos Passos Ramos ao meio, a maior parte da familia reunida no Natal da familia de 2010.
Barco amarrado no deck da marina em Johor Bahru, e ja tenho lista de itens esquecidos para passar para care-taker que ficou encarregado do barco.

sábado, dezembro 18, 2010

Feliz Natal!!!

Desejamos a todos os nossos leitores um Feliz Natal. Estamos finalizando a preparação do barco para ficar por um bom tempo na marina. Depois posto a lista de manutenções que fizemos, porque agora o tempo esta curto, pois voaremos para São Paulo no dia 22 próximo, chegando no mesmo dia. Vou continuar com updates no blog, mas agora, fora do barco, com menos freqüência, talvez uma vez por mês, com informações sobre planos de viagem, experiências no mar e em terra, estado do barco na Malásia, e o que mais achar interessante de postar. Espero que continuem gostando de ler e acompanhar nossas aventuras.

domingo, dezembro 05, 2010

Fotos da Indonesia postadas no blog:

No dia seguinte de ancoramos na Malásia pela primeira vez, acordamos cedo com alguém chamando, querendo vender peixe. Quando saí, eles falaram, Bom Dia, em inglês, ao que eu respondi, boa noite, pois eu ainda estava dormindo, e eles se foram, mas, acordado já estava mesmo, então comecei a preparar o barco para continuar com nossa travessia para Johor Bahru, dando a volta completa em Singapura, travessia sem incidentes, logo atracando no píer da marina de Danga Bay. Os QOVOP já estavam por lá e nos ajudaram a atracar o barco. Conforme havia previsto, eles haviam passado a gente enquanto estávamos à deriva na frente de Merapas, e não nos encontrando, procuraram nas duas próximas ancoragens combinadas. Não nos encontrando lá também, aproveitaram o vento que era favorável e seguiram direto para a marina em Johor Bahru na Malásia.
Na segunda fomos pela manha, eu e o Manu, registrar nossa entrada na marina, e a tarde, aos escritórios das autoridades locais para legalizar nossa entrada no país. A marina disponibilizou um carro com motorista para levar-nos aos lugares necessários para os registros do barco e emigração. Recebemos visa de três meses, mas podemos sair para Singapura e voltar no mesmo dia, podendo ficar por mais três meses, então, é tipo que permanência indefinida enquanto quisermos ficar por aqui. Nos custou nada a papelada oficial, alias, não nos custou nada também os serviços de motorista e não vai nos custar nada a nossa permanência na marina! O único custo que vamos ter será o de serviços de tomar conta do barco que ficará sem ninguém a bordo, que deve ficar na ordem de quarenta dólares por mês.
Nesse ponto de custo a Malásia tem sido um paraíso! Fomos a um Shopping Center no centro de Johor, começando a conhecer os preços das coisas por aqui, pois no dia seguinte iríamos para Singapura de ônibus para poder comparar preços, e na volta do shopping não conseguimos um ônibus, então perguntamos para um malásio chinês que estava no estacionamento com uma van, e ele se ofereceu de levar alguns do grupo até a marina, pois todos não cabíamos num único taxi, assim acabamos conhecendo o Randy, que na chegada da marina ainda pagou pelo taxi! Ficamos surpresos e convidamos o Randy para vir conhecer o barco. Alguns dias depois ele apareceu com sua esposa, a Lee, e ficamos bons amigos. Eles tem vindo nos buscar para conhecer vários lugares, como uma cachoeira, um templo budista, uma feira de alimentos locais, e em troca, os convidei para um polvo no Matajusi depois que os garotos do QOVOP se forem. Eles devem partir amanha, e não sei quando nos veremos de novo. Vamos sentir saudades! Eles foram uma das melhores companhias que tivemos até agora.
Preciso comprar alguns equipamentos para o barco, o exaustor do motor que pifou, um filtro Raccor, uma extensão de DC para o GPS da Garmin, mais alguns filtros Yanmar para deixar nas reservas, um rotor da bomba d'água, pois vou trocar e é meu ultimo, enfim, deixar tudo prontinho para partir de novo, quando for a hora, então fomos para Singapura uma vez e iremos outras, procurando pelas partes que preciso, mas nossa primeira tentativa não deu certo. Não encontramos nada do que estávamos procurando. Também, fomos meio que no escuro, sem pesquisas nem planejamento nenhum, achando que era só perguntar e achar, mas não deu certo, então estamos preparando melhor nossa próxima ida, com endereços e confirmações por email das partes que preciso. Mas já deu para perceber que a Malásia é mais em conta que Singapura. Então temos dado preferência para compras na Malásia, mas peças especificas relacionadas ao barco são difíceis de se encontrar em Johor Bahru, então temos que encontrar e comprar em Singapura, nesse ponto, um paraíso para compras.
Já estou preparando o barco para ficar parado um bom tempo além de fazendo algumas manutenções. Uma delas foi trocar o fio da antena de VHF do mastro, e sem surpresas, o fio além de ser muito fino para a distância, ou seja, o estaleiro usou o fio errado, a conexão ainda estava com duas espirais do fio em volta de outros fios, além de estar cortada e emendada a mão, sem solda, somente enrolados os fios e envoltos por fita isolante comum. Hoje já não considero isso como um grande problema, quando encontro algo errado, troco e pronto. No final, sei muito mais hoje do que sabia quando comecei a viagem, e muito por conta de tudo que tive que consertar pela falta de responsabilidade e habilidade do estaleiro que montou meu barco. Depois da troca do fio, meu VHF está pegando navios a vinte milhas de distância, onde antes o máximo era até seis milhas. O mais importante para mim é a solidez do casco e do estaiamento do barco, e essas duas áreas foram aprovadas pelas varias situações pelas quais passamos, que deram o melhor aval sobre o barco, continuamos flutuando...
Já retirei e guardei todas as velas, lavei e lubrifiquei o guincho, e a Lilian já fez limpeza de quase todo o barco por dentro e assim vamos trabalhando na lista enorme de coisas a fazer antes de voar para o Brasil. Nossa passagem esta comprada e vamos voar para São Paulo, partindo de Singapura, no final deste mês.

domingo, novembro 28, 2010

Chegamos na Malasia

Esperamos dois dias pela chegada do QOVOP, mas de alguma forma nos desencontramos. Havíamos combinado de nos encontrarmos em uma de três ancoragens escolhidas, caso nós não estivéssemos na primeira eles iriam para a segunda e depois para a terceira. Como havíamos parado umas duas horas em capa, e depois mais doze horas na deriva, depois de esperar por dois dias sem eles chegarem, pensamos que eles já haviam nos passado, chegaram primeiro na ancoragem, e seguiram em frente achando que nós havíamos escolhido a próxima. Tendo ido até a terceira, eles esperaram dois dias e seguiram para a Malásia. Bom, só vamos saber o que aconteceu depois de chegarmos à marina onde combinamos ficar.
A travessia foi tranqüila, se podemos dizer que andar a seis nós no meio de centenas de navios andando entre onze e vinte nós é ser tranqüilo! O AIS ajuda muito, pois conseguimos saber em quanto tempo vamos nos encontrar com qualquer navio, e a que distancia vamos estar, então toma-se providencias para uma ultrapassagem tranqüila. A parte mais difícil foi atravessar o canal de navegação dos navios, pois para chegar a Singapura tem-se que atravessar o trafego de navios vindo de lá na direção Leste ou Sul. Preferi atravessar a noite, e fiquei de olho no AIS e no visual, esperando em velocidade menor até que vi uma brecha entre os navios vindo de Singapura, aí, acelerei tudo e passei no meio. Cheguei a ficar próximo de alguns navios, e conversei no radio com alguns deles, definindo de que lado iríamos passar. A regra geral é Boreste com Boreste (starbord to starbord), mas se essa regra não puder ser seguida por qualquer razão, negocia-se a forma de passagem ou ultrapassagem.
Nosso único quase acidente foi durante a noite, já na costa da Malásia, navegando entre os navios ancorados e a costa, quando estávamos distraídos com o que parecia ser um navio de dois cascos, tipo um catamaran, e não vimos uma bóia amarela sem iluminação. Quando vi, já estávamos em cima. Pulei para desligar o piloto e minha primeira reação foi virar radical para a esquerda, entre a bóia e o navio, mas ai me ocorreu que a bóia podia ser de uma das muitas ancoras do navio catamaran, então guinei tudo para o direita, e passei por fora, mas muito perto! Ufa! Lembrei-me do incidente da bóia na baia de Santos quando estava fazendo a filmagem para o Shop Tour.
Ancoramos em área de ancoragem sem restrições, do lado que a principio pareciam ser os prédios do centro de Singapura, mas acabaram sendo duas plataformas de perfuração do fundo do mar. O lugar foi ideal, pois entre as duas plataformas e a costa havia uma bóia verde, e sem lugar para outro barco ancorar, então dormimos tranqüilos.
Agora estamos tomando nosso café matinal, e logo sairemos para dar a volta toda em Singapura para chegar em Johor Bahru, onde fica nossa marina, talvez ainda hoje. Se anoitecer, jogo ancora em algum outro lugar.
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At 28/11/2010 09:32 (local) our position was 01°19.90'N 104°07.99'E, our course was 080T and our speed was 0.0.
No dia 28/11/2010 as 09:32 horas (local) nossa posição era 01°19.90'N 104°07.99'E, nosso rumo era 080T e nossa velocidade era 0.0.

Veja nossa posição no Googlemaps
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sexta-feira, novembro 26, 2010

Aos proximos visitantes de Karimata...

Deixamos um presente para a próxima geração de visitantes de Karimata, plantamos cinco coqueiros na orla da praia, na entrada leste do riacho da cachoeira. Em alguns anos, esses coqueiros poderão ser identificados de longe, tipo o coqueiro que identifica a praia Oeste de La Blanquilha na Venezuela. Incentivamos o Tomi a plantar mais arvores, pensando no futuro, e também a começar um planejamento para quando da vinda de mais barcos, com a idéia de se criar um tipo de Iate Clube de Karimata, na frente da cachoeira, e de prestar serviços para os barcos que venham visitar a ilha. Sugerimos a venda de peixes, ovos e frangos, vegetais e frutas, lavanderia, água potável, saídas de barco para mergulhos, excursões pelas florestas da ilha, entre outros. Ensinamos ele também a queimar os plásticos que aterram nas praias de Karimata, e começar a incentivar os vizinhos a fazerem o mesmo.
Ficamos somente dois dias na ancoragem de Pejantan. Acho que teria muito mais a ser explorado na ilha, mas temos que seguir viagem, pois já temos passagem marcada de vôo para SP no dia vinte de Dezembro, então temos que chegar logo na marina em Johor Bahru na Malásia, e preparar o barco para dormir por muitos meses.
Saímos cedo junto com o QOVOP de Pejantan, rumo a uma pequena ilha chamada Merapas, no Leste de Bintan, ilha que fica de frente para Singapura, velejando primeiro com um bom vento de popa, depois mudando para um través de boreste, depois uma orça de boreste, virando para vento na cara, comum por essas bandas nessa época do ano, o chamado, Nortwest Monsoon. De novo, optei pela rota mais direta, usando o vento quando dava, e ajudando no motor. Tenho mesmo que acabar com o diesel dos tanques, pois vamos fazer uma boa limpeza neles quando estivermos na marina.
Tivemos algumas situações interessantes nessa passagem, algumas, pela primeira vez. A primeira teve a ver com um navio a noite, que mesmo com o AIS ligado, veio direto em cima da gente. Com o AIS, estou tão acostumado a ver os navios desviando, que deixei para ultimo minuto chamar esse pelo radio. Eu estava dormindo no cockpit e a Lilian fazendo o turno dela, quando ela me acordou e disse que um navio estava chegando muito perto. Olhei e vi as duas luzes, verde e encarnada, ou seja, direto na nossa direção. Peguei o radio e chamei três vezes o navio pelo VHF dezesseis, e já fui logo continuando, perguntando em voz ríspida que tipo de CPA (Ponto de aproximação mais próximo) ele estava me dando! Ele respondeu com voz de sono, Boreste com Boreste (Starbord to Starbord), ou seja, pensou que eu estivesse vindo na direção contraria da dele, não tinha nem visto a gente no AIS dele, mas logo percebi que ele desviou, pois sumiu a luz verde. Ele passou a Oitocentos e Sessenta e Quatro pés do Matajusi, o record de aproximação de um navio ao nosso barco! Estava a doze nós! Anotei os dados do navio e vou procurar a quem pertence, para reportar o incidente. Para registro, o navio era o CEC ACCORD, MMSI 235061302, Call Sign 2ANM3, IMO 9148805, o incidente ocorreu na posição 00.24.593N 106.10.420E, as 3h local do dia 25/11/2010.
Logo em seguida, outro navio vindo em nossa direção, desviou, mas assim que passou a gente, deu uma meia volta e voltou pelo mesmo caminho que havia vindo. Difícil de entender...
Depois disso, a maior tempestade de água pela qual já passamos a bordo, com ventos acima de vinte e cinco nós e água que mais parecia uma cachoeira! O vento virava a cada quinze minutos, então não tinha como ajustar as velas, e com menos de cem metros de visibilidade, então tinha que confiar no AIS e no radar, que em chuva tão intensa, também tem dificuldade em localizar outros alvos. Toquei o barco na mão por umas duas horas, mas cansei de brigar contra o vento, ondas e enxurrada, então resolvi pôr o barco na capa pela segunda vez e ir dormir. Dormi uma hora e meia, a tempestade passou, o mar continuou mexido, e dei continuidade em direção a Merapas, mas briguei contra corrente, ondas e vento, e resolvi passar a noite na capa, ou melhor, simplesmente boiando na deriva, ao invés de tentar ancorar durante a noite e ainda com tempo ruim. Baixei a grande, enrolei trinqueta, recolhi cabos, amarrei timão, liguei luz de popa e luz piscando no alto do mastro, chequei nossa direção, Norte, mar aberto pela frente, com única preocupação os navios, mas eu já estava um pouco fora da rota principal deles. Mesmo assim deixei somente o AIS ligado, e fomos dormir. A Lilian fez vigília de trinta em trinta minutos, e me acordava se tinha alguma coisa preocupante. Dormimos das nove da noite as sete da manha do dia seguinte, com o barco a deriva. Deixei o PC ligado, rodando o Maxsea, e quando chequei nossa deriva durante a noite, vi que havíamos ido para Norte, virando para Oeste, depois para Sul e andamos algumas vinte milhas na deriva. No final, ficamos a duas milhas de um farol que indicava área rasa, que já havíamos passado na tarde do dia anterior.
Pus o barco novamente em movimento, para variar contra vento, corrente e swell, e toquei até Merapas, onde ancoramos em doze metros de profundidade, fundo de areia, com sessenta metros de corrente. Agora no final da tarde, começaram a aparecer barcos de pesca, que vieram ancorar bem do nosso lado. Aparentemente esse é um lugar de ancoragem desses barcos para passar a noite.
Enquanto esperamos o QOVOP chegar, arrumamos o barco, escrevemos, fazemos um pouco de manutenção, enfim, vida a bordo como sempre.
Uma boa novidade que recebi pelo email foi o fechamento do primeiro contrato de serviços na nova unidade de Life Quality da MG, empresa da qual sou o maior acionista e Sócio Diretor, atividade que exerço do próprio barco.
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At 23/11/2010 16:17 (local) our position was 00°06.52'N 107°12.74'E, our course was 284T and our speed was 0.0.
No dia 23/11/2010 as 16:17 horas (local) nossa posição era 00°06.52'N 107°12.74'E, nosso rumo era 284T e nossa velocidade era 0.0.
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segunda-feira, novembro 22, 2010

Cruzamos a linha do Equador pela terceira vez:

Nessa ultima travessia, entre o paraíso desconhecido de Karimata e a Ilha de Pejantan, saímos do Hemisfério Sul e passamos para o Hemisfério Norte, cruzando a linha do Equador pela terceira vez em dois anos.
Dessa vez, chegamos ao próximo ancoradouro depois do QOVOP porque eles saíram dois dias na nossa frente, pois além deles irem mais devagar, nós queríamos aproveitar Karitama ao máximo. Trocamos de ancoragem e ancoramos bem na frente da cachoeira, e curtimos mais dois dias daquele paraíso virgem, só nós dois, com exceção da tardinha e noite, porque convidamos o Tomi e seu primo Bruno para passarem a noite no Matajusi. Lilian preparou um fetucini com molho a bolonhesa, comida rara por essas bandas, que nossos convidados aprovaram, deliciando-se nessa comida do mundo Oeste. No nosso ultimo dia, Lilian lavou muita roupa na água corrente da cachoeira, e eu fiquei fazendo caça submarina por quase metade do dia, conseguindo uma lagosta de bom tamanho, que saboreamos para o almoço, reforçada com o macarrão da noite anterior, sempre com melhor sabor no dia seguinte. Enchi um saco de peixes, com somente quatro peixes de bom tamanho, os quais preparei em filés que congelamos para os dias que não fazemos caça submarina. Simplesmente um dia especial, único, em um lugar especial, único.
Levantamos ancora as seis da manha do dia seguinte, e logo que pus o barco em movimento e levantei a mestra, o motor parou, sem combustível. Primeiro ganhei velocidade abrindo a genoa e pondo o barco no vento, depois fui trocar os tanques. Fique surpreso quando após uma hora, o combustível acabou novamente, uma situação quase que impossível, pois tinham cento e dez litros nele quando enchemos os tanques em Porto Moresby, então preciso verificar o problema e consertar. Possíveis problemas seriam um ou os dois filtros de combustível sujos, mas troquei os dois a menos de cem horas, e para comprovar que esse não era o problema, mudei de novo para o tanque da frente, depois de esvaziar o ultimo galão de diesel de quarenta e cinco litros nele, e o motor funcionou direto por trinta horas, ajudando contra o NorthWest Monsoon, com ventos e corrente contra. Decidi ir em linha direta de uma ilha a outra, sem tentar mudar o rumo para aproveitar melhor o vento, pois o VMG (resultante) do waypont estava melhor dessa forma. Quando o vento ajudava, eu armava a genoa, senão, ia com a trinqueta e a mestra alinhadas no meio do barco. Acredito ganhar um décimo de nó quando armo a trinqueta no meio do barco. Para conseguir isso, uso ela risada a ponto da amura quase encostar no mastro, sem tocar o radar, e caço as duas escôtas para manter a vela no meio, um pouquinho aberta para sota (por onde o vento sai).
Na passagem, encontramos água rocha (azul translucida) e muitos golfinhos, alguns nos acompanhando por um bom tempo. Tenho desenvolvido alguns assobios, parecidos com os barulhos que já ouvi os golfinhos fazendo, e imito esses barulhos, acreditando que os golfinhos permaneçam mais tempo acompanhando o barco, curiosos por esses assobios. Hoje, um desses golfinhos ficou muito tempo nos acompanhando, e fazia tudo para olhar e entender que barulho era aquele, chegando até a nadar de ponta cabeça para ver melhor. Ele saia da água por mais tempo, e me olhava de lado, com um dos olhos. Como seria bom saber falar com eles... mas, enquanto continuamos sem entender um o que o outro diz, parece que os dois lados apreciam a companhia do outro.
Chegamos à ilha combinada como a próxima ancoragem, mas não achei o QOVOP, então dei a volta na ilha inteira, e já estava desistindo quando encontramo-los ancorados do lado Sudoeste da ilha. O Manu mergulhou e veio me indicar onde jogar a ancora para não prender em alguma das muitas cabeças de coral por aqui, e logo estávamos ancorados e comendo um arroz com garopa recém assada em espeto na fogueira da praia, que saboreamos antes de sairmos para mais um mergulho. Eu fui atrás de lagostas, mas não encontrei nenhuma, e o Manu caçou um merote de uns seis quilos, que logo foi preparado em tiras que, depois de temperadas com alho e sal, e enroladas em farinha de mandioca, foram para o forno, saboreadas no nosso jantar comunal no Matajusi, acompanhado da cerveja caseira que os garotos do QOVOP aprenderam a fazer na Nova Zelandia, deliciosa depois de gelada na geladeira do Matajusi.
Vamos passar mais um dia por aqui, e partimos para uma ancoragem no lado sul do canal do Porto de Singapura, aguardando a hora certa para cruzar o canal de acesso do segundo porto mais ocupado do mundo, depois de Hong Kong, indo depois para uma marina do lado da Malásia, que usaremos como nossa base enquanto visitamos Singapura.
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At 23/11/2010 01:34 (local) our position was 00°06.53'N 107°12.73'E, our course was 068T and our speed was 0.2.
No dia 23/11/2010 as 01:34 horas (local) nossa posição era 00°06.53'N 107°12.73'E, nosso rumo era 068T e nossa velocidade era 0.2.
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quinta-feira, novembro 18, 2010

Karimata, um paraiso perdido:

Conforme estimado, chegamos a Karimata por volta das nove da manha, mas sem o sol a pino, ficava difícil localizar os muitos recifes que cercam a ilha. Além disso, as cartas não são precisas e elas estão posicionadas fora do lugar correto. Sem problemas, usei a função de Chart Offset do E80 para posicionar a carta em cima do reflexo do radar, e fui entrando pelos recifes adentro, com a Lilian postada na proa. Ainda muito longe de terra, escuto a Lilian gritar que estávamos já em cima de um recife. Dei maquinas a ré rapidinho, mas chegamos a ficar em cima daquele recife. Sem alternativa melhor, decidi ancorar por ali por perto e esperar o sol do meio dia para tentar mais aproximação de terra. Do barco podíamos ver muitos barcos pesqueiros, alguns de maior porte, ou seja, havia um caminho.
Ancoramos com seis metros de profundidade com ancora Bruce de vinte quilos e quarenta metros de corrente. Entrei para dentro para ajudar a ordenar a cabine depois da travessia desde Gelam, mas não demorou muito e ouvi alguém chamando do lado de fora.
Hey mister?
Sai para ver do que se tratava, e conheci pela primeira vez o Tomi, um pescador nativo de Karimata. Ele perguntou se eu não preferia ancorar dentro da baia, atrás da linha dos recifes, o que logo aceitei. Ele se ofereceu para vir no Matajusi mostrando o caminho, e mesmo assim ainda seguimos seu barco, comandado por outro pescador nativo local.
Ajustei o tracking do E80 para guardar mais detalhes da rota, e fui seguindo o barco do Tomi, enquanto ele ficava na proa ajudando a apontar o caminho com sinais de mão. Em pouco tempo estávamos do lado de dentro dos recifes, ancorados em seis metros de água com quarenta metros de corrente, em águas calmas e ainda estamos no mesmo lugar.
Nossa estadia na ilha tem sido uma seqüência de experiências surpreendentes. Assim que chegamos, Tomi me convidou para conhecer sua casa, de frente para o mar, uma casa simples de madeira, metade em terra e metade em cima do mar. Ele estava voltando do seu trabalho, e trazia um monte de peixes de varias espécies diferentes, e algumas garopetas entre um e dois quilos, que mantinha vivas dentro de um barril de plástico, alimentado com água corrente da bomba de refrigeração do motor.
Ele me apresentou para sua família, pai, mãe e duas irmãs gêmeas, muito bonitas e me convidou para entrar em sua casa para tomarmos um chá com bolo verde, uma família muito simpática, que logo nos adotou e passamos a fazer muitas coisas juntos. Todos os dias passamos pelo menos algum tempo com ele e a família na casa deles, batendo papo e tomando chá com bolo. Convidei as irmãs e uma prima dele para conhecerem o barco e a Lilian, que havia ficado a bordo, e as levei de bote até lá. Elas passaram a tarde conversando, enquanto a Lilian preparava um bolo e alguns brigadeiros e beijinhos, para comemorarmos o aniversário do Manu, que havia completado vinte e oito anos durante nossa ultima travessia.
Ao final do dia, ainda com um pouco de luz, chegou o QOVOP, e logo passei as coordenadas que havia tirado do tracking do barco, com seis waypoints. Não demorou muito para eles estarem ancorados do nosso lado.
Logo levei todos, agora incluindo a Lilian, para conhecer o Tomi e sua família. Depois de muito papo e mais um chá com bolo, combinamos de ir com o Tomi no barco dele no dia seguinte, quando ele fosse pescar, e depois de uma noite bem dormida, estávamos prontos as sete da manha para acompanhá-lo.
Pontualmente as sete da manha, o Tomi passou com seu barco de pesca, motor de um cilindro a diesel, para nos apanhar e fomos eu e os três garotos do QOVOP, junto com nossos equipamentos de mergulho, para acompanhar esse tipo de pescaria que alguns pescadores da ilha fazem, o de apanhar peixes em covos feitos de tela de galinheiro com uma armação de madeira meio mole, mais parecida com um cipó. O covo tem uma abertura na frente, dobrada para cima, e eles o põem de lado, colado na parede do recife, com a boca para a frente, apanhando os peixes que porventura entram dentro do covo, pois eles não usam qualquer tipo de isca para atrair os peixes. Eu acredito que o primeiro peixe entra, por acaso, e outros procuram também entrar, pois vêem o outro lá dentro. Com isso algumas garopinhas também entram, e esse é o peixe que mais interessa, pois eles as apanham vivas, mantém vivas em um barril com água corrente do motor a bordo, e transportam para umas redes em forma de saco que eles amarram em uma armação de madeira próximo às suas casas, depois sendo colhidas pelo "Boss" um chinês que compra todos os peixes vivos que saem da ilha. Os outros peixes eles deixam morrer, e vendem para as pessoas da ilha que salgam peixes para vender. Eles tem um compressor, também impulsionado pelo motor do barco, que alimenta uma mangueira de até trinta metros, adaptada em uma mascara grande que cobre nariz e boca juntos, e usam para mergulhar segurando uma pedra, nadando sem pés de pato ate onde o covo esta, eles seguram o covo com as mãos e dão dois puxões na mangueira, sinal para o ajudante de bordo puxar a mangueira com mergulhador e covo juntos.
Nós demos uns mergulhos por perto para ver como eles trabalham, aproveitando para caçar mais peixes, alguns para nosso consumo, e outros para o Tomi juntar com sua pesca de salga, mas acredito que eles usaram para fazer um "bacar ican di pantai" ou, churrasco de peixe na praia. Aos poucos vamos entendendo uma palavra ou outra da língua Bahasa Indonésia. "Semalat malam", boa noite, "terima kasih" obrigado, "samasama" de nada, "capal turist" barco de turista, entre outras.
A comunicação por aqui é muito difícil, pois só uma minoria entende algum inglês, e só encontramos dois, o Tomi e um primo, que falam alguma coisa, então, nossa reuniões familiares à noite na casa do Tomi são hilárias! Todos nos fazem perguntas, que o Tomi traduz do jeito dele, e nós também satisfazemos nossa curiosidade sobre a ilha e a cultura deles, também traduzidas pelo Tomi, que esta brilhando radiante de felicidade com os novos amigos.
No dia seguinte da pescaria com o Tomi, fomos visitar uma cachoeira que corre pela mata e deságua em uma lagoa na praia a algumas milhas da vila que estamos, lugar ainda totalmente natural, sem caminho por terra, aonde só se chega de barco, e pelo caminho fomos apreciando as pequenas praias e costa rochosa que muito se parece com a Ubatuba ainda quase virgem que conheci na minha infância. Com maré cheia, entramos de bote até onde a água cai na lagoa, que na parte de cima tem água doce e na de baixo, salgada. Aproveitamos muito por lá, tomando duchas de cachoeira, lavando roupas, banhos, nadando, e explorando o lugar, o que chamei um lugar dos Deuses, pela beleza e pureza do lugar. Uma pena termos que voltar de lá antes das duas da tarde, pois fomos convidados para uma galinhada que a mãe do Tomi preparou para a gente.
Voltamos para a casa do Tomi, e passamos pela rotina de lavar nossos pés na entrada da casa, deixando as sandálias do lado de fora. Pisamos com os pés lavados e molhados em uma toalha no chão do lado de dentro e entramos na casa, sentando todos no chão em forma de roda. A galinhada foi servida, um ensopado de galinha em leite de côco e pimenta, arroz cozido em umas caixinhas individuais, feitas de folha de coqueiro na noite anterior, enquanto conversávamos. Eles amarram as caixinhas juntas e cozinham em água, com o arroz dentro. Para servir, pega-se um desses pacotinhos individuais, corta-se no meio com uma faca, e tira-se o arroz de dentro, usando-se as mãos para comer. Molha-se uma pequena porção do arroz no molho, levando à boca, e a galinha, cortada em pedaços pequenos, come-se também com as mãos. Teria sido muito melhor se toda a família tivesse comido junto com a gente, pois eles sentaram a nossa volta e ficaram observando como fazíamos para comer, trocando comentários e risadas falando de algo que não compreendíamos enquanto o Tomi se esforçava para ajudar cada um, mantendo os pratos sempre cheios enquanto comíamos. Logo enchemos a pança, mas evitando comer muito, pois havíamos sido convidados para jogar um vôlei contra o time da aldeia local.
Jogamos ao todo quatro partidas, e saímos todos cansados, e eu, com uns arranhões no pé e joelho de uma escorregada que dei, jogando descalço em quadra cimentada, cheia de areia e pedrinhas.
Ontem passamos o dia mergulhando na frente da ilha, tentando varias áreas de coral diferentes, para conhecer. No final tínhamos uma caranha de uns três quilos e mais um tipo de badejo com dente, mas com as cores da salema, peixe comum na costa brasileira.
Fico pensando na vida, como tem sido boa para mim. Poucos jamais tiveram a oportunidade de curtir o que temos curtido, ver o que temos visto, fazer o que temos feito, e em quanto isso melhorou a qualidade da nossa vida. A propósito, no mês passado, mesmo estando fora do escritório, dei inicio a um novo negócio que tem como objetivo melhorar a qualidade de vida dos nossos clientes. A área a ser explorada é muito extensa, então estamos primeiro focalizando na área de terapia física para melhorar o bem estar pessoal, oferecendo para empresas, serviços que incluem massagens, auriculoterapia, acupuntura, shiatsu, e ginástica laboral para ajudar trabalhadores principalmente em áreas de telemarketing e data-entry, ou outros tipos de atividades que são muito repetitivos, a alongar e relaxar de forma correta.
Nosso objetivo final é ter uma academia que vai incluir, além desses serviços, mais vários tipos de danças e ginásticas, pilates e circo, e no futuro também incluir cabeleireiros e esteticistas, para trabalhar na estima própria, finalizando com a disponibilização de palestras sobre qualidade de vida, incluindo charters e cursos de viver a bordo e circunavegação a vela para aqueles que querem explorar também essa oportunidade de se viver bem. Vejam detalhes no site http://www.managementgroup.com.br/ <http://www.managementgroup.com.br/>.
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At 17/11/2010 21:08 (local) our position was 01°39.52'S 108°55.76'E, our course was 013T and our speed was 0.1.
No dia 17/11/2010 as 21:08 horas (local) nossa posição era 01°39.52'S 108°55.76'E, nosso rumo era 013T e nossa velocidade era 0.1.

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terça-feira, novembro 16, 2010

Erramos na escolha da ancoragem...

Velejamos o dia e a noite toda, e chegamos próximos da ancoragem escolhida, a Ilha Gelam em Borneo, aqui chamado de Kalimantan, por volta das dez horas da noite, pois pegamos vento contra a maior parte do tempo, assim como algumas chuvas fortes e uma corrente contra constante de dois nós, então decidi por não ir até a ancoragem escolhida pelo Manu, uma porque tinha que passar perto de lugares muito rasos e com muitas pedras e outra porque ele escolheu uma ancoragem de frente para o Norte, o que esta errado para essa época do ano, pois os ventos, as ondas e a corrente vem do Norte. Como tudo é raso por aqui, decidi jogar a ancora logo depois do ultimo banco de areia antes da ancoragem escolhida, e assim fizemos. Tivemos uma noite mal dormida, pois ficamos na corrente, de través para as ondas, o balançar mais chato do barco.
Cedo no dia seguinte, levantamos ancora para ancorar novamente atrás da ilha escolhida para ancoragem, ficando assim, protegidos do vento, ondas e corrente, mas, distantes de terra. Decidi ficar nessa ancoragem ate a chegada do QOVOP, pois a ancoragem boa para a estação do NorthWest Monsoon era distante umas quinze milhas dali, e o QOVOP não iria conseguir falar com a gente via VHF quando eles chegassem. No final, depois que eles chegaram, decidimos ficar por ali mesmo, já percebendo que a escolha da ancoragem havia sido errada, pois estávamos muito próximos de terra (Borneo), com muitos rios desembocando por ali, e portanto água muito escura para podermos mergulhar e pegar alguns peixes para reforçar nossa dispensa, que já esta ficando rala.
Aproveitamos o dia seguinte para explorar um pouco a ilha, mas não encontramos nada que nos interessasse ou fosse bom para comer, então voltamos para os barcos e combinamos sair na primeira luz do dia seguinte.
O QOVOP zarpou as sete da manha, e nós saímos atrás deles passado das dez horas, então fiquei surpreso de encontrá-los de novo umas cinco horas depois, pois nos meus cálculos eles estariam quinze milhas na frente, que com uma milha de diferença por hora, levaria quinze horas para alcançá-los. Acabei reduzindo um pouco a velocidade do barco para ficar próximo deles, enquanto passávamos pela área que começamos a chamar de boat city, pela quantidade de barcos de pesca iluminados que ficam por essas águas pescando lula e uns peixinhos bem pequenos para secar e vender seco, ou seja, a comida do peixe médio e grande. Sem a menor dúvida, os recursos marítimos da Indonésia vão acabar em poucos anos. Com uma população na ordem de duzentos e cinqüenta milhões de habitantes, eles são dependentes do consumo de pescados, mas tratam esses recursos sem a menor preocupação com o futuro, jogando todo seu lixo no mar, e explorando os recursos marinhos acima da capacidade de reprodução desses recursos.
Pela manha, sem vista do QOVOP, chegamos a Karimata, uma reserva animal e florestal da Indonésia, uma boa iniciativa, mas sem qualquer tipo de policiamento.
Estamos ainda ancoRADOS em Karimata, e nossa estada tem sido maravilhosa, mas conto essa historia no próximo relato...
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At 17/11/2010 08:53 (local) our position was 01°39.53'S 108°55.73'E, our course was 310T and our speed was 0.0.
No dia 17/11/2010 as 08:53 horas (local) nossa posição era 01°39.53'S 108°55.73'E, nosso rumo era 310T e nossa velocidade era 0.0.
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quarta-feira, novembro 10, 2010

Matajusi pela primeira vez em CAPA:

Não, não saímos em capa de revista! Explico. Capa é o termo que se usa na linguagem de vela quando se para de navegar no meio do mar, preparando o barco para ser arrastado pelo vento, ondas e corrente. Eu sempre quis saber como se comportaria o Matajusi em situação de capa, e aproveitei a tempestade de ontem para testar, e ir dormir para descansar um pouco, pois estava cuidando do barco desde as dez da manha, em chuva torrencial como nunca vi antes, os chamados monsoons (monções) daqui. Em Novembro, começam os monsoons de Noroeste, com chuvas diárias e vento vindo do Noroeste, promovendo as correntes marinhas irem na mesma direção. Hora errada para se navegar para o Noroeste, mas melhor do que ficar parado na Australia esperando a estação dos ciclones passar, pois se vê muito mais.
Poucos barcos vem por essas bandas, uma por causa da má reputação da área com relação a piratas, outra pela dificuldade com a língua, pois muito raramente se encontra alguém que fale inglês, outra pela falta de informação de ancoragens, áreas de serviço, abastecimento, entre outras, e também por causa das marés esquisitas que se tem por aqui. Existem normalmente duas marés por dia, uma pequena e uma grande. A área é rasa, ficando sempre mais raso do que sessenta metros. Existem muitas obstruções pelo caminho, muitas não documentadas nas cartas, além das centenas de barcos de pesca espalhados pelo mar. Eles aparecem perto do anoitecer e desaparecem no raiar do dia.
Mas, continuando sobre o assunto da capa, estava já há seis horas cuidando do barco, no meio de uma chuva muito forte a ponto de não se conseguir abrir os olhos. Para ajudar, usei um óculo amarelo, clareando a visão, não deixando a água bater nos olhos, escolhido na J&F Sunglasses do Guaruja, que me patrocinou com vários tipos de óculos para a viagem de circunavegação. A visibilidade era menos do que cem metros a toda a volta do barco. Eu tinha jogado os cabos de aterragem do estaiamento na água e desligado o radar e a maioria dos instrumentos de bordo, por causa dos raios que estavam caindo há sete segundos, ou seja, perto demais para conforto. Isso tudo enquanto o vento rondava a cada dez minutos, ficando impossível ajustar velas. Estava com a mestra no terceiro riso com escôta e traveller ajustados para ela dar o bordo sozinha, a genoa enrolada e a trinqueta armada, por ser mais fácil dar o bordo com ela, além de pegar menos vento nas rajadas fortes que estavam chegando aos trinta nós.
Lá pelas quatro da tarde, completamente ensopado, me senti com frio, cansado e com sono, mas não tinha como sair do cockpit, então decidi tentar por o barco na capa. Dei bordo no barco deixando a trinqueta aquartelada na barla (lado por onde o vento entra), abri a mestra risada para a sota (lado por onde o vento sai), virei o leme todo contra o vento, para o lado onde a trinqueta estava aquartelada, e esperei o barco parar de navegar e começar a escorregar de lado, empurrado pelo vento, ondas e corrente. Logo percebi que ele não ia sair dessa posição, desliguei todo o equipamento menos o AIS e um radio portátil VHF, liguei a luz de ancora, mas piscando, e entrei para ir dormir. O barco arrastou por duas milhas e meia enquanto eu dormia tranquilamente na cabine.
O AIS ficou ligado, pois ele independe dos outros equipamentos do barco, e transmite a posição do barco para os navios, o maior perigo em situação como estávamos, por navegarem muito rápido. Quando acordei e religuei o sistema, percebi que um navio havia passado a apenas uma milha de onde estávamos flutuando desgovernados! Me orgulho de ter sido o primeiro veleiro do Brasil a ter instalado o AIS, entre outros equipamentos, únicos no Matajusi, como o DuoGen, gerador de arrasto para ser usado a noite quando se navega, gerando até quatorze amperes de energia.
Nossa curta parada em Sakapura, cidade principal da ilha de Bawean no Kalimantan (Borneo), foi no mínimo, interessante...
Primeiro porque a carta não tem os detalhes da entrada do porto, então, como primeiro barco a entrar, pois o QOVOP vinha um pouco atrás, tive que ir descobrindo o lugar, procurando por sinais que pudessem me dar uma idéia de como entrar. Vi um píer longo, com embarcações maiores do que o Matajusi, então, havia alguma entrada para esse píer. Devagar, fui entrando na direção do píer, evitando áreas que pareciam mais rasas.
Chegando ao píer, pelo sinal de algumas pessoas por lá, percebi que deveria amarrar do lado de dentro do píer, que era muito alto, mais alto do que o deck do Matajusi, então, nem pensar em atracar. Contornei o píer e fui me aproximando, decidindo jogar ancora na proa e chegar de popa, trazendo o barco no motor, de ré, e segurando pela ancora na proa, soltando a ancora na medida em que precisava me aproximar mais. A alguns metros, joguei amarras para o pessoal no píer, que a esse ponto começou a acumular, intrigados pelo veleiro chegando à ilha deles, acontecimento raríssimo por lá.
Enquanto o QOVOP chegava e se preparava para atracar do mesmo jeito que eu tinha atracado, mostrei os galões de diesel, dois galões de quarenta litros, que espremendo até o topo, podem conter quarenta e cinco litros, e pedi Solar, o nome de diesel por aqui. Um se ofereceu a ir buscar na cidade, pois não tinha no píer, e fiz uma ponte de cabo para passar os dois galões para cima do píer. Lá se foram dois rapazes de moto com meus galões de quarenta litros...
O QOVOP atracou, os garotos desceram do barco, levando consigo quatro galões de vinte litros, pegando uma carona em um carrinho que transportava pedras que estavam sendo descarregadas de uma pequeno navio atracado na ponta do píer.
Passado meia hora, chegou um carro com meus dois galões de quarenta litros cheios ate a boca, e um cara que parecia organizar a coisa por ali, pegou uma nota que veio com os galões, e percebi que ele não queria me entregar a nota. Pensei, ele vai me cobrar mais caro do que a nota! Não me importo em pagar pelo serviço, mas sem exploração...
Finalmente ele me passou a nota, e aí percebi porque ele não quis me passar! A nota dizia cem litros (!) por RP 10.000 o litro, num total de RP 1.000.000 (hum milhão de rupias)!!!
Da ultima vez que enchi os galões, em Serangan, Bali, só consegui por quarenta e cinco litros em cada, e havia me custado RP 450.000. Eles tinham conseguido por dez litros a mais, e cobrado mais do que o dobro!
Por Alá! Confusão armada! Como dizer a um ladrão mentiroso sem ofender um muçulmano na frente de outros muitos muçulmanos, que ele estava mentindo e me roubando, duas coisas proibidas pelo Alcorão?
Continuei sorrindo, e, por gestos, demonstrei que os galões não suportavam cinquenta litros cada, e que iria esperar o pessoal do QOVOP chegar, para saber quanto eles haviam pagado pelo diesel.
Enquanto esperávamos, trocamos vários bilhetes, onde eu demonstrei via desenhos que os galões não suportavam cinqüenta litros, somente quarenta e cinco, e quanto eu havia pagado Solar em outros lugares da Indonésia. Isso tudo com todos, e todos aumentando a cada minuto, agora também incluindo um carro da policia, olhando e comentando na língua deles. Interessante que a maioria demonstrou estar do meu lado!
Para amenizar as coisas, preparei um bilhete com quatro linhas, 90 litros (1), que vezes o preço do litro (2), totalizava tanto (3), e que aceitava pagar dez por cento do total como serviço (4), com os espaços livres para serem preenchidos.
Ele preencheu os espaços vazios, agora aceitando os noventa litros, abaixando o preço por litro para Rp 6.500, e cobrando Rp 30.000 pelo serviço (menor que os dez por cento que eu havia oferecido).
Nesse meio tempo, sem entendimento, entre as partes, chegaram os garotos do QOVOP, dizendo que haviam pagado Rp 5.000 por litro. Como o Manu já consegue um bom dialogo na língua nativa, ele negociou com o muitas vezes mentiroso e finalizamos em Rp 450.000 pelo diesel, a Rp 5.000 o litro, e mais Rp 50.000 de serviço, totalizando em Rp 500.000, ou seja, a metade do que eles haviam cobrado no inicio, uma pratica muito comum na Indonésia, pedir o dobro do que vale.
Estamos a caminho da próxima ancoragem, devendo chegar até o final da tarde...
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At 10/11/2010 13:24 (local) our position was 03°48.14'S 110°20.30'E, our course was 309T and our speed was 3.8.
No dia 10/11/2010 as 13:24 horas (local) nossa posição era 03°48.14'S 110°20.30'E, nosso curso era 309T e nossa velocidade era 3.8.
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domingo, novembro 07, 2010

Pequeno paraiso no meio do Mar de Java...

Chegamos à Pulau Bawean as dez e meia da manha e logo decidi por ancorar entre as ilhas de Menuri e Noko, uma enseada muito parecida com algumas ancoragens da Ilha Grande em Angra dos Reis, a diferença sendo que muito raramente se encontra alguém que fale uma língua que a gente entenda, então, improvisamos com gestos e nos fazemos entender. Pelo caminho, milhares de pescadores alguns completamente apagados, que somados com centenas de bóias e uma boa dúzia de navios toda noite, faz com que a travessia tenha que ser muito bem acompanhada por nós, portanto chegamos cansados e não fizemos nada no dia da nossa chegada, somente descansar e dormir.
O QOVOP chegou as oito e meia da manha do dia seguinte. Eles economizam no diesel e vem na vela o máximo possível. Eu já não tenho muita paciência para navegar entre um e três nós, então ajudo no motor. Andando a mil e quinhentos giros, o consumo fica próximo de um litro e meio por hora, e navego entre cinco e seis nós.
Preparei uma rota para a chegada deles, pois poderiam chegar à noite e a carta não bate com a geografia do lugar, e quando eles chamaram pelo VHF as sete e meia da manha, eu passei as coordenadas para eles entrarem na ancoragem, logo jogando ancora do nosso lado.
Passamos três dias maravilhosos em Bewan, mas temos que partir para continuar com nossa rota rumo à Malásia. No primeiro dia fomos de bote ate a vila que fica próxima à nossa ancoragem, e fomos recebidos por uma multidão de crianças e adultos, todos falando na língua Bahasa Indonésia, que não entendemos nada, mas percebemos que éramos bem vindos. Caminhamos algumas milhas por uma pequena estrada que leva até a cidade principal de Bewan, Sankapura, mas não fomos até lá, pois chovia torrencialmente e estávamos ensopados, mas foi muito bom ver as vilas e casas pelo caminho, e ter uma idéia de como eles vivem por aqui.
No final da tarde saímos para uma pesca submarina e voltamos com peixes suficientes para todos. Depois de uma boa mergulhada, voltamos cansados e com fome e para nosso alívio a Lilian já tinha preparado uma sopa de ossobuco comprado em Vanuatu, fritado os peixes que havíamos pego em Raas, nossa ancoragem anterior e assado pao. Jantamos fartamente e fomos dormir cedo, com um mergulho na ilha Noko programado para o dia seguinte.
A Ilha Noko é simplesmente um banco de areia cercado de bons recifes carregados de peixes, e alguns, bem crescidinhos. Fomos os cinco no bote para a ilha e enquanto a Lilian ficou procurando por conchas, eu e os garotos do QOVOP fomos mergulhar. Cruzamos a laguna entre a ilha e os recifes um pouco a nado, outro no mergulho e quando muito raso, caminhamos, chegando do outro lado e logo procurando pelos lugares mais fundos. Vê-se claramente que a dinamite foi muito usada por essas bandas também, mas o coral esta florescendo novamente com a proibição dessa pratica na Indonésia. Logo tínhamos bons peixes, incluindo um merote de uns cinco quilos, em abundancia por aqui. Tivemos a oportunidade de pegar o pai também, mas deixamos ele lá, procriando e gerando mais merotes para os próximos mergulhadores a passarem por aqui.
Retornamos para o Matajusi, e preparamos dois terços do mero em fish-sticks temperados com pimenta e sal, e cobertos com farinha de trigo, e um terço em sashimi, guardando a cabeça, nadadeiras e ossos para uma sopa de peixe, dessa vez preparada no QOVOP. Almoço no Matajusi, janta no QOVOP, e para mudar um pouco a rotina combinamos um mergulho para o dia seguinte com um pick-nick improvisado na praia da ilha Noko. Passamos o dia mergulhando hoje, quase dando a volta completa dos corais da ilha Noko, retornando as dezesseis horas para preparar os peixes e fazer a fogueira para assar os peixes em espetos de pau feitos na hora. A Lilian tinha organizado com a criançada local visitando a ilha no Domingo uma cata às garrafas pet espalhadas pela ilha e tinha feito uma bela pilha de plásticos, sandálias, garrafas pet, entre outros detritos encalhados na ilha pela maré, e quando chegamos ateamos fogo na pilha de lixo, demonstrando aos locais nosso zelo pela linda ilha deles. Tomara que agora eles sigam o exemplo e mantenham a ilha limpa de detritos.
No fim do dia, preparamos nossa refeição na praia, enquanto a fogueira de detritos continuava a arder e a outra fogueira para nosso almoço já dava condições de assar peixes e batatas doces cobertas em folha de alumínio. Logo ficamos rodeados de caranguejos, que farejaram os peixes e vieram cobrar a sua parte. A maré encheu e acabou apagando a fogueira dos detritos, mas a maioria já havia virado carvão e a ilha ficou com outra cara...
Amanha partiremos para a próxima ancoragem, uma ilha na costa de Borneo, aqui chamado de Kalimantan, antes passando por Sankapura para encher os tanques de diesel novamente.
Enfim, fazendo o que nos dispusemos a fazer, viver simples, mas viver bem, com qualidade de vida muito superior à que tínhamos antes. O que mais podemos querer? Ter saúde para aproveitar com nossos amigos, esses lugares que poucos tiveram a felicidade de conhecer...
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At 6/11/2010 08:11 (local) our position was 05°51.62'S 112°41.58'E, our course was 041T and our speed was 0.1.
No dia 6/11/2010 as 08:11 horas (local) nossa posição era 05°51.62'S 112°41.58'E, nosso curso era 041T e nossa velocidade era 0.1.
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quinta-feira, novembro 04, 2010

Ancorado na Ilha de Bawean

Ancorei as 11h de hoje na Ilha de Bawean (Hora Brasil 02:00)
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quarta-feira, novembro 03, 2010

A caminho da Malásia - Ancoragem 1 - Ilha Raas:

Temos novecentas milhas de Bali até a ancoragem que escolhemos na Malásia, perto de Singapura, por isso definimos uma rota aonde vamos parando a cada um ou dois dias, assim conhecemos mais lugares. Levantamos ancora de Lovina as vinte horas, umas duas horas depois do QOVOP. Calculei que eles iriam navegar a umas cinco milhas e nós a seis, então com duas horas de diferença na partida, eu teria que ganhar dez milhas, e com uma milha a mais por hora, levariam dez horas para alcançá-los, então fiquei completamente surpreso quando passamos por eles a apenas três horas depois. Depois soube que eles tiveram um problema de aquecimento no motor, resolvido com a troca do rotor da bomba de água salgada do motor.
Cheguei a Pulau (ilha) Raas por volta das nove da manha, com o QOVOP ancorando do nosso lado umas três horas depois. Na chegada, tentei ir entrando por onde vi um pescador saindo, mas logo ficou raso demais, e enquanto procurava por um passe, chegou um pescador com sua canoa típica da área e me pediu para segui-lo. Ele foi fazendo um ziguezague atrás de outro ate chegarmos a uma área onde eu podia jogar ancoras. Nunca tive menos do que três metros debaixo da quilha, mas vimos alguns cabeços de coral que vinham quase até a superfície. Teria sido uma aventura passar por ali só na tentativa e erro! Enquanto estava tentando sozinho, teve uma hora que tive que por em marcha a ré e acelerar tudo, para evitar um cabeço bem na nossa proa. A Lilian estava ajudando de pé na proa, mas ela não tem muita experiência em julgar profundidades. Dessa vez ela viu que não ia passar e gritou para eu dar ré!
Depois de ancorados, o pescador que me guiou até a ancoragem chegou ao barco, e tentamos conversar. Difícil, pois ele não entendia inglês e nós não entendemos a língua da Indonésia, então foi só nas gesticulações, mas entendi muito bem quando ele mostrou um polvo recém pescado, o qual ele pediu RP100.000 (dez dólares). Disse a ele que estava muito caro, no que ele logo baixou para Rp50.000 (cinco dólares). Ele acabou levando também vários artefatos que guardamos para essas horas, camisetas, sapatos, revistas, etc. Combinamos via gestos que ele viria me buscar para um mergulho com ele depois que o QOVOP chegasse, mas ele não retornou mais.
No lugar dele, veio o Abu, que falava um inglês razoável e combinamos que ele nos levaria para mergulhar no dia seguinte. Preparei o polvo a vinagrete, a Lilian fez um feijão, e os garotos do QOVOP fizeram arroz e uma salada de pepinos com abacate. Jantamos fartamente e fomos dormir cedo, pois tínhamos navegado a noite anterior e íamos acordar cedo para o mergulho com o Abu.
Abu chegou umas sete e meia, e já estávamos quase prontos para sair. Ele deixou sua canoa motorizada amarrada no Matajusi e fomos eu, ele e o Manu no meu bote. Mergulhamos das oito e meia às treze e trinta! Eu não parei nem um segundo! Peguei uns doze peixes de tamanho médio e pequeno, pois é só o que tem por lá. Percebi muito coral destruído, depois sabendo que no passado alguns pescadores usavam dinamite. Hoje é ilegal usar dinamite, e já tem uns doze pescadores dessa ilha na cadeia por usar. Por outro lado, na demanda de hoje, eles precisam vender o peixe vivo, então usam um liquido (acho que é cianeto) para o peixe dormir, aí eles pegam o peixe e põem em um tanquinho de água cuja água eles trocam frequentemente. No final do mergulho, não vimos nenhum polvo, somente uma lagosta, mas era pequena e deixamos ela lá. Os garotos do QOVOP ficaram com duas garopas e um budião, e eu fiquei com um badejo e uma garopa, e dei o resto para o Abu. Durante o mergulho, vi como eles pegam polvos! Eles constroem caranguejos com anzóis e arrastam com as canoas os caranguejos perto das pedras. O polvo vê o caranguejo que parece estar nadando e ataca. O pescador sente o peso do polvo e puxa a linha para cima. O polvo fica preso nos anzóis nas costas do caranguejo de mentira!
Na volta para o barco, pedi para ver os caranguejos que o Abu tinha, feitos por ele mesmo, e comprei um para levar para o Brasil e mostrar para os pescadores da ilha do Montão de Trigo, meus amigos. Em área de polvo, essa é uma forma honesta de um pescador tirar polvos...
Acabamos jantando cada um em seu barco, e nos preparamos para sair na primeira luz do dia para atravessar as cento e trinta milhas entre a Ilha de Raas e a Ilha de Bawean, onde estimamos chegar amanha durante o dia.
Estamos com pouco vento, então estou ajudando no motor. Na saída, tínhamos um ventinho de popa entre seis e dez nós e armei o genaker, logo ganhando velocidade e deixando o QOVOP mais para trás. Eles estavam com três velas, a genoa e a mestra na sota, e uma genoa menor armada como a adriça de barla do balão, montada no pau de spinaker. Isso deu para eles um pouco mais de área velica, mas mesmo assim acabamos os perdendo de vista. Encontraremos-nos novamente na ancoragem de amanhã...
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At 3/11/2010 15:45 (local) our position was 06°44.97'S 113°58.44'E, our course was 301T and our speed was 3.7.
No dia 3/11/2010 as 15:45 horas (local) nossa posição era 06°44.97'S 113°58.44'E, nosso curso era 301T e nossa velocidade era 3.7.
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segunda-feira, novembro 01, 2010

Partimos em direção à Malásia

1º de novembro de 2010

domingo, outubro 31, 2010

Lovina Beach, Norte Bali:

Temos ficado mais tempo em Lovina Bech, Norte Bali, por uma serie de razões. O Batista foi levar a Julie para o aeroporto em Java e estamos esperando ele voltar, e o William esta gripado então também estamos aguardando ele apresentar melhoras para eliminar a possibilidade de Dengue ou outra doença fácil de se contrair por mordida de mosquitos. Outro problema é que o vento esta quase nulo. Estamos esperando pela entrada de vento, conforme previsão local, para zarparmos na direção da Malásia. O Matajusi tem autonomia para ir até a Malásia ajudando no motor, mas o QOVOP não tem tanta reserva de diesel e não sabemos se vamos conseguir carregar com diesel pelo caminho, então dependemos um pouco do vento ajudar.
Enquanto esperamos, continuamos explorando essa área de Bali, e ontem, novamente, alugamos motinhos (US$3.00/dia) e fomos conhecer pela primeira vez um templo Budista. Interessante como me senti em paz nas imediações desse templo.
De lá fomos para uma fonte térmica de água vulcânica onde passei boa parte do tempo fazendo massagem debaixo de um jato de água quente, pois me deu uma inflamação na cervical como há tempos não tinha. Talvez tenha dormido de mau jeito...
Depois fomos até uma fazenda de perolas onde comprei algumas para os presentes de Natal. Aqui eles não produzem as perolas negras como encontramos em Apataki, as perolas são de tons diferentes de branco.
Aproveito para falar da documentação necessária para se navegar na Indonésia. O mais importante é um documento chamado de CAIT. Sem ele você não pode nem chegar na Indonésia. Esse documento tem a lista da tripulação além de todos os lugares por onde o barco vai ancorar. É preciso também um visto, que em alguns lugares pode ser obtido quando se chega, mas na maioria dos lugares, é preciso já ter o visto antes de se chegar. Alem do CAIT e do visto, é preciso ter uma carta de um "sponsor" que alega que você só vai passar pela Indonésia de barco, sem ficar ou deixar o barco na Indonésia. O CAIT é preparado por agentes especializados, alguns recomendados no NoonSite do Jimmy Cornell. Eles também organizam os vistos e a carta, que devem ser pegos em algum consulado ou embaixada da Indonésia por onde se passa antes de chegar à Indonésia. O visto que se consegue na chegada, sem se passar pela embaixada, e somente em poucos lugares, Bali sendo um, só tem validade por trinta dias e não é renovável, se bem que ouvi dizer que se consegue renovar por mais trinta dias no aeroporto de Bali, e o visto tirado na embaixada tem validade de sessenta dias. Na chegada tem-se que fazer Harbor Master, Quarentine, Customs, Emigration, and Navy, e na saída os mesmos, mas finalizando com o Harbor Master.
A vida em Bali é razoavelmente barata, podendo-se comer uma refeição entre hum e quarenta dólares, sendo que a media fica entre os quinze e vinte dólares.
Em Bali existe algum tipo de bactéria que afeta a todos que chegam a Bali, chamada de Bali Belly, ou barriga de Bali. Dos vinte e poucos dias que estamos em Bali, eu fiquei com desarranjos mais de noventa por cento do tempo. Todas as vezes que comi peixe, mesmo os que eu mesmo pesquei, fiquei com desarranjo, o mesmo não acontecendo quando como carne em restaurantes. Tenho praticamente vivido de arroz e batata!
O povo dos lugares por onde já passamos é muito simpático e não sentimos qualquer descriminação desde que chegamos. Até agora já passamos por Bali e Lombok, somente nas ilhas Gili, ambos lugares muito acostumados com turistas. Daqui para a frente, a caminho da Malásia, vamos passar por lugares pouco visitados por turistas mas, tendo conhecido o povo de Bali e Lombok, nossa expectativa é boa, além do mais, o pessoal do QOVOP já praticamente domina a língua nativa da Indonésia, ajudando bastante na comunicação, pois poucos por aqui falam ou entendem inglês...
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At 29/10/2010 12:30 (local) our position was 08°09.57'S 115°01.35'E, our course was 062T and our speed was 0.0.
No dia 29/10/2010 as 12:30 horas (local) nossa posição era 08°09.57'S 115°01.35'E, nosso curso era 062T e nossa velocidade era 0.0.
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quinta-feira, outubro 28, 2010

Terremotos, Tsunamis, Vulcões...

Ontem começamos a receber várias mensagens expressando preocupação com a nossa segurança na Indonésia, dados as noticias do terremoto com tsunami em Sumatra e do vulcão em erupção em Java. Por aqui não tivemos muitas noticias desses incidentes, e agradecemos as informações recebidas por email.
Como estamos do lado Norte dessas ilhas, estamos a salvo desses incidentes que tendem a acontecer mais do lado sul, portanto não vimos ou sentimos qualquer interferência por conta desses incidentes.
Acabamos levantando ancora da ancoragem em Singaraja, e navegamos algumas poucas milhas até a praia turística de Lovina. Na chegada, sem conhecer o passe entre os recifes, fiquei a boa distancia da costa tentando identificar o que eu via na costa com o que eu via na carta náutica. Nisso, um pescador se aproximou e ofereceu para nos guiar ate a ancoragem, o que aceitei aliviado.
Ancoramos em seis metros de profundidade, em fundo de areia vulcânica, com cinquenta metros de corrente. Logo após a ancoragem, entrou chuva com vento forte, acima dos vinte e cinco nós, e mexeu na ancoragem inteira, formando ondas e balançando muito o barco. Aguardamos ate a coisa amançar, e fomos para terra a remo. Chegando na praia, tivemos um trabalhinho para evitar capotar nas ondas que ainda estavam quebrando na praia, e virei o bote de frente para as ondas, remando para trás, para melhorar nossas chances de chegar em terra secos.
Caminhamos bastante, explorando essa área, cheia de lojinhas, bares, restaurantes, e vendedores ambulantes, que, coitados, fora de temporada e sem turistas, ficam todos desesperados tentando vender alguma coisa para os poucos turistas que estão por aqui. Aproveitamos para sacar um pouco mais de rupias (dinheiro da Indonésia, US$1 = RP$8.600) de um ATM local, e fomos localizar um SPA. Passamos por vários antes da Lilian aprovar um para usarmos, eu para um corte de cabelo e uma massagem no corpo inteiro, e ela para um tratamento de beleza e também massagem no corpo inteiro. Saímos do SPA renovados, procurando por um restaurante para jantarmos. Depois de muita caminhada, acabamos escolhendo um com musica ao vivo. Comi um belo filé apimentado e a Lilian um frango com molho de cogumelos, antes de retornarmos ao Matajusi para dormir.
No dia seguinte, chegou o QOVOP, retornando da ancoragem mais ao Norte que eles haviam ido, pois lá se cobrava até para ancorar. Agora, juntos novamente, fomos para terra para passear, fazer um pouco de internet, e negociar o aluguel de motinhos para outros passeios pela área.
Quando retornamos aos barcos depois da janta, o QOVOP cheirava queimado! Examinando o problema, o carregador do computador deles queimou, e agora estamos trabalhando em soluções para esse problema, pois eles usam somente o computador para as travessias. Vamos tentar algumas cirurgias nos aparelhos elétricos de bordo...
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At 27/10/2010 12:00 (local) our position was 08°09.61'S 115°01.35'E, our course was 068T and our speed was 0.1.
No dia 27/10/2010 as 12:00 horas (local) nossa posição era 08°09.61'S 115°01.35'E, nosso curso era 068T e nossa velocidade era 0.1.
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segunda-feira, outubro 25, 2010

Milhares de pescadores no caminho:

Zarpamos de Gili Air as sete da manha, rumo a uma ancoragem no Norte de Bali. Saímos juntos, mas fui um pouco mais ao sul, e acabei tendo vento e corrente melhores do que as que o QOVOP pegou, e com isso o Matajusi ganhou velocidade mais rápido, deixando o QOVOP para trás, chegando mais cedo na ancoragem programada. Na chegada, fui surpreendido por uma escotilha de jangadas sem ninguém a bordo. Achei aquilo muito estranho, pois elas pareciam estar alinhadas pela costa inteira, até perder de vista. Fui chegando devagar e com cuidado, procurando um barquinho com dois pescadores a bordo, para perguntar se eu podia passar para a costa por aquele rumo. Eles responderam que sim, e me aproximei mais da costa, procurando por uma área onde haviam dois barcos a motor, um ancorado e outro amarrado em poita. Procurei por uma área rasa perto de onde eles estavam, e achei um platô com profundidade na área de cinco a oito metros, logo descendo para mais de vinte. Soltei ancora, com quarenta metros de corrente em profundidade de oito metros, e mergulhei para ajudar o QOVOP a lançar ancora próximo do Matajusi.
A ancoragem era segura, mas a ondulação entrava de lado causando um pouco de desconforto a bordo. Ficamos duas noites em Amed, o nome daquela área de Bali, com um mergulho no segundo dia embaixo das jangadas, que a associação dos pescadores locais lançou ao mar para promover peixes a se agruparem em volta dos cabos com muitos sacos plásticos cortados em fatias que eles amarram embaixo das jangadas. Os peixes de passagem vem caçar por volta das jangadas, e nós acabamos com uma bela pescaria incluindo oito olhetes e mais uns seis peixes parecido com atuns.
Depois de dois dias em Amed, zarpamos com destino a Lovina Beach, uma área turística na costa Norte de Bali. O QOVOP fez a pequena travessia de cinqüenta milhas saindo a noite, e nós saímos as cinco e meia da manha. Com pouca luz, liguei o radar para ter certeza de que não ia atropelar nenhuma das dezenas de jangadas fantasmas em frente à baia que estávamos, e fiquei surpreso com o numero de alvos que o radar identificou. Fui saindo devagar, "costurando" os alvos vistos pelo radar, que acabei identificando, como as pequenas embarcações que os pescadores locais usam para a pesca. Com o raiar do dia, tudo que víamos até o horizonte, em qualquer direção, eram centenas desses pequenos barcos de pesca. Tive que ir com cuidado para evitar atropelar algum. Eles usam uma linha longa, com muitos anzóis, e corricam com essa linha, parando quando sentem que a linha pesou. Rapidamente eles recolhem dezenas de peixes da família dos atuns, menores que o bonito.
No caminho, ainda pegamos a chuva mais intensa que já tivemos em uma travessia, lavando de enxurrada o barco. Aproveitamos e escovamos o deck, mastro, retranca, velas, canvas e cockpit.
De longe já víamos onde o QOVOP havia ancorado, e nos dirigimos para perto deles, pedindo pelo VHF as coordenadas de entrada e ancoragem da área que eles estavam, e ancoramos em cinco metros de profundidade com fundo de areia, com quarenta de corrente.
Essa ancoragem fica próxima da Lovina Beach, e é bem segura e calma, proporcionando boas noites quando conseguimos dormir tranqüilos, sem muito balanço.
Na primeira noite nessa ancoragem, fomos assistir a uma dança Balinesa em um restaurante perto da ancoragem. Já no segundo dia, alugamos três motinhos e passamos o dia inteiro conhecendo o interior de Bali, lugares onde muito poucos turistas já foram, somente freqüentados pelos nativos locais. Ficamos maravilhados com o que vimos, e principalmente pela camaradagem como fomos tratados por todos, inclusive alguns batalhões de policia em treinamento nas montanhas de Bali por onde passamos. Vimos plantações, incluindo os terraços de arroz, comuns nessa área, muitos templos, inclusive um templo hindu no meio de um lago que fica no alto das montanhas de Bali, outros lagos no alto das montanhas, e o principal foi uma cachoeira com mais de cem metros de altura e umas seis quedas d'água, onde aproveitamos para um belo banho de cachoeira. No caminho, tivemos todas as estações do ano, começando com quente e abafado enquanto estávamos no nível do mar, passando para agradável a meio caminho do topo das montanhas, depois para quase frio no topo, pegando chuva torrencial e secando no caminho de volta para o barco. Para finalizar o dia, jantamos em um restaurante bem em frente onde estamos ancorados, experimentando mais alguns sabores da comida de Bali. Bali tem alguma coisa na água ou comida, que todos nós estranhamos, pois todos tivemos desarranjos intestinais desde que chegamos aqui. Alguns menos e eu, mais. Foi difícil descer os mais de quinhentos andares altos a caminho da cachoeira, nadar na correnteza e subir os andares de volta, somente no arroz e batata sem tempero que tenho comido! Estou exausto...
Amanha os QOVOP zarpam para outra ancoragem no nosso caminho para a Malásia, e nós ficamos mais um dia nessa ancoragem para passar um meio dia em algum SPA a ser ainda escolhido. Depois vamos nos encontrar com eles novamente...
Veja nossa localização no Google Maps
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At 25/10/2010 23:21 (local) our position was 08°07.66'S 115°03.49'E, our course was 081T and our speed was 0.1.
No dia 25/10/2010 as 23:21 horas (local) nossa posição era 08°07.66'S 115°03.49'E, nosso curso era 081T e nossa velocidade era 0.1.
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quinta-feira, outubro 21, 2010

As ilhas Gili, de Lombok:

Nos preparamos para zarpar na madrugada do dia dezenove, com destino as Ilhas Gili em Lombok, uma ilha a Leste de Bali. O QOVOP zarpou umas dez da noite, pois eles são mais lentos e não usam tanto o motor, e nós programamos para zarpar as cinco e meia da manha. Quando deu o alarme, resolvi não sair ate de manha, pois a Lilian passou mal a noite toda e queria dar um tempo para saber se ela iria ficar bem para a travessia estimada de doze horas. Acabamos zarpando as nove e meia da manha, e tivemos vento e corrente a favor em toda travessia, amarrando em poita na Ilha Gili Air, a mais próxima de Lombok, as cinco da tarde, com tempo para um mergulho nos corais na frente da ilha que renderam um polvo e dois peixes locais, que usei para preparar um pirão. Comemos todos no Matajusi, com os QOVOP fazendo o arroz e uma mistura de vegetais.
No dia seguinte saímos para explorar a ilha, uma área freqüentada por mergulhadores de cilindro, com muitos barcos de mergulho e hotéis especializados em mergulho, incluindo piscina para cursos de scuba. Algumas coisas interessantes são as carrocinhas a cavalo, usadas para transportar os turistas por volta da ilha, e um restaurante que tinha uma placa confirmando que havia cogumelos (alucinógenos) disponíveis!
A tarde os QOVOP foram para um mergulho, e eu fiquei para limpar o casco, conferir hélice, rabeta e leme do Matajusi. O leme continua com um pequeno movimento lateral, mas que não aumentou desde a ultima vez que chequei. Enquanto limpava o casco, apareceu um cardume de cirurgiões grandes e aproveitei para garantir o sushi da noite. Os QOVOP voltaram com mais peixe e organizamos outra janta no Matajusi, pois tem o cock-pit maior, que acomoda o grupo todo. Eu preparei sushi de peixe frito no shoyo e tarê, com cebolinha, semente de gergelim, pepino e wasabi, enquanto a Lilian preparava uma sopa de missô com caldo de barbatana de peixe. Os QOVOP prepararam um sushi de peixe cru com cenoura, completando nossa janta comunal, que estava uma delícia! Enfim, vivendo bem, com bons amigos a nossa volta, comendo bem, curtindo esses novos lugares, com seus povos, costumes, religião e gostos diferentes dos nossos, mantendo sempre a nossa boa qualidade de vida...
Amanha devemos partir rumo a Singapura, parando no caminho para deixar a Julie, namorada do Batista, uma francesa que mora da Nova Zelândia. Nosso plano é ir parando pelo caminho e conhecendo novos lugares da Indonésia.
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At 21/10/2010 11:19 (local) our position was 08°21.91'S 116°04.98'E, our course was 186T and our speed was 0.1.
No dia 21/10/2010 as 11:19 horas (local) nossa posição era 08°21.91'S 116°04.98'E, nosso curso era 186T e nossa velocidade era 0.1.
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sábado, outubro 16, 2010

Matajusi corre solto pela ancoragem...

Conforme previsto, chegamos a Bali no dia cinco de Outubro, depois de treze dias de travessia desde Port Moresby, na Papua New Guinea. Fomos direto para a Bali Marina, onde ficamos por oito dias. A marina é a mais cara que o Matajusi já ficou (US$23/dia), mas sem muitos recursos, água doce paga e ruim, muito sujo o mar em volta, com internet de dez dólares por 50 MB, com diesel caro e ainda estavam sem, mas cobram se você comprar de fora, ou seja, não vale a pena ficar lá. A única razão seria que a marina fica próxima de quatro dos cinco lugares que se tem que fazer documentação quando se chega de barco a Bali, Emigração, Customs, Quarentena e Harbor Master. Só a Marinha (Navy) fica em Serangan. Da para fazer os primeiros quatro a pé mesmo, mas fomos de taxi.
Uma vez feita toda a documentação, começamos a explorar Bali, nossa primeira experiência com a cultura Indonésia, Hindu, e Muçulmana. Alugamos uma motocicleta e estamos explorando muito por aqui, uma mistura de shopping centers, grandes baladas, artes locais, e algumas das melhores características geográficas e turísticas de Bali, incluindo os campos de arroz nas montanhas, alguns parques com animais, um vulcão, muitos restaurantes, artesãos de esculturas em madeira e jóias em prata, enfim, o máximo que podemos aproveitar enquanto aqui estamos.
Ontem fomos com o Manu, William e Baptiste, os garotos do QOVOP, que re-encontramos aqui em Bali depois de estarmos juntos em vários lugares a partir do Panamá , a uma danceteria no marco zero da cidade. Marco zero é onde uns terroristas explodiram uma bomba no dia doze de Outubro de 2002, matando umas duzentas pessoas, na maioria turistas, incluindo dois brasileiros. Isso depois de termos ido de moto até Ubud, a área artesanal de Bali, onde passamos o dia. Voltamos de madrugada para o barco, e hoje passamos o dia meio de molho no barco, cansados de tanta coisa que fizemos ontem.
Aproveitei para trocar a água doce do motor, pois a que estava lá estava muito enferrujada. De novo, pela lei de Murphy, exatamente na hora em que drenei a água do motor, assim sem poder ligá-lo, sentimos um impacto no barco acompanhado de um barulho de alguma coisa esmagando.
Corri para fora e vi um barco de pesca atravessado na proa (frente) do Matajusi. Perguntei para eles o que havia acontecido com eles para baterem no meu barco, e no inglês que eles conseguiam falar, responderam que fui eu que bati no barco deles... Olhei ao redor e percebi que não estávamos mais na bóia, que continuava no mesmo lugar, ou seja, o cabo que amarrava a bóia ao Matajusi e ao QOVOP, pois estamos amarrados de través, rompeu, nossa primeira experiência com esse tipo de problema. Parece que o cabo foi roçando dentro da amarra da bóia e acabou rompendo. Foi um corre-corre danado, primeiro amarrando mais cabos ao Matajusi e pedindo aos pescadores para segurarem os barcos na mão, enquanto corri para fechar os drenos da água doce do motor e encher de água sem mistura mesmo, para poder ligar o motor e poder sair de cima deles. Quando consegui fazer isso, e no meio dos outros muitos barcos ancorados ou amarrados em bóias na ancoragem, não consegui manobrar o barco de volta para a bóia, pois o peso e arrasto do QOVOP amarrado no través do Matajusi forçava os dois barcos a irem para a direita, o lado que estava o QOVOP. Fui manobrando para frente e para trás para ir evitando os outros barcos e deixando a corrente e o vento fazerem o resto, enquanto pedi para a Lilian pular para o QOVOP para ajudar com o leme dele também. Ai, juntos, conseguimos dirigir os dois barcos de volta para a bóia, e amarramos de novo, agora com dois cabos, um no Matajusi e outro no QOVOP. Aproveitei para limpar a cráca da amarra da bóia, a razão do corte do cabo.
Depois que o pessoal do QOVOP chegou em Bali e pudemos conversar sobre os nossos planos, desistimos de cruzar o Indico ainda esse ano, pois já estávamos duas semanas dentro da estação dos ciclones no Indico, e isso, se tivéssemos ventos bons até a África. Nosso novo plano agora inclui explorarmos mais da Indonésia, e depois do Sul da Ásia, passando por Singapura, Malásia e Tailândia, antes de voarmos de volta para o Brasil, deixando o Matajusi na Malásia.
Na próxima estação de travessia do Indico, voltamos para pegar o Matajusi na Ásia e levá-lo para a África, e de lá, de volta para o Brasil.
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At 15/10/2010 09:01 (local) our position was 08°43.17'S 115°14.39'E, our course was 048T and our speed was 0.0.
No dia 15/10/2010 as 09:01 horas (local) nossa posição era 08°43.17'S 115°14.39'E, nosso curso era 048T e nossa velocidade era 0.0.
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quarta-feira, outubro 06, 2010

domingo, outubro 03, 2010

O Oceano Indico nos mostrando o que temos pela frente:

Fora aquele mar bravo que pegamos logo na saída de Port Moresby, o pior da nossa experiência, essa travessia tem sido uma maravilha, com ventos bons e mar bom. Com isso, aprendemos a usar a Genaker, que tem ficado armado o dia todo, só descendo durante a noite, e a exemplo, ontem estávamos com o genaker e a genoa armados, andando entre sete e nove nós, mas no meio da tarde, o vento começou a crescer, chegando, e as vezes passando dos vinte e cinco nós. Eu fiquei entre a cruz e o caldeirão, a cruz sendo o Mario Buckup, que me ensinou a usar o balão e, respondendo à minha pergunta sobre até que velocidade de vento eu poderia usá-lo, respondeu "até uns trinta nós", e o caldeirão sendo o Marçal Ceccon, que sempre diz que, se eu tiver que fazer alguma coisa e não fizer, que pago o preço depois...
O preço dessa vez foi muito esforço, muita adrenalina, e um pouco de experiência em sair voando junto com a vela!
A coisa se passou mais ou menos assim: Vento passando dos vinte e cinco nós, vindo pela popa, com genoa e genaker armados. Mar engrossando, com ondas entre dois e quatro metros. O barco estava andando perto dos dez nós, quando veio uma onda mais forte e jogou o barco de lado, expondo mais a genaker e tirando o vento da genoa, que estava armada no pau de spinaker. A genaker encheu de lado para o barco, e adernou o barco a ponto do deck começar a correr debaixo d'água. Nisso a genoa aquartelou e armou do outro lado. Tomei o controle do piloto, e, com genoa e genaker agora empurrando o barco de lado, não estava conseguindo voltar a condição de vento de popa, então pedi para a Lilian soltar a escota do genaker. Assim que ela fez isso, o genaker desinflou e foi para a frente do barco, e consegui voltar a velejar com a genoa. Correndo, expliquei para a Lilian o que eu precisava que ela fizesse com os cabos, pus o cinto e as luvas, e corri para a frente do barco. Desamarrei o cabo da camisinha, a que se usa para encamisar a genaker e tira-la do vento, e comecei a baixa-lá. Veio bem até a metade, depois o vento era tão forte que, somente a camisinha no vento e estava me levantando do deck! Tive que soltar o conjunto para não voar para fora do barco. A Lilian percebendo meu apuro, soltou mais um pouco da escota de barla, a que fica presa no púlpito do barco (bico da frente), o que fez o conjunto todo voar mais alto, mas parou de armar um balãozinho na base do genaker. Fui pegar a escota de sota, que estava presa pelo nó no moitão armado no cunho de spring, e voltei para a frente puxando o conjunto todo pela escota de sota. Consegui trazer o conjunto para baixo, com a Lilian ajudando e soltando um pouco da adriça (segura a genaker no topo do mastro) e prendi em um elástico com ganchos que havia posto no guarda-mancebo exatamente para o caso de eu não conseguir ficar segurando o conjunto, e fui baixando o conjunto para dentro do saco da genaker com a Lilian dando cabo na adriça. Ufa!!!
Ensaquei a genaker e deixei tudo preso no guarda-mancebo, e retornei ao cockpit, somente aí notando que, mesmo estando com o cinto, não o havia prendido em nenhum lugar!
Mantive a genoa no pau de spinaker e armei a staysail em asa de pombo.
Outros acontecimentos do dia incluíram o Bizul (Gaivota de bico azul) que já estava conosco a mais de um dia, saia para voar, mergulhava, se limpava todo na água e retornava ao barco, me procurando. Onde eu ia ele vinha atrás. Ficava lá em cima do bimini olhando para baixo para ver onde eu estava. Deve ter sido amor à primeira vista, que correspondi enquanto não havia notado seu terrível habito de levantar a traseira e cuspir (longe) por trás! O cockpit inteiro estava ficando, comprometido, e tínhamos que ficar fora da mira. Acho que era uma fêmea, e estava com ciúmes da Lilian, pois ficava mirando nela e as vezes ate conseguia acertar!!!
Essa noite, durante as constantes atravessadas do barco no mar bravo, ela se foi, e de manhã não retornou, ainda!!! Não posso dizer que estou com saudades! Estou sim, contente, de ter aceitado a Bizul fraquinha, ter alimentado ela com mahi-mahi e atum, e ter proporcionado para ela a chance de se fortalecer e continuar lutando pela vida.
Estamos a um dia de Bali, com previsão de chegada por volta das nove da manha, velejando com a genoa e a staysail armadas em asa de pombo, com uma escôta preguiçosa na amura da staysail para segura-lá por fora do brandal, mantendo-a assim mais aberta ao vento de popa que continuamos tendo. O mar esta melhorando, com os ventos agora na área dos quinze nós, e o barco velejando entre seis e sete nós. Vou mantê-lo assim, pois é a media que preciso para chegar amanha perto das nove horas em Bali. Se aumentarmos a velocidade, com o uso da genaker, vamos chegar muito cedo e ter que esperar fora antes de entrar, então não faz sentido ir mais rápido agora.
Não pude deixar de notar todos os mares que navegamos desde Vanuatu. Começamos pelo Mar de Salomão, vindo depois Mar de Coral, Mar de Arafura, Mar de Timor, Mar de Savu, Mar de Flores e Mar de Java.
Uma coisa importante, aos que estiverem planejando uma viagem desse tipo, são os remédios de bordo, dentre eles, um remédio para matar os vermes do intestino, que deve ser tomado a cada seis meses. Pergunte ao seu medico que remédios trazer.
Um caso interessante que me esqueci de mencionar foi quando estávamos em Port Moresby e eu reclamei de uma coceira nos pés e o Brian me indicou seu medico de medicina chinesa, o Dr. Ma. Eu já havia discutido esse problema com minha dermatologista, mas não encontramos solução, mesmo porque, não fiz nenhum exame de fungus para saber se tinha algum. Fato é que, essa vida de barco, de muita umidade e todos andando descalços, uns acabam passando fungus para outros e é preciso estar sempre atento a essas mudanças, que devem ser examinadas e tratadas. No caso do Dr. Ma, ele me receitou um frasco de remédio chinêz, que tem sido tiro e queda! Usei nos pés, nas unhas, no buço, que estava com umas marcas vermelhas, nas narinas que estavam coçando e descascando, e tem eliminado tudo. Não sei do que se trata, mas é tiro e queda.
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At 4/10/2010 08:29 (local) our position was 09°56.20'S 117°35.94'E, our course was 292T and our speed was 5.7.
No dia 4/10/2010 as 08:29 horas (local) nossa posição era 09°56.20'S 117°35.94'E, nosso curso era 292T e nossa velocidade era 5.7.
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sábado, outubro 02, 2010

Um dia com muita adrenalina!

Hoje, quando estava fazendo algumas filmagens da armação de velas, do mar, e do barco, notei um pássaro tentando pousar nas placas solares. Uma gaivota de bico azul e patas laranja. Ela errou a aterragem umas três vezes, ate que conseguiu pousar em uma das placas, logo escorregando e caindo em cima do bimini, onde ficou. Nisso, notei pela filmagem, um barco de pesca logo atrás do Matajusi. Em si só isso não era um problema, pois eu já havia passado por eles e estava andando entre oito e dez nós, mas notei que eles faziam um circulo em volta do barco. Acenei com a mão, eles acenaram de volta, e aí pensei em olhar para a frente pára ver se havia outro barco, então assustei de ver entre a genoa e a genaker, que logo na frente do Matajusi, a apenas alguns metros, havia algo que parecia a primeira vista ser um píer de madeira, NO MEIO DO MAR??? Pulei para desligar o piloto automático e virei a proa do barco para não bater naquela, coisa! Consegui evitar a batida, mas passamos a apenas poucos metros do que agora parecia mais ser um caixão de madeira com um monte de cordas amarradas, sendo arrastado, por quem? Pelo barquinho dos pescadores!!!
Na hora o que mais pareceu é que eles haviam posto aquilo na minha frente para eu bater! Mas, porque fariam isso? Será que eles estavam corricando e a linha prendeu naquela coisa, e isso aconteceu bem na frente do Matajusi, como por obra do destino? Não tenho a resposta porque não fiquei por ali para perguntar... mas nisso, ao mesmo tempo que a Lilian tirava fotos de tudo aquilo, a vara correu, com peixe na linha! Ficou o dia inteiro na água e tinha que fisgar um peixe justo naquela hora? Bom, lidamos com o que aparece, então, pus o barco de volta no piloto, e fui trabalhar o peixe, um dourado pequeno, mas o suficiente para umas duas refeições para nós, e mais peixe de sobra para a gaivota no bimini.
Limpei o peixe, guardando algumas muitas sobras para a gaivota, e quando terminei, fui dar de comida na boca para ela, que aceitou com boas maneiras. Não me bicou nenhuma vez! Eu até punha o pedaço de peixe na minha palma da mão e deixava ela pegar com o bico.
Depois, quando tudo acalmou, almoçamos uma lasanha de berinjela feita na hora, e fomos analisar as fotos, aumentando para ver mais detalhes. Temos a foto nítida do caixão. Quando postar, vamos ver quem da a melhor definição do que seria aquilo! Começamos pela minha! Um japonês, fugindo de alguma ilha por aqui durante a segunda guerra mundial, construiu um caixão que boiava, e se lançou ao mar, estando ainda vivo, comendo os peixinhos e pássaros que estavam por perto. Acho que estou lendo muito livro de sobrevivência no mar! Mas, aguardo outras sugestões...
A Lilian perguntou, "porque essas coisas só acontecem com a gente?"
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At 1/10/2010 10:04 (local) our position was 10°50.12'S 124°59.21'E, our course was 260T and our speed was 6.5.
No dia 1/10/2010 as 10:04 horas (local) nossa posição era 10°50.12'S 124°59.21'E, nosso curso era 260T e nossa velocidade era 6.5.
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Mais tres dias e chegamos a Bali:

Por enquanto o Indico tem nos tratado muito bem! Ventos fracos mas com mar calmo. Fora o óleo esparramado na água, que desconfio seja de uma plataforma Australiana e eles estão quietinhos sobre isso, pois escrevi para eles e não obtive nem um obrigado, a água do Indico é claríssima. Não do mesmo tom roxo da água do Atlantico e Pacifico, mais clara. Ainda não mergulhei para ver como é debaixo d'água. Alias, uma grande diferença entre o Pacifico e o Indico, no Pacifico paramos muito mais e mergulhamos e passeamos em terra mais frequentemente. Já no Indico as distancias são muito grandes, e a janela de tempo parta ficar por aqui antes dos ciclones chegarem, pequena, então temos que ir voando de um lugar para outro. Só de pensar que dos últimos vinte e um dias, passamos dezoito dias velejando e somente três dias em terra...
Estamos nos divertindo com a Genaker (balão)! Agora que nos acostumamos com ela, vai ser usada até desgastar, pois os ventos por onde passamos entram na maioria pela popa, o uso ideal para um balão. Tenho ele montado junto com a genoa, e estamos navegando na metade da velocidade do vento, que tem variado entre dez e vinte nós, assim vamos passando mais e mais água pela proa. Fico testando o posicionamento das escôtas e o ajuste do ângulo do vento para ir conhecendo melhor a genaker. Vai ser interessante poder conversar com algum amigo regateiro depois e comparar esses conhecimentos com os dele.
Outro dia, a Lilian tirou um atum congelado da geladeira, e só de olhar, eu fui pescar... e logo em seguida estava com outro atum menor na linha. Trouxe o peixe para bordo, limpei e preparei metade em sashimi, e a outra metade fiz quatro sushis. Tudo muito gostoso. O tamanho ideal de um peixe é aquele que você consegue consumir sem congelar. Foi esse o caso desse atum.
Já no dia seguinte, ela fez o atum congelado com cuscus, para comer com uma moranga, e ficou uma delicia! Cuscus de atum na moranga, vai entrar pára o cardápio do barco!
Tivemos alguns encontros com pescadores, que acho, por curiosidade, sempre se aproximam da gente, o que nos põe a correr para montar mais velas e ajudar no motor para não permitir a aproximação deles. Nessas horas a adrenalina corre solta! À noite, quando tem pescadores por perto, velejo no escuro e passo a boa distancia deles. Uma para evitar redes e long-lines que eles podem ter na água, mas também para não ter que correr se eles resolverem chegar perto.
Nossos amigos do Qovop já estão velejando dentro da Indonésia, mas eles vão parar em Komodo, a ilha dos dragões de komodo, e nós estamos indo direto para Bali, então devemos chegar lá uns dias na frente deles. Vai ser bom estarmos com eles de novo.
Na área de manutenções, parou de funcionar o exaustor do compartimento do motor, então primeiro desmontei o blower (exaustor), limpando e lubrificando ele, e testando para ver se funcionava bem. Funcionou, então fui ver as conexões elétricas e encontrei o interruptor do exaustor com problema, não segurava mais, então troquei por outro que tinha de reserva no barco e tudo funcionando bem agora.
Estávamos com problemas na sonda, que hora funcionava, hora não funcionava, mas o pior é que ficava dando alarme a noite e a gente tem que ir ver, pois pode ser do radar. Depois de varias trocas de email com o William da Marine Express, fui trabalhar em todas as conexões do SeaTalk, abrindo, limpando e lubrificando com Corrosion X, e, depois que limpei todas as conexões do E80 e dos relógios de vento, piloto e sonda, parou de dar problema...
Que bom, barco bom, mar bom, vento bom, tempo bom, comida boa, companhia boa, êta vida boa!!! Se melhorar, estraga!
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At 1/10/2010 10:04 (local) our position was 10°50.12'S 124°59.21'E, our course was 260T and our speed was 6.5.
No dia 1/10/2010 as 10:04 horas (local) nossa posição era 10°50.12'S 124°59.21'E, nosso curso era 260T e nossa velocidade era 6.5.
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