sábado, dezembro 31, 2011

Feliz Ano Novo

Aos filhos, parentes e amigos, desejamos um Feliz Ano Novo.
Estamos ancorados na praia de Patong, na Tailandia, junto com outros muitos barcos.
Impressionante a comemoração por aqui, que começou as seis da tarde, com balões de ar quente enchendo o ceu, e fogos de artificio, e agora, mais de tres da manha, e os balões e fogos continuam!
Abraço a todos,
Silvio e Lilian, Matajusi
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terça-feira, dezembro 20, 2011

Johor Bahru a Pinang

Como planejado, saímos às duas da tarde da Danga Bay Marina em Johor Bahru, onde o Matajusi ficou durante onze meses enquanto fomos resolver pendências no Brasil, e iniciamos nossa navegação na direção da Tailândia, aproveitando a maré alta, que além de nos dar mais profundidade, ainda nos empurrava na direção certa. Em quatro horas alcançamos a área de ancoradouro de navios, entre Noroeste Singapura , Sudoeste Malásia e a entrada Sul do Estreito de Malaca, jogando ancora em profundidade de sete metros, com trinta metros de corrente para garantir uma ancoragem segura. Preparamos o barco para a noite e fomos dormir.

Em retrospecção, além de todo o trabalho de manutenção normal de um barco, tivemos poucos problemas com o barco parado. Trocamos o regulador de voltagem das placas solares e encontramos um fio solto embaixo do mastro, o que impossibilitava as luzes de navegação e ancoragem de ligarem. Além disso, descobrimos algum vazamento de água de alguma parte entre os tanques e mangueiras de água doce, antes da bomba de pressurização, que vai nos dar uma boa dor de cabeça para resolver, pois, olhando onde conseguimos olhar, já percebemos uma vazamento do tanque de água doce de Boreste (direito), de acesso completamente impossivel sem desmontar metade dos móveis da sala, além de ter que cortar algum pedaço de fibra ao redor da área onde foi instalada a saída de água doce desse tanque, pois de lá, com certeza , tem água saindo por onde não devia, mas, como já disse antes, agora não adianta desesperar, vamos consertando e arrumando tudo que vai dando problema e tocando a vidinha normal de manutenção a bordo de um veleiro fazendo uma viagem como essa. No final, a um custo mais alto e com muito trabalho, tudo no barco vai estar melhor do que quando começamos.

Depois de uma pequena singradura (distancia navegada) de dezesseis milhas no primeiro dia de navegação, fizemos um pouco mais de cinqüenta milhas durante o segundo dia, ancorando no final da tarde antes do escurecer, na frente de uma pequena aldeia de pescadores na costa Oeste da Malásia. Ainda estamos nos familiarizando com as correntes promovidas pelas marés, assim podemos ter uma performance melhor durante as horas navegadas. Não que isso seja uma corrida, mas, faz uma diferença de quase quatro nós na velocidade do barco, o que afeta tremendamente a singradura conseguida. Não me lembro de ter estudado para que lado corre a maré, mas a percepção, pelos menos nessa área, é que a maré vazante promove corrente para o norte, o que conseqüentemente, maré enchente promove corrente para o sul. Para lembrar, olhando o gráfico na tabua da maré disponível no Plotter, vejo a curva ascendente da maré enchente e curva descendente da maré vazante, ou seja, sobe uma subida, e portanto mais devagar na enchente e desce ladeira abaixo da maré vazante. Aí me ponho a pensar na teoria aprendida e lembro que a maré é promovida pela força de gravidade da Lua, mas a Lua passa de Leste para Oeste, e deve passar duas vezes por dia, pois tem duas marés por dia... Então a maré deve encher pelo Leste e esvaziar para o Oeste... mas, quando tem terra pelo caminho, a posição da terra deve promover mudança na direção da corrente das marés... Hum, as coisas que temos tempo de pensar quando estamos vivendo a bordo, sem televisão, sem noticias ruins...

Depois de outra noite bem dormida, na tranqüilidade da ancoragem escolhida, perturbada somente pela troca na posição do barco promovida pelas mudanças da maré, levantamos ancora, seguindo nossa navegação rumo à Tailândia, continuando a nos familiarizar com as coisas do barco e a vida a bordo novamente. Puxa! Quanto esquecemos durante a temporada de vida em terra! Acho que na cabeça não cabe tudo que vamos tendo que lembrar, então, por prioridades, vamos conseguindo guardar somente o que precisamos, mas o importante agora é lembrar de como se veleja com segurança, quando se riza (diminui velas), que cabos usar, em que sequência, como usamos os rádios, o Sailmail, os equipamentos, como desenhamos e acompanhamos as rotas, isso enquanto o tempo vai passando, a distancia vai sendo percorrida, e sem incidentes, no final do dia, vamos procurando mais uma ancoragem para antes do anoitecer.

Mais umas setenta milhas singradas e ancoramos na frente de uma pequena cidade, escondida atrás de um cabo mais acentuado da costa Oeste da Malásia, para tentar ficar fora da influencia da forte corrente promovida pelas marés. Ainda não sentimos segurança em passar a noite navegando, pois são muitas as coisas a serem ainda lembradas, testadas, firmadas na pratica do dia a dia, então vamos navegando somente de dia, e por consequência, temos uma noite bem dormida ancorados. Estamos subindo a costa da Malásia durante os monsuns de Nordeste o que nos pôe com vento na cara a maior parte do tempo. Vamos ajudando com o motor, mas isso vai consumindo nosso diesel. Em geral, temos autonomia de mil milhas, mas isso, usando o motor em baixa rotação. Subir contra o vento e contra a corrente das marés enchentes, força o uso de rotações mais altas do motor e consequentemente, consumo maior de combustível. A um real o litro, isso não é uma grande preocupação por aqui, mas mesmo assim, promove manutenções mais freqüentes no motor, para a troca de óleo e filtros. Não existe ganho sem esforço! Nesse caso, incluindo o esforço de se conseguir provisionar de diesel novamente, e custo do diesel no novo local! E assim passamos nosso terceiro dia a bordo. Com o conhecimento, prática e coragem aumentando dia a dia, nos sentimos mais seguros de tentar a primeira noite navegando, assim estimando nossa próxima ancoragem para depois de umas cem milhas navegadas, observando os conselhos no livro do Jimmy Cornell sugerindo uma parada no Porto de Klang, mas, na pratica não aconteceu assim, pois chovia, ventava e trovejava intensamente, além da visibilidade estar perto do zero quando chegamos próximos ao porto, que acumulado com a presença de muitos navios ancorados e outros navegando, impediram a entrada pelo canal sugerido para alcançar a marina.

Com isso, enfrentamos alguns problemas que não estavam planejados, o primeiro, quando fui baixar a vela mestra enquanto estávamos passando pelo meio dos navios ancorados e ouvi pelo radio um navio chamando outro e avisando se ele não havia visto o veleiro Matajusi à sua frente! Com a pouca visibilidade pela chuva torrencial, consegui ver um navio chegando rápido por Bombordo (esquerda) já a menos de duzentos metros da gente! Corri para o cockpit para desligar o piloto e conseguir desviar do navio chegando rápido em rota de colisão com a gente. Depois de ter feito isso, chamei pelo radio ao navio que havia percebido pelo AIS dele a possibilidade de colisão entre o Dong Jiang e o Matajusi, pois ambos estavam visíveis no AIS, e agradeci ao aviso. Em seguida, e depois do Dong Jiang ter passado a poucos metros da minha proa (frente), uma chamada dele perguntando quais eram as minhas intenções?! Ora! Eu estava em rota, ele ancorado, eu estava subindo à costa, enquanto ele estava cruzando o caminho, e ambos estávamos no AIS, ou seja, eu era pequeno e ele muito grande, portanto, ele optou pela lei do mais forte! Mas, ficou com cara de mal na vista de todos os navios que estavam ancorados na área, pois todos devem ter ido confirmar em seus equipamentos a quase colisão entre esse enorme navio, e esse veleiro com o direito de passagem, então, não restou a ele outra alternativa a não ser tentar melhorar sua posição pelo radio, ao me perguntar, depois dos fatos terem acontecido, quais eram minhas intenções! Na hora, minha vontade era responder pelo radio, com todos escutando, que minha intenção era chegar com vida à Tailândia! Mas, educadamente respondi que estava a caminho de Langkawi e me desviando do trafico local. Ele agradeceu minha resposta e assim continuamos nossa subida, mas, agora com outro problema! Não havia detalhado a rota seguinte ao Porto de Klang, e, Lei de Murphy a parte, como disse o Marçal Ceccon do Rapunzel, se você não fizer o que tem que ser feito, antes, vai pagar o preço depois... e esse preço veio composto pela dificuldade de navegação a noite, próximo a costa, em águas com muitos baixios e outras dificuldades como navios afundados e outras embarcações com seus próprios destinos e objetivos, isso incluindo um rebocador puxando uma balsa enorme, só que, cruzando a nossa rota! Isso enquanto eu ia desenhando uma rota! Quase entramos nos cabos entre o rebocador e seu reboque! No desvio, passamos muito próximos a outra embarcação, fazendo sei lá o que, mas que reclamaram que estávamos muito próximos! O que fazer? Com tantos navios, pescadores, e outras embarcações muito próximos uns dos outros, e enquanto eu tentava desviar dos baixios, e tudo isso a noite, com a corrente contra ao máximo e provocando movimentações estranhas do barco, que pulava de um lado para outro... enfim, acho que deu para desenhar a foto! Sim, estamos relembrando a pratica de navegar...

O bom de tudo isso, foi uma singradura de mais de cento e cinqüenta milhas, e a oportunidade de parar em uma ilha no meio de varias ilhas ao largo de Lumut, que eu não teria tentado e não teria conhecido não fosse o incidente na tentativa de ancoragem em Klang, e o que me rendeu o primeiro mergulho para caça feito na Malásia, até então, uma área que eu desconhecia e considerava completamente morta de vida aquática, pelo menos era o que a aparência sugeria. Escolhi uma enseadinha na ilha de Rambia, e para lá nos dirigimos. Achei a área escolhida, lancei vinte metros de corrente com seis metros de fundo, e fui explorar a área.

Na pequena praia de areia branca, parecendo virgem, percebi dois mergulhadores de Skuba que estavam chegando de volta à praia. Resolvi descer o bote, e aproveitar e testar o motorzinho, que, por Murphy, não funcionou. Assim fui a remo, levando comigo roupa, mascara e pé de pato de mergulho para uma possível exploração sub-aquatica, depois de conversar com os mergulhadores, que eram na verdade um instrutor e um aluno, fazendo seu curso de salvamento, mas deu para ter uma idéia do local. Soube que a ilha era desabitada, que nunca haviam visto um tubarão, que em águas turvas, não é minha companhia favorita embaixo da água, que haviam conchas, e podia-se ver alguns peixes, mas sempre pequenos. Explorando um pouco mais a praia, descobri um monte de lixo atrás da linha das primeiras arvores... os usuários da praia, limpavam a área de visão, mas jogavam atrás das arvores, que estavam abarrotadas de lixo! Sugeri que uma idéia seria ensinar aos freqüentadores da praia a queimarem esse lixo, e ele espantado perguntou, mas isso não iria poluir o ar?!

Fui fazer o primeiro mergulho exploratório que me renderam umas ostras gostosas mas com uma concha duríssima, e umas conchas iguais as que eu já tinha encontrado no Pacífico, grandes, com a boca mais parecendo aqueles cortes de dentes em abobora de dias das bruxas, em zigue-zague, mas muito gostosas, principalmente o músculo, como as vieiras. Enquanto trabalhava em abrir as conchas, percebi alguns peixes maiores curiosos com a minha presença, e decidi ir buscar a arma para tentar uma comidinha diferente a bordo. Meu segundo mergulho rendeu uma garopinha esverdeada, ou era um badejo, mas um peixe daquela família conhecida, em geral com sabor e textura de bom gosto, e mais um budião verde, mas com textura diferente da dos que temos no Brasil, mais parecendo a textura de um robalo. Peixes limpos e preparados para experimentarmos depois, quando enjoados das comidas abastecidas no barco enquanto nossa estada em terra.
Tudo muito lindo, mas há dois dias quase sem dormir e cansados, preparamos o barco para partir logo depois de acordar, estimando umas oito horas de sono, o que nos poria a navegar lá pelas duas da manha, mas, cansado, não percebi o erro na escolha da ancoragem de frente para o mar aberto , que, com o vento da noite, virou um problema perigosíssimo, pois as ondas cresceram e empurravam o barco para as pedras. O barco estava bem ancorado, mas com corais no fundo, e o barco mudando de lugar, prendeu a corrente em baixo de alguns corais. Acordei com o corcovear do barco, e percebi o tamanho do problema! Eram oito da noite, depois de somente três horas de sono, quando fomos estudar a situação para definir as possíveis soluções, que no melhor caso seria levantar ancora e partir, sacudidos, mas são e salvos, mas nos piores casos, podiam incluir perder ou cortar a ancora, bater com o leme em alguma pedra no fundo, entre outros pesadelos piores! Preparados para o pior, mas tentando o nosso melhor, conseguimos desancorar o barco depois de algumas tentativas, com a Lilian tocando no leme e motor e eu dando instruções da frente, ora fora, ora dentro d'água, não antes de passarmos pela possibilidade de termos de cortar a corrente, pois havia prendido em algum coral no fundo! Mexe daqui, tenta dali, e com a sorte que nos acompanha pela qual já somos muito conhecidos, tiramos o barco daquela situação sem maiores problemas.

De novo, fazendo rota pelo caminho, algo que eu já tinha tirado dos meus maus hábitos, mas, mar aberto pela frente, todos eletrônicos ligados, ajudando a considerar as situações, e fomos a caminho de Pinang, onde chegamos no final da tarde do dia seguinte ao problema da má escolha de ancoragem, atracando na marina da cidade de Georgetown. Vamos aproveitar a cidade, conhecer algumas iguarias e lugares locais, depois de cuidar do barco, estimando partir para Langkawi em dois a três dias.
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domingo, dezembro 11, 2011

Preparando para navegar novamente. Dezembro 2011.

Incrível como a vida muda entre viver na cidade, trabalhando,
cuidando de problemas dos mais diversos, enfrentando transito, ouvindo
as péssimas noticias que são parte do nosso dia a dia, e a vida a
bordo, também com problemas, também com muito trabalho, mas sem essa
carga de notícias ruins que faz parte da nossa vida na cidade. A
nossa atitude muda, encaramos todos os problemas e cada problema, um a
um, e vamos resolvendo cada um deles e já começamos a sentir os
benefícios dessa mudança de vida, com menos dores, menos preocupações,
e mais energia positiva.
E assim tem sido, começamos por limpar o barco todo, por cima, por
baixo e por dentro. A aparência boa do barco melhora nossa disposição,
e o conforto a bordo. A vidinha vai voltando ao que era antes de
deixarmos o barco, calma, boa, sadia, feliz...
Um a um, fui acordando cada sistema do barco, baterias, carga solar,
carga externa, transformador, carregador de baterias, conversor AC/DC,
motor, dessalinizador, instrumentos de navegação, rádios, pactor
modem, luzes, bombas, tubulações, tanques de água, água quente, água
fria, válvulas de entrada e saída de água e esgoto, banheiros,
torneiras, chuveiros, gás, fogão, geladeira, entre outros, e fui
fazendo uma lista de coisas a consertar ou melhorar.
Minha lista incluiu a troca do sistema operacional do E80 (plotter),
pois a antigo abendava quando tinham muitos navios identificados pelo
AIS. Essa troca é complicadinha, pois requer um tipo de cartão
CompactFlash, mas só funciona com os originais antigos de 32MB, que
não existem mais. Por sorte, tinha uma câmera Sony antiga que usava um
cartão desses. Com o cartão correto, ainda em SP, fiz o download do
novo sistema operacional que corrige o problema do excesso de navios
no AIS, instalei e funcionou perfeitamente! Menos um!
Assim que chegamos ao barco, ouvi o indicador de carga das baterias
apitando. Imediatamente fui checar o regulador de carga das placas
solares, e percebi que não estava desviando a corrente quando as
baterias já estavam carregadas. Retirei o fusível e não sei como as
baterias sobreviveram esse ano todo com a placa carregando acima da
especificação, mas tenho que tirar o chapéu para a decisão de usar
baterias de gel, que aceitam mais carga do que as outras.
Deu trabalho encontrar outro regulador de carga, mas a vantagem é que
os novos são muito mais inteligentes dos que o que eu estava usando.
Ai escolhi um que aceitava mais de 400W e 30A, pois minhas placas tem
340W e podem gerar até uns 25A, então fica com sobra para algum
excesso. Instalado e funcionando perfeitamente!
Acordar o motor deu um trabalhinho, mas depois lembrei que eu havia
trocado os filtros de diesel do Raccor e do Motor, assim, foi só
sangrar um pouco o motor, e pronto, funcionou perfeitamente. Testei
engate para frente e para trás, e o para a frente continua com a saga
dos cones derrapantes da Yanmar! Supostamente, os saildrives 50 não
deveriam ter esse problema, mas têm! Chamei a Yanmar Malásia varias
vezes, mas não apareceram, então vamos assim mesmo. Eu já sei
desmontar a transmissão, e se ficar muito ruim, eu mesmo dou algum
jeito.
Troquei o som do barco, pois queria ter um som que aceitasse todos os
novos gadgets tipo Ipod, Iphone, USB, DVD, DVR, MPx, JPG, etc. Comprei
um Kenwood ultimo modelo em Singapura, e não paguei mais do que R$150!
Acordei o dessalinizador, testei de todos os jeitos, e tudo
funcionando perfeitamente. Gerei água e depois usei essa mesma água,
pois não tem cloro, para deixar lavando por quase uma hora, visto que
eu havia posto os químicos recomendados para ficar no dessalinizador
quando ele esta parado. Encontrei uns filtros de 5 microns para uso em
água de casa, que cabe quase perfeitamente no filtro do
dessalinizador, e comprei um monte deles por menos de R$3,00 cada!
Mas, por segurança, comprei mais dois originais da Spectra em
Singapura, a US$34,00 cada! Em áreas de água muito suja, vou usar
esses outros filtros, pois depois posso jogar fora. Os filtros
originais, eu uso por um tempo, e depois lavo bem, escovando e
deixando secar ao sol por uns dias, enquanto substituo por outro
recondicionado por mim mesmo.
Instalamos todas as velas, um ato digno de um paparazzo documentar com
fotos que, primeiro iriam mostrar como fica uma vela de ponta cabeça!
E olha que a Lilian estava me chamando a atenção de que algo estava
torto! Na segunda tentativa, enrolei a vela e o cabo do enrolador do
mesmo lado, ou seja, um não segurava o outro! Ainda bem que comecei
pela vela menor, a StaySail, pois se fosse com a genôa, teria sido
muito mais re-trabalho! Aproveitei quando estava instalando a mestra
e finalmente refiz o baten (varal de fibra de vidro que fica dentro da
vela) de cima, pois o original havia quebrado antes de chegarmos a
Galapagos em 2009 e eu havia usado um pedaço de cano de água no lugar
do quebrado. Imaginem, o cano de água de Galapagos ficou na vela por
mais de 10.000 milhas! Tive que lixar e cortar um nas medidas
corretas, e lá vamos nós, de baten novo, e sem cano de água na vela!
O casco estava cheio de água doce, o que significa que tem mais
goteiras para achar e consertar. Tiramos toda a água, lavamos todo o
fundo, limpamos com água e vinagre para evitar o bolor, e o cheiro do
barco melhorou muito.
Mergulhei para ver como estava o casco, leme, quilha, hélice e
principalmente o saildrive, pois minha preocupação era ter o mesmo
problema que o Prieto teve com o Tutatis, onde a eletrolise destruiu o
saildrive dele, e teve que ser trocado, mas encontrei tudo correto,
e melhor, o casco não estava muito encracado, prova que o uso da tinta
Microm 66 da Internacional foi um bom investimento. Eu havia posto um
saco de lixo para proteger o hélice e saildrive, e isso foi também uma
boa decisão, pois foi só tirar o saco e encontrei tudo em perfeitas
condições. Chequei o anodo do saildrive que ainda esta muito bom,
prova de que não tive problemas com eletrolise. Esse problema é comum
quando se atraca próximo a um barco de metal, e principalmente quando
esse esta conectado à energia do cais. Eu tive o cuidado de escolher
um atracadouro que não tinha barco de metal conectado o tempo todo.
E assim, tudo correndo bem, estamos nos preparando para partir na
direção da Tailândia nessa próxima terça-feira. Hoje vamos fazer
compras em um shopping novo, pois precisamos de roupas bonitas para
usar no Natal e Ano Novo, que pretendemos passar com amigos na
Tailândia. Amanha, vamos fazer a documentação do barco, deixando a
emigração para ser feita em Lankawi, uma ilha no caminho e ultimo
lugar da Malásia que vamos aportar. Já começamos a estocar o barco com
mantimentos, e vamos fazer mais amanha. Na terça-feira vamos encher os
tanques de diesel e em seguida partimos, indo dormir ancorados na
entrada do estreito de Malaca. Vamos navegar durante o dia, pois à
noite existem muitos barcos pesqueiros sem sinalização, com suas redes
e bóias, espalhados pela área próxima a costa. Uma alternativa é subir
pela rota dos navios, que vem com o desconforto deles passando
próximos o tempo todo...

quinta-feira, dezembro 01, 2011

O retorno ao Matajusi, Novembro, 2011

Depois de onze meses em terra, com muitas estórias para contar, mas vamos
deixar para escrever com mais calma, quando tivermos bastante tempo
livre, em algumas das pernas mais longas...
Chegamos cansados, mas chegamos bem à Malásia, vindos por Doha,
Singapura, Malásia.
Encontramos o barco MUITO sujo! Tudo verde, coberto de limo! E pensar
que com a mão de obra baratíssima daqui, poderia ter sido bem
diferente, não fosse o gerente da marina ser um urtigão! Pagamos para
a marina cuidar do barco, mas acho que ele entende por cuidar, ver se
ainda esta flutuando...
Isso é fácil e barato de resolver por aqui, pois como disse, a mão de
obra é muito barata. Contratei uns meninos que cuidam de outros barcos
para limpar o deck, casco, e tudo o mais necessário para deixar o
barco bonito de novo, e em alguns dias esse problema vai estar
resolvido.
Aí vem os outros problemas, que vão se multiplicando e acumulando,
até resolvermos tudo na lista e voltarmos á vidinha de morar a bordo.
Estou começando a testar tudo no barco, e o difícil é lembrar como as
coisas funcionavam antes, mas vamos devagar e tentando daqui e dali,
até resolver.
O pior problema são os computadores! Os dois pifaram no mesmo dia!
Estamos trabalhando nisso... Consegui fazer o meu funcionar, mas não
entra na rede sem fio daqui. Falei com um vizinho que me emprestou um
modem por celular, pago por mês, e estou usando ele para postar essa
mensagem.
Uma preocupação é que com as enchentes na Tailândia, tem um surto de
Dengue e de cólera pela costa da Malásia e Tailândia, por onde vamos
passar. Para complicar um pouco mais, com os piratas bem ativos,
muitos barcos retornaram para a Tailândia e Malásia, e as marinas
estão super-lotadas, e as ancoragens também.
Soubemos também que os piratas estão ativos na costa norte de
Madagascar... com isso, talvez tenhamos que ir por Mauricios e
Reunion... e isso quer dizer, enfrentar as ondas gigantes da corrente
de Agulhas...
Bom, sempre tem algo para pensar e considerar, mas vamos tocando como
podemos, tentando usar o bom senso e conhecimento, nosso e dos outros
comandantes que vamos encontrando pelo caminho, para tomar as decisões
mais acertadas, e, enquanto isso, de volta para as eternas manutenções
no barco...