quarta-feira, março 14, 2012

2012/03/14 Gaafaru - Mergulhadores de anzol:

















A tal da ilha a venda, não permitiu ancoragem, ou muito fundo, ou muito próximo de corais rasos, ai tentamos uma ilha próxima, mais fundo ainda, então decidi abortar a ancoragem, pois já estávamos no final do dia e ficando sem luz, e segui para mar aberto, pelo menos não tive que me preocupar com cabeços de coral...

Passamos a noite navegando, indo direto para Hulhumale, a ilha com o aeroporto do lado da ilha de Male, mas notei esse atol Gaafaru e pesquisei no Google por possíveis ancoragens. Achei algumas, e vi claramente um passe para dentro do atol, então segui para esse passe. 

Chegamos na maré baixa, mas pela cor conseguimos definir que havia profundidade suficiente para entrar, então seguimos adiante, devagar. A profundidade mais rasa foi de doze metros. Fundo de coral e areia. Fui desviando das áreas verdes, explico, quando se avalia profundidade em águas azuis assim, as azuis escuras são boa profundidade, azul mais claras, profundidade diminuindo, esbranquiçadas, áreas com areia, quanto menos azul, mais raso, e as esverdeadas são corais rasos, essas áreas evitamos.

Fui ziguezagueando pelas áreas mais profundas, até entrarmos no atol. De lá, me dirigi a uma área azul esbranquiçada que estava vendo no Google Earth, e encontrei uma área excelente para ancoragem, sem corais no fundo. 

Ancoramos e estamos ancorados até agora. Vamos ficar até amanha cedo, quando partiremos para Hulhumale.

Enquanto estávamos ancorados ontem, vi uns barcos navegando pelas proximidades e fiquei observando. Percebi que eles largavam mergulhadores com uma cesta na água, e voltavam depois para recolher a cesta. Só entendi o que faziam, quando eles voltaram do passe no final da tarde e passaram pelo Matajusi, oferecendo um peixe. Como não conhecia, disse que já tinha bastante peixe na geladeira, mas pedi para ver o que mais eles pegaram. O piloto voltou com o barco e encostou do lado do Matajusi para eu pular para o barco deles. Ai deu para entender o que faziam... Eles tinham dois tanques grandes, um com peixinhos isca vivos, e outro com garoupas e badejos vivos. Eles flutuavam na superficie com uma cesta amarrada na cintura, e dentro dessa cesta, tinham os peixinhos isca. Eles punham uma isca viva no anzol, e pescavam colocando a isca exatamente onde eles queriam, área de garoupas entocadas. Achei demais, e pedi para ir mergulhar com eles no dia seguinte. Eles consentiram, e como já estava ficando escuro, largaram ancora do lado do Matajusi.

Fui dormir as oito e meia da noite, pois eles disseram que iam me pegar as cinco e meia da manha! Dormi na ansiedade, mas uma boa ansiedade... Hoje as seis e meia eles levantaram ancora e vieram me buscar. Pedi para levar a arma havaiana, só para me proteger de algum tubarãozinho intruso, e lá fomos nós aprender o método de pescaria deles...
O primeiro mergulho, eles param perto de uma área mais rasa, e os cinco mergulhadores entram na água com uma rede quadrada, amarrada nos quatro cantos, e com um peso de chumbo próximo a rede, e uma linha flutuante longa. Eles descem a rede para uma área a uns oito metros de profundidade, esticam ela com os cabos, deixando um quadrado perfeito no fundo, por cima dos corais. Enquanto quatro mergulhadores mantém a rede esticada e nivelada, o quinto desce no centro da rede com migalhas de peixe cortado nas mãos, e espalha perto do centro da rede. O quinto mergulhador mergulha varias vezes, espalhando mais pedacinhos de peixe pela área da rede. Logo um cardume de peixinhos vem comer as iscas, e muitos outros os seguem para o centro da rede, quando então eles começam a puxar sincronizado, os quatro cantos iguais. Depois de umas quatro redadas dessas, eles tinham muita isca viva, ai me disseram que iam para o outro lado do atol pescar, mas como eles iam demorar ate as quinze horas, disse que iria ficar. Um dos mergulhadores se ofereceu de ficar comigo e me mostrar como eles pescavam, então pulamos os dois na água, ele com a cesta cheia de iscas vivas, com uma rede por cima e um buraco para tirar isca e por pesca, mais uma linha de nylon trinta com uns vinte metros, sem amarrar em nada, com um anzol já chumbado de uns três cm de comprimento por um de largura, e eu com a arma havaiana pois as armas tipo arbalete são proibidas nas Maldivas, e ele começou a pescar. Gente! Nunca vi pescar tanto, e tão rápido! Ele descia a isca viva até a área onde tinha visto uma garoupa no fundo, e não dava outra, vários peixes disputavam a isca, mas a garoupa invariavelmente ganhava de todos e engolia a isca. Ele puxava para cima, segurava com a mão esquerda, e com a direita tirava um canudinho de plástico de trás da orelha, desses que vem em caixinhas de suco, e espetava na cloaca do peixe, espremendo a barriga e isso tirava as bolhas de ar de dentro do peixe, que se expandia com o trazer do peixe para a tona. Ai ele punha a garoupa dentro da cesta, e partia para a próxima... A uma certa hora, ele me perguntou porque eu não estava pescando com minha havaiana, com o incentivo e autorização, fui a caça. Enquanto eu pegava uma garoupa, ele pegava umas cinco! Nunca havia visto algo assim? Sempre achei que no mergulho podia bater qualquer pescador na linha, mas, aprendi mais uma hoje... impagável!

Depois de umas quatro horas de mergulho, e nadando contra a corrente, já estávamos cansados, e nessa hora voltou o barco com os outros quatro mergulhadores, subimos a bordo, comi uma panqueca com leite condensado e tomei uma xícara de chá doce que eles me serviram e voltei para o Matajusi. Eles se foram e eu aproveitei para ir checar a ancora, e foi pura sorte um cardume enorme de xareu branco passar perto, o que garantiu o sashimi, que vou preparar e comer agora...

segunda-feira, março 12, 2012

12/03/2012 Maldivas

Chegamos a Uligamu depois de quatro dias de navegação, três dos quais empurrando com o motor, pela completa falta de vento. As últimas três noites passadas no mar ficamos em black-out total, evitando sermos vistos por algum barco pirata caçando por essas áreas. A bem da verdade, não existem registros de atividades piratas por essas áreas, mas o guia que todos os navios seguem diz que acima de Lat10N e a Oeste de Long78E é zona pirata, então achamos mais prudente ficar no escuro mesmo. A cada quarenta e cinco minutos ligávamos o AIS para ver se tinham navios por perto. Vimos somente um navio nos quatro dias de viagem. Na chegada a Uligamu, postei um SMS pelo celular com ship da Malásia para o representante local da agencia que contratei, a Antrac, a assim que ancoramos, la veio o barco com cinco representantes das autoridades locais. Estavam Custom, Navy, Healthy, Emigration, and Harbor Master, mais o Assad, nosso agente. Fizemos os papeis de entrada das Maldivas a bordo do Matajusi, e distribuímos cinco copias da nossa lista de tripulantes. Passaportes carimbados, e estamos legalizados nas Maldivas. Nossa primeira ancoragem foi com vinte metros de profundidade, bem ao sul da ilha, mas, por recomendação dos locais, mudamos mais para Norte. Acabamos mudando mais algumas vezes a ancoragem, ora por mudança do vento e marolas, ora para ficar mais longe ou mais perto da praia e dos recifes. Fomos muito bem recebidos pelos locais, que organizaram comermos juntos duas vezes durante a nossa estadia por lá. Nós levamos um pirão de cabeça de garoupa, e eles levaram peixes e salsichas fritas com pimenta, e macarrão frito com muitas coisas, inclusive pimenta. Boa troca de experiências. Na vila de Uligamu moram Quatrocentas e Oitenta pessoas e quase todos trabalham para o governo. As duas maiores fontes de renda das Maldivas são o turismo, e a venda de peixes. Realmente, os peixes são abundantes. Com a permissão dos locais, fui caçar garoupas para o nosso jantar comunal, e trouxe duas na ordem de cinco quilos cada. Uma terceira, errei o tiro por conta de um tubarão galha preta que apareceu do nada e tentou morder a garoupa que já estava na linha do meu arpão. Como não tinha onde pô-la, a deixei na linha e armei novamente para pegar a outra. Esse tubarões não são agressivos, mas deixar comida fácil para eles e eles chegam bem perto. Na expectativa de recebermos nossos convidados Miguel e Andrea, amigos de Juquei e donos do Enfarta Madalena, ontem começamos nossa viagem para Male que fica a cento e sessenta milhas de Uligamu. Traçamos uma rota quase toda por dentro dos vários atóis das Maldivas, e vamos parando a cada quarenta milhas. No final da tarde chegamos ao Porto de Kulhudhuffushi, uma aldeia maior, com uns dois mil habitantes. Deixamos o barco atracado ao paredão do porto, mais próprio para navios, e fomos andar pela cidade. A exemplo de Uligamu, os locais nos tratam muito bem e são sempre muito prestativos. Fomos a procura de um ATM para pegar moeda local, e depois disso feito, fomos a procura de um bar/restaurante para comermos algo local. Como havíamos almoçado antes de sair do Porto, acabamos comendo um sorvete de creme misturado com frutas frescas picadas, uma de
licia!
 Hoje saímos as nove da manhã e estamos a caminho de uma ilha que esta a venda (ou aluguel). Depois contamos como foi. O Miguel e Andrea chegam no dia dezessete pela manha, e já queremos estar ancorados em algum lugar calmo próximo ao aeroporto para recebê-los...

quinta-feira, março 01, 2012

01/03/2012 Terceiro dia de travessia (Galle, Sri Lanka a Uligamu, Maldivas)

Nossos últimos dois dias em Galle foram de muito trabalho de provisionamento, talvez o melhor até hoje, com o Batu nos ajudando a buscar itens e a nos levar nos lugares que precisávamos, mais o transporte e embarque do novo tripulante do Matajusi, o elefante Kumara (esculpido em Mohogany maciço, pesando cinqüenta quilos), com lidar com um grupo de seguranças corruptos do Porto, lavar as frutas e vegetais e as bicicletas, posicionar tudo no barco, enfim, muito trabalho, muitas horas por dia. Ficamos tristes de partir, principalmente por conta do Batu, que foi um excelente ajudante, companheiro e amigo. Gostamos de Sri Lanka, da comida, do povo, dos lugares visitados, sendo o único negativo, alguns dos seguranças do Porto, mas poucos em comparação com todas as pessoas que conhecemos.
Um dos high-lights da nossa estadia em Galle foi aprender a cozinhar com os temperos que eles chamam de Curry, um mistura de muitos ingredientes para dar sabor nos alimentos. Quem nos ensinou foi a mulher do Ekka, um parceiro de Tuk Tuk (triciclo) do Batu, que preparou muitos pratos conosco filmando e fotografando, e o Batu, que nos indicou os temperos para comprar.
Mas, nessa vida de travessias, temos que continuar com as nossas, e partir deixando para trás os sabores e dissabores fazem parte e já nos acostumamos com isso, então levantamos ancoras, literalmente, pois alem de serem duas lançadas, ainda tivemos que nos livrar de mais duas e mais um cabo que prendeu na nossa, e partimos de Galle para Uligamu, Maldivas, no dia vinte e oito passado as nove e trinta da manhã, ajudando com o motor, pois o vento ficou fraco a maior parte do tempo.
Na primeira noite, tivemos muita mudança de vento, com vento chegando a vinte nós, então trabalhamos a noite inteira. Segundo dia sem problemas, continuando com vento fraco e ajuda do motor, mas essa noite passada foi um pouco desconfortável, não pelo mar, que estava de almirante, mas pela aparência, com uma nevoa fina, que dificultava visão, com a ausência total de navios, o que nos deixava sozinhos em uma área considerada dentro da zona de pirataria (Norte de Lat10S, Oeste de Long78E), e ter visto os navios que passavam cheios de parafernálias para evitar que os piratas subam por seus costados, não ajudou muito. Passamos a noite em Black-out total, incluindo o AIS, e só ligávamos a cada quarenta e cinco minutos para dar uma olhada na área. As conversas sobre o que fazer em caso de ataque de piratas foi, picante! Mas, manha chegou com sol e mar bons, a cabeça se ocupa de outras obrigações. Temos mais dois dias para chegar a Uligamu, nas Maldivas. Agora pela manha, cruzamos o Cabo Camorin, extremo Sul da Índia e acabamos de cruzar o Golfo de Mannar, entrando agora no Mar de Lakshaweep. Já perdi a conta de quantos mares já cruzamos...
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