Posição 04/07:
9°40'S 134°36'W
Estamos a 230 milhas de Fatu-Hiva! Chegaremos lá amanha à noite. Isso se eu não reduzir pano para entrar durante o dia no dia seguinte, mas a enseada é bem aberta, sem grandes obstáculos, e só tem três barcos ancorados lá, então acho que vamos deixar o barco navegar o que pode. Vamos com a mestra no primeiro riso, para equilibrar a área vélica da genoa, que esta armada em asa de pombo, assim dá menos tendência a orçar (subir no vento) nas rajadas.
Nos últimos dois dias tivemos ventos de ESE entre 12 e 20 nós e mar entre dois e três metros de altura. Essa ultima noite foi inteira de pirajas de chuva, sem vento muito forte. Ficamos fechados dentro do barco e a chuva lavou bem o barco, merecidamente, pois acho que faziam mais de dois meses que não pegávamos uma chuvinha que tirasse um pouco do sal do barco.
Enquanto chovia, assistíamos ao DVD do show dos Bee Gees em Las Vegas. Sureal! Lá fora as asperezas do vento, chuva e mar, e show dos Bee Gees dentro da nossa bolha de sobrevivência.
Essa manha, contei vinte e sete peixes voadores mortos no deck. Eram muito pequenos então joguei de volta no mar. Ainda não experimentei o gosto desse peixe, que dizem ser muito bom. Começamos a ver mais pássaros que se aproximam curiosos de saber que tipo de peixe é o Matajusi! Tem sido nossa única companhia. Desde que saímos de Galapagos, há dezoito dias atrás, só vimos um navio nos primeiros dias, e um pesqueiro, o Daniela F com registro no Panamá. Eu estava com o AIS desligado, e assim que vi o pesqueiro,que mais parecia um navio, liguei o AIS e fui ver os dados daquele barco. O chamei pelo nome no VHF canal 16 e ele respondeu. Conversamos um pouco, eu curioso sobre o que eles faziam ali, e ele o mesmo com relação ao nosso barco. Disse que tinha ido pescar nas Marquesas, um tipo de pesca onde eles cercam um cardume de peixes com a rede, fecham o fundo e depois recolhem para o barco. Ele disse ter atingido a quota dele. Ele seguiu seu caminho e nós o nosso, opostos um ao outro. Não vimos mais nenhum sinal de vida humana a partir daquele dia.
Chego a pensar o que seria se tivéssemos um problema. Tem-se que confiar em si próprio para se sujeitar a estar aqui, pois a chance de se ter ajuda em menos de algumas semanas seria mínima.
Por isso testei muito o barco, e fui arrumando tudo que achava estar errado ou que podia vir a dar problema, e hoje, o Matajusi é um barco relativamente confiável. A maior parte dos problemas que tive com o serviço do estaleiro foram cosméticos, de acabamento, não aparentando o barco ter problemas estruturais. Estamos completando dez mil e quinhentas milhas navegadas com ele desde o dia que saiu do estaleiro e acredito que se fosse dar problema já teríamos visto.
Uns dois dias depois daquela tempestade, o leme começou a apresentar o mesmo problema que já havia dado antes, e que mandei consertar em Aratu na Bahia. Algo deu errado, pois não era para dar problema de novo. Vou escrever para o pessoal que fez o serviço para entender o que deu errado, pois vou ter que refazer de novo e dessa vez, vou fazer eu mesmo, assim tenho a certeza de que foi bem feito. Será que eles devolveriam o dinheiro que paguei pelo serviço que não deu certo, penso. Assim como, será que o estaleiro me reembolsaria por todo o custo que tenho tido com os serviços mal feitos por eles? Seria o justo, não? Espero mesmo que os outros barcos construídos pelo estaleiro não tenham tido todos esses problemas que eu tive, mas, se tiveram ou tiverem, tem meus relatos para lhes oferecer alternativas.
Estamos ansiosos por ver terra de novo!