Posição 02/07
08°54'S 128°53'W
Os ventos e ondas fortes continuam. Deu uma amansada ontem e aproveitei para lançar duas iscas na água (lula de plástico, laranja (campeã) e amarela (estreou)). Até esquecemos que elas estavam na água, e no começo da tarde as duas fisgaram peixe praticamente ao mesmo tempo.
Imaginem o que é pescar em um veleiro andando a 8 nós, com três velas armadas! Pois é, complicado. Primeiro fui à com menos linha para recolher, fechei a fricção e dei um puxão forte para fisgar bem. Aí pedi para a Lilian guinar 60° para o vento, para ficarmos de traves (de lado), pois as velas estavam armadas para vento de popa. Aí trabalhei o peixe de barla (do lado do vento). Estava pesado e foi um trabalhão puxar-lo até um ponto onde podia fisgá-lo com a bicheira. Nessa hora, posiciono o peixe do lado do barco, ainda na água, e passo a vara para a Lilian segurar e manter o peixe perto da proa. Aí pego a bicheira, fisgo o bichão, o trago para dentro do barco, tiro o anzol e começo a limpar, só que, esse veio junto com o outro pois as linhas se enroscaram. O outro era maior e mais brigão, então na verdade puxei dois ao mesmo tempo!
Conseguimos embarcar o primeiro, e na desvencilhada do anzol, a Lilian acabou fisgada também! Mas, guerreira, gritou um pouco (não vou falar o que!) e logo voltou para me ajudar com o outro. Nesse meio tempo eu separei as linhas, e fui trabalhar agora a vara de sota. Esse era maior e deu a maior canseira trazê-lo até o barco. Mas, alguns 25 minutos depois, o tínhamos dentro do deck já fisgado pela bicheira. Meu braço ainda dói do esforço!
Limpei os dois, mas só filés, pois não gostei muito do Wahoo para sachimi, e estou sem estomago para ceviche.
Muitos filés depois, e o vento começou a pegar de novo. Voltou para os trinta nós e por lá ficou, entre quinze e trinta nós, a noite toda e mais hoje o dia todo. Risei a mestra no terceiro riso e recolhi 2/3 da genoa e mesmo assim andamos entre seis e meio e onze nós.
Cansei de ir até o mastro risar e tirar riso, então instalei riso um e riso dois com um cabo, assim posso risar de dentro do cock-pit. Ainda quis fazer o mesmo para o riso três, mas vou deixar para uma alteração maior nos cabos que pretendo fazer na Nova Zelândia.
Agora uma dica para os aficionados da vela. Pode ser até errado o que vou sugerir, mas funcionou maravilhosamente no Matajusi:
Quando estamos com vento forte de popa, e por conseqüência mar forte, a tendência é de as ondas maiores empurrarem a traseira do barco (derrapagem) onda abaixo, e o barco acaba ficando de lado para a próxima onda. Como as velas estão armadas para vento de popa, elas perdem o vento, exatamente na hora que você precisa reposicionar o barco novamente para surfar a próxima onda e não tomá-la de lado. Como fiquei nessa posição desconfortável algumas vezes, pensei em uma solução para esse problema e tentei montar a trinqueta em posição de orça (bem justa esticada para trás). E funcionou uma beleza! A trinqueta pega o vento de lado e empurra a proa de volta para o vento, aí a genoa e mestra armam no vento novamente, e isso bem a tempo de evitar a trombada de lado com a segunda ou terceira onda. Bom, pode soar como uma aberração, mas aqui, aberração e regra de regata não contam, o que conta é segurança e economia do equipamento.
Estamos a 700 minhas das Marquesas, estimando nossa chegada em quatro dias e meio. A previsão é de que os ventos de vinte nós continuem por mais uns dias, ou seja, punk em cima de punk! Varios barcos com avarías sérias como resultado dos ventos e mar fortes dos ultimos dias.