sexta-feira, julho 31, 2009

De volta a Hanamoenoa:

Baia de Hanamoenoa, Tahuata:
Posição 09°54'512S 139°06'229W
Chegamos em Hanamoenoa e ancoramos bem no meio da baia, com a ancora bruce e cinqüenta metros de corrente. Éramos o único barco por aqui. Que delicia! Roupa é um acessório totalmente dispensável quando se esta sozinho em uma baia.

Depois de ancorarmos, fomos de botinho colher limões, e enchemos a caixa de limões, que devem durar até o ano que vem... ou quase. Colhemos também algumas torranjas, aqui chamadas de pamplemousse ou algo assim. Depois da colheita, fui tomar um banho em um vazamento de um cano grosso de água que desce das montanhas, e o lugar estava repleto de vespas amarelas. Eu já estava meio que preocupado com essas vespas, pois são grandes, com cara de mal, e estão por toda a parte. Mas, em geral elas não mexem com a gente, ou não mexiam... quando abaixei para lavar a parte de cima do corpo, acho que espremi uma que devia estar entre minha perna e minha coxa, e a enfesadinha me meteu o ferrão. Fiquei assustado, pois na ultima vez que fui mordido por uma abelha tive um choque sei lá das quantas, mas que me interrompeu as vias respiratórias e tive que ir rapidinho para um hospital tomar uma injeção. O problema é que aqui não tem nada rapidinho, e muito menos hospital... então espremi o quanto podia a ferida, e voltei para a praia para chamar a Lilian que estava pegando conchas. Ela não entendeu muito bem quando disse que ela tinha que me dar uma sugada na minha perna, mas, companheira, concordou e ficamos por um tempo nessa situação constringente. Após o procedimento, voltamos para por o botinho de volta na água e corremos para o Matajusi para os medicamentos de prevenção. Tomei Celestamine e passei Verutex B na ferida. Fiquei no barco, prestando atenção se a garganta começasse a fechar, pois nesse caso, teríamos que tentar o pronto socorro de Vaitahu, a umas 4 milhas ao sul de Hanamoena. Parece que o remédio ou o procedimento resolveram e não tive seqüelas da ferroada, então fui mergulhar. Pensei, se vou ter alguma dificuldade em respirar, melhor segurar a respiração e aproveitar no mergulho.

Meu congelador esta repleto, mas com dois polvos já congelados, restava lugar para mais polvo e eu tiraria e prepararia alguns dos polvos congelados. Vesti o equipamento e fui dar um mergulhada em uma área de pedras um pouco para fora da baia, onde já havia pego dois polvos e visto mais alguns. Foi uma mergulhada rápida, pois achei o lugar onde havia visto um polvo de tamanho médio, de uns quatro kilos, que peguei com um tiro certeiro entre os olhos. Foi a primeira vez que peguei um polvo que não brigou. Preciso mirar melhor nas próximas arpoadas, pois parece que entre os olhos trava o bicho.

Voltei ao barco e limpei o polvo para prepará-lo para congelamento, onde o divido em dois, pois é muito grande para uma refeição e ponho em saquinhos de plástico ou potinhos de plástico com tampa e ponho no congelador.

Então aproveito e aqui vai minha receita de como fazer polvo:

Primeiro congelo o polvo, muito importante para amolecer a carne, principalmente em polvos grandes. Os pequenos podem ir para a panela sem congelar. Na panela de pressão, frito uns dez dentes de alho em azeite de oliva a vontade, e quando o alho esta dourado, ponho o polvo ainda meio gelado na panela e dou uma refogadinha rápida. Fecho a panela e espero até a pressão iniciar. Se o polvo é de tamanho até médio, cozinho na pressão por cinco minutos, um polvo grande cozinho oito a dez minutos, e desligo a panela. Só abro depois de ela estar completamente fria, e o polvo esta pronto para consumo.

Aproveito o caldo e faço um arroz ou cozinho um macarrão. O polvo, corto em pedaços de um centímetro, e misturo no arroz depois de pronto, ou faço um vinagrete com cebola e azeite, as vezes adiciono alho cru cortado. A vantagem que vejo nesse método é que o polvo fica inteiro, com pele, tentáculos e tudo, mas mesmo assim macio. Se cozinhar demais, ele derrete e só aparece o branco das pernas. Algumas pessoas limpam a pele e tentáculos e só comem o branco. Desperdício!

Bom, estamos voltando para Vaitahu agora para comprar umas provisões que devem durar até Papeete, caminhar um pouco e nos prepararmos para sair amanha cedo para Fatu-Hiva. Vamos nos encontrar com o Gabiam, que foi para lá ontem.

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quarta-feira, julho 29, 2009

Baia de Vaitahu, Aldeia de Vaitahu, Tahuata:

Baia de Vaitahu, Aldeia de Vaitahu, Tahuata
Posição 09°56'271S 139°06'660W
De manha, ainda encontramos mais um verme no meu olho, agora totalizando dez praguinhas! Meu irmão Sergio, médico, respondeu meu pedido de help, e disse que eu tinha que ver um médico e tomar um remédio contra um tipo de verme parecido com o nosso bicho de pé, ou bicho geográfico.

Depois da caça aos vermes, fomos mergulhar, pois considerei que enfiando os olhos debaixo d'água poderia ajudar a limpar meu olho com a água salgada do mar. Acho que isso ajudou, pois arranhou menos depois do mergulho. Fomos eu e a Lilian para um mergulho por perto para ver os peixes. Na duvida, levei um arpão havaiano bem longo como proteção contra algum eventual cação metido a chegar perto demais. Não vimos cação, mas vi um cardume de tainhas, ou algum peixe muito parecido com elas. Tinham os olhos maiores, eram um pouco mais gordos, mas exatamente o mesmo comportamento, andando em cardumes, mamando nas pedras, etc. Atirei e acertei umas três vezes, mas o peixe arrebentava e fugia. Com o arpão havaiano é difícil pois tem-se que chegar muito próximo ao peixe para atirar, e a borracha que eu estava usando era um pouco fraca para o peso do arpão. No fim, sem peixes, retornamos ao barco, mas não antes de eu aproveitar e ir dar uma checada na ancora... e não gostei do que vi! A ancora tinha arrastado de lado dentro de uma areia que era mais de coral do que areia, e o barco já estava muito próximo das pedras, com somente um metro e meio de água abaixo da quilha... Foi o maior estresse, pois o vento estava fortíssimo e a corrente emperrou em baixo do guincho, então a Lilian não conseguia recolher, e o barco continuava indo para as pedras. Acabei acelerando por cima da corrente, meio de lado para ela, e virei o barco de ré, e sai da enseada de ré, arrastando a ancora. Ancoramos de novo, agora com a Chantal e o Etienne ajudando, ela na água e ele de botinho. Quando o barco perdia a proa para o vento, ele empurrava de volta com o botinho. Depois de ancorado de novo, a Chantal disse que a ancora não estava segurando, então preparei mais uma ancora, a fortress, com quinze metros de corrente de oito milímetros e sessenta metros de cabo de nylon de dezesseis milímetros, e fomos de botinho com o Etienne lançar. Lancei em V com relação a outra ancora que já estava na água, e voltamos ao barco. Fomos tomar um lanche no Gabian, e depois voltamos ao Matajusi, somente para notar que algo estava errado com as ancoras, pois o barco ficava de lado, esquisito.

Mergulhei e fui ver do que se tratava, e notei que o cabo de nylon da segunda ancora havia enrolado na quilha, e estava segurando o barco pela quilha.

Lá fui eu e o Etienne de novo recolher a segunda ancora, e agora a lancei diretamente na frente da Bruce, uns 20 metros. Com isso fiquei com duas ancoras na mesma direção, e assim passamos a noite. Decidimos sair daquela baia no dia seguinte e navegamos para Vaitahu, uma outra aldeia de Tahuata um pouco mais ao norte que Hapatoni. O desembarque em Vaitahu é complicado pois o swell lança o botinho para cima do porto, então, tem-se que jogar uma ancora de popa e esticar até o bote chegar perto da área de desembarque, ou, no nosso caso, subimos o botinho acima do porto. Desembarcamos e fomos procurar por mantimentos e provisões. Achamos dois mercadinhos e compramos alguns itens. Aproveitei e fui ver um médico no posto de saúde local. Ele examinou meu olho e disse que não tinha mais nada, e que o tratamento que eu estava fazendo era muito bom, pois nem cicatriz tinha mais. Eu usei Garasone, um antibiótico ocular.

Tiramos algumas fotos na igreja local, onde as portas são esculpidas a mão com motivos das crenças locais.

À noite, convidamos o Etienne e a Chantal para uns aperitivos no Matajusi, que acabou virando um jantar completo. Preparamos uma salada de batatas com ovos, polvo ao vinagrete, uma verdura local refogada, salada de palmito com tomates e vagem de lata, limonada e cerveja, e de sobremesa, chocolate e mini-bolo de morango que havíamos comprado no mercado local. Terminamos lá pelas onze e meia da noite depois de um cafezinho. Aproveitamos a visita deles para trocar fotos, guides e pilot-charts.

No dia seguinte, fomos cedo comprar baguetes na aldeia, e, depois de passar pelo Gabian e deixar um baguete quentinho de presente para eles, e de combinar umas freqüências SSB para falarmos a noite, zarpamos e fomos novamente para Hanamoenoa, a baia com praia e areia branca no fundo, nosso primeiro ancoradouro em Tahuata, pois queríamos encher o barco de limões antes de partir para as Tuamotus. Combinamos com o Gabian de irmos juntos para Fatu-Hiva, nossa primeira ilha das Marquesas, e visitarmos a ilha de novo, mas dessa vez com o Etienne e a Chantal. Depois, de lá, nós vamos para as Tuamotus e eles sobem novamente para as Marquesas do Norte. Temos que ir andando, pois o caminho para a Nova Zelândia é longo, e o vento continua apertando...

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segunda-feira, julho 27, 2009

Relato Baia de Hanamenu:


Baia de Hanamenu, Hiva-Ao
Posição 09°45'926S 139°08'390W
Junto com o Gabian, resolvemos ir visitar a Baia de Hanamenu em Hiva-Oa dita ter uma cachoeira com água potável. Essa baia fica a umas duas horas velejando de onde estávamos em Tahuata. Quero encher umas garrafas com água potável não dessalinizada, pois tenho sentido o gosto da água dessalinizada e acabo bebendo menos água, o que não é muito bom.

No dia 24 de Julho as 10hs saímos para Hanamenu e foi uma ótima oportunidade de testar o guincho. Tudo funcionando perfeitamente. Depois de uma velejada tranqüila, chegamos a Hanamenu. Logo na entrada tem um morro em formato de monumento esculpido em pedra pelos tempos. Na baia já estavam alguns conhecidos nossos, incluindo o Marcus do Marionete, os suecos, e dois franceses que já conhecíamos de Atuona. Ancoramos entre o Marionete e o barco de alumínio dos franceses, logo atrás do Gabian. Usei quarenta metros de corrente em seis metros de água. Depois de observar o barco por uns minutos, resolvi recolher um pouco da corrente, pois os outros barcos à minha volta estavam com menos corrente na água.

Preparei o botinho e fui com a Lilian para terra. Havia um riozinho que saia pela direita da praia e lá parecia ter menos ondas, então fomos para lá. Lá chegando, carregamos o botinho para cima da praia e entramos a pé pelo rio, mas não por muito tempo... pois fomos atacados pelos borrachudos pólvora, maruim, chitras, nonos, tse-tsé ou o que quer que sejam chamados. Impossível ficar por lá. Corremos de volta para o bote, voltamos ele para a água e saímos rapidinho, depois de muitas picadas. Fomos um pouco contra o vento para tirar a nuvem de mosquitos de cima da gente e não chegar ao barco com aquilo. Paramos no Gabian para uma visita e por lá ficamos até o anoitecer.

No dia seguinte, fomos juntos com o Etienne e a Chantal conhecer a tal cachoeira de água potável e explorar um pouco o lugar. A cachoeira praticamente sai da encosta da montanha, mas com água em abundancia, e empoça em uma piscina natural funda o suficiente para um banho de imersão. Bebemos um pouco de água, uma delicia, e fomos caminhar para dentro da mata, onde ouvimos dizer que existem porcos, cavalos e cabras selvagens. Logo encontramos os cavalos, ou melhor, eles nos encontraram, pois me ouviram abrir côcos com o facão e parecem adorar a carne de côco, pois vieram direto para mim e praticamente tomaram o côco da minha mão. Era uma égua com cara e jeito de brava, com um potrinho novo muito arisco. Eventualmente eles foram embora enquanto apreciávamos as ruínas de alguma civilização antiga que por lá morou um dia. Reconhecemos uma pedra que parecia um altar de sacrifícios e muitas construções de pedras amontoadas. Continuamos nossa caminhada mata adentro e demos em um rio, que seguimos por um tempo, e de onde saiam varias picadas que pelos rastros reconheci como de animais locais, pois tinham marcas de cavalos, cabras e porcos, além de marcas de galinhas que por aqui viraram selvagens. Todas as ilhas tem muitas galinhas selvagens, e penso que um espingarda de pressão proporcionaria ótimas refeições...

Depois de caminharmos uma boa hora, demos com dois caçadores que retornavam da caçada aos bodes selvagens, mas sem bode. Conversamos com eles um pouco e a Chantal perguntou qual o caminho que levava ao alto do morro que dava para a ponta da baia, pois todos queriam fotos lá de cima. Um dos caçadores muito amigavelmente se disponibilizou para mostrar-nos o caminho, e o seguimos pela mata. Um pouco à frente demos em uma armadilha que consistia em uma caixa construída de troncos, como a nossa arapuca, só que bem mais pesada, com um gatilho que quando tocado pelo porco que lá entrava para comer os côcos que eles punham de isca, derrubava a caixa em cima do porco. Quando os caçadores voltavam para checar as armadilhas, se elas tinham porco, eles o matavam com um tiro de espingarda. Os tripulantes do Marionete nos contaram que eles haviam comido porco junto com os caçadores. Eles contaram também que eles haviam passado um arrastão pequeno na praia e que pegaram alguns caçonetes e os caçadores prepararam os peixes também. Isso tinha sido uma festança para eles, pois, com pouco dinheiro, fazia tempo que não comiam em quantidade.

Depois de caminhar por umas trilhas que ficavam cada vez mais densas, resolvemos que não queríamos mais ir ao topo, e voltamos para um banho refrescante na piscina natural. Que água deliciosa! Além de fria, era mesmo gostosa de beber. Enchi uns doze galões de cinco litros de água potável e levei para o barco. Enquanto enchia os galões, os caçadores preparavam uma comida e fiquei observando como faziam. Prepararam uma fogueira e em uma panela dessas queimadas pelo uso em fogo direto, puseram caranguejos, cebola e não sei mais o que. Depois ralaram uns quatro côcos e espremeram o leite, usando o bagaço do côco para espremer o côco ralado e extrair o leite de côco. Puseram o leite dentro da panela com todo o resto que lá já estava e levaram ao fogo. Fiquei tentado de me convidar para o almoço, e frustrado por não dominar o francês para poder conversar com eles sobre suas aventuras.

Retornamos para os barcos para almoçar e descansar, e partimos de volta para Tahuata depois do almoço. Não vimos o vento até chegar na entrada do canal entre Hiva-Oa e Tahuata, e aí vimos que o vento estava acima dos trinta nós. Saímos com riso dois, tirei um riso enquanto estávamos atrás de Hiva-Oa, e voltei para riso dois quando vi a marca do vento na água na nossa frente. Risei a genoa a um terço, e mesmo assim, era muita vela para os trinta e mais nós que entraram. Atravessamos o canal assim, mas estava perdendo altura para a área de Tahuata que queríamos ir, então tirei genoa e liguei motor para ajudar a empurrar o barco para a aldeia de Hapatoni. Apanhamos um bom bocado para chegar na aldeia, mas lá chegando encontramos um bom lugar para jogar ancoras e ancoramos perto do Gabian que lá já estava.

Fomos ao Gabian para uns drinks e levamos uma sopa Nuttry para usar como aperitivo. Combinamos de regular o estaiamento do Matajusi no dia seguinte pela manha e depois ir para a aldeia de Hapatoni.

No dia seguinte pela manha, chegou o Etienne como combinado para me ajudar a ajustar o estaiamento, pois a genoa ainda estava um pouco solta, e o mastro estava muito inclinado para trás, o que provoca o barco a ir para a orça (contra vento) em qualquer rajada de vento, ficando difícil de manter o barco estável nessas condições.

Afrouxamos os brandais e o estai de popa, caçamos o mastro para a frente com as duas adriças de balão, e assim conseguimos desmontar a base do enrolador e tiramos mais um centímetro do ajuste de baixo do enrolador. Eu já havia ajustado um centímetro em San Cristobal, Galapagos, mas a genoa continuava um poço mole. Feito isso, regulamos de novo os brandais e o estai de popa, e o resultado parece bom pois o mastro não tem mais aquela curva acentuada para trás. Vamos testar no vento e ver se precisamos de mais ajustes.

Enquanto estava trabalhando no ajuste do estaiamento, uma coisa bizarra aconteceu. Um inseto voador não identificado, talvez uma mosca, ou uma vespa, deu uma trombada, que agora acho de proposital, no meu olho esquerdo. Na hora senti algo no meu olho e corri para a Lilian, que enxerga muito bem de perto, para ela tirar. Ela tirou, mas continuei sentindo algo me arranhando dentro dos olhos. Terminando o ajuste do estaiamento fomos conhecer a aldeia, e uma vez lá, meu olho começou a incomodar cada vez mais. Nessa altura, estávamos na casa de uns garotos marquesans, que nos convidaram para comer um peixe marquesan que eles haviam preparado. Tentamos o peixe, e era difícil segurar a vontade de vomitar, mas escondemos e fingimos que estava bom, mas que havíamos acabado de almoçar e estávamos sem fome... Para demonstrar como eles preparavam o peixe, um dos garotos foi dentro da casa e trouxe um frasco com pernas de lagosta apodrecendo dentro de uma água morna. Esse era o tempero do peixe! Hora de sair de fininho e ir cuspir e achar uma água para lavar a boca... Mas não antes da Lilian encontrar algo se mexendo dentro do meu olho, que ela tirou com a unha... Parecia que a coisa andava debaixo da pele da pálpebra... Hum! Hora de voltar para o barco correndo...

Chegando ao barco, peguei uma lupa e uma luz forte e pedi para a Lilian ver se tinha mais daquela coisa se mexendo no meu olho... e tinha! Mais oito naquela noite e mais no dia seguinte! O diabo do inseto plantou os ovos dele no meu olho! E eles estavam nascendo e se transformando em vermes brancos com a cabeça preta, que andavam, ou melhor, corriam dentro do olho, debaixo das pálpebras, e se agarravam com unhas e dentes e sei mais o que, e eram quase que impossíveis de saírem dali! Tirei foto macro de um deles e quero pedir aos botânicos que tiverem lendo meu relato, que identifiquem esse inseto que pratica esse ataque a olhos, alvo redondo de fácil identificação e com ambiente alcalino, aparentemente próprio para chocar seus ovos e o que fazem outras criaturas que não tem lupas e Lilian com olhos de águia para tirar as praguinhas do olho!

Enchi o olho de antibiótico e fomos dormir, mas com a sensação de que as coisas ainda estavam por lá... Acordamos com despertador a cada três horas para lavar os olhos, por mais antibiótico e ver se tinham mais vermes. Durante a noite não achamos nenhum, mas de manha, senti claramente o passeio vermelogico dentro do meu olho e lá foi Lilian, lupa, lâmpada forte, cotonete com lacrima-plus de novo para a caça aos vermes. Ela encontrou mais um, mas muito pequeno, não sabe se conseguiu tirar.

Bom, vou conectar para ver se meu irmão recebeu meu pedido de help mandado na noite passada com idéias de como matar essa praguinhas e aproveito e posto esse relato. No próximo, conto como ficou a estória dos vermes no olho...

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quarta-feira, julho 22, 2009

Tahuata:


Tahuata - Baie de Hanamoenoa:
Posição 09°54'512S 139°06'229W

Saímos de Atuona lá pelas onze da manha e fomos na vela só com a genoa para Hanamoenoa em Tahuata. Na chegada vimos o catamaran americano Pura Vida saindo e o chamei no radio VHF. Conversamos um pouco, e ele me disse que o lugar era muito bom, que tinha muitos limões, torranjas e côcos, e que a parte norte da baia balançava menos com o swell.

Fomos entrando na baia e alinhamos atrás do Independence e do lado do Galapagos. A água é muito limpa, azul transparente, e ancoramos em oito metros de água com fundo de areia branca, usando 30 metros de corrente com a ancora Bruce de vinte kilos. Dei toda a corrente me preparando já para trabalhar no guincho. Ficamos até o final da tarde no barco arrumando coisas e fazendo água, e só lá pelas quatro horas fomos até a praia. Lá encontramos o pessoal do Independence, do Green Coral e do Galapagos. Aterrizamos na areia, pois o swell estava forte e as ondas estavam estourando. Deu tempo de eu pular fora do bote e controlá-lo para não capotar, mas a Lilian já não teve tanta sorte. Caiu sentada na onda e subiu a praia arrastada pela força da água. Eu aproveitei a onda para levar o bote mais para cima, mas a força da água foi tanta que bote e água passaram por cima de mim... Bom, nada mal para a nossa primeira aterragem em uma baia com praia em muitos meses. A gente vai perdendo a forma...

Depois que nos recompusemos, fomos correr um pouco na praia. Do outro lado havia um pequeno córrego seco, mas com uma mangueira de água doce que descia a encosta então aproveitamos para tomar um banho de água doce. Vimos muitos pés de limão e coqueiros e ficamos de voltar para pegar sacolas de limão. Estamos pensando em usar como moeda de troca nas Tuamutus, que não tem frutas, além de usar também para fazer muita limonada. A água dessalinizada não tem gosto diferente, mas só de pensar que aquela água veio do mar, prefiro por um limãozinho e mudar o gosto, mesmo que não tendo gosto nenhum.

Na volta para o barco, a arrebentação estava ainda mais forte, mas, agora melhor treinados, conseguimos voltar o bote para a água sem maiores incidentes.

No segundo dia cedo fui mergulhar na ponta da baia. Não vi muito peixe nos primeiros mergulhos, perto da encosta, mas mais para dentro da baia, e mais para o meio dela, havia formações de corais e lá estava lotado de vermelhos e garoupas. Escolhi um vermelho e atirei. Pus o peixe no cinto e comecei a voltar para o botinho, que havia deixado lá fora da baia. Enquanto pensava se podia ou não comer um vermelho por causa da ciguatela (químico de coral prejudicial à saúde), um tubarão ponta negra de um metro e meio me ajudou a definir a resposta. Ele queria o peixe, eu estava longe do bote, ia dar trabalho mantê-lo a distancia, a água estava ficando turva da arrebentação na ponta e eu não sabia se podia comer ou não aquele peixe, então, deixei o tubarão cuidar dele enquanto eu nadava para o bote. No final, os locais disseram que não se podia comer peixes que não fossem de passagem. Final feliz para todos.

No dia seguinte cedo, comecei o trabalho com o guincho. Desmontei tudo e pela primeira vez vi o serviço porco que foi feito na instalação do guincho. Sem qualquer medida ou preparação, quem instalou o guincho foi fazendo furos e mais furos até conseguir encaixar os quatro parafusos, e mesmo assim, o guincho ficou mais de um centímetro fora de alinhamento. Então, Andre, desculpe se você já esta cansado de ler minhas criticas sobre a construção do meu barco, mas a fotos vão demonstrar quantos furos são necessários para um porco montar um guincho. E aqui vai uma correção ao comentário deixado no blog, eu não tenho criticas ao RO 400, tenho criticas, e muitas, à construção do meu RO 400. O RO 400 tem demonstrado ter raça em muitas das situações que nos encontramos. O barco até me perdoou muitas vezes pelos meus erros dados à minha falta de experiência e ignorância. Minha única critica é ao formato do banco traseiro, que deixa uma abertura muito grande para a entrada de água em ondas estourando na popa.

Tirei o guincho, e não deu outra, a conexão feita pelo eletricista do estaleiro estava completamente comprometida pela oxidação. Cortei o pedaço comprometido fora. Desmontei o guincho inteiro novamente, e troquei a engrenagem e o rolamento que havia desmanchado antes, e que eu havia substituído por um pedaço da bucha usada no parafuso que prendia o braço do piloto ao quadrante, aquele que eu substitui por uma peça construída em aço inox, que nunça mais me deu problemas. Lubrifiquei tudo, testei, e já ia instalar lá na frente quando notei uma peça que havia ficado de fora!!! Isso sempre acontece! Desmontei tudo de novo e refiz novamente, agora não sobrando nenhuma peça. Melhor assim. Refiz a furação. Agora com uma linha me indicando o alinhamento da corrente com o guincho, e deixei tudo pronto para instalar, pois faltaram os conectores para ligar os fios novamente. Pelo radio VHF falei com o Green Coral e o Gabian, e perguntei se eles teriam conectores para fio de seis milímetros, e o Ethiene tinha, então fui lá para trocar com ele dois conectores de quatro milímetros por dois de seis. A Lilian foi comigo e acabamos ficando para uma visita mais longa. Depois combinamos de ir para a praia para catar limões, torranjas e côcos. Fomos com meu bote, e dessa vez foi o Ethiene que capotou com uma onda estourando na praia, pois eu e a Lilian já estávamos mais expertos...

Passamos um bom tempo colhendo limões e torranjas, e uns quatros sacos de supermercado depois, voltamos para a praia. Lá, subi em um coqueiro para apanhar alguns côcos verdes que abri para bebermos a água. Colhi também uns cocos mais secos, para abrir depois e usarmos a polpa para pratos e aperitivos.

A Chantal convidou nós e o Peter e Rose para aperitivos no Gabian, e voltamos ao Matajusi para um banho e para prepararmos algo para levar. Preparei um prato de salame Colombiano com queijo emental comprado em Atuona. O Ethiane e a Chatal são ótimos anfitriões e nos divertimos muito com os casos e estórias contados por todos, com uma em destaque quando a Chantal disse ter acordado o Ethiene na noite anterior para ver uma estrela piscando. Quando o Ethiene acordou, percebeu que a estrela nada mais era do que o strobe do mastro do Matajusi!

Devemos ficar aqui mais uns dois dias, pois tenho que finalizar a manutenção no guincho. Depois disso, podemos estar descendo para as Tuamutus ou subindo para as Marquesas do norte, ainda não resolvi. Mas é assim mesmo, sem muito compromisso, a gente vai onde a gente quer, o tempo permitindo.

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sábado, julho 18, 2009

Hiva-Oa

Baia de Tahauku, Atuona, Ilha de Hiva-Oa, Marquesas:
Chegamos praticamente junto com o Green Coral do Peter e Rose, e atrás de nós vinha o Ascalia do Cyriaque e Isabel. O DuFre do Galapagos que já estava por lá ajudou a todos a lançar ancoras de popa para deixar os barcos alinhados com a ondulação dentro da baia e usando menos espaço, assim cabia todo mundo dentro. Com cinco metros de profundidade, usei minha ancora Bruce de vinte kilos na proa, com trinta e cinco metros de corrente e a minha fortress sem corrente, com uns vinte metros de cabo de dezesseis milímetros na popa. Na Bahia já estava o Yhogan que havíamos conhecido em Fatu-Hiva.

O primeiro dia é sempre para organizar o barco, só depois disso começamos as excursões pela cidade e outros sítios da ilha. A cidade fica a uns quatro kilometros caminhando, e os locais não se oferecem para ajudar com caronas, mesmo dirigindo sozinhos em carros grandes como a Hilux, o que mais tem por aqui. Tentamos pedir carona, mas não deu melhor resultado. De repente parou uma pequena pickup e era o Dufre, que haviam emprestado o carro do Eric Le Lyonnais, o amigo dele para quem minha staff em SP mandou meus remédios que haviam acabado, e ele nos levou até perto do centro. Fizemos nossa primeira excursão e exploração do local, e achamos vários lugares para provisionar o barco. Compramos algumas coisas, e com dois sacos grandes, nos preparávamos para caminhar de volta, quando um francês que estava no supermercado se ofereceu para nos dar uma carona. Aceitamos de pronto, e soubemos que ele era uma artista local que tinha um atelier do outro lado da ilha. Ficamos de visitá-lo se fossemos por aquele lado.

Encontramos queijo emental muito bom, e relativamente barato. Compramos muito, pois esse queijo não me faz mal porque não tem lactose. Tinham muitos chocolates com cara de bom, mas abrimos cinco e todos estavam com lagartas grandes dentro. Desistimos do chocolate!

Ficamos dois dias assim, caminhando ou pegando carona para a cidade, pois era comemoração da independência da França (Dia da Bastilha) e tinham comemorações locais com danças, competições, bandas, entre outras, então foi uma boa oportunidade para ver um pouco da cultura local. Não havíamos trocado dólar por moeda local, e as tendas de comida regional na festa não aceitavam dólar, então foi aquela de ir ao parque ver as crianças comer pipoca. Ficamos só na vontade. No dia seguinte, a mesma coisa. Por sorte, encontramos com o Peter e a Rose que nos ofereceram um sanduíche de pão baguete com salame, presunto e queijo emental, que eles também haviam comprado.

Depois do feriado da Bastilha, fomos regularizar nossa estadia nas Marquesas, pois estávamos ilegais desde nossa chegada em Fatu-Hiva. Como soubemos pelos amigos franceses que a policia já havia retornado para Papeete, pois já estávamos em Julho, não nos incomodamos em ficar uns dias, ou semanas, sem registro de entrada nas Marquesas. Havíamos hasteado a bandeira francesa que mandamos fazer em Galapagos, e não hasteamos a de quarentena (amarela). Ninguém perguntou ou falou nada, e uma meia parte dos barcos que chegam por essas épocas, ficam ilegais até chegarem ao Tahiti.

No dia quatorze chegou o Gabian, o catamaran Outmer 55 dos nossos amigos Ethiene e Shantal, já conhecidos do Panamá, e aqueles que haviam nos visto e chamado do mirante da eclusa de Mirafiores. Eles fizeram a travessia em apenas doze dias, com media de quase 10 nós por hora! Eles ficaram surpresos de nos ver, e nós de vê-los também, pois na última vez que falamos, nós estávamos indo para o Equador, e eles iam ficar pelo Panamá. Fomos fazer-lhes uma visita e acabamos combinando de sairmos juntos. Eles são ótimos e topam todas. Desde programas mais caros, como restaurantes mais requintados ou alugar um carro, até programas de índio como andar no meio do mato. Fomos juntos para o final da festa da Bastilha, e acabamos no único restaurante aberto de Atuona. Eles comeram pizza, a Lilian comeu pato ao molho de mel, e eu comi um contra-filé na brasa que estava delicioso! Fazia já algum tempo que eu não comia carne, então matei minha vontade. Acabei ajudando a Lilian com o pato, que ela não gostou muito e ela comeu um pouco da pizza da Shantal. Na volta, o dono do restaurante nos deu uma carona.

No dia quinze fomos a pé com o Ethiene e a Shantal registrar nossa chegada às Marquesas, e, conforme haviam nos dito, nos pediram o Bond, um depósito de US$2.700 dólares para cobrir uma passagem de volta para o Brasil para cada um de nós dois, um sistema burocrático e antiquado, que sugiro seja implementado para todo o Francês que chegue ao Brasil de barco, assim um dia eles acordam e tiram essa burocracia absurda. Eles nem aceitam o registro do barco até você ir ao banco e pagar esse absurdo. Você pode pagar de várias formas, uma sendo em dinheiro, somente dólar, euro ou francos franceses, e outra sendo em cartão de crédito. Prefiro pagar em dinheiro, mas quando eles me devolverem, quando estiver saindo da Polinésia Francesa, eles me devolvem em francos polinésios, e ai eu tenho que converter de volta para dólar, e eles me cobram a comissão da conversão, total absurdo! Não é a toa que muitos barcos ficam ilegais por aqui.

No dia dezesseis fomos com o Cyriaque e a Isabel do Ascalia de carona com um amigo deles, o Françoise, e mais seus dois filhos pequenos, para um sitio arqueológico chamado Ta'a Oa a uns sete quilômetros ao sul da ilha. É uma experiência interessante a visita a esses sítios, pois consigo sentir no ar as execuções e sacrifícios que aconteceram por ali. Procurei por vestígios e achei pedras que eram usadas para afiar as lanças e machados, além de algumas esculturas que não entendo o motivo. O sitio não é muito bem cuidado, tipo o forte do outro lado de Bertioga, mas pelo menos tem um quadro com explicações do que era aquilo. Achei uns côcos verdes e fiz um furo para bebermos a água, e depois quebrei em uma pedra cortante para extrair a polpa, que dividi com todos. No meio da mata achamos também uma frutinha amarela caída de uma árvore grande, que desconheço, mas o Françoise disse ser boa para comer. Experimentamos e de fato era bem saborosa, mas não sei o nome ou origem. Demos em um rio e todos aproveitaram para se lavar. Os mosquitos eram infernais, mas o repelente que comprei em Curaçao amenizou bem o problema.

Retornamos ao barco e usamos o resto do dia para algumas manutenções. A Lilian lavando roupas e limpando o barco, e eu revisando a instalação do Duo-Gen que não está carregando como devia. Encontrei um fio meio solto e isso pode ser a causa do problema. Apertei todas as conexões, mas tenho que esperar pela próxima travessia para testar de novo. Outro dia tive que refazer todas as conexões do antena tuner do radio SSB, pois estavam todas azinabradas. Fechei todas com Corrosion X dentro e fita vulcânica por fora assim elas devem resistir por mais tempo. O rádio melhorou muito.

À noite, convidamos o Peter e a Rose do Green Coral e o Cyriaque e a Isabel do Ascalia para um jantar no Matajusi. Peixe frito e macarrão de arroz, ao molho de alho e óleo foi o menu, com brigadeiro para sobremesa. A Lilian ensinou a Rose e a Isabel como se faz brigadeiro. Ficamos até a uma da manhã no papo, e no dia seguinte tivemos que levantar cedo, pois havíamos combinado de rachar um carro alugado com o Ethiene e a Shantal do Gabian e irmos até outro sitio arqueológico de Hiva-Oa do outro lado da ilha.

No dia seguinte acordamos umas seis e meia para preparar tudo para irmos para o outro lado da ilha, e na pressa de sair, a Lilian esqueceu uma panela de água quente no fogo... ela só lembrou disso quando já estávamos voltando e o Ethiene que estava dirigindo veio a ritmo de Rally Dakar de volta para Atuona. Chegamos e fomos rapidinho verificar o barco, que ainda estava lá no porto de Atuona e não parecia fazer fumaça, mas de fato, o fogo estava ligado e a panela junto com o barco todo, estavam muito quentes. Oito horas de fogo alto na panela, panela boa, fogão bom, gás bom e tudo funcionou como devia. Fora o aquecimento geral, sem outros problemas, mas, podia ter tido final diferente, resultado, vamos tomar mais cuidado com o fogão...

O passeio foi lindo! Atravessamos a ilha pelos caminhos de terra que ziguezagueiam de baixo para cima e de volta para baixo do outro lado. No caminho, colhemos bananas e mamões. O sitio arqueológico de Me'ae Iipona tem vários deuses Tiki esculpidos em pedra, e pelo que entendi da leitura da descrição do site, por lá moravam uns Lords Marquesanos, que capturaram um rei de outra área de Hiva-Oa e o sacrificaram nesse sitio. Os seguidores desse rei sacrificado vieram e dizimaram a população desse lugar, e transformaram o lugar em um tipo de demonstração do poder deles.

No caminho, passamos por várias baias, mas todas pareciam ter ondas desconfortáveis para virmos de barco, além disso, não achamos aquela água azul que esperávamos. Paramos em uma delas para fazer um pick-nick com os baguetes, queijos e patês que compramos na saída. Não fomos ao Oeste da ilha que tem uma baia que pode ser mais calma para os veleiros.

Depois da volta em rally para Atuona, fomos de novo para o sitio arqueológico de Ta'ae Oa, pois o Ethiene e a Shantal ainda não conheciam. Por lá, coletei uma fruta pão, alguns limões e cocos verdes, para bebermos a água.

Amanhã devemos estar indo para Tahuata, uma ilha ao sul de Hiva-Oa, e lá não tem internet. Agora só nas Tuamutus, se tiver, senão, no Tahiti, então melhor eu postar esse relato hoje enquanto tenho internet.

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segunda-feira, julho 13, 2009

Posição 12/07



09°48'212S 139°01'909W
Baie Vipihai, Atuona, Hiva-Oa, Marquesas.

Deu dois mergulhos na baia de Fatu-Hiva e em cada mergulho peguei uma garoupa. No primeiro mergulho tive um tubarão com a ponta da galha branca, de uns dois metros nadando próximo. Ele não era tímido então em uma passada que deu a menos de dois metros, dei uma cutucada nas costas dele com o arpão, e ele passou a guardar maior distancia que era o que eu queria.

A maior garoupa ficou comigo e a outra dei para o Ciriaque do Ascalia. Ele nos convidou para almoçar com eles e preparou a garoupa em um ceviche muito bom, cheio de temperos. Guardamos a receita para nosso próximo ceviche. Eles fizeram também peixe frito com arroz, e nós levamos cabra assada, limonada e patê de atum com um tempero que preparei. Usei o mesmo tempero na cabra que assei, no peixe que comemos (wahoo) e para misturar com o atum em lata. Ficou bom de lamber os dedos! Foi uma cebola, quatro dentes de alho, azeite, pimenta forte e sal, batidos no liquidificador, como minha mãe fazia.

Na sexta-feira teve uma feira nativa que acho eles fazem toda sexta-feira quando chega um navio com uns cem turistas. Os nativos expõe seus artigos para ver se os turistas compram, e servem alguns pratos locais, que também experimentamos. Um prato que gostei muito foi uma banana madura frita, com côco ralado. Você pega a banana com a mão e mistura ela no côco ralado. Muito bom mesmo! Acabamos não comprando nada, pois queríamos trocar.

Na feira encontramos com a Anne, aquela mulher simpática que lavou nossas roupas em troca de alguns cremes. Ela estava expondo suas esculturas.

Ontem finalmente chegamos à cachoeira. Meio longinho, mas sem qualquer arrependimento, pois o lugar é meio divino, com uma cachoeira tão longa, que parece que a água cai do céu. Na base, uma piscina natural, cheia de pitus. Usei minha camisa para pegar alguns, que comi cru mesmo. Arranca o rabo e a cabeça, e manda para dentro. Bem saboroso, mas os nossos companheiros olharam meio que achando que eu podia ser canibal também, não conhecendo muito dos hábitos no Brasil (não que todo mundo come pitu cru)! Pelo caminho de uma hora por trilhas na floresta marcadas por pilhas interessantes de pedras pequenas em cima de pedras grandes, como pequenos monumentos de pedras, todos diferentes uns dos outros, fomos encontrando bananas e cocos e deixamos para o caminho de volta uma coleta para todos. Estávamos com o Ciriaque e Izabel do Ascalia, e o Peter e Rose to Green Coral.

Na volta tentamos mais algumas trocas, mas não deu certo. Queria trocar um cabo extra de 10 metros por um tiki (deus local esculpido em madeira ou pedra) ou uma tapa (casca de arvore batida até ficar fina como uma tela de pintura, pintada com motivos locais), mas não achei o Teco. Ele fabrica os tambores usados nas danças locais, e precisa dos cabos para esticar a pele de cabra para afinar os tambores, e eu queria um dos cabos do Matajusi eternizado em um tambor de Fatu-Hiva, mas não encontramos o Teco.

Cansados, fomos dormir cedo ontem e acabamos não indo para a cidade para ver os festividades. Acordamos cedo para falar na net do SSB, e logo depois ouvimos o Ascalia partindo. Ele passou pelo Matajusi e disse estar indo para Mohotani, uma ilha sem habitantes na frente de Hiva-Oa. Decidimos ir com ele e fomos preparar o barco para partir. Em seguida passou o Green Coral, também partindo, eles indo pata Hiva-Oa. Em meia hora estávamos prontos para partir e levantamos ancora na direção de Mohatani. Mar alto, com vento entre vinte e trinta nós, e não demorou muito para chegarmos lá, mas não conseguimos ancorar devido ao vento e mar estarem batendo dentro da única ancoragem da ilha, então seguimos adiante e viemos para Hiva-Oa, na cidade de Atuona. Chegamos umas quatro da tarde, ancoramos com duas ancoras, uma na popa (traseira), junto com outros cinco barcos que por aqui estão. O Galapagos do DuFre e da Lulu, o Leon Del Mar do Yhogan, O Green Coral do Peter e Rose, e o Ascalia do Ciriaque e da Izabel. Tem mais dois barcos, um catamaran de Houston chamado Pura-Vida, e um barco sueco com um casal bem jovem, que quero conhecer amanha.

Uma coisa que não tive tempo para fazer em Fatu-Hiva foi ir caçar porco do mato com os nativos de lá! Eles caçam com cachorros e lanças. Eu acho que daria para tentar uma arpoada com minha espingarda de caça submarina!

Vamos ficar uns dias por aqui, ver se conseguimos mandar umas fotos para o blog, mas quero sair logo, ir pata Tahuata, uma outra ilha ao sul - oeste de Hiva-Oa onde dizem ter uma praia bem mansinha para se ancorar, onde quero trabalhar no guincho antes de ir para a Tuamutus, pois lá vou usar mais o guincho e ancora.

sexta-feira, julho 10, 2009

Relato 09/07 Fatu-Hiva I


A vista de Fatu-Hiva da nossa ancoragem é uma coisa indescritível! São montanhas com picos estreitos e altos, como dedos. Dizem os locais, que a baia era chamada de Baia de Verges (Penis - isso mesmo, só que em Francês). Quando chegaram os padres, eles trocaram o nome para Baia de Vierges (Virgens). Me pergunto o que mais esses padres deceparam por aqui...

Os locais, são descendentes dos polinésios, falam a língua local além de Francês. Na sua maior parte, eles totalmente ignoram a sua presença, a não ser pelas crianças. Elas sempre se aproximam e perguntam se temos bom-bom. Como a prática aqui é a troca, nos primeiros dias, pedíamos algo em troca, em geral, alguma fruta local com um saco de limão, laranja, grapefruit ou banana. Algo que elas pudessem pegar com facilidade. Alguns pirulitos depois e estávamos com o barco cheio dessas frutas. Através das crianças, nos aproximamos dos pais e assim começou um relacionamento baseado em trocas. Uma lavagem de roupa por uns cremes e um perfume, uma galinha e um pedaço de cabra selvagem (caçada) por três latas de cerveja e um resto de pinga, um cacho de banana mais uma caixa cheia de limões, laranjas e grapefruits, por uma garrafa de whisky, e tem mais trocas pela frente. Quando tentamos pagar por umas frutas, eles devolveram nosso dinheiro, uma nota de cinco dólares. Aos próximos que por aqui vierem, recomendamos trazerem colares, brincos, batons, cadernos, lápis, canetas, borrachas, todos itens de alto valor nas trocas. Lógico que bebida e cigarro é uma forte moeda de troca também, mas me faz sentir mal promover esses vícios, principalmente nos mais jovens.

As crianças são sadias e bonitas, mas em alguns, percebe-se o problema do casamento entre primos e parentes.

Para atracar, existe uma parede de pedras que protege o portinho de ondulações e pode-se deixar o bote sem qualquer preocupação.

A primeira coisa que se vê, alem dos aparatos de pesca normais de qualquer cidade costeira, é um campinho de futebol. Atrás dele começa a cidadezinha, com duas ruas paralelas seguindo pelo fundo de um vale entre esses picos e montanhas. Muito comum o deslizamento de pedras por aqui, e enquanto estávamos aqui caiu uma pedra em cima de um caminhão que transportava areia do porto até uma pontezinha que estão construindo. Parece que tudo aqui é subsidiado pela França. Não se vê ninguém trabalhando, somente alguma atividade de pesca para consumo próprio. Tem uma escola, uma igrejinha, e a maioria parece serem católicos.

Na nossa primeira caminhada para fora do barco, depois de 20 dias vivendo somente no pequeno espaço da nossa bolha de sobrevivência, fomos esticar um pouca as canelas e caminhamos. O caminho, com montanhas dos dois lados, segue sinuoso até uma subida, que leva à uma outra cidadezinha, dizem maior que essa que estamos.

Vimos muitas frutas e negociamos umas trocas para o dia seguinte.

No nosso segundo dia veio ao barco dois rapazes de uns 20 anos, oferecendo peixe em troca de bebida. Disse que só tinha uma garrafa de whisky e os seus olhos se acenderam! Combinamos de trocar por bananas, laranjas, limões e grapefruits, e eles pediram a garrafa. Disse que quando eles trouxessem a parte deles da troca. Daí umas duas horas eles voltaram com sacolas de frutas e uma penca de bananas. Troquei na garrafa e eles pediram para entrar no barco. Não conhecendo o costume, e um pouco receoso, permiti e fiquei com eles no cockpit. Eles pediam armas, munição, arpão, roupa de mergulho, cordas, e eu só saindo de todas. Em um momento, entrei para pegar meu livro de peixes comprado em Los Roques, para eles me mostrarem os peixes comestíveis locais. Foi o suficiente para eles surrupiarem minha lanterna led de cabeça que uso em navegação noturna!!! Gatunos... ainda estou pensando em como pego eles de volta... mas por enquanto vou levando como se nada houvesse acontecido, pois, por aqui não tem policia. É um sistema tribal, onde os mais velhos controlam a todos. Aparentemente os que cometem delitos têm algum tipo de punição, mas pode-se ver que os jovens são uma preocupação de todos, pois eles têm até cinco cachorros por casa, além de pedir armas e munição para “proteção”.

Cada dia nos aprofundamos mais para dentro da ilha nas nossas caminhadas. Ontem fomos pela segunda vez tentar achar uma cachoeira dita ser linda, por aqui. Chegamos mais próximos, mas sem charuto ainda. Acabamos tomando banho em umas corredeiras e voltamos, pois já estava ficando escuro. No caminho, colhemos côcos verdes, bebemos água de côco, e comemos a carne branca. Chupamos limão também.

Na nossa segunda noite dormindo na baia, escutamos uma batucada das boas, mas com ritmos desconhecidos. No dia seguinte, durante uma das negociações de trocas, as crianças combinaram de nos passar os pacotes de frutas na “dança”. Perguntamos sobre a dança, mas não entendemos as respostas, pois só falam francês e a língua nativa marquesan. Mas entendemos que seria as 7 horas da noite no campinho de futebol. Depois de banho tomado, vestimos uma roupinha melhor, e fomos de botinho para a cidade. Lá chegando, fizemos as trocas negociadas, e fomos ver a tal da dança. Um privilégio poder ver essas formas de expressão cultural locais. Já havíamos visto algo parecido na aldeia Kuna do Tigre, e agora, uma autêntica demonstração da cultura polinésia. Haviam uns 30 homens, entre rapazes e adultos, e um igual número de moças e mulheres, todos dançando em conjunto, os homens com movimentos fortes, tipo que imitando movimentos na pesca ou em lutas, e as mulheres com movimentos sensuais, incluindo aqueles rebolados pelas quais são conhecidas as Polinésias. Todos dançavam aos sons de tambores de todos os tamanhos. Alguns mais altos do que um homem, e quem os tocava ficava em cima de uns troncos de madeira. Os ritmos variavam assim como os movimentos.

Com a chegada dos franceses do barco Ascaria, conseguimos entender melhor o que estava se passando, pois eles falam inglês e iam nos traduzindo ou explicando algumas das coisas que estavam se passando. Entendemos que a dança era um treino para a comemoração de 14 de Julho, dia da independência da França e que iria ter uma feira e festejos no Sábado, então decidimos ficar até Domingo e participar dessas festividades.

Enquanto ficamos por aqui, trabalhei no conserto do guarda mancebo que entortou no encontro com o Independence e percebi outro erro terrível na construção do barco. Os porta colunas não tem furo de vazamento da água salgada que acumula dentro e isso explica porque todas as bases das colunas estão enferrujadas e vazam ferrugem para o gel do casco. Só teria sido necessário um furinho para deixar a água sair... mas para tanto, seria necessário serviço qualificado...

Explico. Classifico de serviço porco, aquele serviço que foi feito errado de propósito, como o parafuso falso na base do piloto. Encontrar aquilo no meu barco mudou minha atitude com relação ao estaleiro e a partir daquele momento, não perdôo o menor deslize na construção do barco. Serviço desqualificado é serviço feito errado, mas não necessariamente de propósito, mas sim por falta de qualificação na mão de obra empregada.

Então, guincho instalado fora de alinhamento com a corrente, que vou consertar por esses dias, todos os vazamentos, o sofá da sala, cujas fotos vão demonstrar claramente o que chamo de serviço desqualificado, assim como todas as manutenções que tenho feito por causa disso.

Eu tinha duas colunas extras e usei uma para substituir a que entortou. Desmontei e desentortei o parafuso da base da coluna, e refiz os guarda-mancebos.

Na sala, troquei todos os parafusos finos e sem arruelas que foram usados na montagem do sofá, sempre documentando com foto do antes e do depois, e os substitui por parafusos mais grossos e com cabeça chata e grande. Além disso, colei as áreas que estavam se movimentando e adicionei vários parafusos onde deviam ter, mas não tinham. O resultado é notável! Nenhum barulho vindo do sofá da sala quando o barco se mexe!

Bom, deixa-me voltar para os trabalhos. Hoje vamos pegar as roupas lavadas com a Ana e finalizar essa troca, e acho que será a primeira vez que uma Polinésia de Fatu-Hiva vai usar cremes da Ox, uma das nossas empresas colaboradoras. A Ana é escultora e faz estátuas de madeira com um deus local, mais tartarugas e outros animais. As crianças tem adorado as barrinhas de cereal da Nutrimental, outra empresa colaboradora. Depois vamos pagar uma visita à casa de uma das crianças que tem trocado com a gente, convidados por sua mãe. Ela quer trocar um quadro esculpido, por alguma coisa que tenhamos que a interesse.

terça-feira, julho 07, 2009

Posição 06/07 - Chegamos, ancoramos, batemos em outro barco.


10°27'646S 138°40'135W
Ancorado em Fatu-Hiva
Chegamos as 04:30 da manha, depois de um dia e uma noite de Pirajás constantes. Muito vento, muita onda, muito mar, pouca disposição.
Pus o barco na rota para o sul da ilha de Fatu-Hiva, liguei radar e AIS e fui dormir. Acordei para reduzir velas no meio de um Pirajá, e fui dormir novamente. Acordei novamente com a Lilian me chamando, pois havia terra a vista. Eram quatro da manha.

Entramos na baia, depois de enfrentar umas ondas bem altas na ponta sul da ilha, e fui procurar um lugar para ancorar. Teria escolhido outro lugar, mas o Otis do Independence havia me passado um email com direções para ancoragem. Ele sugeria jogar ancora logo atras de um barco de alumínio alemão. Só haviam três barcos na baia. É uma baia pequena, muito funda, e com muito vento.

Depois da primeira ancoragem, sem muita noção da distancia das pedras por ser noite ainda, o Yhogan, do barco alemão de alumínio, me disse que achava que eu estava muito próximo das pedras. Como ele estava mais familiarizado com o local, suspendi ancora e fui ancorar onde ele sugeriu, apontando uma lanterna. Ancoramos, preparamos o barco para irmos dormir, tomei banho quente, vesti pijama, e ja esta indo para a cama quando senti um balançar lateral esquisito. Sai para fora, e estávamos navegando de novo! Com quarenta e cinco metros de corrente pendurados, já estávamos a mais de 300 metros de profundidade.

Vesti minha roupa de navegação na chuva, pois estava começando a chover torrencialmente, e voltei a motor para a pequena baia. Ali escolhi um lugar logo atras do Green Coral, e lancei ancora. Agora ficou firme, pensei. Dei corrente, e dai a pouco notei que estava cada vez mais próximo do Independence. Liguei motores de novo e vamos para a quarta tentativa, mas isso, só se a ancora soltasse do que quer que a tenha prendido ao fundo!

Tentei ao limite do guincho liberar a ancora, fui para frente e para trás, e nada dela soltar. Bom, o que não tem remédio remediado está! Dei mais corrente e comecei de novo a preparar para ir dormir. Só que, notei que estava cada vez mais próximo do Independence!

Com rajadas de vento chegando aos trinta nós, chuva torrencial, sem ver ou ouvir direito, e a gritaria acordou a baia inteira. Notei a Jenny, do Independence, na proa do catamaran deles, so olhando as nossa manobras. Eu mesmo não entendi porque estava me aproximando mais e mais do Independence, até que acendeu a luz! Na cabeça! Eu estava enroscado na corrente da ancora do Independence!

O Otis, do Independence, saiu de bote e veio ver o que diabos eu estava aprontando, quando lhe disse que estava enroscado na corrente da ancora dele! Ele entendeu o problema rapidinho.

Nessa altura o Matajusi estava de lado para o vento, com a proa comprometida pela corrente entrelaçada, e só me sobrou a ré. Sai forçando tudo, de ré, mas ja estávamos perto demais, e os barcos se tocaram. Com a proa mais alta do que o Matajusi, o bico da proa do Independence praticamente arrancou uma coluna do guarda-mancebo do Matajusi, e por muito pouco não acertou o brandal de boreste (lado direito).

Não tive nenhuma outra alternativa senão deixar os barcos se encostarem de lado. Controlei o máximo que consegui, e gritei para a Lilian e a Jenny para porem defensas entre os barcos, e encostamos...

Assim ficamos por mais uma hora, até amanhecer de vez. A Jenny estava super estressada, gritando, e nós não tínhamos muito o que fazer. Precisávamos mais gente para ajudar a desentrelaçar as ancoras.

Acordamos o Peter do Green Coral e pedimos para ele vir ajudar com o botinho. Minha idéia era usar os botinhos para rabear o Matajusi de volta para o outro lado do Independence, depois empurramos o Independence para tirar a corrente dele de cima da minha, e eu recolher e ancorar de novo, agora, de dia, em um lugar melhor. E assim o fizemos. Tudo deu certo, e finalmente ancorei corretamente e fui dormir. Nisso já eram umas oito e trinta da manha.

Que chegada nas Marquesas!!! Cruzamos as três mil milhas em dezenove dias, e pegamos de tudo um pouco, mas muito pouco de Pacifico!

Depois conto sobre a beleza que é essa ilha, que mais parece um monumento dos deuses. Mas agora, vou dormir…

segunda-feira, julho 06, 2009

Posição 04/07:


9°40'S 134°36'W

Estamos a 230 milhas de Fatu-Hiva! Chegaremos lá amanha à noite. Isso se eu não reduzir pano para entrar durante o dia no dia seguinte, mas a enseada é bem aberta, sem grandes obstáculos, e só tem três barcos ancorados lá, então acho que vamos deixar o barco navegar o que pode. Vamos com a mestra no primeiro riso, para equilibrar a área vélica da genoa, que esta armada em asa de pombo, assim dá menos tendência a orçar (subir no vento) nas rajadas.

Nos últimos dois dias tivemos ventos de ESE entre 12 e 20 nós e mar entre dois e três metros de altura. Essa ultima noite foi inteira de pirajas de chuva, sem vento muito forte. Ficamos fechados dentro do barco e a chuva lavou bem o barco, merecidamente, pois acho que faziam mais de dois meses que não pegávamos uma chuvinha que tirasse um pouco do sal do barco.

Enquanto chovia, assistíamos ao DVD do show dos Bee Gees em Las Vegas. Sureal! Lá fora as asperezas do vento, chuva e mar, e show dos Bee Gees dentro da nossa bolha de sobrevivência.

Essa manha, contei vinte e sete peixes voadores mortos no deck. Eram muito pequenos então joguei de volta no mar. Ainda não experimentei o gosto desse peixe, que dizem ser muito bom. Começamos a ver mais pássaros que se aproximam curiosos de saber que tipo de peixe é o Matajusi! Tem sido nossa única companhia. Desde que saímos de Galapagos, há dezoito dias atrás, só vimos um navio nos primeiros dias, e um pesqueiro, o Daniela F com registro no Panamá. Eu estava com o AIS desligado, e assim que vi o pesqueiro,que mais parecia um navio, liguei o AIS e fui ver os dados daquele barco. O chamei pelo nome no VHF canal 16 e ele respondeu. Conversamos um pouco, eu curioso sobre o que eles faziam ali, e ele o mesmo com relação ao nosso barco. Disse que tinha ido pescar nas Marquesas, um tipo de pesca onde eles cercam um cardume de peixes com a rede, fecham o fundo e depois recolhem para o barco. Ele disse ter atingido a quota dele. Ele seguiu seu caminho e nós o nosso, opostos um ao outro. Não vimos mais nenhum sinal de vida humana a partir daquele dia.

Chego a pensar o que seria se tivéssemos um problema. Tem-se que confiar em si próprio para se sujeitar a estar aqui, pois a chance de se ter ajuda em menos de algumas semanas seria mínima.

Por isso testei muito o barco, e fui arrumando tudo que achava estar errado ou que podia vir a dar problema, e hoje, o Matajusi é um barco relativamente confiável. A maior parte dos problemas que tive com o serviço do estaleiro foram cosméticos, de acabamento, não aparentando o barco ter problemas estruturais. Estamos completando dez mil e quinhentas milhas navegadas com ele desde o dia que saiu do estaleiro e acredito que se fosse dar problema já teríamos visto.

Uns dois dias depois daquela tempestade, o leme começou a apresentar o mesmo problema que já havia dado antes, e que mandei consertar em Aratu na Bahia. Algo deu errado, pois não era para dar problema de novo. Vou escrever para o pessoal que fez o serviço para entender o que deu errado, pois vou ter que refazer de novo e dessa vez, vou fazer eu mesmo, assim tenho a certeza de que foi bem feito. Será que eles devolveriam o dinheiro que paguei pelo serviço que não deu certo, penso. Assim como, será que o estaleiro me reembolsaria por todo o custo que tenho tido com os serviços mal feitos por eles? Seria o justo, não? Espero mesmo que os outros barcos construídos pelo estaleiro não tenham tido todos esses problemas que eu tive, mas, se tiveram ou tiverem, tem meus relatos para lhes oferecer alternativas.

Estamos ansiosos por ver terra de novo!

quinta-feira, julho 02, 2009

Posição 02/07


08°54'S 128°53'W
Os ventos e ondas fortes continuam. Deu uma amansada ontem e aproveitei para lançar duas iscas na água (lula de plástico, laranja (campeã) e amarela (estreou)). Até esquecemos que elas estavam na água, e no começo da tarde as duas fisgaram peixe praticamente ao mesmo tempo.

Imaginem o que é pescar em um veleiro andando a 8 nós, com três velas armadas! Pois é, complicado. Primeiro fui à com menos linha para recolher, fechei a fricção e dei um puxão forte para fisgar bem. Aí pedi para a Lilian guinar 60° para o vento, para ficarmos de traves (de lado), pois as velas estavam armadas para vento de popa. Aí trabalhei o peixe de barla (do lado do vento). Estava pesado e foi um trabalhão puxar-lo até um ponto onde podia fisgá-lo com a bicheira. Nessa hora, posiciono o peixe do lado do barco, ainda na água, e passo a vara para a Lilian segurar e manter o peixe perto da proa. Aí pego a bicheira, fisgo o bichão, o trago para dentro do barco, tiro o anzol e começo a limpar, só que, esse veio junto com o outro pois as linhas se enroscaram. O outro era maior e mais brigão, então na verdade puxei dois ao mesmo tempo!

Conseguimos embarcar o primeiro, e na desvencilhada do anzol, a Lilian acabou fisgada também! Mas, guerreira, gritou um pouco (não vou falar o que!) e logo voltou para me ajudar com o outro. Nesse meio tempo eu separei as linhas, e fui trabalhar agora a vara de sota. Esse era maior e deu a maior canseira trazê-lo até o barco. Mas, alguns 25 minutos depois, o tínhamos dentro do deck já fisgado pela bicheira. Meu braço ainda dói do esforço!

Limpei os dois, mas só filés, pois não gostei muito do Wahoo para sachimi, e estou sem estomago para ceviche.

Muitos filés depois, e o vento começou a pegar de novo. Voltou para os trinta nós e por lá ficou, entre quinze e trinta nós, a noite toda e mais hoje o dia todo. Risei a mestra no terceiro riso e recolhi 2/3 da genoa e mesmo assim andamos entre seis e meio e onze nós.

Cansei de ir até o mastro risar e tirar riso, então instalei riso um e riso dois com um cabo, assim posso risar de dentro do cock-pit. Ainda quis fazer o mesmo para o riso três, mas vou deixar para uma alteração maior nos cabos que pretendo fazer na Nova Zelândia.

Agora uma dica para os aficionados da vela. Pode ser até errado o que vou sugerir, mas funcionou maravilhosamente no Matajusi:

Quando estamos com vento forte de popa, e por conseqüência mar forte, a tendência é de as ondas maiores empurrarem a traseira do barco (derrapagem) onda abaixo, e o barco acaba ficando de lado para a próxima onda. Como as velas estão armadas para vento de popa, elas perdem o vento, exatamente na hora que você precisa reposicionar o barco novamente para surfar a próxima onda e não tomá-la de lado. Como fiquei nessa posição desconfortável algumas vezes, pensei em uma solução para esse problema e tentei montar a trinqueta em posição de orça (bem justa esticada para trás). E funcionou uma beleza! A trinqueta pega o vento de lado e empurra a proa de volta para o vento, aí a genoa e mestra armam no vento novamente, e isso bem a tempo de evitar a trombada de lado com a segunda ou terceira onda. Bom, pode soar como uma aberração, mas aqui, aberração e regra de regata não contam, o que conta é segurança e economia do equipamento.

Estamos a 700 minhas das Marquesas, estimando nossa chegada em quatro dias e meio. A previsão é de que os ventos de vinte nós continuem por mais uns dias, ou seja, punk em cima de punk! Varios barcos com avarías sérias como resultado dos ventos e mar fortes dos ultimos dias.

quarta-feira, julho 01, 2009

Posição 30/06:


08° 33´S 124°07'W
Não consegui escrever ontem, pois na hora que eu escrevo a coisa começou a ficar preta por aqui... Pegamos a maior tempestade que eu já peguei em um barco, com ventos que ultrapassavam os quarenta e cinco nós, e ficaram assim por quase a noite toda, mais um pouco dessa manhã. Sem experiência pratica ainda nesse tipo de arranjo das velas, acabei perdendo o controle do barco duas vezes, e ainda batemos nosso Record de velocidade, que era de 15 nós, e agora é de 16,5 nós. Não que eu me vanglorie disso, muito pelo contrario, preferiria não ter arriscado tanto, mas na hora que o bicho pega, fica difícil tomar todas as decisões certas sem experiência. Experiência vamos acumulando, e ficando mais expertos quanto à essas mudanças de condição de mar e ventos. Já estávamos risados no riso dois da mestra e somente 1/3 da genoa aberta, mas mesmo assim foi muito pano para os 45 nós que vieram e ficaram. Primeiro achei que ia passar logo, pois não havia sinal de nuvem por perto, mas isso não aconteceu e o vento soprou forte a noite toda, então, risei a mestra no riso três, acho que pela primeira vez, recolhi a genoa e levantei a trinqueta (vela de tempestade que fica na frente do barco). Imaginem a ginástica de ir lá na frente levantar a trinqueta!!! Foi banho de imersão com direito a jato d'água!

Quando perdi o controle do barco pela segunda vez, resolvi ir contra as ondas e vento, e fiquei tocando na mão, sem o piloto, assim podia desviar a tempo das ondas maiores, que vinham estouradas. Eu primeiro escutava, depois via a brancura chegando, então jogava a proa nela. E assim fiquei a noite toda!!!

Pela manha, resolvi tentar ir a favor de novo, e consegui acertar velas e piloto para que corrêssemos juntos com o vento e as ondas, que ainda arrebentavam e nos passavam, mas agora íamos juntos.

Em uma checada geral, a Lilian percebeu um barulho no piloto, e lá fui eu botar mais dois parafusos no suporte de aço inox que eu mandei fazer em Curaçao. Com o esforço, a madeira cedeu e deu um pouco de folga. Tudo reapertado, dois parafusos mais, e deve ficar bom.

Nosso piloto ficou campeão depois de todas as alterações que eu fiz nele e no leme. Muitos barcos reclamam dos seus pilotos, eu já não posso falar mal do meu, está quase que perfeito! Alias, perdemos o controle do barco porque o piloto não corrigiu a tempo, mas o erro foi meu, pois sempre deixo o piloto em regulagem 1, mais lento, assim consome menos energia, mas em mar de popa ou mar grosso, deveria ser regulagem 3 e eu não havia mudado.

Para se ter uma idéia da força da água batendo no barco, os dois parafusos de aço inox que seguravam a placa de apoio da bóia de retinida (aquela vermelha que todos barcos tem), se quebraram com a água batendo na bóia quando adernávamos muito. Só não perdemos tudo porque eu havia sentido que o suporte da placa havia amolecido um pouco, e prendi com elástico no caso daquilo quebrar, como sempre, prevenir melhor que remediar. Essas vistorias no barco são muito importantes, deve-se olhar tudo, nos mínimos detalhes.

Bom, passamos 2/3 da viagem e temos umas 900 milhas ate Marquesas. Isso deve demorar uns 7 dias. Tomara que o tempo melhore, pois já estamos cansados.