terça-feira, setembro 29, 2009

Tsunami, Boletim Matajusi 2 - Barcos brasileiros na area:


Exibir mapa ampliadoPosição: Fora do recife de Beveridge 29/09/09 13:11h Local (UTC -10)
Conosco estão o Pajé, Beduína, e Canela, todos bem, e ouvimos do Bicho Vermelho que esta em Vavau que eles ouviram o alarme na radio local e desamarraram da bóia e foram para águas mais profundas, e que alguns barcos não saíram a tempo e acabaram no seco ou em cima de pedras. Só não sabemos do Ituska que esta em TongaTapu, mas ele deve entrar na nossa freqüência 8143 as 19h local. Ja consegui pegar os boletins da NOAA e vamos ficar acompanhando. Tudo e todos bem a bordo.

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MATAJUSI EM AREA DE TSUNAMI:



Posição S19 59.617 W167 46.893 29/09/09 11:44h Local (UTC -10)
Primeiro quero informar que estamos bem, sem qualquer problemas com relação ao Tsunami que esta passando pela área. Estávamos dentro do Beveridge Reef e não sentimos qualquer mudança.

Não sabemos muito a respeito do Tsunami outra que foi no sul de Samoa, e que tem áreas destruídas por perto de onde estamos. Assim que soubemos da noticia, que veio pelo Marcelo do Bicho Papão via Iridium para o Pajé, que nos passou por VHF, pois eles já estavam do lado de fora do recife e não entraram, levantamos ancora e saímos do atol. Estamos agora em capa aguardando novas noticias.

Ainda não decidimos, mas acho que vou direto para Vavau, uma área mais protegida do que Niue.

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domingo, setembro 27, 2009

Terceiro dia da travessia entre Aitutaki e Beveridge Reef:

Posição S19 37.686 W165 49.258 27/09/09 14:10h Local (UTC -10)
Ontem andamos bem, com ventos de sueste de 8 a 15 nós, mas no meio da tarde entramos no meio de um Pirajá enorme, com mais de trinta milhas de diâmetro e de nada adiantaria eu tentar desviar, pois minha velocidade máxima estava abaixo dos seis nós, e teria demorado de três a quatro horas para desviar dele. Então entrei bem pelo meio, com uma chuva forte que doía na pele, e ventos na cara.

Reduzi as velas, deixando a trinqueta e a mestra risada no segundo riso, e controlei o barco a trinta graus do vento. O vento virou de todos os lados, e eu fui junto, isso para evitar tomar muito vento de través (de lado) e adernar demais, e também pára encontrar as ondas em um ângulo que não bata muito no barco. Algumas ondas passaram por cima, não por serem muito altas, mas porque batiam de lado no casco e levantavam mais alto, e o vento as empurrava por cima do barco. A chuva forte lavava tudo, e ficamos dentro do Pirajá por umas duas horas ou mais.

Quando o Pirajá passou, deixou um mar virado, e de frente para a gente, que me forçou a andar mais de 30 graus fora do meu rumo e me tirou da rota por umas seis milhas mais a norte. Na hora estava difícil conseguir rumar para meu waypoint (Latitude e Longitude) pois o barco bate muito com ondas fortes e curtas pela proa, então economizei equipamento e fui em ângulos que me permitiam motorar sem bater muito.

Com isso minha singradura do dia baixou bastante, e só consegui recomeçar a navegar com velocidade desejada já perto do anoitecer. E aí, outro Pirajá! Ninguém merece! Mas felizmente esse era mais de chuva do que de vento apesar de que esse eu consegui quase que desviar totalmente, subindo uns trinta graus da minha rota, mas mesmo assim, fomos lavados de novo. Eu já tinha risado a mestra para ir dormir, então só deixei ela no carrinho meio solto, que permitisse que ela mudasse de bordo sem minha ajuda, e deixei a trinqueta montada justa a boreste (lado direito) caso eu viesse a precisar dela durante a noite. Pegamos mais dois Pirajas durante a noite, mas sem vento muito forte, e a armação que eu fiz nas velas me permitiu deixá-las do mesmo jeito a noite toda. O vento estava fraco e na cara, mas quando um Pirajá passava, eu via da minha caminha feita de almofadas do cockpit no chão da sala que a mestra estava come vento ora de um lado, ora do outro.

Acordei tarde, às oito horas, para entrar em uma das três nets SSB que participo. Depois de dar minha posição entrei no Sailmail para baixar emails e a previsão do tempo, e aí já era hora da segunda net, as nove horas. Depois de dar minha posição nessa net também, fiquei trabalhando nas rotas seguintes, pois a Bel do Bicho Vermelho, e o Marcelo do Bicho Papão sugeriram que valia mais a pena passar o tempo disponível em Tonga do que ir para Niue, nossa próxima parada projetada, então criei uma rota entre Beveridge Reef e Vavau, até a ancoragem em Neiafu, a cidade principal de Vavau.

As dez horas, entrei na net dos barcos brasileiros, e trocamos posições com o Canela, Beduína e Pajé. Dos outros barcos brasileiros, o Bicho Vermelho já esta em Vavau, e o Ituska em TongaTapu. A Bel do Bicho Vermelho me passou um email sugerindo que a gente pule Niue para estarmos todos juntos em Vavau. Ela esta curtindo muito por lá, com churrascos nas praias, surf, e outras atividades nas varias praias e enseadas de ilhas que eles têm visitado por lá. Acho que vamos acatar a sugestão deles, pois em Niue também se tem que ancorar do lado de fora do atol, ficando exposto aos ventos N, NW, W e SW.

Agora a tarde o vento melhorou, mas esta a vinte e cinco graus do meu waypoint, então abri seis graus para aproveitar o vento e desliguei o motor. Ficamos assim algumas horas, mas o vento veio mais na cara e enfraquecei, então pus o barco de volta no rumo certo, ajustei as velas, e estou ajudando com o motor.

Nossa aterragem em Beveridge esta estimada para até o meio dia de amanha, e até lá, continuamos com a exclusividade do nosso céu, mar, nuvens e até Pirajas.

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sábado, setembro 26, 2009

Primeiro dia da travessia entre Aitutaki e Beveridge Reef:

Posição S19 10.059 W161 52.150 25/09/09 16:40h local (UTC -10)
Ontem à noite o vento quase que acabou, então enrolei genoa e risei a mestra no segundo riso, posicionando a mestra mais para o centro do barco para ajudar na estabilização do barco no swell vindo do sudeste. Fomos dormir e dormimos relativamente bem, com exceção de um Pirajá de chuva que passou onde tive que abrir um pouco a mestra para não adernar muito e forçar menos o piloto. Foi um Pirajá muito longo, e percebi que era a frente fria prevista entrando do sul. O vento que estava de nordeste passou para sudeste e o ar esfriou um pouco. Esse era o vento esperado pela previsão, que deve durar até nossa chegada a Beveridge.

As 6:00 da manha, depois de uma noite melhor dormida do que as ultimas sete, levantei para subir todo o pano e aproveitar melhor o vento, que começou fraco, aumentou um pouco durante a manha, e firmou nos quinze a dezoito nós depois do meio dia.

Não esperávamos um vento desses, e nossa travessia esta mais adiantada do que nossa estimativa. Passamos a tarde toda andando acima dos cinco e meio nós. Isso pode reduzir em um dia nossa aterragem em Beveridge, primeiro estimada para dia 29/09 pela manha, e agora parecendo que podemos conseguir chegar ainda com a luz do dia 28/09. Mas, quando se depende do mar e ventos, ainda é muito cedo para saber, e não faz muita diferença. Estamos no mar desde Janeiro de 2009, se ancorados ou navegando não muda muito, nossa casa vai conosco para onde vamos, alias, nós é que vamos com ela, nossa casa e bolha de sobrevivência, aqui no meio do nada, muito longe de qualquer civilização, apenas alguns outros barcos a muitas milhas da gente. O céu, o mar, as nuvens, e o horizonte são só nossos...

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sexta-feira, setembro 25, 2009

A caminho de Beveridge Reef:

Posição S18 52.092 W159 56.079 24/09/09 18:33h local (UTC -10)
A noite passada dormimos mal de novo, completando sete dias mal dormidos, três na travessia entre Bora Bora e Aitutaki, mais as quatro noites que passamos em Aitutaki. Não fosse isso, e seria um ótimo lugar para parar. Pacato, boa comida, povo simpático, pequeno, lagunas maravilhosas, água clara, bom de peixe, mas estão faltando duas coisas, algumas poitas fora do atol, mesmo que cobradas por dia de uso, como fazem em Palmerston, e uma manutenção no passe para dar passagem para barcos de até dois metros de calado. Talvez outra seria uma internet sem-fio disponível na área do cais. Tudo isso podia ser cobrado dos barcos que para lá fossem, e geraria fundos suficiente para cobrir os custos e ainda gerar receita.

Resolvemos pular Palmerston e ir para Beveridge Reef, um atol desabitado entre Palmerston e Niue. Dois barcos que estavam em Aitutaki saíram ontem para lá, então vamos nos juntar a eles. Lá vamos entrar dentro do atol, pois o passe é largo e fundo o suficiente para acomodar nossa entrada.

Hoje fizemos a documentação de saída que nos custou NZ$175, um pouco caro pelo que eles oferecem para os veleiros que por aqui passam. Antes de sair, fui ao hospital para que um médico desse uma olhada no ferimento do meu pé quando pisei na farpa do arpão ontem à noite, e aproveitei e tomei a primeira dose da imunização contra tétano. Tenho que tomar mais uma em quinze dias, e uma ultima, seis meses depois. Tem validade por dez anos.

Saímos hoje no final da tarde, pois o vento vai mudar e pode entrar vento de Oeste, o que nos jogaria contra os recifes. O Pajé vem vindo atrás, e o Beduína ficou por estar dentro do atol e não ter problema com nenhum vento. Ele vai nos encontrar em Beveridge Reef. São 458 milhas, indo no rumo 248° Mag. A previsão é para ventos fracos, e estimamos chegar em quatro dias e meio. Estou com todo o pano para cima, mas vou risar a mestra antes de ir dormir. Continuo sem a luz de mastro, usando a luz de steaming.

Acabamos de falar na net dos barcos brasileiros, a 8143 as 5 UTC. Falamos com Canela, Ituska, Beduína, Bicho Vermelho e Pajé. O Canela também está indo para o Beveridge Reef, então vamos nos encontrar. O Ituska está indo para TongaTapu, o Bicho Vermelho já está em Vavau, e se encontrou com a Mariana e o Marcelo do Bicho Papão. Encontraremos com eles em duas semanas.

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quinta-feira, setembro 24, 2009

Continuo ancorado em Aitutaki:


Posição S18 51.546 W159 48.843 19:36h Local (UTC -10)

Uma nova e fascinante experiência que tivemos foi ouvir o respirar de uma baleia do lado do barco à noite, e quando saímos para ver a baleia, outra respirou bem na proa do barco, borrifando água na nossa cara. Depois disso, ouvimos uma longa conversa entre uma baleia mãe e seu filhote, que reverberava dentro do barco, refletida pela água.

Mudei a ancoragem para tentar evitar o balanço lateral à noite, mas não melhorou muito. Ancorei ao sul do passe, onde tem mais areia no fundo do que o lugar onde estávamos antes, para tentar jogar uma ancora de proa e manter o barco de frente para o swell. No final não deu certo porque o fundo é muito irregular, com picos de coral e vales de areia que variam uns 15 metros entre uns e outros.


Combinamos um almoço de comemoração dos aniversários do Hugo do Beduína e meu para o dia 21, pois não conseguimos entrar pelo passe a noite do dia 20 para comemorar o do Hugo. A Lilian preparou o almoço consistindo de tortilhas mexicanas de milho com dois recheios a escolher, carne moída com berinjela ou frango desfiado com azeitona, cebola e alho e preparou também os brigadeiros. A Paula do Pajé contribuiu com uma torta de limão, e a Gislayne do Beduína se encarregou de fazer o bolo.

Antes do almoço fomos à vila para tratar da documentação de entrada nas Ilhas Cook, e caminharmos um pouco pela cidade. Não custou nada fazer a entrada dos barcos nem a dos tripulantes. Vamos ver na saída se custa algo.

No dia vinte e dois, fomos de botinho para o outro lado do atol, levando o kite do Mario do Pajé. O Mario, a Paula e o Hugo andaram de kite, e eu fiquei treinando dominar o kite, mas sem prancha. Depois de ter o kite na mão, tentei usar a prancha mas não consegui andar muito. Foi minha segunda experiência com o kite e preciso treinar mais para dominar o bicho.

Ontem à noite fomos todos jantar em um restaurante com show de danças locais, e tivemos a sorte de ver um grupo de dançarinos locais que vieram da Nova Zelândia para as competições que estão acontecendo em Aitutaki essa semana. Comemos e dançamos muito, e voltamos tarde para os barcos. Tivemos que sair para fora do passe tarde da noite, e posso dizer que foi punk. Eu havia esquecido de ligar alguma luz no Matajusi, então ficamos caçando ele no mar do lado de fora do atol com uma lanterna pequena. Finalmente o encontramos e foi um alivio!

Hoje alugamos um carro e fomos conhecer o atol inteiro e estivemos em lugares muito bonitos. Um desses lugares foi o topo da ilha, de onde se tem uma vista da beleza desse atol. Depois fomos ao extremo da ilha onde se cruza a pé mesmo um canal que separa a ilha principal de um motu com um hotel. Eu e a Lilian atravessamos com uma balsa que fica por lá, e do outro lado do motu encontramos com o Hugo e a Gislayne que haviam atravessado a pé mesmo, caminhando pelas águas rasas que separavam os dois motus.

No final do dia, retornamos ao cais e ficamos conversando um pouco, enquanto o Mario ia devolver o carro alugado. Como o carro era pequeno e não cabíamos nós sete, o Mario fez duas viagens para ir e para voltar. Eu e a Lilian voltamos na primeira leva, e paramos em um mercado para comer e beber algo. Quando estávamos começando a arrumar as coisas para levar para o bote, parou uma mulher de moto perguntando se tinha algum Silvio no grupo. Logo pensei que seria algum problema com meu barco ou minha documentação, mas ela tirou do bolso a MINHA carteira, que sem eu saber, havia caído do meu bolso no mercado onde paramos para tomar um lunch. Eu tinha todos meus cartões de credito, mais dólares, euros e dólares zelandeses, e mais meus documentos. Ela havia encontrado no chão do mercado, abriu e saiu procurando pelo Silvio da foto da carteira de motorista. Foi primeiro ao aeroporto e depois, viu minha carteira de capitão e resolveu ir até o píer da cidade, onde me encontrou. Eu disse para ela ser eu um cara de sorte, e que minha sorte continuava, com a devolução da carteira que nem eu sabia que havia perdido, e que ela era uma pessoa honesta, que continuava a ser honesta, devolvendo uma carteira cheia de documentos e de dinheiro.

Voltamos aos barcos, já cansados, e quando estávamos indo de volta para o Matajusi e Pajé ancorados fora do atol, entrou um Pirajá de chuva com ventos fortíssimos, e eu e o Mario ficamos preocupados com a ancoragem dos nossos barcos. Fomos rápido para os barcos, chegando lá completamente encharcados dos respingos de água salgada que o vento borrifava na gente. Felizmente os dois barcos estavam bem ancorados e seguraram firme.

Do lado do meu barco havia ancorado um veleiro enorme, com cento e setenta pés, fazendo o Matajusi parecer um botinho de brinquedo. Como estava ventando muito forte, fui varias vezes ver se ainda estávamos no mesmo lugar, usando o veleirão como referencia. Numa dessas saídas, quando retornava para dentro do barco pisei na farpa do arpão que havia deixado no pé da escada quando saímos de manha, o que me custo um belo corte embaixo do dedo do meio do pé, que se estendeu por baixo da sola do pé por quase dois centímetros. Limpei bem o corte, com água e sabão, passei triplo-antibiotico e fechei com um curativo. Se precisar uns pontos vou amanha ao centro medico da vila.

Estamos planejando sair amanha para Beveridge Reef, um recife desabitado no caminho entre Palmerston e Niue, onde podemos ficar ancorados dentro dele e descansarmos por uns dias, pois fazem mais de uma semana que dormimos mal. Primeiro com a travessia sacudida entre BoraBora e Aitutaki, e depois com o balançar forte do barco na ancoragem do lado de fora de Aitutaki.

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segunda-feira, setembro 21, 2009

Ancorado em Aitutaki


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Posição S18 50.873 W159 48.257 17:36h Local (UTC -10)
Viemos na vela até a ancoragem, mas tive que reduzir bastante as velas, pois precisava chegar depois do amanhecer. Lá pelas quatro da manha abri mais dez graus para boreste, para ter certeza de que, se dormíssemos, não acertaríamos o atol, passaríamos direto pelo norte. Deu tudo certinho e aterramos as seis e meia da manha. Baixei mestra e mais tarde enrolei genoa e baixei trinqueta e entrei na área do ancoradouro no motor. Para nos saudar, vieram duas baleias, uma mãe e um filhote. Depois de procurar um pouco, joguei ancora a nove metros e dei quarenta metros de corrente.

Assim que arrumamos o barco fui dar um mergulho para checar a ancora e por via das duvidas levei meu arpão havaiano que é só o arpão preso a um elástico na ponta. Ele não tem muita força, e precisa atirar de muito perto, mas como defesa no caso de um tubarão mais assanhado, serve bem, pois é bem longo e mantém o bicho a distancia.

A âncora e corrente estão completamente enroladas em corais e já sei que vai dar trabalho para sair. Aproveitei e peguei uma garoupinha para um filezinho de peixe mais tarde. Primeiro temos que perguntar se podemos comer esse peixe aqui e, se não, vai para os tubarões. Tem muita garoupa por aqui, e são muito mansas, fácil de pegar, mas eu prefiro as pequenas que tem menos risco de ciguatera.

Voltei ao barco, limpei o peixe e o Mario do Pajé chamou no VHF perguntando se queríamos ir à terra com eles. Logo topamos, pois nosso bote de brinquedo não agüenta passar pelo passe, e fomos com eles dar um abraço no Hugo do Beduína, que hoje faz quarenta e cinco anos. Ficamos por lá batendo papo um pouco e o Mario sugeriu um mergulho para tentar umas lagostinhas. Lá fomos de volta para a água e ficamos boa parte da tarde mergulhando. Muito peixe, mas nada que soubéssemos que podíamos comer. Em geral, somente os peixes de passagem podem ser consumidos. Logo que cai na água vi um peixe parecido com a nossa sororoca, mas achei que iria ver outros e não peguei. Acabou que foi o único peixe de passagem que vi no mergulho. Aproveitei e catei uma dúzia de trocas, um caramujo em forma de cone que esta ficando raro em algumas ilhas por ser comestível e por ter uma concha muito bonita depois de polida. O Mario disse que não ia comer, então devolvi todas menos cinco e voltei ao barco. Pelo VHF chamei o Dallas do PuraVida, aquele catamaran americano que salvei de se arrebentar nos recifes em Huahine, pois eles estão dentro do passe, ancorados no píer da cidade, e pedi para ele checar com os locais se esses caramujos eram comestíveis e como se preparava. Ele foi buscar dois garotos da cidade e os trouxe até o barco para ver os caramujos. Os garotos confirmaram que eram trocas e que eram comestíveis, e que para preparar tinha que ferver em água (usei 30% de água do mar) e depois só tirar a coisa toda de dentro. Tem muita coisa lá, então, sem conhecer melhor, separei somente a carne firme. Tem uma carne clarinha, e depois de tudo limpo e cortado em pedaçinhos, fritei na margarina. Ficou uma delicia com uma cervejinha gelada! Uma pena jogar as conchas fora porque elas são mesmo lindas depois de polidas, mas, parece que são proibidas na Nova Zelândia, então vamos evitar conflitos por lá.

Às dezenove horas entramos na freqüência 8143 e tinham seis barcos brasileiros falando, incluindo o Matajusi, Beduína, Pajé, Ituska, Canela e Bicho Vermelho. Os três primeiros estão em Aitutaki, o Ituska esta indo para um recife desabitado no caminho de Palmerston, o Canela esta em Rarotonga e o Bicho Vermelho esta em Niue. Trocamos informações sobre os lugares que os outros já passaram para aproveitarmos melhor nossa passagem por lá.

Amanha vamos à cidade fazer a documentação de entrada nas Ilhas Cook, e depois vamos comemorar meu aniversario e o do Hugo no Beduína, com almoço preparado pelas namoradas e esposas do grupo. Vou levar um pouquinho das trocas para eles experimentarem. Interessante que não achei nenhum polvo, mas troquei por troca!

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domingo, setembro 20, 2009

A Caminho De Aitutaki, Ilhas Cook:


Posição: S18 32.856 W158 47.420 19/09/09 18:06h Local (UTC-10)
Mais dois problemas para quem gosta de fazer manutenção em barco. O pino da ponteira do pau de spinaker caiu na água. Tentei entender porque, parece que ele estava preso somente com o cabinho que serve para abrir a ponteira para tirar o pau da escôta e o cabinho rompeu. Dois problemas, se era para ser preso somente com o cabinho mesmo, sem uma cupilha, que fosse um cabinho spectra, ou, que tivesse uma cupilha prendendo o pino. Improvisei, usando um cabinho spectra para amarrar a escôta quando uso o pau. Não é a melhor solução porque para tirar tem que desamarrar, e se o vento aperta e tem-se que tirar rápido, pode ser um problema mais do que uma solução. Por outro lado, deixo o pau inclinado em uma posição que se eu enrolar a genoa, ele quase que alcança o estai de proa, então não atrapalha muito se eu recolher a genoa com o pau montado.

O segundo problema tem a ver com a constante porcaria de serviço encontrado em partes da construção do meu barco, dessa vez, de volta com o eletricista, que deve ter ficado com a orelha bem vermelha desde ontem à noite... A luz de navegação e ancoragem do mastro não funciona mais a alguns dias, então estou navegando com a luz de steamer, que é para ser usada quando estamos no motor, em conjunto com a luz de navegação, mas, estou na vela e o certo é usar somente as luzes de navegação. Isso, ao mesmo tempo em que escutávamos um borbulhar debaixo do piso. Ontem à noite, às duas e meia da manha, desconfiei de água nas cavernas e fui verificar, pois isso poderia ter posto as luzes do mastro em curto, visto que o eletricista fez uma serie de conexões no pé do mastro, dentro do poceto que serve para conter água que desce do mastro. Não deu outra, encontrei uma placa eletrônica escondida dentro de um dos conduites, que era a placa de controle das lâmpadas Optlamp do mastro. A placa estava completamente oxidada de ficar em uma área úmida, e um dos fios havia separado da solda, completamente dissolvida pela oxidação. Para piorar, todas as conexões dessa placa com os fios do mastro, foram feitas a mão, sem solda, e somente com um pouquinho de fita isolante comum por cima. Eu sabia que iria ter problemas com o trabalho do Nelson! Eu disse para ele que se eu encontrasse uma sequer conexão feita sem solda e descoberta, que ele iria ficar com as orelhas vermelhas... Lâmpadas, ligações das placas solares, ligação das lâmpadas do mastro, e um monte de ligações dentro do painel de eletricidade, feitas a mão, sem solda e sem fita isolante vulcanizada... Obrigado seu Nelson, por mais essa porcaria de serviço no meu barco! E ele ainda me deve o manual de ligações do meu barco! Não entregou porque eu me recusei a pagar o final de uma conta absurda que ele me cobrou para finalizar o barco, e deixou minhas baterias e conexões todas erradas, que tive que pagar para um eletricista em Angra dos Reis para arrumar. Nada mais justo do que cobrar dele!

Por sorte o Hugo do Beduína conhece esse equipamento e deu umas sugestões pelo SSB hoje pela manha. Eu refiz as conexões tirando fora a placa danificada e vou testar hoje à noite.

Amanha chegamos a Aitutaki nas Ilhas Cook e se não estiver certo, o Hugo me ajuda a finalizar.

Nossa velejada começou desconfortável, com mar muito agitado e vento entre quinze e trinta e cinco nós, depois o vento baixou para abaixo dos vinte, mas o mar continuou grosso, e hoje o vento baixou, entre sete a dez nós, e o mar também baixou, mas continua crespo. Tive que reduzir velas para evitar chegar à noite em Aitutaki, e estou estimando aterragem por volta das sete da manha de amanha. Pelo menos vamos dormir sem sacudir muito.

O Pajé e o Beduína estão umas doze milhas para trás, e não conseguimos falar por VHF, então conectamos duas vezes por dia no SSB 8143 e trocamos posições além de bater um papo.

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sexta-feira, setembro 18, 2009

Depois do marisco gigante, partimos para Aitutaki:


Posição S17 16.062 W15 25.330 17/09/09 16:52h Local (UTC -10)
Na expectativa da nossa partida para Aitutaki no dia seguinte, fui me distrair um pouco com um mergulho pelas redondezas. Fui com o botinho até a área mais funda da lagoa e parei o botinho perto de onde podia ver alguns cabeços de coral. Vi pouco peixe comestível, uma ou outra garoupinha, uma raia grande, uma tartaruga grande, e fiquei mais concentrado nas ostras, mariscos e conchas que ia encontrando, até que encontrei um marisco gigante como só vi um que usaram para fazer um abajur em uma das feiras de artesanatos por onde passamos.

Levei para o barco para mostrar ao pessoal, e aproveitei e colhi umas oito pahuas. Na volta ao barco, mostrei o marisco gigante para a Lilian, que tirou algumas fotos, e continuei o mergulho perto do barco. Por lá encontrei um cardume daqueles peixes prateados com listas amarelas de bigode que ficam caçando moluscos no fundo de areia e peguei dois. Como era aniversario da Gislayne, fui buscar um caracol raro que eu já havia visto dentro de um cabeço de coral, que tinha o maior caranguejo heremita que já tive conhecimento! Era do tamanho de uma lagosta! O caracol era grande, mas ele nem cabia dentro do caracol. Arranquei ele da concha e levei a concha de presente para a Gislayne, que não tinha uma igual.

Na volta, encontrei outro marisco gigante, mas dessa vez, vivo! Retirei ele do fundo de areia onde ele estava encravado, e levei para o barco. Lá, abri e comi as pahuas e dei uma para a Lilian comer, e abri o marisco gigante. Comi somente o músculo que tinha quatro dedos de largura por três de altura. Mais parecia um hambúrguer! Tudo estava uma delicia.

À noite, fomos festejar o aniversario da Gislayne no Beduína, quando combinamos de sair no dia seguinte para o lado oeste de Bora Bora, para fazer suprimento dos barcos e partirmos para Aitutaki no dia seguinte. Assim o fizemos e partimos ontem as 13:30h para Aitutaki.

O mar logo encrespou e levantou até uns três metros de altura com um swell de sueste. O vento esta entre quinze e trinta e cinco nós, quando passam os squalls de chuva, então a passagem esta desconfortável, com o barco sacudindo muito, ondas passando por cima, as vezes muita chuva, o piloto soltando, a gente se ensopando tocando o barco na mão até acertar de novo o piloto, e assim vamos indo, esperando chegar lá entre dia dezenove final da tarde e dia vinte ao raiar do dia.

Dia vinte é aniversario do Hugo, e dia vinte e hum, o meu. Vamos comemorar em Aitutaki.

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segunda-feira, setembro 14, 2009

Continuamos ancorados no mesmo lugar, em BoraBora:

Posição S16 32.217 W151 41.934 13/09/09 18:04h (-10 UTC)
Onde ancoramos tem uma área que dá pé, e conseguimos fazer nossos exercícios de hidroginástica. Fazia tempo que não conseguíamos fazê-los, pois a água em geral é muito funda e sem visibilidade, mas aqui está perfeito. A gente nada um pouco para trás de onde o barco está ancorado e chegamos nessa área. Eu nadei, mergulhei e fiz um bom exercício durante o dia, e a noite fomos convidados para um happy-hour no Pajé. Preparei um polvo que foi um sucesso! A Paula, esposa do Mario, preparou um pão tipo sírio fresco que também estava uma delícia, e ficamos até tarde no papo com os dois. O Hugo, a Gislayne e a Talita do Beduina também foram, mas saíram mais cedo.

Combinamos uma velejada de kite para o dia seguinte. O Mario e a Paula já velejam bem de kite e eles tem dois a bordo. De manhã, fomos eu, o Mario e o Hugo andar de kite, mas o Hugo deu azar e pisou em cheio em um ouriço quando ajudava o Mario a posicionar o kite. Voltamos aos barcos para ver se a Gislayne conseguia tirar os ouriços, mas não conseguiu. Então, mais tarde retornamos ao lugar onde havíamos deixado o kite e fomos andar. O Mario deu umas boas navegadas pela laguna, e o Hugo também conseguiu velejar um pouco. Eu, como era minha primeira vez, fiquei somente navegando de kite com o corpo, para me habituar com o controle, mas dominei bem e dei uma boa surfada de corpo. Gostei da brincadeira e vamos procurar um kite para ter no Matajusi. Como é muito mais gostoso com amigos por perto... O Mario e a Paula, assim como o Hugo e a Gislayne topam todas, então é sempre divertido juntos. Estamos todos a caminho da Nova Zelândia, e antecipo uma boa e divertida navegada junto com eles.

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sábado, setembro 12, 2009

Ancorado em Bora Bora:


Exibir mapa ampliadoPosição S16 32.217 W151 41.934 11/09/09 23:43h (-10 UTC)
Ontem pela manha, cruzamos de Raiatea para Bora Bora, passando por Tahaa, pois o passe PaiPai fica mais próximo de BoraBora. Subimos de Raiatea para Tahaa por dentro da lagoa, usando somente a genoa, e fomos de genoa até próximos ao passe, quando o vento ficou de frente. Saímos pelo passe sem vela, e só abrimos vela quando viramos para BoraBora, já fora do passe. Usei a genoa junto com a mestra inteira por uns ¾ dos caminho, depois tive que risar a mestra pois entrou um squall de chuva que trouxe ventos acima dos vinte nós. Fomos o resto do caminho até o passe de entrada de BoraBora com as duas velas, e só reduzi pano para entrar pelo passe.

Enrolei genoa e baixei a mestra e entramos em arvore seca pelo passe. Logo após o passe tem uma ilhota do lado direito de quem entra, e percebi uma água mais rasa, com vários veleiros ancorados lá. Como quase todos os ancoradouros recomendados estão acima dos vinte metros de profundidade, preferi ir para esse ancoradouro e ficar por lá para a noite. Lá ancorei com seis metros de profundidade e paguei cinquenta metros de corrente para ficar bem a vontade durante a noite. Dormimos muito bem, com exceção dos barcos que passavam a toda pela nossa popa, criando uma marola que explodia contra a popa. Decidi não ficar por ali para o dia seguinte.

Acordamos cedo com o sacolejar provocado pelos barcos que passavam, e nos preparamos para ir para a cidade, pois queria resolver logo a devolução do Bond que pagamos em Papeete e completar o tanque com diesel comprado sem imposto, menos da metade do custo. A devolução do Bond se passou sem problemas, mas tivemos que ir à Gendarmeria para fazer a saída da Polinésia Francesa. Dissemos que íamos sair durante o fim de semana, mas essa não é nossa intenção, pois os ventos vão estar melhores depois de terça-feira. O banco não tinha dólar americano para devolver, então pegamos a devolução em Euros.

Almoçamos uns sandwiches em um barzinho na frente do porto e resolvemos tudo que tínhamos a resolver ate as duas horas da tarde, aí saímos para o outro lado da ilha, para encontrar com os dois barcos brasileiros que por lá estavam, o Beduína do Hugo e Gislayne, e o Pajé, do Mario e Paula. Já conhecíamos muito os dois das historias por todos os lugares que passamos, pois todos perguntavam se conhecíamos os dois, alias, tinham uns sete barcos brasileiros juntos, incluindo o Itusca, o Bicho Vermelho, e o Brasil Canela. Através do Bicho Vermelho, que conhecemos na net das 8:00 horas na freqüência 4146 do SSB, soubemos que os brasileiros se reuniam pelo SSB na freqüência 8143 as dezenove horas todos os dias, então passamos a nos comunicar com o grupo e soubemos que o Beduína e o Pajé estavam no lado Oeste de Bora Bora.

Para chegar onde eles estavam ancorados tivemos que passar por uns lugares bastante rasos, apertados e cheios de cabeços de coral, e chegamos a ficar com zero de profundidade a um ponto onde erramos a interpretação de uma marca cardinal oeste. Passamos a Oeste, mas esse era o lado raso, e a coisa ficou preta rapidinho. Cheguei a dar ré umas três vezes, e finalmente passamos, mais por muito pouco não batemos nos corais.

Chegando onde estavam o Beduína e o Pajé, ancoramos com um metro e meio de calado com trinta metros de corrente, e fomos visitar o Beduína, levando uma penca de bananas maduras de presente para cada barco. Ficamos até tarde no papo com o Hugo e a Gislayne e ficamos impressionados de quantos amigos em comum tínhamos.

Voltamos para o Matajusi depois das dez da noite e eu ainda fui cozinhar um polvo. Tomamos um lanchinho e estamos indo dormir.

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quarta-feira, setembro 09, 2009

Ancorado do lado Oeste de Raiatea:


Exibir mapa ampliadoPosição S16 44.134 W151 29.268 08/09/09 13:58h local (-10UTC)
Dormimos bem e levantamos cedo para a travessia até Raiatea. Essa travessia é de apenas vinte milhas, então estimamos não mais do que três horas e meia, andando a uns seis nós e meio. Abri a genoa com o pau de spinaker e subi a mestra inteira. Assim fomos até a entrada do passe em Raiatea. Dormi umas boas duas das três horas da travessia e acordei melhor disposto.

Entramos pelo passe de Teavamoa, e logo reconhecemos o grande marae de Taputapuatea. Ancoramos em um baixio no meio da baia de Opoa e fomos de botinho visitar o marae. Essas construções dos ancientes Maoris são impressionantes, mas confesso não entender absolutamente nada do que quer dizer. Fico olhando e tentando entender o que ali se passava, mas não tenho qualquer conexão com essas construções. Bom, assim mesmo exploramos o lugar inteiro, e voltamos ao Matajusi para subir um pouco mais a costa leste de Raiatea e entrar na baia de Faaroa, onde tem um rio que sobe até dentro das montanhas de Raiatea e onde tem um Jardim Botânico local.

No caminho, fiz uma dessas cacas indescritíveis e as conseqüências poderiam ter sido maiores. Estávamos velejando pela laguna a uns seis nós, somente de genoa, ajudando no motor, e rebocando o botinho. Como estava um ventinho bom, resolvi subir o botinho na targa, mas sem antes parar o barco... e olha só a caca... puxei o botinho e amarrei a proa a um dos turcos da targa. Depois fui puxando o bote de lado, mas com o barco andando e com o motor do botinho na água, fazendo um arrasto incrível, para amarrar a popa ao outro turco da targa. Assim que consegui, fiquei em uma situação realmente complicada, pois, eu tinha que ficar segurando o bote de lado para ele não virar na água, e não conseguia alcançar o turco para subir a proa ou a popa do botinho, nem conseguia desacelerar o barco sem largar o botinho. Numa das tentativas de estivar o braço, deixei o botinho escapar, e ele abraçou a água que nem um pára-quedas, virando um breque do barco na água! Lógico que a pressão foi demais, e isso arrancou o espelho de popa de uma das bananas. O tanque de gasolina caiu na água, e o motor só não caiu também porque estava bem preso no espelho de popa e esse estava preso ao turco da targa. Nisso chegou a Lilian para ajudar... parei o barco, enrolei velas, e fomos buscar o tanque que ficou boiando lá trás.

Bom, esquece subir o rio de botinho, pois ele estava partido na metade... Passamos o resto do dia consertando o botinho e foi minha primeira vez consertando um bote inflável. Até que não é um bicho de sete cabeças... Terminamos a noitinha, e deixamos tudo pronto para ir no dia seguinte subir o rio de botinho.

Dormimos muito bem, ancorados em quatorze metros de água com fundo de lodo duro, com quarenta e cinco metros de corrente e um ventinho constante que manteve o barco bem refrigerado e sem mosquitos.

No dia seguinte levantamos cedo e fomos preparar o botinho para a subida do rio, depois de tomar nosso café da manha. Na entrada do rio tinha um nativo com um daqueles caiaques polinésios de corrida e ele foi subindo o rio emparelhado conosco. Ele não disse nada e nem eu também. Fomos subindo o rio juntos, mas sem uma palavra trocada entre nós. Eu até que estava meio desconfiado, mas armado do meu facão de mato, não esquentei muito a cabeça. À medida que o rio foi ficando mais raso, ele ia me dando sinais para ir para cá ou para lá, para evitar bater com o motor no fundo, e assim fomos até uma área onde havia um píer. Nisso ele nos convidou para conhecer o Jardim Botânico e só aí percebemos que ele era na verdade um guia do Jardim Botânico. Ele disse que não custava nada e ainda receberíamos varias frutas de graça, então paramos o botinho e o seguimos pela mata. Dois outros casais se juntaram a nós e fomos fazer um tour do Jardim Botânico.

James, era assim que se chamava o guia, explicou sobre todas as plantas que íamos encontrando pelo caminho, muitas tóxicas e venenosas, e foi apanhando algumas frutas que eu não conhecia e fomos experimentando. Foi um passeio muito instrutivo e nutritivo... No final, ele foi apanhar papaias e cachos de banana e cada casal levou um cacho grande de bananas de volta.

Acabado o tour, os outros dois casais voltaram ao barco deles, ancorados também na baia, e eu e a Lilian seguimos adiante até o final do trecho navegável do rio. Lá perto do final, encontramos muitas bananeiras com cachos enormes de bananas, e acabamos pegando mais um cacho, cheio de bananas maduras.

Retornamos ao Matajusi, e preparamos o barco para zarparmos para Uturoa, o centro comercial de Raiatea. Fomos o caminho todo com chuva e quase nada de visibilidade, mas a sinalização é muito boa assim como as cartas do local, então fui seguindo em vôo cego até o píer da cidade. Chegamos a atracar, mas, sem saber se poderíamos passar a noite atracados ao píer decidimos seguir adiante, pois estava ficando tarde rapidinho e precisávamos encontrar um local abrigado do vento para ancorar para a noite, então acabamos dando a volta pela frente da ilha e descemos um pouco do lado oeste, protegidos do vento leste que estava soprando. Achamos uma área já com muitos barcos ancorados e jogamos ancora por ali também. Minha primeira tentativa de ancorar não ficou muito do meu agrado e acabei ancorando novamente, agora mais distante de todos os barcos que por ali já estavam.

Nisso notamos que dois dos barcos que estavam do nosso lado tinham bandeira brasileira hasteada. Logo estávamos conversando com a Márcia, de Belém do Para e a Semea, de Teresina. Elas eram casadas com franceses, o Jean e o Richard, e, grande coincidência, a Márcia e o Jean eram muito amigos do Jean Claude e da Monique que conhecemos em Curaçao. Esse mundo de barcos é mesmo pequeno...

Hoje achamos uma pessoa que lava roupas e deixamos nossas roupas para lavar, e achei um lugar para recarregar o bujão de gás de cozinha do Matajusi. Um deles havia acabado e eu já havia trocado pelo reserva. Cada bujão deve durar uns seis meses segundo nossos cálculos, mas é sempre bom ter backup se preciso for.

Amanha planejamos fazer supermercado, e depois de mais um dia sair para BoraBora.

Conectei hoje pelo wireless e entrei no skype. Consegui conexão com meu irmão Saulo e com meu filho Marcio. Foi bom ouvir a voz deles. Já estamos há nove meses fora, e a saudades esta apertando.

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domingo, setembro 06, 2009

Servico porco do estaleiro ataca de novo!!!

Posição S16 46.191 W151 02.296 05/09/09 17h Local (-10 UTC)
Passei os últimos dias curando da gripe e esperando o vento forte acalmar. Saímos da ancoragem de Fare e descemos rumo ao sul da ilha, entrando na baia da vila de Haapu, que é praticamente cercada de morro por todos os lados. O fundo é de areia, com quatorze metros de profundidade no centro da baia, onde jogamos ancora. Ancoramos com sessenta e cinco metros de corrente, e lá ficamos por dois dias, tomando uma rajada atrás de outra o tempo todo. O Matajusi segurou bem, mas o Azzar que estava à nossa frente na baia foi garrando devagar durante a noite até se aproximar a menos de dez metros do Matajusi, então usei a buzina e a lanterna para acordar o pessoal de lá e avisar que eles estavam garrando. Eles reposicionaram a ancora e fomos todos dormir.
Durante o dia demos um pulinho de botinho até a baia ao sul da ilha, mas o vento era forte demais para tentar levar o Matajusi para lá. Tinha lido no blog do Pagé que eles estavam ali, mas não os encontramos. Aproveitamos e fomos até a vila de Haapu para caminhar um pouco. Subimos a encosta toda até um belvedere mas qualquer esforço estava me pegando, então voltamos ao barco e fui descansar mais.
Combinamos de sair para Raiatea hoje pela manha, mas quando estávamos tomando café da manha, uma rajada muito forte pegou o barco de lado e arrastou para o outro lado, forçando o leme, que estava com a trave de movimento apertada até o fim, mas não foi o suficiente para impedir que o leme virasse com toda força para o outro lado. O batente do volante bateu contra o batente fixo que impede o leme de virar demais, entortou e passou para o outro lado, travando o leme naquela posição. Eu vi o movimento de dentro da cabine, e escutei o tranco, e sabia que aquilo iria dar trabalho.
Quando tentei voltar o leme, ele não saía do lugar. Primeiro desmontei as bussolas para ver como estavam as engrenagens, depois entrei no sub-mundo para tentar entender porque o leme não voltava. Foi aí que vi que o batente do volante havia entortado e passado por cima do batente fixo na parede traseira do barco.
Dos cinco centímetros disponíveis para os batentes se tocarem, o porco que instalou esse equipamento no barco deixou somente ¼ de centímetro disponível, e eu estúpido, não havia notado mais essa porcaria no meu barco. Imaginem o que aconteceria se eu estivesse em mar aberto, com ventos e ondas fortes, e o piloto soltasse, deixando o volante rodar até o final, batendo como aconteceu essa manha. O leme ia ficar travado até eu conseguir primeiro entender o que tinha acontecido, e depois identificar como eu iria consertar aquilo. A única opção seria entrar em capa (deixar o barco correr solto de lado), se tivesse espaço para isso (não ter terra daquele lado).
Como eu estava ancorado, tive mais tempo para definir a melhor saída, que foi refazer a furação do batente da parede traseira do barco e subir um centímetro e meio, pois era o máximo que se podia subir sem deixar o volante raspar no suporte do batente. Tive também que desentortar o batente do volante, o que não foi nada fácil, pois é feito de aço inox e não tinha espaço para usar uma alavanca para ter força suficiente para desentortar. No final, deu tudo certo, mas perdemos o dia, pois ficou tarde para atravessar para Raiatea. Mesmo assim, tentei, mas logo vi que ia ficar em situação perigosa se a noite chegasse e eu não estivesse dentro da barreira de corais de Raiatea, então voltei para Huahine e ancorei no mesmo lugar que já havia usado antes, entre as baias de Fare e Fiti.
Amanha cedo saímos para Raiatea.
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sexta-feira, setembro 04, 2009

Nossa tripulacao inclui voce, leitor.


No mar temos você, leitor de www.matajusi.com.br como um membro de nossa tripulação.
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quinta-feira, setembro 03, 2009

Aguardando a febre acalmar...


Exibir mapa ampliadoPosição S16 46.191 W151 02.296 02/09/09 17h33m hora local (-10 UTC)
Com toda exposição ao tempo durante os acertos de ancoragem, acabei pegando uma gripe e estou de molho, aguardando a gripe passar para sairmos para Raiatea e Tahaa.

O barco Frances, LODY, voltou e recuperou seu botinho com o Spica. Imaginem como eles ficaram contentes em ter seu bote com motor e tudo de volta. Eles passaram a noite procurando pelo bote no mar e retornaram somente de manha.

Nós levantamos ancora, que deu um trabalhão pois a ancora entrou dentro de um coral e a corrente deu a volta no coral. O Dallas do Pura Vida veio de scuba para ajudar. Eles me devem alguns favores... Procuramos por uma baia mais ao sul, mas chegando lá não gostei pois não encontrei uma boa área para jogar ancora e acabamos retornando para nosso ancoradouro de emergência, e ancoramos da mesma forma que antes, isso é, lançamos ancora a dez metros de profundidade, e demos sessenta e cinco metros de corrente, ficando em cima de uma área com bastante corais, e com cinco metros de profundidade.

Nisso minha gripe piorou e fiquei com febre, então, me recolhi ao barco e ainda estou de repouso. Assim que passar, levantamos ancora para Raiatea que fica somente a vinte milhas daqui.

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terça-feira, setembro 01, 2009

Passando a noite de vigia...

Posição S16 46.191 W151 02.296 31/08/09 22h14minh Local (-10 UTC)
Dia (e noite) difícil hoje, cheio de dificuldades por causa dos ventos fortíssimos que estão provocando os barcos a soltarem das suas ancoragens. Os ventos estão acima dos vinte nós, mas com rajadas de até quarenta e oito nós.

Havíamos saído de manha e fomos conhecer a aldeia de Fare. Aproveitamos para sacar algum franco polinésio no banco local, pois o que tínhamos acabou, e comprar alguns itens na casa de ferragens local e no enorme supermercado que tem em Fare. Ficamos surpreendidos com o tamanho do supermercado e a qualidade dos seus produtos, e os preços são inferiores ao do Carrefour que fica do lado da Marina Tainá em Papeete. Choveu o tempo todo e estávamos encharcados, usando as capas de mau tempo do barco.

Quando retornamos ao barco, não percebi que ele havia saído um pouco do lugar onde estava, mas mais tarde, olhando os pontos de referencia a nossa volta percebi que estávamos mais próximos do catamaran PuraVida que estava atrás de nos, e não estávamos mais do lado do Spica, onde havíamos ancorado.

Vestimos correndo nossa roupa de chuva e saímos para recolher a ancora e ancorar novamente. Com vento muito forte, pedi para a Lilian cuidar do barco enquanto eu cuidava de recolher a ancora. Quando a ancora veio, veio junto com um pedaço de coral cravado no meio da ancora. Assim ela não fincaria na areia mesmo e iria arrastar. Arranquei o coral da ancora e ancoramos novamente, agora com sessenta metros de corrente em oito metros de profundidade. Mergulhei e fui ver a ancora. Ela estava firme, bem enterrada na areia, e ainda passei a corrente por baixo de um coral, pensando que iria dar trabalho tirar a ancora de lá depois.

Ficamos de olho, e não deu outra, depois que começou a escurecer, para dificultar as coisas, percebi que estávamos mais próximos do catamaran novamente, ou seja, estávamos garrando (ancora correndo no fundo). Enquanto preparávamos o barco de novo para recolher novamente a ancora, percebi que o catamaran PuraVida estava garrando também e já havia passado por cima da primeira barreira de corais do lado de dentro. Sem tempo para mais nada, comecei a assobiar muito alto, como sei fazer e para sorte do Dallas, que estava sozinho com sua esposa no catamaran, pois seu irmão Wess e sua namorada estavam em terra, ele ouviu os assobios e foi para fora ver o que estava acontecendo. Sinalizei que ele estava indo para os corais da arrebentação de fora da ilha, e fui cuidar do Matajusi.

Deu muito trabalho recolher sessenta metros de corrente, porque não conseguia manter o barco na linha do vento enquanto a Lilian recolhia a corrente e a ancora. A proa virava de lado com a força do vento e o motor não conseguia trazer a proa de volta a tempo. Não podia acelerar tudo e sair dali, pois a ancora estava ainda no fundo, então fizemos algumas manobras até recolher uns cinquenta metros de corrente, e depois virei o barco de re e fui contra vento de ré, arrastando a corrente para fora da área de menor profundidade. A Lilian não entendeu minha manobra e ficava gesticulando que era para eu ir para cima da ancora, e não conseguíamos escutar um ao outro com o barulho do vento, motor e ondas batendo na popa. Então, arrastei a ancora para fora dali, e a Lilian recolheu mesmo com a corrente esticada por causa da minha velocidade de ré. No final, recolhemos toda corrente e ancora, e fomos procurar um outro lugar para ancorar.

Três outros barcos também garraram e vieram atrás da gente para ver o que nós íamos fazer. Quando entramos em Huahine pela primeira vez e dei uma volta para ver onde ancorar, passei por cima de um local onde a profundidade era de dez metros, mas subia rapidamente para os três a quatro metros. Joguei ancora nos dez metros e dei setenta metros de corrente, passando por cima de uma área de corais mais rasa ate chegar a um local com quatro metros de profundidade. A teoria é que a corrente não garra em fundo com subida íngreme. Vamos testar essa teoria, mas sei também que, se a ancora garrar (correr) para cima, ainda vai ter que passar pelos corais antes de soltar de vez. Acho que vai segurar.

Passei a informação pelo VHF dezesseis e dois outros barcos fizeram o mesmo, vindo ancorar próximo ao Matajusi. Nisso recebemos uma chamada do Spica pelo VHF dezesseis, perguntando se nós estávamos vendo o barco Frances que estava ancorado na frente do Spica. Eu havia notado que vinha outro barco atrás da gente quando fomos para esse novo ancoradouro, mas não o vimos ancorar. Depois percebemos que eles saíram para fora da barreira de corais, em mar aberto. Nisso o Spica nos informou que eles haviam segurado o botinho do barco Frances que havia desprendido, um ato de coragem visto que o Spica usa um botinho de madeira a remo... Conjeturamos que o barco frances perdeu o botinho e soltou a ancora para ir buscar, e ficou sem ancora e sem botinho, pois ele foi para Mar aberto e entro em capa (deixar o barco atravessado ao vento, arrastando a quilha). Amanha vamos saber melhor o que se passou.

Enquanto isso liguei alarme de ancoragem (se sair 0.02 milhas do lugar de ancoragem soa alarme), de profundidade (se chegar a dois metros e meio soa alarme), de vento (se chegar aos quarenta nós soa alarme), e vamos passar a noite assim. A previsão para amanha é que os ventos vão aumentar!!! Mas amanha vai ser um novo dia, que com claridade, ajuda a ver se estamos bem ancorados.

Até amanha, quando reportarei como passamos a noite.

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