domingo, novembro 28, 2010

Chegamos na Malasia

Esperamos dois dias pela chegada do QOVOP, mas de alguma forma nos desencontramos. Havíamos combinado de nos encontrarmos em uma de três ancoragens escolhidas, caso nós não estivéssemos na primeira eles iriam para a segunda e depois para a terceira. Como havíamos parado umas duas horas em capa, e depois mais doze horas na deriva, depois de esperar por dois dias sem eles chegarem, pensamos que eles já haviam nos passado, chegaram primeiro na ancoragem, e seguiram em frente achando que nós havíamos escolhido a próxima. Tendo ido até a terceira, eles esperaram dois dias e seguiram para a Malásia. Bom, só vamos saber o que aconteceu depois de chegarmos à marina onde combinamos ficar.
A travessia foi tranqüila, se podemos dizer que andar a seis nós no meio de centenas de navios andando entre onze e vinte nós é ser tranqüilo! O AIS ajuda muito, pois conseguimos saber em quanto tempo vamos nos encontrar com qualquer navio, e a que distancia vamos estar, então toma-se providencias para uma ultrapassagem tranqüila. A parte mais difícil foi atravessar o canal de navegação dos navios, pois para chegar a Singapura tem-se que atravessar o trafego de navios vindo de lá na direção Leste ou Sul. Preferi atravessar a noite, e fiquei de olho no AIS e no visual, esperando em velocidade menor até que vi uma brecha entre os navios vindo de Singapura, aí, acelerei tudo e passei no meio. Cheguei a ficar próximo de alguns navios, e conversei no radio com alguns deles, definindo de que lado iríamos passar. A regra geral é Boreste com Boreste (starbord to starbord), mas se essa regra não puder ser seguida por qualquer razão, negocia-se a forma de passagem ou ultrapassagem.
Nosso único quase acidente foi durante a noite, já na costa da Malásia, navegando entre os navios ancorados e a costa, quando estávamos distraídos com o que parecia ser um navio de dois cascos, tipo um catamaran, e não vimos uma bóia amarela sem iluminação. Quando vi, já estávamos em cima. Pulei para desligar o piloto e minha primeira reação foi virar radical para a esquerda, entre a bóia e o navio, mas ai me ocorreu que a bóia podia ser de uma das muitas ancoras do navio catamaran, então guinei tudo para o direita, e passei por fora, mas muito perto! Ufa! Lembrei-me do incidente da bóia na baia de Santos quando estava fazendo a filmagem para o Shop Tour.
Ancoramos em área de ancoragem sem restrições, do lado que a principio pareciam ser os prédios do centro de Singapura, mas acabaram sendo duas plataformas de perfuração do fundo do mar. O lugar foi ideal, pois entre as duas plataformas e a costa havia uma bóia verde, e sem lugar para outro barco ancorar, então dormimos tranqüilos.
Agora estamos tomando nosso café matinal, e logo sairemos para dar a volta toda em Singapura para chegar em Johor Bahru, onde fica nossa marina, talvez ainda hoje. Se anoitecer, jogo ancora em algum outro lugar.
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At 28/11/2010 09:32 (local) our position was 01°19.90'N 104°07.99'E, our course was 080T and our speed was 0.0.
No dia 28/11/2010 as 09:32 horas (local) nossa posição era 01°19.90'N 104°07.99'E, nosso rumo era 080T e nossa velocidade era 0.0.

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sexta-feira, novembro 26, 2010

Aos proximos visitantes de Karimata...

Deixamos um presente para a próxima geração de visitantes de Karimata, plantamos cinco coqueiros na orla da praia, na entrada leste do riacho da cachoeira. Em alguns anos, esses coqueiros poderão ser identificados de longe, tipo o coqueiro que identifica a praia Oeste de La Blanquilha na Venezuela. Incentivamos o Tomi a plantar mais arvores, pensando no futuro, e também a começar um planejamento para quando da vinda de mais barcos, com a idéia de se criar um tipo de Iate Clube de Karimata, na frente da cachoeira, e de prestar serviços para os barcos que venham visitar a ilha. Sugerimos a venda de peixes, ovos e frangos, vegetais e frutas, lavanderia, água potável, saídas de barco para mergulhos, excursões pelas florestas da ilha, entre outros. Ensinamos ele também a queimar os plásticos que aterram nas praias de Karimata, e começar a incentivar os vizinhos a fazerem o mesmo.
Ficamos somente dois dias na ancoragem de Pejantan. Acho que teria muito mais a ser explorado na ilha, mas temos que seguir viagem, pois já temos passagem marcada de vôo para SP no dia vinte de Dezembro, então temos que chegar logo na marina em Johor Bahru na Malásia, e preparar o barco para dormir por muitos meses.
Saímos cedo junto com o QOVOP de Pejantan, rumo a uma pequena ilha chamada Merapas, no Leste de Bintan, ilha que fica de frente para Singapura, velejando primeiro com um bom vento de popa, depois mudando para um través de boreste, depois uma orça de boreste, virando para vento na cara, comum por essas bandas nessa época do ano, o chamado, Nortwest Monsoon. De novo, optei pela rota mais direta, usando o vento quando dava, e ajudando no motor. Tenho mesmo que acabar com o diesel dos tanques, pois vamos fazer uma boa limpeza neles quando estivermos na marina.
Tivemos algumas situações interessantes nessa passagem, algumas, pela primeira vez. A primeira teve a ver com um navio a noite, que mesmo com o AIS ligado, veio direto em cima da gente. Com o AIS, estou tão acostumado a ver os navios desviando, que deixei para ultimo minuto chamar esse pelo radio. Eu estava dormindo no cockpit e a Lilian fazendo o turno dela, quando ela me acordou e disse que um navio estava chegando muito perto. Olhei e vi as duas luzes, verde e encarnada, ou seja, direto na nossa direção. Peguei o radio e chamei três vezes o navio pelo VHF dezesseis, e já fui logo continuando, perguntando em voz ríspida que tipo de CPA (Ponto de aproximação mais próximo) ele estava me dando! Ele respondeu com voz de sono, Boreste com Boreste (Starbord to Starbord), ou seja, pensou que eu estivesse vindo na direção contraria da dele, não tinha nem visto a gente no AIS dele, mas logo percebi que ele desviou, pois sumiu a luz verde. Ele passou a Oitocentos e Sessenta e Quatro pés do Matajusi, o record de aproximação de um navio ao nosso barco! Estava a doze nós! Anotei os dados do navio e vou procurar a quem pertence, para reportar o incidente. Para registro, o navio era o CEC ACCORD, MMSI 235061302, Call Sign 2ANM3, IMO 9148805, o incidente ocorreu na posição 00.24.593N 106.10.420E, as 3h local do dia 25/11/2010.
Logo em seguida, outro navio vindo em nossa direção, desviou, mas assim que passou a gente, deu uma meia volta e voltou pelo mesmo caminho que havia vindo. Difícil de entender...
Depois disso, a maior tempestade de água pela qual já passamos a bordo, com ventos acima de vinte e cinco nós e água que mais parecia uma cachoeira! O vento virava a cada quinze minutos, então não tinha como ajustar as velas, e com menos de cem metros de visibilidade, então tinha que confiar no AIS e no radar, que em chuva tão intensa, também tem dificuldade em localizar outros alvos. Toquei o barco na mão por umas duas horas, mas cansei de brigar contra o vento, ondas e enxurrada, então resolvi pôr o barco na capa pela segunda vez e ir dormir. Dormi uma hora e meia, a tempestade passou, o mar continuou mexido, e dei continuidade em direção a Merapas, mas briguei contra corrente, ondas e vento, e resolvi passar a noite na capa, ou melhor, simplesmente boiando na deriva, ao invés de tentar ancorar durante a noite e ainda com tempo ruim. Baixei a grande, enrolei trinqueta, recolhi cabos, amarrei timão, liguei luz de popa e luz piscando no alto do mastro, chequei nossa direção, Norte, mar aberto pela frente, com única preocupação os navios, mas eu já estava um pouco fora da rota principal deles. Mesmo assim deixei somente o AIS ligado, e fomos dormir. A Lilian fez vigília de trinta em trinta minutos, e me acordava se tinha alguma coisa preocupante. Dormimos das nove da noite as sete da manha do dia seguinte, com o barco a deriva. Deixei o PC ligado, rodando o Maxsea, e quando chequei nossa deriva durante a noite, vi que havíamos ido para Norte, virando para Oeste, depois para Sul e andamos algumas vinte milhas na deriva. No final, ficamos a duas milhas de um farol que indicava área rasa, que já havíamos passado na tarde do dia anterior.
Pus o barco novamente em movimento, para variar contra vento, corrente e swell, e toquei até Merapas, onde ancoramos em doze metros de profundidade, fundo de areia, com sessenta metros de corrente. Agora no final da tarde, começaram a aparecer barcos de pesca, que vieram ancorar bem do nosso lado. Aparentemente esse é um lugar de ancoragem desses barcos para passar a noite.
Enquanto esperamos o QOVOP chegar, arrumamos o barco, escrevemos, fazemos um pouco de manutenção, enfim, vida a bordo como sempre.
Uma boa novidade que recebi pelo email foi o fechamento do primeiro contrato de serviços na nova unidade de Life Quality da MG, empresa da qual sou o maior acionista e Sócio Diretor, atividade que exerço do próprio barco.
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At 23/11/2010 16:17 (local) our position was 00°06.52'N 107°12.74'E, our course was 284T and our speed was 0.0.
No dia 23/11/2010 as 16:17 horas (local) nossa posição era 00°06.52'N 107°12.74'E, nosso rumo era 284T e nossa velocidade era 0.0.
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segunda-feira, novembro 22, 2010

Cruzamos a linha do Equador pela terceira vez:

Nessa ultima travessia, entre o paraíso desconhecido de Karimata e a Ilha de Pejantan, saímos do Hemisfério Sul e passamos para o Hemisfério Norte, cruzando a linha do Equador pela terceira vez em dois anos.
Dessa vez, chegamos ao próximo ancoradouro depois do QOVOP porque eles saíram dois dias na nossa frente, pois além deles irem mais devagar, nós queríamos aproveitar Karitama ao máximo. Trocamos de ancoragem e ancoramos bem na frente da cachoeira, e curtimos mais dois dias daquele paraíso virgem, só nós dois, com exceção da tardinha e noite, porque convidamos o Tomi e seu primo Bruno para passarem a noite no Matajusi. Lilian preparou um fetucini com molho a bolonhesa, comida rara por essas bandas, que nossos convidados aprovaram, deliciando-se nessa comida do mundo Oeste. No nosso ultimo dia, Lilian lavou muita roupa na água corrente da cachoeira, e eu fiquei fazendo caça submarina por quase metade do dia, conseguindo uma lagosta de bom tamanho, que saboreamos para o almoço, reforçada com o macarrão da noite anterior, sempre com melhor sabor no dia seguinte. Enchi um saco de peixes, com somente quatro peixes de bom tamanho, os quais preparei em filés que congelamos para os dias que não fazemos caça submarina. Simplesmente um dia especial, único, em um lugar especial, único.
Levantamos ancora as seis da manha do dia seguinte, e logo que pus o barco em movimento e levantei a mestra, o motor parou, sem combustível. Primeiro ganhei velocidade abrindo a genoa e pondo o barco no vento, depois fui trocar os tanques. Fique surpreso quando após uma hora, o combustível acabou novamente, uma situação quase que impossível, pois tinham cento e dez litros nele quando enchemos os tanques em Porto Moresby, então preciso verificar o problema e consertar. Possíveis problemas seriam um ou os dois filtros de combustível sujos, mas troquei os dois a menos de cem horas, e para comprovar que esse não era o problema, mudei de novo para o tanque da frente, depois de esvaziar o ultimo galão de diesel de quarenta e cinco litros nele, e o motor funcionou direto por trinta horas, ajudando contra o NorthWest Monsoon, com ventos e corrente contra. Decidi ir em linha direta de uma ilha a outra, sem tentar mudar o rumo para aproveitar melhor o vento, pois o VMG (resultante) do waypont estava melhor dessa forma. Quando o vento ajudava, eu armava a genoa, senão, ia com a trinqueta e a mestra alinhadas no meio do barco. Acredito ganhar um décimo de nó quando armo a trinqueta no meio do barco. Para conseguir isso, uso ela risada a ponto da amura quase encostar no mastro, sem tocar o radar, e caço as duas escôtas para manter a vela no meio, um pouquinho aberta para sota (por onde o vento sai).
Na passagem, encontramos água rocha (azul translucida) e muitos golfinhos, alguns nos acompanhando por um bom tempo. Tenho desenvolvido alguns assobios, parecidos com os barulhos que já ouvi os golfinhos fazendo, e imito esses barulhos, acreditando que os golfinhos permaneçam mais tempo acompanhando o barco, curiosos por esses assobios. Hoje, um desses golfinhos ficou muito tempo nos acompanhando, e fazia tudo para olhar e entender que barulho era aquele, chegando até a nadar de ponta cabeça para ver melhor. Ele saia da água por mais tempo, e me olhava de lado, com um dos olhos. Como seria bom saber falar com eles... mas, enquanto continuamos sem entender um o que o outro diz, parece que os dois lados apreciam a companhia do outro.
Chegamos à ilha combinada como a próxima ancoragem, mas não achei o QOVOP, então dei a volta na ilha inteira, e já estava desistindo quando encontramo-los ancorados do lado Sudoeste da ilha. O Manu mergulhou e veio me indicar onde jogar a ancora para não prender em alguma das muitas cabeças de coral por aqui, e logo estávamos ancorados e comendo um arroz com garopa recém assada em espeto na fogueira da praia, que saboreamos antes de sairmos para mais um mergulho. Eu fui atrás de lagostas, mas não encontrei nenhuma, e o Manu caçou um merote de uns seis quilos, que logo foi preparado em tiras que, depois de temperadas com alho e sal, e enroladas em farinha de mandioca, foram para o forno, saboreadas no nosso jantar comunal no Matajusi, acompanhado da cerveja caseira que os garotos do QOVOP aprenderam a fazer na Nova Zelandia, deliciosa depois de gelada na geladeira do Matajusi.
Vamos passar mais um dia por aqui, e partimos para uma ancoragem no lado sul do canal do Porto de Singapura, aguardando a hora certa para cruzar o canal de acesso do segundo porto mais ocupado do mundo, depois de Hong Kong, indo depois para uma marina do lado da Malásia, que usaremos como nossa base enquanto visitamos Singapura.
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At 23/11/2010 01:34 (local) our position was 00°06.53'N 107°12.73'E, our course was 068T and our speed was 0.2.
No dia 23/11/2010 as 01:34 horas (local) nossa posição era 00°06.53'N 107°12.73'E, nosso rumo era 068T e nossa velocidade era 0.2.
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quinta-feira, novembro 18, 2010

Karimata, um paraiso perdido:

Conforme estimado, chegamos a Karimata por volta das nove da manha, mas sem o sol a pino, ficava difícil localizar os muitos recifes que cercam a ilha. Além disso, as cartas não são precisas e elas estão posicionadas fora do lugar correto. Sem problemas, usei a função de Chart Offset do E80 para posicionar a carta em cima do reflexo do radar, e fui entrando pelos recifes adentro, com a Lilian postada na proa. Ainda muito longe de terra, escuto a Lilian gritar que estávamos já em cima de um recife. Dei maquinas a ré rapidinho, mas chegamos a ficar em cima daquele recife. Sem alternativa melhor, decidi ancorar por ali por perto e esperar o sol do meio dia para tentar mais aproximação de terra. Do barco podíamos ver muitos barcos pesqueiros, alguns de maior porte, ou seja, havia um caminho.
Ancoramos com seis metros de profundidade com ancora Bruce de vinte quilos e quarenta metros de corrente. Entrei para dentro para ajudar a ordenar a cabine depois da travessia desde Gelam, mas não demorou muito e ouvi alguém chamando do lado de fora.
Hey mister?
Sai para ver do que se tratava, e conheci pela primeira vez o Tomi, um pescador nativo de Karimata. Ele perguntou se eu não preferia ancorar dentro da baia, atrás da linha dos recifes, o que logo aceitei. Ele se ofereceu para vir no Matajusi mostrando o caminho, e mesmo assim ainda seguimos seu barco, comandado por outro pescador nativo local.
Ajustei o tracking do E80 para guardar mais detalhes da rota, e fui seguindo o barco do Tomi, enquanto ele ficava na proa ajudando a apontar o caminho com sinais de mão. Em pouco tempo estávamos do lado de dentro dos recifes, ancorados em seis metros de água com quarenta metros de corrente, em águas calmas e ainda estamos no mesmo lugar.
Nossa estadia na ilha tem sido uma seqüência de experiências surpreendentes. Assim que chegamos, Tomi me convidou para conhecer sua casa, de frente para o mar, uma casa simples de madeira, metade em terra e metade em cima do mar. Ele estava voltando do seu trabalho, e trazia um monte de peixes de varias espécies diferentes, e algumas garopetas entre um e dois quilos, que mantinha vivas dentro de um barril de plástico, alimentado com água corrente da bomba de refrigeração do motor.
Ele me apresentou para sua família, pai, mãe e duas irmãs gêmeas, muito bonitas e me convidou para entrar em sua casa para tomarmos um chá com bolo verde, uma família muito simpática, que logo nos adotou e passamos a fazer muitas coisas juntos. Todos os dias passamos pelo menos algum tempo com ele e a família na casa deles, batendo papo e tomando chá com bolo. Convidei as irmãs e uma prima dele para conhecerem o barco e a Lilian, que havia ficado a bordo, e as levei de bote até lá. Elas passaram a tarde conversando, enquanto a Lilian preparava um bolo e alguns brigadeiros e beijinhos, para comemorarmos o aniversário do Manu, que havia completado vinte e oito anos durante nossa ultima travessia.
Ao final do dia, ainda com um pouco de luz, chegou o QOVOP, e logo passei as coordenadas que havia tirado do tracking do barco, com seis waypoints. Não demorou muito para eles estarem ancorados do nosso lado.
Logo levei todos, agora incluindo a Lilian, para conhecer o Tomi e sua família. Depois de muito papo e mais um chá com bolo, combinamos de ir com o Tomi no barco dele no dia seguinte, quando ele fosse pescar, e depois de uma noite bem dormida, estávamos prontos as sete da manha para acompanhá-lo.
Pontualmente as sete da manha, o Tomi passou com seu barco de pesca, motor de um cilindro a diesel, para nos apanhar e fomos eu e os três garotos do QOVOP, junto com nossos equipamentos de mergulho, para acompanhar esse tipo de pescaria que alguns pescadores da ilha fazem, o de apanhar peixes em covos feitos de tela de galinheiro com uma armação de madeira meio mole, mais parecida com um cipó. O covo tem uma abertura na frente, dobrada para cima, e eles o põem de lado, colado na parede do recife, com a boca para a frente, apanhando os peixes que porventura entram dentro do covo, pois eles não usam qualquer tipo de isca para atrair os peixes. Eu acredito que o primeiro peixe entra, por acaso, e outros procuram também entrar, pois vêem o outro lá dentro. Com isso algumas garopinhas também entram, e esse é o peixe que mais interessa, pois eles as apanham vivas, mantém vivas em um barril com água corrente do motor a bordo, e transportam para umas redes em forma de saco que eles amarram em uma armação de madeira próximo às suas casas, depois sendo colhidas pelo "Boss" um chinês que compra todos os peixes vivos que saem da ilha. Os outros peixes eles deixam morrer, e vendem para as pessoas da ilha que salgam peixes para vender. Eles tem um compressor, também impulsionado pelo motor do barco, que alimenta uma mangueira de até trinta metros, adaptada em uma mascara grande que cobre nariz e boca juntos, e usam para mergulhar segurando uma pedra, nadando sem pés de pato ate onde o covo esta, eles seguram o covo com as mãos e dão dois puxões na mangueira, sinal para o ajudante de bordo puxar a mangueira com mergulhador e covo juntos.
Nós demos uns mergulhos por perto para ver como eles trabalham, aproveitando para caçar mais peixes, alguns para nosso consumo, e outros para o Tomi juntar com sua pesca de salga, mas acredito que eles usaram para fazer um "bacar ican di pantai" ou, churrasco de peixe na praia. Aos poucos vamos entendendo uma palavra ou outra da língua Bahasa Indonésia. "Semalat malam", boa noite, "terima kasih" obrigado, "samasama" de nada, "capal turist" barco de turista, entre outras.
A comunicação por aqui é muito difícil, pois só uma minoria entende algum inglês, e só encontramos dois, o Tomi e um primo, que falam alguma coisa, então, nossa reuniões familiares à noite na casa do Tomi são hilárias! Todos nos fazem perguntas, que o Tomi traduz do jeito dele, e nós também satisfazemos nossa curiosidade sobre a ilha e a cultura deles, também traduzidas pelo Tomi, que esta brilhando radiante de felicidade com os novos amigos.
No dia seguinte da pescaria com o Tomi, fomos visitar uma cachoeira que corre pela mata e deságua em uma lagoa na praia a algumas milhas da vila que estamos, lugar ainda totalmente natural, sem caminho por terra, aonde só se chega de barco, e pelo caminho fomos apreciando as pequenas praias e costa rochosa que muito se parece com a Ubatuba ainda quase virgem que conheci na minha infância. Com maré cheia, entramos de bote até onde a água cai na lagoa, que na parte de cima tem água doce e na de baixo, salgada. Aproveitamos muito por lá, tomando duchas de cachoeira, lavando roupas, banhos, nadando, e explorando o lugar, o que chamei um lugar dos Deuses, pela beleza e pureza do lugar. Uma pena termos que voltar de lá antes das duas da tarde, pois fomos convidados para uma galinhada que a mãe do Tomi preparou para a gente.
Voltamos para a casa do Tomi, e passamos pela rotina de lavar nossos pés na entrada da casa, deixando as sandálias do lado de fora. Pisamos com os pés lavados e molhados em uma toalha no chão do lado de dentro e entramos na casa, sentando todos no chão em forma de roda. A galinhada foi servida, um ensopado de galinha em leite de côco e pimenta, arroz cozido em umas caixinhas individuais, feitas de folha de coqueiro na noite anterior, enquanto conversávamos. Eles amarram as caixinhas juntas e cozinham em água, com o arroz dentro. Para servir, pega-se um desses pacotinhos individuais, corta-se no meio com uma faca, e tira-se o arroz de dentro, usando-se as mãos para comer. Molha-se uma pequena porção do arroz no molho, levando à boca, e a galinha, cortada em pedaços pequenos, come-se também com as mãos. Teria sido muito melhor se toda a família tivesse comido junto com a gente, pois eles sentaram a nossa volta e ficaram observando como fazíamos para comer, trocando comentários e risadas falando de algo que não compreendíamos enquanto o Tomi se esforçava para ajudar cada um, mantendo os pratos sempre cheios enquanto comíamos. Logo enchemos a pança, mas evitando comer muito, pois havíamos sido convidados para jogar um vôlei contra o time da aldeia local.
Jogamos ao todo quatro partidas, e saímos todos cansados, e eu, com uns arranhões no pé e joelho de uma escorregada que dei, jogando descalço em quadra cimentada, cheia de areia e pedrinhas.
Ontem passamos o dia mergulhando na frente da ilha, tentando varias áreas de coral diferentes, para conhecer. No final tínhamos uma caranha de uns três quilos e mais um tipo de badejo com dente, mas com as cores da salema, peixe comum na costa brasileira.
Fico pensando na vida, como tem sido boa para mim. Poucos jamais tiveram a oportunidade de curtir o que temos curtido, ver o que temos visto, fazer o que temos feito, e em quanto isso melhorou a qualidade da nossa vida. A propósito, no mês passado, mesmo estando fora do escritório, dei inicio a um novo negócio que tem como objetivo melhorar a qualidade de vida dos nossos clientes. A área a ser explorada é muito extensa, então estamos primeiro focalizando na área de terapia física para melhorar o bem estar pessoal, oferecendo para empresas, serviços que incluem massagens, auriculoterapia, acupuntura, shiatsu, e ginástica laboral para ajudar trabalhadores principalmente em áreas de telemarketing e data-entry, ou outros tipos de atividades que são muito repetitivos, a alongar e relaxar de forma correta.
Nosso objetivo final é ter uma academia que vai incluir, além desses serviços, mais vários tipos de danças e ginásticas, pilates e circo, e no futuro também incluir cabeleireiros e esteticistas, para trabalhar na estima própria, finalizando com a disponibilização de palestras sobre qualidade de vida, incluindo charters e cursos de viver a bordo e circunavegação a vela para aqueles que querem explorar também essa oportunidade de se viver bem. Vejam detalhes no site http://www.managementgroup.com.br/ <http://www.managementgroup.com.br/>.
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At 17/11/2010 21:08 (local) our position was 01°39.52'S 108°55.76'E, our course was 013T and our speed was 0.1.
No dia 17/11/2010 as 21:08 horas (local) nossa posição era 01°39.52'S 108°55.76'E, nosso rumo era 013T e nossa velocidade era 0.1.

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terça-feira, novembro 16, 2010

Erramos na escolha da ancoragem...

Velejamos o dia e a noite toda, e chegamos próximos da ancoragem escolhida, a Ilha Gelam em Borneo, aqui chamado de Kalimantan, por volta das dez horas da noite, pois pegamos vento contra a maior parte do tempo, assim como algumas chuvas fortes e uma corrente contra constante de dois nós, então decidi por não ir até a ancoragem escolhida pelo Manu, uma porque tinha que passar perto de lugares muito rasos e com muitas pedras e outra porque ele escolheu uma ancoragem de frente para o Norte, o que esta errado para essa época do ano, pois os ventos, as ondas e a corrente vem do Norte. Como tudo é raso por aqui, decidi jogar a ancora logo depois do ultimo banco de areia antes da ancoragem escolhida, e assim fizemos. Tivemos uma noite mal dormida, pois ficamos na corrente, de través para as ondas, o balançar mais chato do barco.
Cedo no dia seguinte, levantamos ancora para ancorar novamente atrás da ilha escolhida para ancoragem, ficando assim, protegidos do vento, ondas e corrente, mas, distantes de terra. Decidi ficar nessa ancoragem ate a chegada do QOVOP, pois a ancoragem boa para a estação do NorthWest Monsoon era distante umas quinze milhas dali, e o QOVOP não iria conseguir falar com a gente via VHF quando eles chegassem. No final, depois que eles chegaram, decidimos ficar por ali mesmo, já percebendo que a escolha da ancoragem havia sido errada, pois estávamos muito próximos de terra (Borneo), com muitos rios desembocando por ali, e portanto água muito escura para podermos mergulhar e pegar alguns peixes para reforçar nossa dispensa, que já esta ficando rala.
Aproveitamos o dia seguinte para explorar um pouco a ilha, mas não encontramos nada que nos interessasse ou fosse bom para comer, então voltamos para os barcos e combinamos sair na primeira luz do dia seguinte.
O QOVOP zarpou as sete da manha, e nós saímos atrás deles passado das dez horas, então fiquei surpreso de encontrá-los de novo umas cinco horas depois, pois nos meus cálculos eles estariam quinze milhas na frente, que com uma milha de diferença por hora, levaria quinze horas para alcançá-los. Acabei reduzindo um pouco a velocidade do barco para ficar próximo deles, enquanto passávamos pela área que começamos a chamar de boat city, pela quantidade de barcos de pesca iluminados que ficam por essas águas pescando lula e uns peixinhos bem pequenos para secar e vender seco, ou seja, a comida do peixe médio e grande. Sem a menor dúvida, os recursos marítimos da Indonésia vão acabar em poucos anos. Com uma população na ordem de duzentos e cinqüenta milhões de habitantes, eles são dependentes do consumo de pescados, mas tratam esses recursos sem a menor preocupação com o futuro, jogando todo seu lixo no mar, e explorando os recursos marinhos acima da capacidade de reprodução desses recursos.
Pela manha, sem vista do QOVOP, chegamos a Karimata, uma reserva animal e florestal da Indonésia, uma boa iniciativa, mas sem qualquer tipo de policiamento.
Estamos ainda ancoRADOS em Karimata, e nossa estada tem sido maravilhosa, mas conto essa historia no próximo relato...
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At 17/11/2010 08:53 (local) our position was 01°39.53'S 108°55.73'E, our course was 310T and our speed was 0.0.
No dia 17/11/2010 as 08:53 horas (local) nossa posição era 01°39.53'S 108°55.73'E, nosso rumo era 310T e nossa velocidade era 0.0.
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quarta-feira, novembro 10, 2010

Matajusi pela primeira vez em CAPA:

Não, não saímos em capa de revista! Explico. Capa é o termo que se usa na linguagem de vela quando se para de navegar no meio do mar, preparando o barco para ser arrastado pelo vento, ondas e corrente. Eu sempre quis saber como se comportaria o Matajusi em situação de capa, e aproveitei a tempestade de ontem para testar, e ir dormir para descansar um pouco, pois estava cuidando do barco desde as dez da manha, em chuva torrencial como nunca vi antes, os chamados monsoons (monções) daqui. Em Novembro, começam os monsoons de Noroeste, com chuvas diárias e vento vindo do Noroeste, promovendo as correntes marinhas irem na mesma direção. Hora errada para se navegar para o Noroeste, mas melhor do que ficar parado na Australia esperando a estação dos ciclones passar, pois se vê muito mais.
Poucos barcos vem por essas bandas, uma por causa da má reputação da área com relação a piratas, outra pela dificuldade com a língua, pois muito raramente se encontra alguém que fale inglês, outra pela falta de informação de ancoragens, áreas de serviço, abastecimento, entre outras, e também por causa das marés esquisitas que se tem por aqui. Existem normalmente duas marés por dia, uma pequena e uma grande. A área é rasa, ficando sempre mais raso do que sessenta metros. Existem muitas obstruções pelo caminho, muitas não documentadas nas cartas, além das centenas de barcos de pesca espalhados pelo mar. Eles aparecem perto do anoitecer e desaparecem no raiar do dia.
Mas, continuando sobre o assunto da capa, estava já há seis horas cuidando do barco, no meio de uma chuva muito forte a ponto de não se conseguir abrir os olhos. Para ajudar, usei um óculo amarelo, clareando a visão, não deixando a água bater nos olhos, escolhido na J&F Sunglasses do Guaruja, que me patrocinou com vários tipos de óculos para a viagem de circunavegação. A visibilidade era menos do que cem metros a toda a volta do barco. Eu tinha jogado os cabos de aterragem do estaiamento na água e desligado o radar e a maioria dos instrumentos de bordo, por causa dos raios que estavam caindo há sete segundos, ou seja, perto demais para conforto. Isso tudo enquanto o vento rondava a cada dez minutos, ficando impossível ajustar velas. Estava com a mestra no terceiro riso com escôta e traveller ajustados para ela dar o bordo sozinha, a genoa enrolada e a trinqueta armada, por ser mais fácil dar o bordo com ela, além de pegar menos vento nas rajadas fortes que estavam chegando aos trinta nós.
Lá pelas quatro da tarde, completamente ensopado, me senti com frio, cansado e com sono, mas não tinha como sair do cockpit, então decidi tentar por o barco na capa. Dei bordo no barco deixando a trinqueta aquartelada na barla (lado por onde o vento entra), abri a mestra risada para a sota (lado por onde o vento sai), virei o leme todo contra o vento, para o lado onde a trinqueta estava aquartelada, e esperei o barco parar de navegar e começar a escorregar de lado, empurrado pelo vento, ondas e corrente. Logo percebi que ele não ia sair dessa posição, desliguei todo o equipamento menos o AIS e um radio portátil VHF, liguei a luz de ancora, mas piscando, e entrei para ir dormir. O barco arrastou por duas milhas e meia enquanto eu dormia tranquilamente na cabine.
O AIS ficou ligado, pois ele independe dos outros equipamentos do barco, e transmite a posição do barco para os navios, o maior perigo em situação como estávamos, por navegarem muito rápido. Quando acordei e religuei o sistema, percebi que um navio havia passado a apenas uma milha de onde estávamos flutuando desgovernados! Me orgulho de ter sido o primeiro veleiro do Brasil a ter instalado o AIS, entre outros equipamentos, únicos no Matajusi, como o DuoGen, gerador de arrasto para ser usado a noite quando se navega, gerando até quatorze amperes de energia.
Nossa curta parada em Sakapura, cidade principal da ilha de Bawean no Kalimantan (Borneo), foi no mínimo, interessante...
Primeiro porque a carta não tem os detalhes da entrada do porto, então, como primeiro barco a entrar, pois o QOVOP vinha um pouco atrás, tive que ir descobrindo o lugar, procurando por sinais que pudessem me dar uma idéia de como entrar. Vi um píer longo, com embarcações maiores do que o Matajusi, então, havia alguma entrada para esse píer. Devagar, fui entrando na direção do píer, evitando áreas que pareciam mais rasas.
Chegando ao píer, pelo sinal de algumas pessoas por lá, percebi que deveria amarrar do lado de dentro do píer, que era muito alto, mais alto do que o deck do Matajusi, então, nem pensar em atracar. Contornei o píer e fui me aproximando, decidindo jogar ancora na proa e chegar de popa, trazendo o barco no motor, de ré, e segurando pela ancora na proa, soltando a ancora na medida em que precisava me aproximar mais. A alguns metros, joguei amarras para o pessoal no píer, que a esse ponto começou a acumular, intrigados pelo veleiro chegando à ilha deles, acontecimento raríssimo por lá.
Enquanto o QOVOP chegava e se preparava para atracar do mesmo jeito que eu tinha atracado, mostrei os galões de diesel, dois galões de quarenta litros, que espremendo até o topo, podem conter quarenta e cinco litros, e pedi Solar, o nome de diesel por aqui. Um se ofereceu a ir buscar na cidade, pois não tinha no píer, e fiz uma ponte de cabo para passar os dois galões para cima do píer. Lá se foram dois rapazes de moto com meus galões de quarenta litros...
O QOVOP atracou, os garotos desceram do barco, levando consigo quatro galões de vinte litros, pegando uma carona em um carrinho que transportava pedras que estavam sendo descarregadas de uma pequeno navio atracado na ponta do píer.
Passado meia hora, chegou um carro com meus dois galões de quarenta litros cheios ate a boca, e um cara que parecia organizar a coisa por ali, pegou uma nota que veio com os galões, e percebi que ele não queria me entregar a nota. Pensei, ele vai me cobrar mais caro do que a nota! Não me importo em pagar pelo serviço, mas sem exploração...
Finalmente ele me passou a nota, e aí percebi porque ele não quis me passar! A nota dizia cem litros (!) por RP 10.000 o litro, num total de RP 1.000.000 (hum milhão de rupias)!!!
Da ultima vez que enchi os galões, em Serangan, Bali, só consegui por quarenta e cinco litros em cada, e havia me custado RP 450.000. Eles tinham conseguido por dez litros a mais, e cobrado mais do que o dobro!
Por Alá! Confusão armada! Como dizer a um ladrão mentiroso sem ofender um muçulmano na frente de outros muitos muçulmanos, que ele estava mentindo e me roubando, duas coisas proibidas pelo Alcorão?
Continuei sorrindo, e, por gestos, demonstrei que os galões não suportavam cinquenta litros cada, e que iria esperar o pessoal do QOVOP chegar, para saber quanto eles haviam pagado pelo diesel.
Enquanto esperávamos, trocamos vários bilhetes, onde eu demonstrei via desenhos que os galões não suportavam cinqüenta litros, somente quarenta e cinco, e quanto eu havia pagado Solar em outros lugares da Indonésia. Isso tudo com todos, e todos aumentando a cada minuto, agora também incluindo um carro da policia, olhando e comentando na língua deles. Interessante que a maioria demonstrou estar do meu lado!
Para amenizar as coisas, preparei um bilhete com quatro linhas, 90 litros (1), que vezes o preço do litro (2), totalizava tanto (3), e que aceitava pagar dez por cento do total como serviço (4), com os espaços livres para serem preenchidos.
Ele preencheu os espaços vazios, agora aceitando os noventa litros, abaixando o preço por litro para Rp 6.500, e cobrando Rp 30.000 pelo serviço (menor que os dez por cento que eu havia oferecido).
Nesse meio tempo, sem entendimento, entre as partes, chegaram os garotos do QOVOP, dizendo que haviam pagado Rp 5.000 por litro. Como o Manu já consegue um bom dialogo na língua nativa, ele negociou com o muitas vezes mentiroso e finalizamos em Rp 450.000 pelo diesel, a Rp 5.000 o litro, e mais Rp 50.000 de serviço, totalizando em Rp 500.000, ou seja, a metade do que eles haviam cobrado no inicio, uma pratica muito comum na Indonésia, pedir o dobro do que vale.
Estamos a caminho da próxima ancoragem, devendo chegar até o final da tarde...
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At 10/11/2010 13:24 (local) our position was 03°48.14'S 110°20.30'E, our course was 309T and our speed was 3.8.
No dia 10/11/2010 as 13:24 horas (local) nossa posição era 03°48.14'S 110°20.30'E, nosso curso era 309T e nossa velocidade era 3.8.
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domingo, novembro 07, 2010

Pequeno paraiso no meio do Mar de Java...

Chegamos à Pulau Bawean as dez e meia da manha e logo decidi por ancorar entre as ilhas de Menuri e Noko, uma enseada muito parecida com algumas ancoragens da Ilha Grande em Angra dos Reis, a diferença sendo que muito raramente se encontra alguém que fale uma língua que a gente entenda, então, improvisamos com gestos e nos fazemos entender. Pelo caminho, milhares de pescadores alguns completamente apagados, que somados com centenas de bóias e uma boa dúzia de navios toda noite, faz com que a travessia tenha que ser muito bem acompanhada por nós, portanto chegamos cansados e não fizemos nada no dia da nossa chegada, somente descansar e dormir.
O QOVOP chegou as oito e meia da manha do dia seguinte. Eles economizam no diesel e vem na vela o máximo possível. Eu já não tenho muita paciência para navegar entre um e três nós, então ajudo no motor. Andando a mil e quinhentos giros, o consumo fica próximo de um litro e meio por hora, e navego entre cinco e seis nós.
Preparei uma rota para a chegada deles, pois poderiam chegar à noite e a carta não bate com a geografia do lugar, e quando eles chamaram pelo VHF as sete e meia da manha, eu passei as coordenadas para eles entrarem na ancoragem, logo jogando ancora do nosso lado.
Passamos três dias maravilhosos em Bewan, mas temos que partir para continuar com nossa rota rumo à Malásia. No primeiro dia fomos de bote ate a vila que fica próxima à nossa ancoragem, e fomos recebidos por uma multidão de crianças e adultos, todos falando na língua Bahasa Indonésia, que não entendemos nada, mas percebemos que éramos bem vindos. Caminhamos algumas milhas por uma pequena estrada que leva até a cidade principal de Bewan, Sankapura, mas não fomos até lá, pois chovia torrencialmente e estávamos ensopados, mas foi muito bom ver as vilas e casas pelo caminho, e ter uma idéia de como eles vivem por aqui.
No final da tarde saímos para uma pesca submarina e voltamos com peixes suficientes para todos. Depois de uma boa mergulhada, voltamos cansados e com fome e para nosso alívio a Lilian já tinha preparado uma sopa de ossobuco comprado em Vanuatu, fritado os peixes que havíamos pego em Raas, nossa ancoragem anterior e assado pao. Jantamos fartamente e fomos dormir cedo, com um mergulho na ilha Noko programado para o dia seguinte.
A Ilha Noko é simplesmente um banco de areia cercado de bons recifes carregados de peixes, e alguns, bem crescidinhos. Fomos os cinco no bote para a ilha e enquanto a Lilian ficou procurando por conchas, eu e os garotos do QOVOP fomos mergulhar. Cruzamos a laguna entre a ilha e os recifes um pouco a nado, outro no mergulho e quando muito raso, caminhamos, chegando do outro lado e logo procurando pelos lugares mais fundos. Vê-se claramente que a dinamite foi muito usada por essas bandas também, mas o coral esta florescendo novamente com a proibição dessa pratica na Indonésia. Logo tínhamos bons peixes, incluindo um merote de uns cinco quilos, em abundancia por aqui. Tivemos a oportunidade de pegar o pai também, mas deixamos ele lá, procriando e gerando mais merotes para os próximos mergulhadores a passarem por aqui.
Retornamos para o Matajusi, e preparamos dois terços do mero em fish-sticks temperados com pimenta e sal, e cobertos com farinha de trigo, e um terço em sashimi, guardando a cabeça, nadadeiras e ossos para uma sopa de peixe, dessa vez preparada no QOVOP. Almoço no Matajusi, janta no QOVOP, e para mudar um pouco a rotina combinamos um mergulho para o dia seguinte com um pick-nick improvisado na praia da ilha Noko. Passamos o dia mergulhando hoje, quase dando a volta completa dos corais da ilha Noko, retornando as dezesseis horas para preparar os peixes e fazer a fogueira para assar os peixes em espetos de pau feitos na hora. A Lilian tinha organizado com a criançada local visitando a ilha no Domingo uma cata às garrafas pet espalhadas pela ilha e tinha feito uma bela pilha de plásticos, sandálias, garrafas pet, entre outros detritos encalhados na ilha pela maré, e quando chegamos ateamos fogo na pilha de lixo, demonstrando aos locais nosso zelo pela linda ilha deles. Tomara que agora eles sigam o exemplo e mantenham a ilha limpa de detritos.
No fim do dia, preparamos nossa refeição na praia, enquanto a fogueira de detritos continuava a arder e a outra fogueira para nosso almoço já dava condições de assar peixes e batatas doces cobertas em folha de alumínio. Logo ficamos rodeados de caranguejos, que farejaram os peixes e vieram cobrar a sua parte. A maré encheu e acabou apagando a fogueira dos detritos, mas a maioria já havia virado carvão e a ilha ficou com outra cara...
Amanha partiremos para a próxima ancoragem, uma ilha na costa de Borneo, aqui chamado de Kalimantan, antes passando por Sankapura para encher os tanques de diesel novamente.
Enfim, fazendo o que nos dispusemos a fazer, viver simples, mas viver bem, com qualidade de vida muito superior à que tínhamos antes. O que mais podemos querer? Ter saúde para aproveitar com nossos amigos, esses lugares que poucos tiveram a felicidade de conhecer...
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At 6/11/2010 08:11 (local) our position was 05°51.62'S 112°41.58'E, our course was 041T and our speed was 0.1.
No dia 6/11/2010 as 08:11 horas (local) nossa posição era 05°51.62'S 112°41.58'E, nosso curso era 041T e nossa velocidade era 0.1.
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quinta-feira, novembro 04, 2010

Ancorado na Ilha de Bawean

Ancorei as 11h de hoje na Ilha de Bawean (Hora Brasil 02:00)
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quarta-feira, novembro 03, 2010

A caminho da Malásia - Ancoragem 1 - Ilha Raas:

Temos novecentas milhas de Bali até a ancoragem que escolhemos na Malásia, perto de Singapura, por isso definimos uma rota aonde vamos parando a cada um ou dois dias, assim conhecemos mais lugares. Levantamos ancora de Lovina as vinte horas, umas duas horas depois do QOVOP. Calculei que eles iriam navegar a umas cinco milhas e nós a seis, então com duas horas de diferença na partida, eu teria que ganhar dez milhas, e com uma milha a mais por hora, levariam dez horas para alcançá-los, então fiquei completamente surpreso quando passamos por eles a apenas três horas depois. Depois soube que eles tiveram um problema de aquecimento no motor, resolvido com a troca do rotor da bomba de água salgada do motor.
Cheguei a Pulau (ilha) Raas por volta das nove da manha, com o QOVOP ancorando do nosso lado umas três horas depois. Na chegada, tentei ir entrando por onde vi um pescador saindo, mas logo ficou raso demais, e enquanto procurava por um passe, chegou um pescador com sua canoa típica da área e me pediu para segui-lo. Ele foi fazendo um ziguezague atrás de outro ate chegarmos a uma área onde eu podia jogar ancoras. Nunca tive menos do que três metros debaixo da quilha, mas vimos alguns cabeços de coral que vinham quase até a superfície. Teria sido uma aventura passar por ali só na tentativa e erro! Enquanto estava tentando sozinho, teve uma hora que tive que por em marcha a ré e acelerar tudo, para evitar um cabeço bem na nossa proa. A Lilian estava ajudando de pé na proa, mas ela não tem muita experiência em julgar profundidades. Dessa vez ela viu que não ia passar e gritou para eu dar ré!
Depois de ancorados, o pescador que me guiou até a ancoragem chegou ao barco, e tentamos conversar. Difícil, pois ele não entendia inglês e nós não entendemos a língua da Indonésia, então foi só nas gesticulações, mas entendi muito bem quando ele mostrou um polvo recém pescado, o qual ele pediu RP100.000 (dez dólares). Disse a ele que estava muito caro, no que ele logo baixou para Rp50.000 (cinco dólares). Ele acabou levando também vários artefatos que guardamos para essas horas, camisetas, sapatos, revistas, etc. Combinamos via gestos que ele viria me buscar para um mergulho com ele depois que o QOVOP chegasse, mas ele não retornou mais.
No lugar dele, veio o Abu, que falava um inglês razoável e combinamos que ele nos levaria para mergulhar no dia seguinte. Preparei o polvo a vinagrete, a Lilian fez um feijão, e os garotos do QOVOP fizeram arroz e uma salada de pepinos com abacate. Jantamos fartamente e fomos dormir cedo, pois tínhamos navegado a noite anterior e íamos acordar cedo para o mergulho com o Abu.
Abu chegou umas sete e meia, e já estávamos quase prontos para sair. Ele deixou sua canoa motorizada amarrada no Matajusi e fomos eu, ele e o Manu no meu bote. Mergulhamos das oito e meia às treze e trinta! Eu não parei nem um segundo! Peguei uns doze peixes de tamanho médio e pequeno, pois é só o que tem por lá. Percebi muito coral destruído, depois sabendo que no passado alguns pescadores usavam dinamite. Hoje é ilegal usar dinamite, e já tem uns doze pescadores dessa ilha na cadeia por usar. Por outro lado, na demanda de hoje, eles precisam vender o peixe vivo, então usam um liquido (acho que é cianeto) para o peixe dormir, aí eles pegam o peixe e põem em um tanquinho de água cuja água eles trocam frequentemente. No final do mergulho, não vimos nenhum polvo, somente uma lagosta, mas era pequena e deixamos ela lá. Os garotos do QOVOP ficaram com duas garopas e um budião, e eu fiquei com um badejo e uma garopa, e dei o resto para o Abu. Durante o mergulho, vi como eles pegam polvos! Eles constroem caranguejos com anzóis e arrastam com as canoas os caranguejos perto das pedras. O polvo vê o caranguejo que parece estar nadando e ataca. O pescador sente o peso do polvo e puxa a linha para cima. O polvo fica preso nos anzóis nas costas do caranguejo de mentira!
Na volta para o barco, pedi para ver os caranguejos que o Abu tinha, feitos por ele mesmo, e comprei um para levar para o Brasil e mostrar para os pescadores da ilha do Montão de Trigo, meus amigos. Em área de polvo, essa é uma forma honesta de um pescador tirar polvos...
Acabamos jantando cada um em seu barco, e nos preparamos para sair na primeira luz do dia para atravessar as cento e trinta milhas entre a Ilha de Raas e a Ilha de Bawean, onde estimamos chegar amanha durante o dia.
Estamos com pouco vento, então estou ajudando no motor. Na saída, tínhamos um ventinho de popa entre seis e dez nós e armei o genaker, logo ganhando velocidade e deixando o QOVOP mais para trás. Eles estavam com três velas, a genoa e a mestra na sota, e uma genoa menor armada como a adriça de barla do balão, montada no pau de spinaker. Isso deu para eles um pouco mais de área velica, mas mesmo assim acabamos os perdendo de vista. Encontraremos-nos novamente na ancoragem de amanhã...
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At 3/11/2010 15:45 (local) our position was 06°44.97'S 113°58.44'E, our course was 301T and our speed was 3.7.
No dia 3/11/2010 as 15:45 horas (local) nossa posição era 06°44.97'S 113°58.44'E, nosso curso era 301T e nossa velocidade era 3.7.
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segunda-feira, novembro 01, 2010

Partimos em direção à Malásia

1º de novembro de 2010