sábado, janeiro 21, 2012

Explorando outras ilhas da Tailandia

Assim que recebi o email do mecânico Yanmar dizendo que minha transmissão estava pronta, aluguei uma moto e corri para pegar a peça. Tinha mandado fazer um piso novo para o banheiro de Boreste, pois o original, feito em teca, estava completamente podre, então mandei fazer um em madeira sintética, tipo um plástico branco, como experiência, e acabou ficando muito bom. A transmissão ficou perfeita, e assim que voltei, instalei e testei, tudo funcionando como devia. Em retrospecto, o problema da transmissão original foi causado pela montagem errada do cabo pelo estaleiro, acumulado com a má revisão de entrega feita pelo representante da Yanmar em Joinvile, o que causou o gasto excessivo do cone original. Troquei o cone em Fiji, mas o representante Yanmar de Port Denarau não montou a transmissão corretamente, deixando uma folga maior do que dois milímetros na peça toda, e não fazendo o polimento entre o novo cone e as engrenagens. Isso causou o segundo problema. Agora parece que esse problema foi resolvido.
Aproveitei e re-ancorei o barco, agora usando meu próprio motor. No final, acabei re-ancorando o barco quatorze vezes, por conta das áreas rasas e de outros barcos que ancoraram muito próximos. No dia dezessete nos despedimos do pessoal do Too Much, Cat Mousses e Alexandre VI, e no dia dezoito pela manha partimos de Pucket depois de re-abastecer de diesel, indo para Ko Phi Phi, onde ancoramos dentro da baia, que, se fosse pelo Murphy, ia ser nossa ultima ancoragem, pois a baia inteira é de recifes, o que não consta nas cartas, e são difíceis de se ver. Acabamos sendo alertados pelo alarme do profundimetro que sempre deixo ligado a quatro metros de profundidade, o que nos deu tempo de reverter o hélice e parar o barco antes de tocar nos recifes. Essa ancoragem já não começou bem, e ficou pior durante a noite, primeiro, com dois pescadores que decidiram vir pescar a alguns metros no nosso barco. Eles ancoraram com duas ancoras, uma a frente e outra para trás, e logo o Matajusi estava em cima do cabo de ancora de popa deles. Decidi fazer uma manobra com a ancora da frente, soltando os setenta e cinco metros de corrente, e esticando com o motor para trás, ai joguei a ancora de reserva (Fortress) com quinze metros de corrente e sessenta de cabo e puxei a ancora da frente novamente, deixando quarenta de corrente na proa, e vinte e cinco entre corrente e cabo na ancora de popa. Com isso, alinhamos com a ondulação, e não saímos mais dessa posição, mesmo com o dilúvio de quatro horas que caiu durante a noite.
O pior ainda estava por vir, e só percebemos quando as enumeras casas noturnas da praia aumentaram seus volumes de áudio, tornando a baia inteira, um inferno auditivo! Para nós que já estávamos cansados do excesso de turismo da Tailândia, essa foi a gota d'água! Saímos pela manha, quando conseguimos acordar da noite mal dormida e seguimos para as ilhas de Rok Nai e Rok Nok, a umas vinte e cinco milhas ao sul de Ko Phi Phi, onde chegamos no final da tarde, com luz suficiente para uma boa ancoragem. Acabamos ancorando entre as duas ilhas, com doze metros de profundidade, usando quarenta metros de corrente e fomos preparar a janta. Após o jantar, eu sai para o cockpit onde ia tocar um pouco de flauta, e coincidentemente, fiquei observando um catamaram com umas oito pessoas jantando no cockpit. Exatamente nesse momento, escutei de lá um grito, algo dito em italiano, e vi o amarelo de uma labareda, dentro da cabine de bombordo. Por um motivo ou outro, ninguém conseguiu, ou tentou, apagar o fogo, e o barco queimou completamente, bem na nossa frente! Eu pedi para a Lilian ir filmando e tirando fotos, enquanto peguei o botinho e fui ajudar as pessoas que pularam na água. Acabei encontrando o capitão do barco, que dizia que os extintores não funcionavam! Em menos de uma hora, tudo se queimou, o resto do barco afundou, e o diesel ficou queimando na superfície da água. O capitão me disse que tinha três botijões de gás a bordo, então decidi tirar o Matajusi dali, levantando ancora e indo para mais longe. Depois de uma hora, estávamos ancorando novamente, completamente pasmos pelo que havíamos visto. Dessa vez, e para aquele grupo, o Murphy levou a melhor...
O dia seguinte, ficamos meio que de molho, com ressaca das duas noites anteriores, mas depois que a energia voltou, fomos explorar as ilhas e acabamos descobrindo que esse lugar é na verdade um belo paraíso, contrastando com os outros lugares que passamos na Tailândia. Em primeiro lugar, porque tem muito menos turistas. Em segundo, porque tem um restaurante na praia que serve comida tailandesa a quatro reais o prato. Além disso, é uma ancoragem calma, com águas claras e muita vida animal, tanto em baixo como em cima d'água. Encontramos lagartos enormes, lembrando os dragões de cômodo, esquilos vermelhos e pássaros nas praias, e muito peixe, conchas, lulas e lagostas (pequenas) em baixo d'água. O grande evento de hoje foi por uma concha aberta na mão da Lilian, e ver centenas de peixes vir comer na mão dela!
Decidimos ficar por aqui por mais uns dias, aproveitando esse paraíso, e já descobrimos outro paraíso ainda melhor para ir visitar, no nosso caminho de volta para a Malásia. Como amanha é o ano novo chinês vamos ficar pelas ilhas mais desertas aproveitando para curtir as coisas que gostamos de fazer, antes de retornar a Langkawi na Malásia. Estamos matando tempo antes de partir para Sri Lanka, para respeitar as épocas próprias para essas travessias.
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