sábado, outubro 20, 2012

Batemos em uma baleia!!!

Hoje às 2h da manhã, em uma noite sem lua, completamente escura, navegando a 4.5 nós, com 8 a 12 nós de vento de popa, com as velas armadas em asa de pombo, tivemos um forte impacto no barco, que imaginamos ter sido uma baleia, em abundância por aqui nessa época do ano. Um pouco de falta e muita sorte combinaram para que tenhamos passado por esse susto enorme, mas aparentemente sem consequências para o barco. Não diria o mesmo de nós dois! O susto de passar por essa situação em alto mar, distante de tudo e todos, é indescritível, e dá uma gelada no nosso ânimo... Aproveitamos para relembrar as ações de cada um em uma situação de abandono de barco, mas não se fala muito por aqui hoje... Aproveito então para escrever.

Ilha Mauricio:
Acabamos ficando bem mais tempo na Ilha Mauricio, por conta das mudanças nas empresas no Brasil, onde eu tive que acompanhar de perto algumas situações, e por já ter internet fácil e barata no barco via um celular pré-pago da Emtel, pude me dedicar ao trabalho por mais umas semanas, aproveitando e amaciando bem o novo motor de popa do botinho que comprei, um Tohatsu 8HP. Motor aprovado, plaina o bote bem facilmente com os dois dentro, mais carga, agora podemos ir pescar mais longe quando ancorados.
La Reunion:

Quando tudo resolvido, barco devidamente provisionado e time preparado, partimos para Richard's Bay na Africa, mas, nossa travessia em passagem por La Reunion, onde haviamos decidido não parar e ir direto para Richard's Bay, foi uma combinação de mar bravo, vento indefinido, falta de prática, que depois de provocar quatro jibes indesejados, me promoveu a por o barco em capa e ir dormir. Lá pelas duas da manhã pus o barco de novo em movimento, depois de avaliar os problemas que já tinhamos tido nessa pequena travessia de vinte e quatro horas. Resolvi ir para St Pierre, no Sul da Ilha, pois lá se encontravam alguns amigos que ainda não haviam partido para Madagascar ou Africa. Depois de tentar por algumas horas, percebi que não íamos chegar com luz do dia e mudei rumo para Le Port, ao Norte da Ilha, onde chegamos as quatro e meia da tarde.

Pedimos autorização para entrar no porto e informação sobre para onde ir, e seguimos direto para a marina. Incrivél que, essa foi a única vez que conseguimos falar com uma autoridade de La Reunion. Os oficiais de Emigração e Alfandêga não vieram registrar nossa entrada e saida! Soube pelo gerente da marina que eles ligaram para saber de onde éramos, nossa aparência e do barco e nosso comportamento, e com isso concluiram que tudo bem ficarmos em La Reunion sem documentação. Eles só pediram uma cópia do documento de entrada na marina, que tinha basicamente todos os dados que eles estariam colhendo da gente. Puxa! Como gostaria que essa moda pegasse no Brasil!

Bom, já que estamos aqui, por que não conhecer o lugar? Alugamos um carro por uma semana e acho que dirigi mais de seicentos quilometros, conhecendo basicamente a ilha inteira! Os destaques são: os vulcões, os penhascos, alguns cobertos de quedas d'água, chegamos a contar doze quedas em um desses penhascos, sem esquecer do pão, genuinamente o baguete francês, uma delícia!

O maior problema de La Reunion é a falta de ancoragens, não tem nenhuma, portanto, tem-se que ficar em marinas pagas o tempo todo, onde aproveitamos para dar uma boa limpada no barco. Provisionamos novamente com frutas e vegetais frescos, e muito queijo, e saimos dia quinze no final da tarde com destino a Richard's Bay na Africa, uma travessia de mil e quatrocentas milhas com tempo estimado de doze dias. As primeiras vinte milhas tem muita influência da ilha no vento, depois, quando o vento ficou normal, estava ventando em média vinte nós, vindo do Sudeste, e seguimos com esse vento as primeiras vinte e quatro horas, sacudindo bastante com um mar agitado, mudando depois para vento entre dez e quinze nós, de Leste Sudeste, com mar mais baixo. Durante esses três primeiros dias de travessia, passamos pelas situações normais em uma travessia nessas latitudes, com um mar nervoso que a qualquer momento pode mudar, com a única diferença entre outras travessias a batida no que pensamos ser uma baleia, pois não vimos nenhuma marca no barco. Assim que puder vou mergulhar pra ver se identifico mais algum sinal do que foi que aconteceu.

O barco estava com motor desligado pela primeira vez, desde que saímos de La Reunion, pois estava tentando ganhar tempo e alcançar outros barcos amigos que haviam saído de La Reunion na parte da manhã, e quando chegamos próximos a eles, desliguei o motor. Acredito que se foi uma baleia, não nos viu pela noite totalmente escura, e não nos ouviu, pelo motor desligado e o barco navegando a apenas quatro nós e meio. Eu estava dormindo na cabine da frente, e a Lilian tinha acabado de entrar da ronda a cada hora, e estava deitada na sala, esperando pegar no sono. Na batida, eu fui projetado para a frente da cabine e do barco, mas levantei rápido e sai correndo, já pensando no pior, que iríamos afundar. A Lilian já estava saindo para o cockpit, mas eu pedi para ela levantar os painéis do chão echecar se estavam entrando água. Enquanto ela fazia isso, eu chequei estaiamento e velas, e depois fui na proa ver se tinha algum furo no casco. Não encontrei nada errado, e a Lilian não encontrou nenhum lugar no barco entrando água. Depois fui procurar no motor, também tudo normal, e liguei o motor, com tudo continuando normal. Enfim, fora o tremendo susto, parece que estamos bem.

Estamos agora rumando para o sul de Madagascar, onde pretendo dar a volta, aproveitando a corrente e ir para uma ancoragem do lado Sudoeste de Madagascar para dar uma descansada e checar o barco por baixo.

A partir de amanhã e por 3 dias, nenhum barco consegue chegar a Richard's Bay, por conta de um Sudoeste forte que está entrando, e vai levantar ondas enormes na corrente de agulhas. Todos os dias, duas vezes por dia, entramos na NET SSB Peri Peri, na frequencia 8101 as 05:00 e 15:00 ZULU (UTC), mudando depois de meia hora para 12353, onde o Paul fala com todos os barcos que estão navegando na costa da Africa do Sul, passando instruções. Imaginem, ele faz isso todos os dias, duas vezes por dia, sete dias por semana, e não ganha nada por isso!

Estamos juntos com uns quinze barcos, quase todos interessados em participarem do primeiro BRally, só espero que os pessoal de terra esteja trabalhando em fazer dessa oportunidade de termos tantos cruzeiristas estrangeiros, uma experiência memorável, que eles possam reportar para os próximos barcos a virem conhecer o Brasil.

MATAJUSI Navegation Information:
At 10/19/2012 14:26 (utc), Position was 25°09.00'S 046°45.17'E

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