Nossa vidinha em Rodrigues
Rodrigues é uma ilha extremamente pacata, com um povo muito simpático e uma comida deliciosa, então, ficar aqui é como parar a vida em um instante e curtir aquele instante mais tempo, e assim temos feito.
A cada dois ou três dias, convidamos o pessoal de dois barcos aqui ancorados para um jantar no Matajusi, e já fomos apelidados dos mais sociáveis do grupo. Mas, essa vida de viver a bordo fazendo travessias oceânicas, faz muito mais sentido se você divide suas experiências com outros, então essas reuniões sociais são uma oportunidade de se contar a nossa historia e ouvir a historia dos outros cruzeiristas.
Quando não estamos recebendo cruzeiristas a bordo do Matajusi, estamos sendo recebidos por algum dos barcos aqui ancorados. Nossa culinária tem sido bastante elogiada, aumentando a vontade desses barcos estrangeiros de irem visitar o Brasil no ano que vem, quando eles estiverem a caminho do Caribe. Entre os pratos que temos servido, um dos mais freqüentes tem sido algo com polvo, dada a enorme quantidade de polvos por aqui, mas todos eles comprados de pescadores, pois não tenho ido mergulhar por falta de companhia e pela água ser bem mais fria do que estávamos acostumados mais perto do Equador. Risoto de polvo, polvo a vinagrete, macarrão ao molho de polvo, pratos árabes como kibe, babaganushi, húmmus, tabuli, risoto de frango, brigadeiro, rocambole de chocolate, caipirinha de pinga de Rodrigues, estão entre os pratos que temos servido.
Quase todos os dias vamos para terra, caminhar, andar de bicicleta, ou fazer trilhas. Aproveitamos e compramos pão fresco e outros mantimentos, incluindo frutas e vegetais frescos. Têm um supermercado bom, e vários outros menores. O mercado de produtos frescos funciona a semana inteira, mas o melhor mesmo é no sábado, e tem-se que chegar cedo para encontrar produtos como o mamão e o alface.
Nas quartas-feiras, chega o navio de provisionamentos que vem de Mauritius, e todos os barcos atracados tem que sair da parede, e alguns dos ancorados tem que sair da área do porto para o navio poder fazer a manobra de atracagem. Depois da chegada do navio e distribuição dos produtos a bordo, é a melhor hora de se ir ao supermercado, pois se acha produtos novos e mais variados.
Para fazer as trilhas mais distantes, pegamos um ônibus e subimos as montanhas, indo para vilarejos no topo da ilha e de lá, caminhamos de volta para a área do porto, onde estamos ancorados. Em um desses passeios, visitamos uma área reservada para as tartarugas gigantes, que estão sendo re-introduzidas em Rodrigues, pois as nativas foram extintas. A maior é um macho de mais de cem quilos! A tartaruga de Mauritius era similar, mas não igual á de Rodrigues, portanto, eles podem re-introduzir tartarugas gigantes, mas nunca vão consegui recuperar a nativa da ilha.
Uma pratica na ilha é a secagem de peixes e polvos ao sol. Os peixes são limpos, abertos ao meio, salgados e postos para secar em armações de madeira a beira mar, já os polvos são esticados com uma vareta que deixam as pernas bem abertas e pendurados pela cabeça, também em armações de madeira a beira mar. O quilo de polvo fresco custa 120 rupees (1R$=15Rupees), mas quando o polvo é seco, custa mais por quilo, fazendo com que o preço final fique igual entre o polvo fresco e o mesmo polvo seco. Ainda não experimentamos o polvo seco na nossa culinária, mas já fazemos pratos saborosos com os peixinhos secos (Ican Billis) que compramos na Malásia e Tailândia.
Entre os barcos, existe a pratica de se secar peixes e frutas. Os peixes ficam parecidos ao bacalhau, e a banana seca fica igual àquela que compramos no Brasil. Muito fácil de fazer, evita o desperdício quando as quantidades são grandes e sobrevivem bastante tempo a bordo.
Enfim, parados no tempo e espaço, esperando a janela de tempo certa para seguirmos para Mauritius, uma travessia de trezentos e cinqüenta minhas, com vento e mar de popa, que estimamos fazer em três dias e meio.
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