Chegada a Rodrigues
Nossas preocupações foram diminuindo, com a degeneração do ciclone 19S, e a não formação do ciclone em cima de Chagos, portanto, sem ciclones. A preocupação com piratas também diminuiu, proporcionalmente com o aumento do mar, pois pirata nenhum ficaria em mar de quatro metros com ondas estourando, esperando pela possibilidade de um veleiro passar. Não temos divulgado nossa posição exatamente por isso. Em contrapartida, o mar grosso ficou para nós digerirmos...
À duas noites da aterragem em Rodrigues, o mar engrossou muito, com muitas ondas estourando. Como estávamos de través (90º) do vento, que estava entre vinte e cinco e trinta e cinco nós, pegávamos as ondas de lado, com grande impacto contra o casco. O risco seria uma onda maior nos jogar de lado, e o perigo seria uma gaiuta estourar com o impacto. Decidi apontar a proa do barco a quarenta graus das ondas, reduzindo velas, com mestra no segundo riso e Staysail um terço risada, e com pouca velocidade adiante, entre dois e três nós, evitando que o barco subisse as ondas e caísse do outro lado batendo o casco chato com muita força, pois isso compromete o estaiamento, fechendo o barco inteiro para evitar uma onda maior enchendo a cabine de água, e nos trancando dentro da cabine, navegando via os eletrônicos e o remoto do piloto automático. Como a velocidade não era suficiente para gerar eletricidade pelo Duo-Gen, mantive o motor ligado e engatado, a mil e duzentas RPM.
Depois dos quatro dias de preocupação com ciclones e piratas, a navegação nos lembrava da situação que passamos em Papua New Guinea, bastante desconfortável...
Ficamos nessa posição das dezoito horas até as quatro horas do dia seguinte, quando pus o barco para navegar novamente na direção de Rodrigues, mas havíamos saído da rota mais de vinte milhas, tendo agora vinte a mais para Rodrigues, alem do que, eu não queria passar a noite do lado de fora da ancoragem de Rodrigues, então controlei nossa velocidade pelo motor, para aterrarmos antes do escurecer.
Levantei a mestra do segundo para o primeiro riso, abri a genoa e lá fomos nós navegando entre sete e nove nós. Essa velocidade nos poria na entrada da baia de Rodrigues as dezesseis e trinta, mas, com uma hora a menos no fuso horário local, seriam quinze e trinta em Rodrigues, portanto, com luz suficiente para adentrarmos a baia, que é cercada de recifes, e tem uma linha identificada por dois triângulos na costa que indicam a entrada, mas, cuja carta não confere com a geografia do lugar.
Como previsto, chegamos à entrada da baia as quinze e trinta, hora local. Desci as velas fora, com uma ondulação de até quatro metros, e fui procurar os tais triângulos que indicariam a linha de entrada pelos recifes, mas, por mais que procurássemos, não conseguimos identificá-los, então pedi ao Richard do Mr. Curly uma ajuda pelo VHF, se ele podia me passar os waypoints do log por onde ele passou. Ele não tinha o log disponível, então me passou um waypoint de entrada e um rumo, cento e sessenta e dois verdadeiro, ou cento e oitenta e cinco magnético. Por mais que tentasse, não fazia sentido partir do waypoint no rumo cento e sessenta e dois, pois estava claramente fora da área de ancoragem onde conseguia ver os outros barcos ancorados. Ir pelo magnético é praticamente impossivel com a bussola de brinquedo que foi instalada no Matajusi pelo estaleiro, e que eu já deveria ter trocado há muito tempo. Em cima disso tudo, minha linha de heading apontava para onde o barco não estava indo, e a de COG quase oposta.
Depois de uma travessia estressante como a que tivemos, aterrar nessas condições é cansativo, pois temos dificuldade de pensar claramente na situação e solução, mas logo me ocorreu que a Lilian tinha mexido no armário da cabine de proa, onde está instalada a bussola do sistema eletrônico do barco, então pedi que ela fosse conferir se alguma coisa não estava interferindo com a bussola, e dito e feito, logo pude ver um heading e COG que faziam sentido com a geografia local.
Fui entrando devagar, de olho na profundidade, e depois de alguns sustos, com o fundo de corais subindo rápido, conseguimos adentrar a baia, de lá, achando facilmente o canal para o porto, só ali, finalmente reconhecendo os tais triângulos de marcação da linha de entrada da baia. Penso que entrar a noite teria sido mais fácil.
Atracamos na parede do porto, mais própria para navios do que para veleiros e ficamos esperando pelas autoridades, que logo chegaram e fizeram nossa entrada legal em Rodrigues. Agora é curtir o local...
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