terça-feira, abril 10, 2012

10/04/2012 A caminho de Chagos:

No dia dois, como agendado, fizemos documentação de saída das Maldivas, e saímos para Himufushi, a seis milhas ao Norte, para dar uma preparada no barco e rever manutenções, e aí, encontrei óleo no fundo do poço debaixo do motor! Outro problema é que o conta-giros parou! Tentei todos os contatos da fiação do conta-giros, mas não consegui fazê-lo funcionar, e limpei o óleo do poço do motor, procurando por vazamentos, mas ao encontrando nenhum, liguei para meu amigo Shahym, e ele organizou a vinda do engenheiro da Antrac, meu agente nas Maldivas, para dar uma olhada. No dia seguinte, retornamos a Hulhumale para que o engenheiro pudesse trabalhar no barco. Ele só veio no dia seguinte, e já havíamos dado saída, então estávamos agora no período de 72 horas de graça para problemas e avarias a bordo, mas tinha que terminar logo e partir...
Não encontramos vazamento e concluímos que eu devia ter deixado cair algum óleo quando troquei o filtro na troa de óleo em Uligamu, mas achamos a correia muito solta apertamos. O conta-giros, ele tinha um usado e trocamos, voltando a funcionar. Agora, com tudo funcionando, partimos para Chagos, mas no caminho ainda tínhamos muitos atóis para passar...
Quando chegávamos próximos a um atol, eu dava uma rasante para pegarmos sinal do celular, e com isso, internet a bordo novamente, mas, em uma das rasantes, fui dormir e a Lilian entretida com a internet, não percebeu um squall que estava entrando rápido. Quando percebi a mudança no comportamento do barco, já estava em cima, aí foi aquele corre-corre para risar a mestra, abrir o StaySail e enrolar a genoa... bem a tempo, pois entrou com ventos de trinta nós e muita chuva, que precisávamos pois o barco estava salgado. Briga daqui, briga dali, e resolvi por o barco em capa. Ficamos em capa um bom tempo, até que percebemos um barco se aproximando. Acho que nada demais, só queriam saber se precisávamos de ajuda, mas, em zona de piratas, eu corro primeiro e pergunto depois, e assim o fizemos, saí velejando para qualquer direção, me afastando daquele barco, coincidentemente, a direção errada! Logo percebi que estava voltando então pus o barco novamente na direção da próxima ilha, a ilha de Foamulah (Nós Foamulah!). Tinha visto no Google Earth que lá tinha um pequeno porto, então fui naquela direção, pois os pirajás estavam correndo soltos!
No caminho, atravessamos pela quarta vez a linha do Equador, retornando novamente para o nosso hemisfério, a caminho de volta para casa. Honestamente? A recepção poderia ter sido melhor!
Dito e feito, chegando próximo da ilha, e outro Pirajá já estava em cima da gente. Tentei contato por radio, nada. Tentei SMS para o Shahym pois precisava confirmar a profundidade daquele passe e do porto, mas nada também, então fui chegando devagar, guiado pela foto no Google Earth, e fui entrando passe adentro, com profundidade de seis metros, uma empreitada meio assustadora, dado o tamanho das ondas que quebravam contra o muro de pedra do porto, algumas passando por cima! Na entrada do porto, haviam uns curiosos que vieram ver o veleiro entrar e através de sinais de mão, confirmei que o porto tinha quatro metros de profundidade, e eu só precisava de dois, então entrei, bem devagar, com muitos curiosos correndo para o porto para ver esse barco estrangeiro entrando em um porto local.
Um dos curiosos já correu de moto, deu a volta no porto e ficou sinalizando o lugar que deveríamos atracar ao muro, onde tinham dois pneus de trator como defensas. Atracamos bem, amarramos bem, ajeitamos o barco, e saímos para a área onde os curiosos se amontoaram. Muitos vieram nos cumprimentar e perguntar de onde vínhamos, de onde éramos, quanto tempo íamos ficar, etc. Um, com ótimo inglês, veio pegar o lixo que carregávamos, e falar sobre um restaurante naquela área que era muito bom, fazia pão, e ficava aberto até as duas da manhã... Perguntamos sobre diesel, pois já havíamos gasto uns setenta litros, e fomos dar uma volta pela área do porto.
Nisso, escureceu, e estávamos andando livres e soltos por ruas escuras... quando parou uma moto, e um senhor que se apresentou como Didi, e era o dono do posto de combustível que íamos usar, e nos disse que era perigoso por ali, pois os garotos da máfia local podiam nos atacar para roubar celular, carteira, relógio, etc! Nossa! Numa ilhinha de não mais do que alguns quilômetros de extensão e já tinha trombadinhas?! Didi também nos disse para não deixar o barco encostado no muro do porto, para parar mais para fora do muro... Pensamos que ele estava exagerando, mas, caminhando de volta para o barco, e tivemos mais dois voluntários que vieram nos dizer a mesma coisa! E o dono do restaurante onde fomos jantar, também disse a mesma coisa, então, parecia que o problema era sério mesmo!
Bom, nada como o meu facão pendurado nas costas, e uma arma de mergulho armada para desmotivar qualquer garoto que fosse tentar a sorte no Matajusi, e assim o fizemos. Mas, também joguei uma ancora a bombordo, e puxei o barco do muro, o que durou somente até o próximo Pirajá entrar! Lá vou eu de novo ajeitar a ancora e os cabos, no meio da chuva! Aquilo estava virando um inferno! Preferiríamos os pirajás a isso! Dormimos pior do que em capa e acordamos exaustos e ranzinzas, mas era mesmo o que eu precisava para declarar guerra aos garotos mafiosos! Que venham mexer no meu barco!
Antes de ir dormir, fomos com o botinho a remo ate o posto de combustível e recarregamos com diesel, aproveitando e comprando mais um óleo de motor e de transmissão, para ter uma troca a mais do que o estimado.
No final, os garotos mafiosos não vieram e passamos mais uma noite no porto, o que foi bom, pois dormimos bem e saímos hoje com tempo mais estável, a caminho de Chagos. Vamos tentar um ultimo rasante no ultimo atol das Maldivas, para fazer uma ultima internet, antes de portos bem mais ao Sul...
----------
radio email processed by SailMail
for information see: http://www.sailmail.com