A tal da ilha a venda, não permitiu ancoragem, ou muito
fundo, ou muito próximo de corais rasos, ai tentamos uma ilha próxima, mais
fundo ainda, então decidi abortar a ancoragem, pois já estávamos no final do
dia e ficando sem luz, e segui para mar aberto, pelo menos não tive que me
preocupar com cabeços de coral...
Passamos a noite navegando, indo direto para Hulhumale, a
ilha com o aeroporto do lado da ilha de Male, mas notei esse atol Gaafaru e
pesquisei no Google por possíveis ancoragens. Achei algumas, e vi claramente um
passe para dentro do atol, então segui para esse passe.
Chegamos na maré baixa,
mas pela cor conseguimos definir que havia profundidade suficiente para entrar,
então seguimos adiante, devagar. A profundidade mais rasa foi de doze metros.
Fundo de coral e areia. Fui desviando das áreas verdes, explico, quando se
avalia profundidade em águas azuis assim, as azuis escuras são boa profundidade,
azul mais claras, profundidade diminuindo, esbranquiçadas, áreas com areia, quanto
menos azul, mais raso, e as esverdeadas são corais rasos, essas áreas evitamos.
Fui ziguezagueando pelas áreas mais profundas, até
entrarmos no atol. De lá, me dirigi a uma área azul esbranquiçada que estava
vendo no Google Earth, e encontrei uma área excelente para ancoragem, sem
corais no fundo.
Ancoramos e estamos ancorados até agora. Vamos ficar até
amanha cedo, quando partiremos para Hulhumale.
Enquanto estávamos ancorados ontem, vi uns barcos
navegando pelas proximidades e fiquei observando. Percebi que eles largavam
mergulhadores com uma cesta na água, e voltavam depois para recolher a cesta.
Só entendi o que faziam, quando eles voltaram do passe no final da tarde e
passaram pelo Matajusi, oferecendo um peixe. Como não conhecia, disse que já tinha
bastante peixe na geladeira, mas pedi para ver o que mais eles pegaram. O
piloto voltou com o barco e encostou do lado do Matajusi para eu pular para o
barco deles. Ai deu para entender o que faziam... Eles tinham dois tanques
grandes, um com peixinhos isca vivos, e outro com garoupas e badejos vivos.
Eles flutuavam na superficie com uma cesta amarrada na cintura, e dentro dessa
cesta, tinham os peixinhos isca. Eles punham uma isca viva no anzol, e pescavam
colocando a isca exatamente onde eles queriam, área de garoupas entocadas.
Achei demais, e pedi para ir mergulhar com eles no dia seguinte. Eles
consentiram, e como já estava ficando escuro, largaram ancora do lado do
Matajusi.
Fui dormir as oito e meia da noite, pois eles disseram
que iam me pegar as cinco e meia da manha! Dormi na ansiedade, mas uma boa
ansiedade... Hoje as seis e meia eles levantaram ancora e vieram me buscar.
Pedi para levar a arma havaiana, só para me proteger de algum tubarãozinho
intruso, e lá fomos nós aprender o método de pescaria deles...
O primeiro mergulho, eles param perto de uma área mais
rasa, e os cinco mergulhadores entram na água com uma rede quadrada, amarrada
nos quatro cantos, e com um peso de chumbo próximo a rede, e uma linha
flutuante longa. Eles descem a rede para uma área a uns oito metros de
profundidade, esticam ela com os cabos, deixando um quadrado perfeito no fundo,
por cima dos corais. Enquanto quatro mergulhadores mantém a rede esticada e
nivelada, o quinto desce no centro da rede com migalhas de peixe cortado nas
mãos, e espalha perto do centro da rede. O quinto mergulhador mergulha varias
vezes, espalhando mais pedacinhos de peixe pela área da rede. Logo um cardume
de peixinhos vem comer as iscas, e muitos outros os seguem para o centro da
rede, quando então eles começam a puxar sincronizado, os quatro cantos iguais.
Depois de umas quatro redadas dessas, eles tinham muita isca viva, ai me
disseram que iam para o outro lado do atol pescar, mas como eles iam demorar
ate as quinze horas, disse que iria ficar. Um dos mergulhadores se ofereceu de
ficar comigo e me mostrar como eles pescavam, então pulamos os dois na água,
ele com a cesta cheia de iscas vivas, com uma rede por cima e um buraco para
tirar isca e por pesca, mais uma linha de nylon trinta com uns vinte metros, sem
amarrar em nada, com um anzol já chumbado de uns três cm de comprimento por um
de largura, e eu com a arma havaiana pois as armas tipo arbalete são proibidas
nas Maldivas, e ele começou a pescar. Gente! Nunca vi pescar tanto, e tão
rápido! Ele descia a isca viva até a área onde tinha visto uma garoupa no
fundo, e não dava outra, vários peixes disputavam a isca, mas a garoupa
invariavelmente ganhava de todos e engolia a isca. Ele puxava para cima,
segurava com a mão esquerda, e com a direita tirava um canudinho de plástico de
trás da orelha, desses que vem em caixinhas de suco, e espetava na cloaca do
peixe, espremendo a barriga e isso tirava as bolhas de ar de dentro do peixe,
que se expandia com o trazer do peixe para a tona. Ai ele punha a garoupa
dentro da cesta, e partia para a próxima... A uma certa hora, ele me perguntou
porque eu não estava pescando com minha havaiana, com o incentivo e
autorização, fui a caça. Enquanto eu pegava uma garoupa, ele pegava umas cinco!
Nunca havia visto algo assim? Sempre achei que no mergulho podia bater qualquer
pescador na linha, mas, aprendi mais uma hoje... impagável!
Depois de umas quatro horas de mergulho, e nadando contra
a corrente, já estávamos cansados, e nessa hora voltou o barco com os outros
quatro mergulhadores, subimos a bordo, comi uma panqueca com leite condensado e
tomei uma xícara de chá doce que eles me serviram e voltei para o Matajusi.
Eles se foram e eu aproveitei para ir checar a ancora, e foi pura sorte um
cardume enorme de xareu branco passar perto, o que garantiu o sashimi, que vou
preparar e comer agora...