sábado, outubro 17, 2009

Outras atividades em Vavau:

Tripulação do Matajusi, Beduina, Pajé, Canela, Bicho Vermelho e Saravá a bordo do La Masquerade.


Posição S18 41.963 W174 01.849 17/10/09 18:39h local (UTC -13)
Continuando com nossa vida de cruzeirista, no dia seguinte ao nosso jantar comunal depois do mergulho, fui para uma ancoragem bem calminha na ilha de Kapa, com água cristalina e bem protegida dos ventos predominantes, pois precisava fazer manutenção nas catracas, que, de tanta água salgada sempre borrifando nelas, estavam começando a ficar mais duras. Passei o dia todo trabalhando nas catracas, e mais a manhã do dia seguinte, e interrompi o trabalho somente para irmos a um jantar árabe oferecido pela Bel e Bob do Bicho Vermelho, que estavam na mesma ancoragem onde estávamos.

Na volta do jantar, lá pelas onze da noite, quando chegávamos ao Matajusi, vi uma lula daquelas grossas e grandes na popa do barco que eu havia deixado iluminada. A Lilian foi se preparar para dormir, enquanto eu fiquei de tocaia com a arma de mergulho esperando para ver se a lula voltava, pois ela havia sumido quando chegamos com o botinho. Não deu outra, ela voltou, disparei de cima do barco, calculando o ângulo de reflexo na água e o tiro foi certeiro. Fiquei mais um tempo por ali e consegui acertar mais uma, que depois preparei com arroz e ficaram deliciosas.

No dia seguinte fui me reunir com os outros barcos brasileiros em uma ancoragem na ilha de Avalau, para velejarmos de kite-surf. Eu tentei mais algumas vezes, mas ainda não consegui dominar a prancha. Já domino o kite, mas quando tento sair com a prancha acabo velejando de corpo, deixando a prancha para trás.

Quando estávamos falando pelo radio VHF combinando a próxima ancoragem, depois que a conversa acabou, ouvi uma voz feminina chamando em português, perguntando onde estávamos nós brasileiros. Eu respondi e perguntei quem estava indagando. Ela respondeu que era a Cleide, do La Masquerade. Sem conhecer o barco, batemos o maior papo e eu convidei-os para também irem à Tapana, onde estávamos indo para um jantar com paella, e onde, os que tocavam algum instrumento iriam fazer o som.

Quando quase todos os barcos brasileiros já estavam ancorados em Tapana, chega o La Masquerade, um mega iate a motor, de cento e oitenta pés! Não demorou e recebemos um convite para uma recepção no La Masquerade. Eles convidaram os quatorze brasileiros que estavam em Tapana. Todos nos arrumamos para a ocasião, sem conhecer muito mais do que o nome da Cleide e do Capitão do barco, Michael. Quando lá chegamos, fomos apresentados para o dono do barco, Sir Robert Ogden. Sir Robert é um Knight da corte de Londres e Cleide, uma paulista, é sua companheira.

O barco é algo do outro mundo, com quatro andares sociais, mais os de serviço. Tudo é meticulosamente detalhado. Sir Robert, Cleide e toda a tripulação do barco foram extremamente simpáticos e nos receberam muito bem. Depois da recepção, fomos nos preparar para o jantar com paella e música ao vivo, tocada por nós mesmos...

O jantar foi uma festa e, como sempre, os brasileiros dominaram... Eu na flauta, o Gustavo do Canela ou a Bel do Bicho Vermelho no violão, Mariana do Sarava no bongô, Lilian, Gislayne e outros no chocalho, um Neo Zelandês no teclado, e o barulho foi dos bons, com quase todos cantando e dançando.

No dia seguinte velejamos de volta de Tapana para Avalau, para mais umas tentativas no kite, e no final da tarde rumamos para Neiafu, pois ia ter um jantar típico Tonganês, com dançarinos locais, e queríamos participar. No caminho tivemos o primeiro, e espero que último, fogo a bordo do Matajusi.

A Lilian foi passar aspirador na sala enquanto eu velejava para Neiafu, e a tomada DC onde o aspirador estava conectado derreteu e entrou em curto. A Lilian me disse que o fio estava muito quente, então eu disse para ela usar a outra tomada DC, que era mais forte. Não sabia que o fio já tinha derretido e entrado em curto e que continuou derretendo e esquentando até queimar também o encosto do sofá da sala. Eu percebi a fumaça e corri para dentro, pegando o fio em chamas com uma canga da Lilian que estava por lá e desencostando ele do sofá. Depois desliguei o desjuntor, que pelo próprio nome deveria ter desjuntado mas não desjuntou, e quase pôs fogo no barco. Tinha já muita fumaça dentro do barco, então abrimos todas as gaiutas para ventilar um pouco. Uma vez desligado o desjuntor, acabou o curto e o problema, mas ficou a marca do fio queimado no sofá.

Enquanto estávamos resolvendo o problema do fogo, o motor começou a falhar e corri para fora para desligá-lo, pois sabia que o diesel estava baixo e devia estar acabando. Estávamos com uma ilha a uns vinte metros na nossa sota (lado onde o vento empurra), e, como estávamos velejando e ajudando com o motor, orcei (subi no vento) mais um pouco e pus o barco para fora para garantir nossa segurança. Tentei ligar várias vezes, com a Lilian bombeando no purgador da bomba de combustível, mas o motor não pegou. Tive que descer e sangrar o filtro de combustível e aí, depois de mais muitas bombeadas, pegou. No final, tudo certo exceto pela cicatriz no sofá. Aproveitei e ensinei a Lilian a trabalhar com desjuntores e extintores.

Na área de manutenção do barco, o último problema foi os painéis solares que pararam de funcionar. Fiz uma vistoria completa na fiação e achei uma emenda externa completamente oxidada, sem qualquer proteção contra a oxidação, e um fusível interno com mal contato. Cortei fora a emenda mal feita pelo eletricista e fiz uma nova, que cobri com fita isolante vulcânica para evitar o problema de oxidação de se repetir. Muitas das ligações elétricas no meu barco foram feitas assim. Sei que vou ter ainda muito trabalho para consertar esse serviço mal feito pelo eletricista, mas, a vida de cruzeirista é isso mesmo, muita manutenção, entre uma velejada e outra...

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