Durban a Port Elizabeth, Africa do Sul:
2012-12-26 Durban a Port Elizabeth, Africa do Sul:
Chegamos a Durban depois de quinze horas de uma travessia tranquila com vento e mar a favor, vindos de Richard's Bay, acompanhando o Scorpio e o Prynee II, com a unica exceção sendo a entrada no porto, pois vim muito aberto para aproveitar melhor a corrente assim como evitar navegar proximo às dezenas de navios ancorados fora, e acabei tendo que forçar muito de lado com as ondas que estavam na área de tres metros de altura, para chegar na boca do porto. O Fred Coelho do Estrela do Mar, um brasileiro que vive em Durban a mais de 30 anos, estava nos esperando já com uma vaga na marina de Durban.
Confortaveis e bem atracados em um pier da marina, mergulhamos na nossa maratona de serviços agendados para o barco, uma lista enorme de consertos, acertos e mudanças, que nos tomou trinta e seis dias de tempo integral, uma façanha que não teriamos conseguido sem o suporte fantastico que o Fred e a Cristina Coelho nos deram no tempo total que ficamos em Durban. Desses trinta e seis dias, somente tres dias nós não jantamos juntos, e durante a semana que o barco ficou no seco pintando e polindo, o Fred e a Cris nos acolheram na sua casa, onde eu e a Lilian tivemos o prazer de preparar alguns dos nossos pratos especiais como meu polvo e rabada, e a Lilian com seu frango no alho poró, cassarola de filet mignon, farofa, e pastas com molhos elaborados. O Fred e a Cris também prepararam alguns dos seus pratos preferidos, como a perna de carneiro, macarrao com molho branco, entre outros. Foi uma estadia maravilhosa com esses dois novos amigos.
Haviamos reservado com o Bowman no proprio Iate Clube a pintura e polimento do barco, mas no dia e hora marcados por ele, aproveitando a maré alta, faltou quinze centimetros para o barco subir na carreta, o que nos forçou a procurar alternativas diferentes e que no final, foram melhores e mais em conta do que se tivessemos feito no Bowman. Essa é uma situaçao preocupante, pois, mesmo existindo uma marina de serviços na baia com capacidade de guindaste para barcos até sessenta toneladas, a imagem plantada pelo pessoal do Iate Clube e o prórpio Bowman em interesse próprio, é que esse guindaste cobra preços explorativos, e que confirmamos não ser verdade. Na verdade, essa marina pertence ao Consul Dinamarques em Durban, que infelizmente não entende muito de marketing, então os comentários maldosos feitos pelo pessoal do Iate Clube acabam afugentando potenciais fregueses desses serviços em Durban, que procuram alternativas em Cape Town, causando uma perda de potencial receita para Durban.
Enquanto o barco estava no seco, contratei a raspagem e pintura do casco juntamente com um polimento completo do barco, com aplicaçao de cera no final, troquei o helice fixo de duas pás pelo KiwiProp com tres pás e pitch regulavel, além de dar uma checada geral na quilha, leme e sail drive. Aproveitei para retirar os adesivos de nome antigos que ja estavam completamente sem côr somente tres anos depois de colocados, e contratar a fabricaçao dos novos adesivos, agora com uma cor só e uma expectativa de vida acima de sete anos. No dia de descer o barco choveu a cantaros e isso promoveu que o guindaste encalhasse na lama que se formou no patio da marina. Entrei para coordenar o desencalhe, pois tinhamos hora certa para sair da marina com a maré na alta, e na euforía acabei dando uma cabeçada no helice, que só não abriu um belo corte na testa e na bôca porque eu estava usando um boné de aba larga que protegeu meu rosto na batida, mas sai tontinho.
Com a minha ajuda e coordenaçao, conseguimos desencalhar o guindaste e puzemos o barco na agua, deixando-o preso nos cabos até eu testar se tinha algum vazamento de aguá para dentro e se o helice estava funcionando corretamente. Com tudo parecendo normal, saimos da marina a caminho de volta para o Iate Clube, uma navegada em vento Sudoeste de quase trinta nós, o que ajudou quando, no meio do porto, o motor parou por falta de combustivel! Esquecemos de checar o nivel de diesel no tanque conectado! Foi um corre-corre danado para abrir velas, por o barco navegando a vela dentro da area do porto, conectar outro tanque e bombar o diesel até o motor, mas logo resolvemos isso e colocando o barco de volta no motor, para em seguida tentarmos entrar novamente na nossa vaga na marina, vaga que eu havia deixado paga mesmo sem o barco nela, para garantir que teriamos uma vaga quando retornassemos com o barco, mas o Iate Clube deu a vaga para outro barco... Isso nos deu algumas dorzinhas de cabeça, pois a proxima vaga cedida pelo Iate Clube não tinha profundidade para o barco na mare baixa, e acabamos sentados na quilha durante a proxima maré baixa. Olhando a tabua de mares, a proxima baixa iria ser trinta centimetros ainda mais baixa, entao foi correria para achar outra vaga. Mudamos para a nova vaga cedida pelo Iate Clube, mas dez minutos depois do barco atracado com segurança, veio o dono da vaga e pediu para a gente mudar de novo! Aceitei pois a explicaçao dele foi que a vaga do lado era usada para treino de controle de manejo de barco e ficava com estudantes entrando e saindo da vaga o dia todo e todos os dias! Na hora de pagar nossa estadia, não concordei em pagar por vaga ocupada por outro barco...
Enfim na vaga onde ficamos até nossa partida de Durban, que acabou atrasando por conta da demora do Clyde em entregar a cobertura nova do bimini, dog-house, conexão entre eles e fechamento da popa, proporcionando agora um fechamento total do cockpit, um conforto que deviamos ter feito desde o primeiro dia do barco na agua, mas que por falta de conhecimento, acabou demorando cinco anos para decidirmos a melhor forma de conseguir isso.
Com o barco pronto para sair, ficamos na dependencia de uma janela de tempo propício para as proximas pernas, nesse caso, a perna mais longa e uma das mais perigosas da Africa do Sul, chamada de Costa Selvagem, pois em um espaço de duzentas e cinquenta milhas não tem nenhum abrigo para o caso de mal tempo. Mal tempo nessa area quer dizer um Sudoeste entrando forte, o que pode formar ondas de até vinte metros de altura e que já causaram a perda de muitos barcos e navios, criando o maior cemitério de barcos do mundo. Nessa costa selvagem, o maior problema é que a corrente de Agulhas passa muito próximo da costa em alguns lugares onde a plataforma continental é curta, ficando impossivel para barcos procurarem aguas rasas para evitar as ondas enormes.
No dia vinte e um, abriu uma janela propícia e, depois de fazer a papelada de saida de Durban, zarpamos com a intençao de ir até Knysna se a janela permitisse, mas acabamos tendo que entrar em East London por recomendaçao da NET PERIPERI que entra no ar pelo SSB 8101khz todos os dias as sete e desessete horas, ajudando todos os barcos navegando pela costa Leste da Africa com informaçao de tempo e mar, e alternativas disponiveis em caso de problema ou perigo.
East London:
Entramos facilmente em East London, com uma arrancada ajudado pelo motor a 90% para descarbonizar e para conseguir entrar antes da saida de um navio atracado dentro que zarparia as dezessete horas, chegando na area de ancoragem na frente do Iate Clube de Buffalo River antes da saida do navio. Logo atrás entrou o Ainia, um barco do Canada tripulados pelo Bruce e a June. Depois de uma noite bem dormida, desci o bote e montei o motor para ir conhecer os outros três barcos ancorados por ali tambem, o Ainia que havia chego junto conosco e que vimos em Durban mais ainda não os conheciamos pessoalmente, o Camara que haviamos também visto em Durban, e o Jargo que já conheciamos de Mauricios. Organizei que ficariamos em contato no canal oito do VHF, e tentei organizar uma ceia de Natal juntos, caso ficassemos retidos em East London por conta do tempo. A tarde, fomos dar uma volta subindo o Buffalo River de botinho, voltando depois para receber no barco a visita do Ricardo e Paula mais seus dois filhos, sogro e sogras, outros brasileiros residentes de Durban que conhecemos através do Fred e Cristina, e que estavam passando férias, coincidentemente nas mesmas cidades onde poderiamos estar parando por conta do tempo.
Aproveitando uma janela propícia, levantamos ancora e preparamos para partir para Port Elizabeth, com o Ainia nos seguindo. Quando aviso o Controle do Porto que estavamos saindo, ele pergunta se haviamos feito o plano de viagem e entregue na policia local, um procedimento que desconheciamos, além de termos já subido bote e motor e preparado o barco para a próxima travessia. Depois de uma discussão no radio de mais de quinze minutos, veio um barco local que estava escutando tudo e se ofereceu para levar-nos até a policia local, ali mesmo na margem do rio, para fazer essa documentaçao de saida. Aceitei, desci um pouco de corrente da ancora, entendendo que a Lilian tinha deixada a ancora no fundo, mas com pouca corrente, e passei para o barco deles para ir fazer a papelada, que fizemos bem rapidinho, por sorte, pois a ancora não estava no fundo e o barco estava correndo solto dentro do porto! Com a Lilian dentro se despedindo pelo Skype, ela não notou que o barco estava quase batendo na parede do porto. Cheguei a tempo de ligar motor e voltar para o meio do porto, e terminei de levantar ancora, partindo em seguida, agora com a permissão do Controle do Porto.
A travessia de cento e trinta milhas entre East London e Port Elizabeth foi feita em vinte e duas horas, com mar calmo e quase que cem porcento no motor, pois o vento era fraco de Sudoeste, somente com o Staysail aberto no meio do barco e seguro pelas duas escôtas, para ajudar a diminur o balanço lateral. Na reta final, quando acelerei a noventa porcento para descarbonizar, a temperatura subiu muito. Isso pode ter causado por algum plastico que tenha tampado a entrada de ar do motor, entao, depois de abrir o filtro de agua dentro do motor e checar que nao estava entupido, desengatei esperando o barco diminuir bem a velocidade, engatei ré acelerando um pouco para empurrar o que quer que estivesse tampando a entrada de agua na rabeta para fora, voltando a engatar frente e acelerar para chegar no porto, mas a temperatura nao desceu rapido como eu esperava. Mais uma manutençao a ser feita na proxima marina...
Chegamos na marina de Algoa Bay em Port Elizabeth no final da tarde do dia vinte e quatro, prendemos o barco, tomamos um banho e ligamos para o Ricardo e Paula que ja estavam em Porto Elizabeth, ja em um restaurante local. Pedimos um taxi e fomos nos juntar a eles para a ceia de vespera de Natal voltando para o barco alimentados e cansados da travessia na noite anterior, fizemos internet, falamos com familia e amigos pelo Skype, postamos algumas mensagens no FB, e fomos dormir.
No dia de Natal, conbinamos um almoço juntos com o Bruce e June do Ainia, atracado do nosso lado, e preparamos um coelho ensopado no molho de vinho tinto mais uma salada, com eles contribuindo com o arroz, vegetais e sobremesa que foi um pudim de leite com pessegos em calda, nada mal para uma ceia de Natal improvisada de ultima hora, que estava ótima por sinal! Com a comida toda pronta fomos para a sede do Iate Clube onde outros cruzeiristas locais e internacionais se reuniram para a ceia, cada qual com sua comida. Lá conhecemos o Dinho, um mexicano criado no Colorado, que hoje vive de filmes documentarios que faz durante sua volta ao mundo e que é comprado pelas TVs de turismo no mundo. O Dinho, viuvo de sua esposa Russa que morreu em um acidente de automóvel, estava acompanhado de sua filha de doze anos, de quem é pai e professor e nos convidou para participar de um dos documentarios sobre as particularidades dos muitos cruzeiristas que encontra pelo caminho e devemos estar gravando entrevista por esses dias, enquanto aguardamos uma janela para seguir até Knysna onde nossos amigos do Mr Curly se encontram esperando a gente desde o Natal que já passou e agora para o Ano Novo, um encontro comprometido pelo tempo ruim anunciado por todos os sites e modelos de tempo que estudamos. Parece mais que nenhum barco vai estar navegando por essas aguas na proxima semana...
MATAJUSI Navegation Information:
At 12/27/2012 07:10 (utc), Position was 33°57.99'S 025°38.12'E, Direction was 015T, Speed was 0.2
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