domingo, dezembro 11, 2011

Preparando para navegar novamente. Dezembro 2011.

Incrível como a vida muda entre viver na cidade, trabalhando,
cuidando de problemas dos mais diversos, enfrentando transito, ouvindo
as péssimas noticias que são parte do nosso dia a dia, e a vida a
bordo, também com problemas, também com muito trabalho, mas sem essa
carga de notícias ruins que faz parte da nossa vida na cidade. A
nossa atitude muda, encaramos todos os problemas e cada problema, um a
um, e vamos resolvendo cada um deles e já começamos a sentir os
benefícios dessa mudança de vida, com menos dores, menos preocupações,
e mais energia positiva.
E assim tem sido, começamos por limpar o barco todo, por cima, por
baixo e por dentro. A aparência boa do barco melhora nossa disposição,
e o conforto a bordo. A vidinha vai voltando ao que era antes de
deixarmos o barco, calma, boa, sadia, feliz...
Um a um, fui acordando cada sistema do barco, baterias, carga solar,
carga externa, transformador, carregador de baterias, conversor AC/DC,
motor, dessalinizador, instrumentos de navegação, rádios, pactor
modem, luzes, bombas, tubulações, tanques de água, água quente, água
fria, válvulas de entrada e saída de água e esgoto, banheiros,
torneiras, chuveiros, gás, fogão, geladeira, entre outros, e fui
fazendo uma lista de coisas a consertar ou melhorar.
Minha lista incluiu a troca do sistema operacional do E80 (plotter),
pois a antigo abendava quando tinham muitos navios identificados pelo
AIS. Essa troca é complicadinha, pois requer um tipo de cartão
CompactFlash, mas só funciona com os originais antigos de 32MB, que
não existem mais. Por sorte, tinha uma câmera Sony antiga que usava um
cartão desses. Com o cartão correto, ainda em SP, fiz o download do
novo sistema operacional que corrige o problema do excesso de navios
no AIS, instalei e funcionou perfeitamente! Menos um!
Assim que chegamos ao barco, ouvi o indicador de carga das baterias
apitando. Imediatamente fui checar o regulador de carga das placas
solares, e percebi que não estava desviando a corrente quando as
baterias já estavam carregadas. Retirei o fusível e não sei como as
baterias sobreviveram esse ano todo com a placa carregando acima da
especificação, mas tenho que tirar o chapéu para a decisão de usar
baterias de gel, que aceitam mais carga do que as outras.
Deu trabalho encontrar outro regulador de carga, mas a vantagem é que
os novos são muito mais inteligentes dos que o que eu estava usando.
Ai escolhi um que aceitava mais de 400W e 30A, pois minhas placas tem
340W e podem gerar até uns 25A, então fica com sobra para algum
excesso. Instalado e funcionando perfeitamente!
Acordar o motor deu um trabalhinho, mas depois lembrei que eu havia
trocado os filtros de diesel do Raccor e do Motor, assim, foi só
sangrar um pouco o motor, e pronto, funcionou perfeitamente. Testei
engate para frente e para trás, e o para a frente continua com a saga
dos cones derrapantes da Yanmar! Supostamente, os saildrives 50 não
deveriam ter esse problema, mas têm! Chamei a Yanmar Malásia varias
vezes, mas não apareceram, então vamos assim mesmo. Eu já sei
desmontar a transmissão, e se ficar muito ruim, eu mesmo dou algum
jeito.
Troquei o som do barco, pois queria ter um som que aceitasse todos os
novos gadgets tipo Ipod, Iphone, USB, DVD, DVR, MPx, JPG, etc. Comprei
um Kenwood ultimo modelo em Singapura, e não paguei mais do que R$150!
Acordei o dessalinizador, testei de todos os jeitos, e tudo
funcionando perfeitamente. Gerei água e depois usei essa mesma água,
pois não tem cloro, para deixar lavando por quase uma hora, visto que
eu havia posto os químicos recomendados para ficar no dessalinizador
quando ele esta parado. Encontrei uns filtros de 5 microns para uso em
água de casa, que cabe quase perfeitamente no filtro do
dessalinizador, e comprei um monte deles por menos de R$3,00 cada!
Mas, por segurança, comprei mais dois originais da Spectra em
Singapura, a US$34,00 cada! Em áreas de água muito suja, vou usar
esses outros filtros, pois depois posso jogar fora. Os filtros
originais, eu uso por um tempo, e depois lavo bem, escovando e
deixando secar ao sol por uns dias, enquanto substituo por outro
recondicionado por mim mesmo.
Instalamos todas as velas, um ato digno de um paparazzo documentar com
fotos que, primeiro iriam mostrar como fica uma vela de ponta cabeça!
E olha que a Lilian estava me chamando a atenção de que algo estava
torto! Na segunda tentativa, enrolei a vela e o cabo do enrolador do
mesmo lado, ou seja, um não segurava o outro! Ainda bem que comecei
pela vela menor, a StaySail, pois se fosse com a genôa, teria sido
muito mais re-trabalho! Aproveitei quando estava instalando a mestra
e finalmente refiz o baten (varal de fibra de vidro que fica dentro da
vela) de cima, pois o original havia quebrado antes de chegarmos a
Galapagos em 2009 e eu havia usado um pedaço de cano de água no lugar
do quebrado. Imaginem, o cano de água de Galapagos ficou na vela por
mais de 10.000 milhas! Tive que lixar e cortar um nas medidas
corretas, e lá vamos nós, de baten novo, e sem cano de água na vela!
O casco estava cheio de água doce, o que significa que tem mais
goteiras para achar e consertar. Tiramos toda a água, lavamos todo o
fundo, limpamos com água e vinagre para evitar o bolor, e o cheiro do
barco melhorou muito.
Mergulhei para ver como estava o casco, leme, quilha, hélice e
principalmente o saildrive, pois minha preocupação era ter o mesmo
problema que o Prieto teve com o Tutatis, onde a eletrolise destruiu o
saildrive dele, e teve que ser trocado, mas encontrei tudo correto,
e melhor, o casco não estava muito encracado, prova que o uso da tinta
Microm 66 da Internacional foi um bom investimento. Eu havia posto um
saco de lixo para proteger o hélice e saildrive, e isso foi também uma
boa decisão, pois foi só tirar o saco e encontrei tudo em perfeitas
condições. Chequei o anodo do saildrive que ainda esta muito bom,
prova de que não tive problemas com eletrolise. Esse problema é comum
quando se atraca próximo a um barco de metal, e principalmente quando
esse esta conectado à energia do cais. Eu tive o cuidado de escolher
um atracadouro que não tinha barco de metal conectado o tempo todo.
E assim, tudo correndo bem, estamos nos preparando para partir na
direção da Tailândia nessa próxima terça-feira. Hoje vamos fazer
compras em um shopping novo, pois precisamos de roupas bonitas para
usar no Natal e Ano Novo, que pretendemos passar com amigos na
Tailândia. Amanha, vamos fazer a documentação do barco, deixando a
emigração para ser feita em Lankawi, uma ilha no caminho e ultimo
lugar da Malásia que vamos aportar. Já começamos a estocar o barco com
mantimentos, e vamos fazer mais amanha. Na terça-feira vamos encher os
tanques de diesel e em seguida partimos, indo dormir ancorados na
entrada do estreito de Malaca. Vamos navegar durante o dia, pois à
noite existem muitos barcos pesqueiros sem sinalização, com suas redes
e bóias, espalhados pela área próxima a costa. Uma alternativa é subir
pela rota dos navios, que vem com o desconforto deles passando
próximos o tempo todo...