sexta-feira, novembro 16, 2012

Travessia da Corrente de Agulhas e Primeiros Safáris na Africa:

2012-11-14 Richards Bay, Africa do Sul:
A travessia do canal de Madagascar demorou seis dias, sem grandes problemas para atravessar a corrente de Agulhas que nos ajudou com quase cinco nós de corrente a favor, pondo-nos na entrada do Porto de Richards Bay no final da tarde do dia seis. Chamei o Port Control pelo radio no canal doze, e recebi permissão para entrar na area do porto. Logo em seguida ouvimos o Orca, um veleiro de trinta pés que tomou um knock-down de uma onda maior e perdeu algumas coisas do cockpit para o mar agitado. A apenas seis horas de Richards Bay, eles não puderam atravessar a corrente de Agulhas pois o vento estava de Sudoeste com até cinquenta nós e nessas condiçoes as ondas podem chegar a trinta metros, então tiveram que desviar para Moçambique e velejar outras seissentas milhas para esperar o tempo melhorar. Eles estavam logo à nossa frente, e combinamos de parar lado a lado na parede do International Quay. Ficamos assim até ontem a tardezinha, pois vamos partir para Durban hoje e eles sairam para os safaries hoje pela manha, entao rearranjamos os barcos para ficarmos prontos para zarpar hoje as dezesseis horas. São noventas e tantas milhas até Durban, e com a corrente ajudando, estimamos fazer em menos de doze horas, planejando chegar lá entre seis e oito da manha de amanha.

O Fred do Estrela do Mar, um brasileiro que vive em Durban vai estar nos esperando para nos guiar até o lugar na marina onde o barco dele fica. Temos varios serviços no barco agendados para fazer em Durban, pintar novamente o fundo, polir o barco todo, trocar o helice fixo de duas pás pelo KiwiProp, mais leve, com tres pás, e que abre as pás para diminuir o arrasto enquanto velejando. Isso vai contar bastante durante a travessia do Atlantico. Chamei o tecnico da Raymarine para ver porque o profundimetro desliga do sistema E80, uma praga que estamos vivendo desde a Nova Zelandia. A geringoncia só funciona quando quer, e nunca quando precisamos! Enfim, vamos deixar o barco bonito de novo, com nome refeito, brilhando, para chegarmos no Brasil com o mesmo barco que saimos, novinho saido da forma, mas agora com uma bagagem imensa de memorias e experiencias, depois das mais de trinta mil milhas navegadas desde que saimos com ele de Joinville, onde foi construido.

Safaris com adrenalina!
As principais razões de virmos para Richards Bay foram a facilidade de dar entrada na Africa do Sul, e a proximidade com varios parques dessa parte da Africa. Temos o Thula Thula a apenas quarenta e cinco minutos de carro da marina, o iMfolozi e Hluhluwe a duas horas a Norte daqui, e o Lake St Lucia com seus hipopotamos e crocodilos, e passamos os ultimos tres dias visitando esses parques.

Thula Thula:
Alugamos um carro juntos com o Henrick e a Mala do Scorpio, com ele dirigindo, e fomos primeiro passar o dia no Thula Thula, um parque particular de quarenta e cinco mil hectares, com os animais vivendo livres pelo parque, cercado com cerca eletrica. Os animais procurados por caçadores ilegais pelos seus chifres e outras partes acreditadas com alguns poderes de cura, sempre protegidos vinte e quatro por sete por guardas armados. Chegamos cedo para o café da manha no parque, acompanhados por macacos ladrões que não disperdiçavam uma oportunidade de tirar algo da mesa ou mesmo da sala onde o cafe estava servido. Depois do café fomos para a caminhonete de safari, aberta, com tres assentos altos e cintos de segurança para os turistas não cairem nas sacudidas causadas pelas trilhas mais desniveladas. Os primeiros animais avistados foram os Impalas, sempre em abundância em todos os parques, e chamados de hamburger da Africa, por serem o prato preferido dos carnivoros. Em seguida, de longe, ja avistei os elefantes. Durante todos os safaris que fizemos, quem mais avistava animais era sempre eu, com meus olhos treinados pelo incentivo do meu saudoso pai, quando eu ainda era criança e íamos caçar de estilingue. Estranhamente, ou não, me sinto mais no meu habitat natural quando estou em lugares como esses, tanto que, um dos lugares da nossa volta ao mundo que mais me atraiu foi Vanuatu, onde a vida ainda é selvagem, onde o homem sai para caçar e trazer comida para a familia.

De volta para o safari, seguimos os elefantes até chegarmos bem proximos de dois machos e por ali ficamos um pouco, curtindo a presença desses outros habitantes do nosso planeta. Por ali vimos mais impalas, alguns wilderbeasts, kudus, babuinos, e algumas aves. Proxima parada foi para ver porque um Ganso Egyptian estava se arrastando por terra. Paramos e o nosso motorista chamou um guarda-parque que estava pelas imediaçoes, que chegou e logo agarrou o ganso, notando que ele tinha um arame farpado enrolado em uma das suas patas, provavelmente brincadeira de algum nativo local que tentou domesticar essa ave selvagem, ou simplesmente usa-lo como decoy para atrair outros, sabe-se lá. Arame retirado, ganso solto, e fomos procurar mais animais, logo vendo na distancia as cabeças salientes das girafas sobre a copa das arvores. No caminho para onde vimos as girafas, passamos por um grupo de zebras e logo adiante chegamos onde as girafas estavam, um grupo com umas oito girafas, mas com dois bebês-girafas de alguns meses. Tiramos muitas fotos e uma em particular com quatro girafas, duas a duas, formando o M do Matajusi que depois posto no blog.

Ficamos por um tempo perto desses animais gentis e curiosos, que nos olham tanto quanto nós olhamos para eles, depois seguindo para onde o motorista ouviu que estavam os rinocerontes. Não conseguimos chegar muito perto e só conseguimos ver um, sempre acompanhado do guarda-parque armado para defendê-lo contra caçadores de chifres. De lá fomos a uma area alagada onde vimos alguns crocodilos, tartarugas e um lagarto de agua.

iMfolosi & Hluhluwe:
E assim foi nosso primeiro safari na Africa, retornando para Richards Bay para jantar e dormir no barco e partir cedo na manha seguinte para os parques de iMfolozi e Hluhluwe. Esses dois parques ficam a umas duas horas de carro de Richards Bay, assim partimos as seis e meia da manha para chegar la ainda sem sol muito forte, aumentando nossa probabilidade de ver animais antes deles se esconderem do calor dentro de florestas e areas densas de vegetaçao. No caminho, uma serie de coincidencias que promoveram nos perdermos por um tempo, indo parar em uma agregaçao religiosa africana, abarrotada de carros e gente, e nós, os unicos quatro brancos em muitos quilometros a nossa volta! Aconteceu porque, em uma area onde a estrada estava em conserto, seguimos o fluxo de carros que viraram para o que parecia ser um retorno, mas na verdade era essa congregação religiosa. Eu não percebi, pois o GPS apontava para um Z na estrada exatamente onde saimos com os outros carros. Outra coincidencia foi o conserto na estrada exatamente nesse ponto, dando a impressão que não se podia ir em frente. Enfim, meia hora depois, voltamos a seguir a estrada correta, chegando no primeiro parque lá pelas nove e meia da manha.

Ali mesmo decidimos pernoitar no HillTop Hotel, dentro do Hluhluwe, e por pura sorte, tinha um chale que estava disponivel, pois nessa epoca do ano estao sempre lotados. Com o hotel garantido, seguimos pelo parque adentro onde fui logo avistando e reconhecendo animais africanos. Como sempre, Impalas e Gazelas sempre abundantes, mas logo vi um grupo de babuinos andando perto da estrada, paramos para umas fotos. Em seguida, avistei dois rinocerontes, abundantes nesses dois parques. No final da nossa visita tinhamos visto uns trinta rinocerontes! Seguindo, consegui ver um desses lagartos de cabeça verde, que fica balançando a cabeça, mas fui o unico que conseguiu ver, então tirei fotos para mostrar depois. Mais alguns rinos e consegui ver dois leões em cima de uma arvore meio distante, com mais uma fêmea no chão. Dos big five, ja tinhamos visto dois! Rinos e leões! Esses parques são abundantes em animais africanos, e foi um animal depois de outro o dia inteiro. Antilopes de muitos tipos, porcos selvagens, zebras, elefantes, mais babuinos, mais rinos, mas dessa vez bem de perto, pois, sempre abusando, desci do carro e entrei no mato para ver de perto quatro Rinos que estavam deitados em um buraco de agua. Olhei bem e fui com cuidado e com todos os sentidos em alerta, mas a unica coisa que vi, na verdade ouvi, foi um guarda-parque gritando dizendo que eu não podia sair do carro! Fiquei mais preocupado com os rinos, que ouvindo o barulho ficaram mais atentos e em alerta. Voltei de mansinho para o carro e seguimos com o safari.

Wahlberg's eagle, Helmeted Guinefowl, Hamerkop, Crested Francolin, Black Crake, African Fish Eagle, Hadedah Ibis, Woolly-necked Stork, Black-Headed Oriole, Cape-Turtle Dove, African Hoopoe, Thumpeter Horbill, Village Weaver, White-Browed Scrub-Robin, foram alguns dos passaros avistados e reconhecidos usando os livros de passaros africanos.
Continuamos avistando muitos animais, até encontrarmos um bando grande de elefantes, metade de um lado e a outra metade do outro lado da estrada de terra que usávamos. Paramos o carro, e eu sugeri ao Henrick para ficar atento, pois tem um numero razoavel de incidentes entre elefantes e visitantes desses parques. Dito e feito, uma fêmea que estava muito perto começou a demonstrar desconforto. Eu percebi e avisei o Henrick para ficar esperto. Logo em seguida ela atacou! Gritei para o Henrick, GO! GO! GO! Ele acelera tudo e solta a embreagem em primeira... ou seja, não fomos a nenhum lugar e ficamos patinando os pneus dianteiros fazendo um pó tremendo, e isso, assustou a elefoa, que foi para um lado enquanto nós fomos para outro... Ufa! Essa foi por pouco!

Um pouco mais adiante e já entrando no entardecer, ou seja, hora de carnivoro sair para a caça, encontramos um buraco de agua, onde animais se agregam para beber no final do dia, e carnivoros se escondem por perto para caçar sua janta. Saimos da estrada e entramos nessa area, cheia de grandes buracos, e o Henrick distraido, acabou caindo dentro de um! Rapidamente olhei em volta e nao vendo carnivoros pedi para todos sairem do carro para eu tentar tirar o carro de lá, mas em vão, as duas rodas da frente estavam completamente no ar, e o carro preso pelo chassi, não parecendo possivel sair de lá sem ajuda. Mesmo assim não desisti e pus todos a empurrar o carro para trás, o que conseguimos fazer um pouco, mas não o suficiente para ele sair do buraco. Entao pus a Lilian dentro, marcha-a-ré engatada, com instruçao de soltar devagar a embreagem enquanto todos nós do lado de fora empurravamos o carro, e isso funcionou! Ufa! De novo! Ja estava pensando nos head-lines locais: "casais estupidos saem do carro em water-whole e são comidos por leões!".

Vimos também alguns búfalos, animais responsaveis pelo segundo maior numero de mortes de humanos na Africa, mas esses não nos deram muita atençao. Nessa altura ja tinhamos visto quatro dos grandes cinco africanos, só faltava agora um leopardo.

Ja anoitecendo fomos para o hotel, nos ajeitamos no chale que reservamos e fomos jantar.O chale tem dois quartos, um em cada extremo, com uma sala e cozinha no meio, facil de fazer a nossa própria comida, mas cansados, o buffet do hotel foi uma opçao bem mais confortavel, e saborosa.

Dormimos bem, levantamos, tomamos um otimo café da manha, e fomos ver o parque de Hluhluwe que fica ao norte do iMfolozi. Esse parque tem mais florestas do que savanas, e em florestas fica muito mais dificil ver animais, mas mesmo assim consegui ver antilopes, porcos selvagens, mais rinos, girafas, e finalmente, demos de cara com um bando de bufalos! Eles se assustaram e formaram a frente usual de combate a inimigos, e nós ficamos prontos para cair fora se algum atacasse. Mas eles mantiveram distancia confortavel e ficamos um tempo por ali para tirar boas fotos.

Lake Sta Lucia:
Com isso encerramos nossa visita a esses dois parques, e rumamos para o Lago St Lucia, que tem hipopotamos e crocodilos vivendo soltos. Mais umas duas horas de carro com o Henrick dirigindo e chegamos a St Lucia. Fomos a pé ver os hipos e crocs, mas como eles estavam do outro lado do alagado que por ali passa, demos a volta e fui chegando perto, até que um macho grande resolveu mostrar quem mandava por ali, e por que os hipos são o animal que mais causam mortes humanas na Africa, e levantou me encarando, como dizendo, vai abusando, vai?! Não abusei mais e depos de umas fotos, fui retrocendendo calmamente, o que tranquilizou o bando.

Logo em seguida avistei um saltie, crocodilo de agua salgada, que também parecia ter os olhos fixos em mim, e decidi voltar para areas mais tranquilas...

Hoje estamos zarpando para Durban, pois ja fizemos o que viemos fazer em Richards Bay, uma area que lembra muito a Florida, pelas planicies, construçoes, estradas, areas populadas e shopping centers. Bom provisionamento, barco lavado de graça, pois ficamos na parede que pertence à cidade e não à marina, que supre agua e eletricidade de graça. Eu quase nunco ligo em eletricidade de cais, pois o barco é tão bom em energia solar e baixo consumo que nunca precisamos ligar em tomada de cais. Estamos saindo em 30 minutos.

MATAJUSI Navegation Information:
At 11/16/2012 06:59 (utc), Position was 29°51.87'S 031°01.51'E

----------
radio email processed by SailMail
for information see: http://www.sailmail.com

segunda-feira, novembro 05, 2012

Outras experiencias em Madagascar:

Chegamos a Minorodo no dia seguinte da saida de Galions Bay, no meio do dia, depois de velejada tranquila, a maior parte somente de genaker. Passamos pelo passe sem incidentes, mas o vento rondou em seguida e tivemos um trabalhinho para recolher a genaker, pois o lugar onde o cabo da camisinha estava amarrado arrebentou e tive que trazer na marra, o que me custou alguns roxos nos dois braços.

Logo estavamos recebendo as boas vindas dos outros oito barcos ancorados na baia pelo VHF e o convite para drinks (BYOB) no Contrails não tardou muito depois disso. Demos uma ajeitada no barco, recebemos as primeiras canoas, mas sem artefatos para troca, somente pedindo algo. Acabamos distribuindo mais lapis com papel, e esmalte com acetona.

Ao entardecer, o pessoal do Taipan, Baraka, Elaine, e nós, nos reunimos no Contrails para drinks , aproveitando para trocar bastante experiencias sobre as nossas travessias. Nenhum de nós ia parar em Madagascar, mas o tempo estava anormal, sem possibilidades de atravessar para a Africa, entao os muitos barcos que partiram de Mauricio e Reunion, foram amontoando em Madagascar e Moçambique.

O vento na ancoragem de Minorodo estava forte, algumas vezes ultrapassando os trinta e cinco nós. Estavamos ancorados em cinco metros, com quarenta metros de corrente, mas naquela noite, entre a mudança de um vento Nordeste e um vento Sudoeste, o barco que estava com os quarenta metros esticados para Oeste, foi empurrado pelo vento, esticando oitenta metros para o Leste, dando um tranco bem forte na corrente. Sem saber, um elo da corrente se partiu nesse impacto, e ficamos amarrados no resto da corrente e na ancora por esse elo partido. Só soubemos disso no dia seguinte pela manha, quando resolvemos procurar ancoragens mais para o Norte e levantamos ancora. Foi de uma sorte incrivel a ancora não ter sido perdida, e não ficarmos sem ancora durante o resto da noite, com ventos acima dos trinta nós. Mais sorte ainda que nos dias seguintes o vento chegou aos cinquenta nós em Minorodo!

Pela manha, rumamos para Tulear, um porto de entrada de Madagascar a umas cento e trinta milhas mais ao norte de Minorodo, com ventos entre os vinte e cinco e trinta e cinco nós de Sudoeste, nem mexi na mestra. Fui somente com a genoa risada, e quando o vento apertou mais ainda, enrolei a genoa e abri a staysail até o final da travessia, na manha do dia seguinte.

Chegamos a Tulear e ancoramos ao Norte do porto, mas logo chegaram dois locais com uma canoa e disseram que ali era perigoso a noite, pois os bandidos da mafia local costumavam atacar barcos naquela area. Quando ele se apresentou como José, logo perguntei se ele era taxista, o que confirmou. Ai disse que já o conhecia de relatos de outros barcos que passaram por Tulear no ano passado. Com isso começamos uma amizade que durou até nossa partida. O Jose fazia de tudo que precisavamos e queriamos. Nos levou para fazer a documentacao de entrada, foi comprar diesel, trouxe duzentos e cinquenta litros de agua doce para cada barco, nos levava de manha para a cidade, nos levava ao mercado e supermercado, e combinamos uma viagem ao parque nacional de Isalo, a uns duzentos e cinquenta quilometros terra adentro. Fomos de manha e voltamos a noite do dia seguinte, pernoitando em um hotel perto do parque.

O parque custou vinte e cinco mil Airiares (1US$ = 2000A), mas para entrar tinha que contratar um carro, mais quarenta mil airiares, e tinha que ser acompanhado por um guia por mais quarenta mil airiares, ou seja, meio carinho. No parque vimos varios tipos diferentes de lemures e alguns pássaros unicos de Madagascar, tirando muitas fotos. Entravamos no parque de carro, e uns tres quilometros adentro, o carro para em um estacionamento e continuamos a pé. Existem muitas trilhas e muitas atraçoes, mas nosso interesse era somente nos lemures, então caminhamos não mais do que uns tres quilometros entre ida e volta da area dos lemures. No caminho consegui ver um lemur de rabo com aneis branco e preto, da raça Maki, mas no parque não conseguimos encontrar nenhum, por mais que eu tenha entrado mata adentro.
Depois de uma noite relativamente bem dormida, por conta de um pernilongo que conseguiu entrar dentro da tela que cobre a cama, mas como as luzes se apagam as vinte e uma horas, entao foi caça ao pernilongo á luz de vela e finalmente conseguimos dormir em paz depois de esmagar o abusado.

Mais duzentos e cinquenta quilometros de volta, uma viagem que passa por varias aldeias das mais diversas, desde as mais pobres, até as bem ricas, nas areas de mineraçao de safiras. Na chegada de volta a Tulear, o Jose, que ficou chateado por não termos conseguido ver os Makis no parque, nos levou ao Hotel LaLa, onde havia um casal dentro de uma pequena jaula, que para nossa surpresa tinha tido um bebê Maki recentemente. Fui logo comprar bananas para alimentar o casal, pois o bebê ficava mamando quase que o tempo todo, e os animais não aparentavam estarem bem alimentados. Durante os dias que ficamos em Tulear, sempre que possivel, eu comprava bananas e ia alimentar o casal de Makis no Hotel. Eles me ofereceram levar o bebê, e a tentaçao era grande, mas, imaginem, eu com um lemur Maki em São Paulo, então, mesmo sabendo que aquele bebê teria uma vida muito melhor comigo do que naquela jaula, entendi que lugar de lemur é em Madagascar.

Almoçamos todos os dias no Bo Beach, um bar-restaurante onde os estrangeiros se encontram em Tulear. Sempre muitos estrangeiros, e muitas mocinhas locais procurando arrimo... Tulear é uma cidade com sessenta mil habitantes, muitos morando em casebres minusculos, alguns feitos somente com arbustos secos, com muita gente nas ruas, andando de lá para cá, e um veiculo bastante interessante, os push-push, pequenas carroçinhas movidas por um homem a pé, que podem levar até tres pessoas. Não esperimentamos uma por falta de oportunidade. Os produtos do mar são abundantes, mas, sem refrigeraçao não duram muito. Carne de cabra esta sempre disponivel, mas também sem refrigeraçao e com muitas moscas em cima. Fomos muito bem recebidos em Tulear, e não tivemos qualquer incidente desconfortavel. O Chefe de Policia local, que fêz a nossa entrada, dedicou dois seguranças para tomarem conta dos barcos dia e noite, e os pôs responsaveis por qualquer problema. Documentação de entrada e saida foi rapida e sem complicaçoes.

No total ficamos uma semana em Tulear, sempre esperando uma janela de tempo para atravessar para a Africa do Sul e finalmente zarpamos numa quinta-feira onde a janela estava ruim para a saida, mas parecia ser boa para a chegada em Richards Bay. Com ventos acima dos vinte nós, saimos de Tulear as quatorze horas, só para encontrar um tremendo swell logo fora dos recifes que cobriam a area do porto. Foram dois dias de muita ondulação e ventos fortes, mas como a janela prometia, seguimos direto na direçao de Richards Bay na Africa do Sul, ao invés de seguir na direcáo mais a Oeste da costa de Moçambique que oferece algumas ancoragens mais protegidas. Muitos barcos já estavam por lá, e quase todos sairam dois dias depois que saimos de Tulear, mas nós tinhamos umas quatrocentas milhas a mais para atravessar, pois estavamos vindo do Oeste de Madagascar. Hoje, segunda-feira, quatro dias depois da nossa saida de Tulear, estamos atravessando a temerosa corrente de Agulhas, a cento e cincoenta milhas de Richards Bay, onde chegaremos amanha a noite. Nossa janela foi bem escolhida, e fora a dureza da saida, o resto da travessia foi bastante confortavel.
MATAJUSI Navegation Information:
At 11/5/2012 08:56 (utc), Position was 27°23.62'S 035°38.62'E, Direction was 233T, Speed was 5.4

----------
radio email processed by SailMail
for information see: http://www.sailmail.com