Travessia da Corrente de Agulhas e Primeiros Safáris na Africa:
2012-11-14 Richards Bay, Africa do Sul:
A travessia do canal de Madagascar demorou seis dias, sem grandes problemas para atravessar a corrente de Agulhas que nos ajudou com quase cinco nós de corrente a favor, pondo-nos na entrada do Porto de Richards Bay no final da tarde do dia seis. Chamei o Port Control pelo radio no canal doze, e recebi permissão para entrar na area do porto. Logo em seguida ouvimos o Orca, um veleiro de trinta pés que tomou um knock-down de uma onda maior e perdeu algumas coisas do cockpit para o mar agitado. A apenas seis horas de Richards Bay, eles não puderam atravessar a corrente de Agulhas pois o vento estava de Sudoeste com até cinquenta nós e nessas condiçoes as ondas podem chegar a trinta metros, então tiveram que desviar para Moçambique e velejar outras seissentas milhas para esperar o tempo melhorar. Eles estavam logo à nossa frente, e combinamos de parar lado a lado na parede do International Quay. Ficamos assim até ontem a tardezinha, pois vamos partir para Durban hoje e eles sairam para os safaries hoje pela manha, entao rearranjamos os barcos para ficarmos prontos para zarpar hoje as dezesseis horas. São noventas e tantas milhas até Durban, e com a corrente ajudando, estimamos fazer em menos de doze horas, planejando chegar lá entre seis e oito da manha de amanha.
O Fred do Estrela do Mar, um brasileiro que vive em Durban vai estar nos esperando para nos guiar até o lugar na marina onde o barco dele fica. Temos varios serviços no barco agendados para fazer em Durban, pintar novamente o fundo, polir o barco todo, trocar o helice fixo de duas pás pelo KiwiProp, mais leve, com tres pás, e que abre as pás para diminuir o arrasto enquanto velejando. Isso vai contar bastante durante a travessia do Atlantico. Chamei o tecnico da Raymarine para ver porque o profundimetro desliga do sistema E80, uma praga que estamos vivendo desde a Nova Zelandia. A geringoncia só funciona quando quer, e nunca quando precisamos! Enfim, vamos deixar o barco bonito de novo, com nome refeito, brilhando, para chegarmos no Brasil com o mesmo barco que saimos, novinho saido da forma, mas agora com uma bagagem imensa de memorias e experiencias, depois das mais de trinta mil milhas navegadas desde que saimos com ele de Joinville, onde foi construido.
Safaris com adrenalina!
As principais razões de virmos para Richards Bay foram a facilidade de dar entrada na Africa do Sul, e a proximidade com varios parques dessa parte da Africa. Temos o Thula Thula a apenas quarenta e cinco minutos de carro da marina, o iMfolozi e Hluhluwe a duas horas a Norte daqui, e o Lake St Lucia com seus hipopotamos e crocodilos, e passamos os ultimos tres dias visitando esses parques.
Thula Thula:
Alugamos um carro juntos com o Henrick e a Mala do Scorpio, com ele dirigindo, e fomos primeiro passar o dia no Thula Thula, um parque particular de quarenta e cinco mil hectares, com os animais vivendo livres pelo parque, cercado com cerca eletrica. Os animais procurados por caçadores ilegais pelos seus chifres e outras partes acreditadas com alguns poderes de cura, sempre protegidos vinte e quatro por sete por guardas armados. Chegamos cedo para o café da manha no parque, acompanhados por macacos ladrões que não disperdiçavam uma oportunidade de tirar algo da mesa ou mesmo da sala onde o cafe estava servido. Depois do café fomos para a caminhonete de safari, aberta, com tres assentos altos e cintos de segurança para os turistas não cairem nas sacudidas causadas pelas trilhas mais desniveladas. Os primeiros animais avistados foram os Impalas, sempre em abundância em todos os parques, e chamados de hamburger da Africa, por serem o prato preferido dos carnivoros. Em seguida, de longe, ja avistei os elefantes. Durante todos os safaris que fizemos, quem mais avistava animais era sempre eu, com meus olhos treinados pelo incentivo do meu saudoso pai, quando eu ainda era criança e íamos caçar de estilingue. Estranhamente, ou não, me sinto mais no meu habitat natural quando estou em lugares como esses, tanto que, um dos lugares da nossa volta ao mundo que mais me atraiu foi Vanuatu, onde a vida ainda é selvagem, onde o homem sai para caçar e trazer comida para a familia.
De volta para o safari, seguimos os elefantes até chegarmos bem proximos de dois machos e por ali ficamos um pouco, curtindo a presença desses outros habitantes do nosso planeta. Por ali vimos mais impalas, alguns wilderbeasts, kudus, babuinos, e algumas aves. Proxima parada foi para ver porque um Ganso Egyptian estava se arrastando por terra. Paramos e o nosso motorista chamou um guarda-parque que estava pelas imediaçoes, que chegou e logo agarrou o ganso, notando que ele tinha um arame farpado enrolado em uma das suas patas, provavelmente brincadeira de algum nativo local que tentou domesticar essa ave selvagem, ou simplesmente usa-lo como decoy para atrair outros, sabe-se lá. Arame retirado, ganso solto, e fomos procurar mais animais, logo vendo na distancia as cabeças salientes das girafas sobre a copa das arvores. No caminho para onde vimos as girafas, passamos por um grupo de zebras e logo adiante chegamos onde as girafas estavam, um grupo com umas oito girafas, mas com dois bebês-girafas de alguns meses. Tiramos muitas fotos e uma em particular com quatro girafas, duas a duas, formando o M do Matajusi que depois posto no blog.
Ficamos por um tempo perto desses animais gentis e curiosos, que nos olham tanto quanto nós olhamos para eles, depois seguindo para onde o motorista ouviu que estavam os rinocerontes. Não conseguimos chegar muito perto e só conseguimos ver um, sempre acompanhado do guarda-parque armado para defendê-lo contra caçadores de chifres. De lá fomos a uma area alagada onde vimos alguns crocodilos, tartarugas e um lagarto de agua.
iMfolosi & Hluhluwe:
E assim foi nosso primeiro safari na Africa, retornando para Richards Bay para jantar e dormir no barco e partir cedo na manha seguinte para os parques de iMfolozi e Hluhluwe. Esses dois parques ficam a umas duas horas de carro de Richards Bay, assim partimos as seis e meia da manha para chegar la ainda sem sol muito forte, aumentando nossa probabilidade de ver animais antes deles se esconderem do calor dentro de florestas e areas densas de vegetaçao. No caminho, uma serie de coincidencias que promoveram nos perdermos por um tempo, indo parar em uma agregaçao religiosa africana, abarrotada de carros e gente, e nós, os unicos quatro brancos em muitos quilometros a nossa volta! Aconteceu porque, em uma area onde a estrada estava em conserto, seguimos o fluxo de carros que viraram para o que parecia ser um retorno, mas na verdade era essa congregação religiosa. Eu não percebi, pois o GPS apontava para um Z na estrada exatamente onde saimos com os outros carros. Outra coincidencia foi o conserto na estrada exatamente nesse ponto, dando a impressão que não se podia ir em frente. Enfim, meia hora depois, voltamos a seguir a estrada correta, chegando no primeiro parque lá pelas nove e meia da manha.
Ali mesmo decidimos pernoitar no HillTop Hotel, dentro do Hluhluwe, e por pura sorte, tinha um chale que estava disponivel, pois nessa epoca do ano estao sempre lotados. Com o hotel garantido, seguimos pelo parque adentro onde fui logo avistando e reconhecendo animais africanos. Como sempre, Impalas e Gazelas sempre abundantes, mas logo vi um grupo de babuinos andando perto da estrada, paramos para umas fotos. Em seguida, avistei dois rinocerontes, abundantes nesses dois parques. No final da nossa visita tinhamos visto uns trinta rinocerontes! Seguindo, consegui ver um desses lagartos de cabeça verde, que fica balançando a cabeça, mas fui o unico que conseguiu ver, então tirei fotos para mostrar depois. Mais alguns rinos e consegui ver dois leões em cima de uma arvore meio distante, com mais uma fêmea no chão. Dos big five, ja tinhamos visto dois! Rinos e leões! Esses parques são abundantes em animais africanos, e foi um animal depois de outro o dia inteiro. Antilopes de muitos tipos, porcos selvagens, zebras, elefantes, mais babuinos, mais rinos, mas dessa vez bem de perto, pois, sempre abusando, desci do carro e entrei no mato para ver de perto quatro Rinos que estavam deitados em um buraco de agua. Olhei bem e fui com cuidado e com todos os sentidos em alerta, mas a unica coisa que vi, na verdade ouvi, foi um guarda-parque gritando dizendo que eu não podia sair do carro! Fiquei mais preocupado com os rinos, que ouvindo o barulho ficaram mais atentos e em alerta. Voltei de mansinho para o carro e seguimos com o safari.
Wahlberg's eagle, Helmeted Guinefowl, Hamerkop, Crested Francolin, Black Crake, African Fish Eagle, Hadedah Ibis, Woolly-necked Stork, Black-Headed Oriole, Cape-Turtle Dove, African Hoopoe, Thumpeter Horbill, Village Weaver, White-Browed Scrub-Robin, foram alguns dos passaros avistados e reconhecidos usando os livros de passaros africanos.
Continuamos avistando muitos animais, até encontrarmos um bando grande de elefantes, metade de um lado e a outra metade do outro lado da estrada de terra que usávamos. Paramos o carro, e eu sugeri ao Henrick para ficar atento, pois tem um numero razoavel de incidentes entre elefantes e visitantes desses parques. Dito e feito, uma fêmea que estava muito perto começou a demonstrar desconforto. Eu percebi e avisei o Henrick para ficar esperto. Logo em seguida ela atacou! Gritei para o Henrick, GO! GO! GO! Ele acelera tudo e solta a embreagem em primeira... ou seja, não fomos a nenhum lugar e ficamos patinando os pneus dianteiros fazendo um pó tremendo, e isso, assustou a elefoa, que foi para um lado enquanto nós fomos para outro... Ufa! Essa foi por pouco!
Um pouco mais adiante e já entrando no entardecer, ou seja, hora de carnivoro sair para a caça, encontramos um buraco de agua, onde animais se agregam para beber no final do dia, e carnivoros se escondem por perto para caçar sua janta. Saimos da estrada e entramos nessa area, cheia de grandes buracos, e o Henrick distraido, acabou caindo dentro de um! Rapidamente olhei em volta e nao vendo carnivoros pedi para todos sairem do carro para eu tentar tirar o carro de lá, mas em vão, as duas rodas da frente estavam completamente no ar, e o carro preso pelo chassi, não parecendo possivel sair de lá sem ajuda. Mesmo assim não desisti e pus todos a empurrar o carro para trás, o que conseguimos fazer um pouco, mas não o suficiente para ele sair do buraco. Entao pus a Lilian dentro, marcha-a-ré engatada, com instruçao de soltar devagar a embreagem enquanto todos nós do lado de fora empurravamos o carro, e isso funcionou! Ufa! De novo! Ja estava pensando nos head-lines locais: "casais estupidos saem do carro em water-whole e são comidos por leões!".
Vimos também alguns búfalos, animais responsaveis pelo segundo maior numero de mortes de humanos na Africa, mas esses não nos deram muita atençao. Nessa altura ja tinhamos visto quatro dos grandes cinco africanos, só faltava agora um leopardo.
Ja anoitecendo fomos para o hotel, nos ajeitamos no chale que reservamos e fomos jantar.O chale tem dois quartos, um em cada extremo, com uma sala e cozinha no meio, facil de fazer a nossa própria comida, mas cansados, o buffet do hotel foi uma opçao bem mais confortavel, e saborosa.
Dormimos bem, levantamos, tomamos um otimo café da manha, e fomos ver o parque de Hluhluwe que fica ao norte do iMfolozi. Esse parque tem mais florestas do que savanas, e em florestas fica muito mais dificil ver animais, mas mesmo assim consegui ver antilopes, porcos selvagens, mais rinos, girafas, e finalmente, demos de cara com um bando de bufalos! Eles se assustaram e formaram a frente usual de combate a inimigos, e nós ficamos prontos para cair fora se algum atacasse. Mas eles mantiveram distancia confortavel e ficamos um tempo por ali para tirar boas fotos.
Lake Sta Lucia:
Com isso encerramos nossa visita a esses dois parques, e rumamos para o Lago St Lucia, que tem hipopotamos e crocodilos vivendo soltos. Mais umas duas horas de carro com o Henrick dirigindo e chegamos a St Lucia. Fomos a pé ver os hipos e crocs, mas como eles estavam do outro lado do alagado que por ali passa, demos a volta e fui chegando perto, até que um macho grande resolveu mostrar quem mandava por ali, e por que os hipos são o animal que mais causam mortes humanas na Africa, e levantou me encarando, como dizendo, vai abusando, vai?! Não abusei mais e depos de umas fotos, fui retrocendendo calmamente, o que tranquilizou o bando.
Logo em seguida avistei um saltie, crocodilo de agua salgada, que também parecia ter os olhos fixos em mim, e decidi voltar para areas mais tranquilas...
Hoje estamos zarpando para Durban, pois ja fizemos o que viemos fazer em Richards Bay, uma area que lembra muito a Florida, pelas planicies, construçoes, estradas, areas populadas e shopping centers. Bom provisionamento, barco lavado de graça, pois ficamos na parede que pertence à cidade e não à marina, que supre agua e eletricidade de graça. Eu quase nunco ligo em eletricidade de cais, pois o barco é tão bom em energia solar e baixo consumo que nunca precisamos ligar em tomada de cais. Estamos saindo em 30 minutos.
MATAJUSI Navegation Information:
At 11/16/2012 06:59 (utc), Position was 29°51.87'S 031°01.51'E
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