Acho que posso dizer que minhas experiências com o Matajusi tem sido, ao mesmo tempo que extremamente prazerosas, também bastante frustrantes.
Prazerosas porque tenho saído com o barco quase todos os fins de semana e algumas vezes, durante a semana, recebendo convidados, velejando às vezes até por cinco dias diretos.
Frustrantes porque o volume de coisas a fazer e os problemas com componentes já instalados é enorme e parece crescer a cada semana e, com isso, os testes que estavam programados para os primeiros 12 meses depois do lançamento do barco, que já estavam comprometidos pelo atraso na entrega da embarcação, vão ficando cada vez mais atrasados em relação à minha saída estimada para entre a última semana de Novembro e a segunda semana de Dezembro de 2007.
Mas, vamos cuidando do que dá para cuidar e aprontando o barco para os próximos testes.
Fizemos a primeira manutenção no motor, e ficamos surpresos com um custo na ordem de R$1.300,00. Se cada manutenção tiver um custo desses, vale mais a pena fazermos um curso de mecânico desse motor e fazermos nós mesmos as manutenções, o que no fim, vai ter que ser a solução mesmo, pois se algo acontecer durante uma travessia longa, essa seria a única saída.
Já tive meu primeiro teste de conhecimento do motor, quando, na manutenção do filtro Raccor, devo ter encostado na chave de passagem do combustível e essa ficou meio fechada, o que cortou o óleo do motor e deve ter criado bolhas de ar em algum lugar. Notem que isso aconteceu na entrada do canal de Santos, na única vez que vi dois navios saindo juntos, com um ultrapassando o outro, e tomando o canal inteiro. Meu convidado Paulo Fax ficou controlando o barco na vela enquanto eu fui procurar o problema. Encontrei a chave meio fechada, abri corretamente, e tentamos ligar o motor. Como não ligou, fui atrás da bombinha de sangria de ar do motor que tinha ficado bem escondida atrás da mangueira do escapamento. Lembrei da instrução do mecânico que veio fazer a manutenção do motor e segui a linha de alimentação, encontrando a bombinha e bombeando até o motor pegar. Viu? É fácil!
Em uma foto foi tirada por um amigo que passava por Santos ele notou o Matajusi na água. Isso foi logo depois que consegui consertar o problema de ar no motor.
O consumo de diesel tem sido na ordem de 3 litros/hora a 2.500 RPM. Com o tanque original cortado para dar espaço ao armário da cozinha e reduzido de 160 para 100 litros, temos autonomia de 33 horas, que na media de 6 nós, nos permite motorar em torno de 200 milhas nesse tanque. Estamos instalando dois tanques adicionais de 150 litros cada, aumentando assim nossa autonomia no motor para 600 milhas. Acreditamos que o consumo deva cair na medida em que o motor vai amaciando, podendo chegar a 2 litros/hora.
Já completamos as almofadas a um custo na ordem de R$2000 e isso proporcionou velejadas bem mais confortáveis. Só estão faltando as almofadas dos assentos do piloto que estão esperando a finalização das novas cadeiras de púlpito e guarda-mancebos de popa para finalizarmos com a altura das costas corretamente ajustadas.
A targa ficou muito bonita e diferenciada de outras targas que tenho visto, pois preferimos manter as linhas arredondadas do barco e assim ferir menos a estética da estrutura. Para compensar a curva do topo, estamos desenvolvendo seis pezinhos que receberão uma plataforma retangular que suportará as placas solares, antenas e o que mais for instalado nessa área. Usamos somente aço inox 316l para todos os componentes de aço incluindo targa, pega-mãos em áreas necessárias, estrutura do dog-house e protetor da antena do radar. O custo arredondado da targa está na ordem de R$10.000. Os outros componentes ainda estão na fase de aprovação de orçamento.
Vamos instalar uma portinhola de cada bordo para facilitar entrada e saída do barco quando atracado.
Agora estamos trabalhando nos toldos e capas. Um problema a ser resolvido com os toldos é a exposição das gaiutas na chuva, pois nenhuma gaiuta pode estar aberta porque a água entra a vontade. A solução é se construir toldos que protejam as áreas das gaiutas da chuva quando o barco está parado. Tivemos a idéia de usar o pau de spinaker adaptado entre o mastro e a panela do enrolador da genoa como suporte central do toldo de proteção das gaiutas da proa e isso funcionou muito bem. O toldo de popa será montado em cima da retranca, que sustentada pelo burro, dispensa o uso do amantilho. O custo de todos os toldos e capas está na ordem de R$5000.
Trabalhamos bastante no ajuste das velas, com a diminuição da altura e acertos na esteira da genoa e a inclusão de uma argola para substituir o laço original, para dar maior resistência a vela. Todas as adriças e escotas foram rearranjadas para coincidir exatamente com a passagem delas pelo mastro e assim reduzir o desgaste desnecessário desses cabos.
Trouxemos o ajuste do burro para os mordedores do cockpit, evitando assim a ida até o mastro para ajustar o burro. Reajustamos também o lasy-jack para que ele abraçasse a mestra na área onde ela se acumula quando baixada, pois, muito da vela, mesmo com o lasy-jack instalado, caía no cockpit.
Estamos agora praticando com a nova genaker, que, modéstia a parte, ficou muito linda e não me canso de olhar para ela armada, ficando curioso de como ela se parece vista de fora do barco, pois ainda não tenho uma foto desse ângulo para apreciar. O custo da genaker esta na ordem de R$5000, com outros R$1200 de cabos e moitões.
Fizemos uma revisão geral dos componentes do mastro e notamos que estamos sem luz de alcançado e que as luzes de navegação não são em led e, portanto consomem muito mais do que preciso. Cada luz de led usa 0,2 amperes/hora, contra dois de uma lâmpada comum, ou seja, uma economia de 90%. Vamos trocar por uma Optolamp com estrobe na revisão de garantia.
Temos medido o consumo de quase todos os componentes elétricos do barco e já temos uma boa idéia da nossa necessidade de energia para cruzeiro a vela. Notamos que os bancos de baterias não estão funcionando conforme nossa especificação, mais um item a ser revisado.
O problema da água brotando a bordo continua, agora em escala muito menor, e temos ainda encontrado problemas na instalação das mangueiras. Na última revisão, retirei as braçadeiras que estavam muito apertadas, já cortando os tubos de borracha e cortei as pontas, usando fita isolante embaixo das braçadeiras para evitar o problema de corte dos tubos no aperto.
A cabine de popa de boreste já foi desmontada e utilizada como paiol e é incrível a quantidade de tralha que vai se acumulando por lá! A medida que vamos testando o barco vamos também testando a necessidade de toda a tralha que vai se acumulando nele, aí podemos decidir o que vai e o que fica. Com o peso extra, já notamos um rendimento menor na ordem de um nó, tanto no motor quanto a vela.
O barco tem resistido muito bem à infiltração de água de chuva, e o único vazamento notado, esta dentro do painel de eletricidade, bem em cima do modulo DSM 300 da sonda. Lei de Murphy! Mas, evitamos maiores problemas com a instalação de um plástico que direciona o vazamento para o piso do painel, sem deixar a água passar pelas conexões elétricas.
E por falar em Murphy, o suporte de radar basculante que trouxemos dos EEUU, veio defeituoso, pois o radar está se movimentando livremente no eixo ao invés de lentamente. Isso pode danificar a antena. Mas, mandamos um e-mail para o fornecedor e, que surpresa agradável, o dono da fabrica ligou dos EEUU para o meu celular para oferecer de me mandar uma outra peça para eu testar, e se estiver boa, eu mando a minha de volta para ele, a custo dele! Fica aqui uma idéia de suporte de categoria de primeiro mundo para os nossos fornecedores locais.
Temos procurado por itens de alta manutenção, e achamos que o speedometer instalado no pé do mastro, vai ser um desses itens que vão dar mais trabalho do que serem úteis. Esse equipamento é altamente sensível à instalação de cracas e simplesmente deixa de funcionar. Em dois meses, isso já aconteceu duas vezes. O problema é que parece que muitas das variáveis disponíveis no sistema Raymarine E80 dependem da leitura de velocidade por essa roldaninha que fica abaixo do casco e deixam de funcionar. Acho que a melhor opção seria se a velocidade pudesse também ser obtida pelo SOG do GPS. Vamos discutir essa situação com o pessoal da Marine Express.
Por falar em Marine Express, eles têm dado bastante apoio no acerto dos equipamentos instalados, mas, conseguir tempo de alguém com conhecimento de tudo que foi instalado é um problema sério e continuamos com alguns problemas que ainda não encontramos ninguém com conhecimento suficiente para corrigir. O pior problema é conseguir que o E80 fale com o RayTech no notebook. Isso é necessário, pois só instalei monitor do lado de fora, contando que o notebook seria minha forma de acessar os eletrônicos dentro da cabine, então, estamos sem esse acesso até o acerto dessa conecção pelo pessoal da Marine Express. Outro problema é entender o grego que esta escrito no menu do Prosine! Sem entender, não conseguimos definir o tipo de bateria que temos para o Prosine carregar de forma inteligente.
A geladeira tem um consumo médio de 4,5 amps mas notamos que está muito mal vedada e com nenhuma proteção térmica. Vamos consertar esse problema na revisão de garantia e ver se conseguimos diminuir o consumo.
As pias da cozinha hoje só tem água por pedais, mas vou instalar a opção de ter água a bomba de pressão também, para quando estivermos em marina e utilizando conecção elétrica e portanto carregador, podermos lavar pratos sem ter que pedalar.
A água quente está excelente, principalmente agora com o tempo esfriando. A água permanece quente depois de uma motorada por algumas horas, não sendo preciso ligar o boiler.
Temos testado o bote de apoio, um Flexboat Miniflex S, e estamos satisfeitos com a versatilidade de um bote dobrável que pode ser guardado no paiol ao invés de ficar tomando espaço, onda e sol no convés, mas preocupados com alguns problemas que percebemos com o espelho de popa dobrando quando aceleramos o motor de apoio, um Mercury 5HP. Principalmente em condição de vento e ondas contra, ou muita corrente de maré, vamos precisar da força do motor, e se o espelho de popa dobrar ao invés do motor empurrar para a frente, vai empurrar para cima. Temos conversado com a Flexboat sobre esse problema e estamos marcando um teste com eles em uma represa próxima a fabrica da Flexboat em Atibaia, SP.
Nesse momento estamos esperando a finalização da targa e a instalação do dog-house, almofadas, toldos e capas antes de marcar a volta do Matajusi à ILS em Joinville para os acertos de itens de garantia e complementação da instalação das velas de tempestade e tanques sobressalentes.