terça-feira, agosto 04, 2009

De volta a Fatu-Hiva:


Ancorado em Fatu-Hiva

No nosso ultimo dia em Hanamoenoa, aproveitamos que a ancoragem estava calma e fomos fazer uma limpeza das cavernas do barco. Tiramos todos os pisos e fomos limpando e secando todas elas. Tive uma nova surpresa quando, aproveitando que estava tudo aberto, fui verificar o aterramento do mastro na quilha, pois sempre vi o fio que estava preso ao pé do mastro, mas nunca vi onde ele estava conectado na quilha, e não deu outra! Não estava! Eu sei que não adianta bater em cavalo morto, mas o serviço porco continua aparecendo! Achei dois problemas, um que o fio que foi usado era fino demais para agüentar uma descarga elétrica no mastro, e outro que o fio estava conectado somente ao terra das baterias de serviço. Estava claro que o eletricista que montou pensou em conectá-lo em um dos parafusos da quilha, pois ele havia descascado o fio e estanhado a parte que ele descascou, mas, simplesmente esqueceu de conectar a um parafuso da quilha! Se o barco tivesse sofrido uma descarga elétrica de um raio, teria queimado tudo que estava conectado as baterias!!! Troquei o fio por um fio de bateria, conectei entre uma porca e contra-porca de um dos parafusos da quilha, e conectei as duas pontas do fio ao pé do mastro.

Nos despedimos de Hanamoenoa e velejamos para Vaitahu, a menos de duas milhas de distancia. Usei somente a genoa, pois queria testá-la depois dos ajustes que fiz com o Etienne no estaiamento. Ancoramos no mesmo lugar que havíamos ancorado na nossa primeira parada por aqui, e fomos para a cidade de botinho para fazer compras e caminhar um pouco.

Parar o botinho em Vaitahu é sempre um desafio, pois não tem quebra-mar e o mar entra de frente no píer de concreto e pedras da cidade, então levamos uma ancora e um cabo maior para amarrar no cabo do botinho e deixá-lo ancorado, mas amarrado em terra. Essa é sempre uma operação complicada, pois se joga a ancora a uma distancia segura das pedras, e vamos esticando com o motor ate chegarmos próximo ao píer. Chegando lá, a Lilian desce com o cabo longo e eu fico segurando o bote no motor. Quando ela esta segura em terra, eu tiro o motor, ajusto o cabo da ancora para o bote não encostar nas pedras, e passo para terra, amarrando o cabo de terra de uma forma tal que deixa o bote livre para boiar longe das pedras.

Primeiro enchemos uns doze garrafões de plástico de água, pois a água de Vaitahu é boa para beber e levamos de volta ao Matajusi, depois retornamos para as compras. Existem dois mercadinhos em Vaitahu, mas o segundo é um pouco mais barato, então fomos para lá. Fizemos uma boa compra, que paguei com cartão de credito, pois desde que chegamos, nunca trocamos dólar por francos polinésios, então não temos dinheiro que seja aceito aqui. Deixamos as compras no próprio mercado, que fecha as cinco e meia da tarde, e fomos caminhar. Caminhamos bastante, até o alto do morro que cerca a baia da aldeia, onde tem uma cruz com uma estatua de alguma Nossa Senhora. No caminho, vimos cabras selvagens, e um pé de mamão do mato carregado de mamão verde. Cortei três, que embrulhei em folhas de bananeira, e pus nas sacolas que sempre carregamos quando vamos para vilarejos, pois sempre tem alguma coisa que trazemos de volta. Retornamos ao mercadinho para pegar nossas compras e voltamos ao barco para prepará-lo para a viagem de volta a Fatu-Hiva, onde íamos nos encontrar com o Gabian novamente, antes de partirmos para as Tuamotus.

No dia seguinte, com vento forte, saímos para Fatu-Hiva. Ventou entre vinte e trinta nós o caminho todo, mas eu mantive pouca vela para não ter que brigar muito com o vento. Fizemos o caminho em oito horas, e teriam sido seis horas e meia se o ângulo do vento tivesse permitido uma rota direta. A rota direta estava com vento de vinte e cinco graus, e eu fui a quarenta graus do vento para manter o barco equilibrado. Regulei o piloto para seguir o vento a quarenta graus e fiquei só na observação das velas, mastro, estais e brandais. Percebi que tenho que ajustar o estaiamento um pouco mais, pois achei os brandais de sota (lado onde o vento sai) um pouco frouxos. Chegamos a Hanavave em Fatu-Hiva e ancoramos do lado do Gabian, que estava amarrado na poita da cidade, pois não havia conseguido firmar a ancora em três tentativas. Joguei a ancora Bruce bem próximo ao lugar que já havia ancorado antes e ela segurou bem.

Ficamos fazendo manutenções no barco e preparando roupas para lavar e a noitinha fomos jantar no Gabian a convite da Chantal. Ela havia preparado um lombo de porco há uns meses atrás e posto em vidro de conserva, aliás, uma técnica que temos que desenvolver ainda no Matajusi, pois permite conservar carnes e peixes já preparados por vários anos, fora da geladeira. Estava delicioso!

No Domingo, fomos para a cidade fazer trocas. Levei uma corda extra que não uso no barco e troquei por um TIKI de madeira rosa, muito bonito. Mas isso não é o mais importante, o mais importante é que, um dos pahus (tambor marquesan) usados nas festividades locais, vai ter um pedaço do Matajusi por muito tempo. Os próximos brasileiros a passarem por Fatu-Hiva, e tiverem a sorte de presenciar uma dança local, notem se a corda de um dos pahus é verde com pontos pretos, se é, esse é o pedaço do Matajusi que ficou em Fatu-Hiva.

Como já havíamos estado aqui antes, muita gente já nos conhecia, então, éramos parados com freqüência nas ruas por conhecidos nossos que estavam curiosos de ver-nos de volta, uma prática não muito comum por aqui. Nisso, um dos nossos conhecidos, o Steve, casado com a Delia, pediu para ver os óculos da Lilian e disse que queria trocar por alguma coisa deles, então a Delia levou a Lilian para a casa deles para escolher objetos de trocas. No final, a Lilian trocou o óculos por um TIKI fêmea, e um par de brincos, um colar e um outro óculos escuro por um TIKI macho e uma jamanta, todos esculpidos em madeira rosa.

A noite, preparei pela primeira vez uma torta de polvo, por falta de nome melhor, e levamos para o Gabian para comer junto com o Etienne e a Chantal. Estava delicioso! Lembro que um dos melhores polvos que já comi foi feito pela Célia, mulher do falecido Totó de Ilha Bela. Ela preparou um polvo dentro de uma forma com purê de batata, e eu tentei imitar o que eu lembrava daquela vez. Ficou mesmo muito bom. Já passei minha receita de polvo, agora é só preparar o polvo, cortar em pedacinhos e por dentro de uma forma com batata amassada por todos os lados. Leve ao forno e deixe esquentar novamente.

Na segunda-feira, fomos cedo com o Etienne e a Chantal, para a cachoeira, e levamos uma rede fina para pescar pitus. Chegando lá, ficamos surpresos de ver pouca água caindo do céu, bem menos do que da ultima vez que por aqui estávamos, mas logo nos pusemos a pescar pitus. Pegamos uns trinta, com uns dez grandes. Tinha também uma enguia, que atacou o pau que eu estava usando para dirigir os pitus para a rede. Peixe estranho... Umas três vezes que chegou mais perto de mim dei um golpe de facão bem na cabeça dela, mas não matou, e ela ficou por ali vendo se conseguia pegar o dedo de alguém...

Na volta da cachoeira, colhemos bananas e côcos, e quase colhi um galo selvagem! Havíamos perguntado para nossos amigos da aldeia se era permitido para um estrangeiro caçar um galo selvagem, que são abundantes por aqui, e eles responderam que não tinha problema, se eu conseguisse caçá-lo, então, sem um estilingue ou espingardinha de chumbo, fui de facão atrás de galinhas e galos que via pela mata. Uma galinha nos surpreendeu, pois voou alto e longe, como um jacu. Já os galos voavam curto, pois são pesados. Consegui me aproximar bem de um galão vermelho, e a uns três metros de distancia, atirei o facão nele. Não sei como não peguei, pois o facão bateu bem onde ele estava. Atirei com tanta força que quebrou o cabo do facão e entortou a ponta. O galo deu um pulo alto, e voou uma curta distancia, depois sumiu. Chequei o facão, depois que consegui encontrá-lo no mato alto, por sinais de sangue ou pena, mas não vi nada. Bom, fica para a próxima...

Na volta para a aldeia, paramos na casa do Francis, um caçador local que caça todas as semanas. Eu estava com muita vontade de experimentar um porco selvagem, e queria ver se ele tinha e se trocava por algo que eu tivesse no barco. Ele tinha um pernil de bom tamanho, caçado no Sábado passado, e queria uma garrafa de vinho. Voltei ao barco para pegar o vinho e quando fui de volta à casa do Francis para trocar, ele estava saboreando um pernil de porco feito na churrasqueira. Era muito porco para ele sozinho, então ele simplesmente arrancou com as mãos mesmo um grande naco de carne do pernil e me passou. Que delicia! Era ainda melhor do que eu imaginava iria ser um porco selvagem. Bom, voltei para o barco para um banho, mas antes passei pelo Gabian para deixar o pernil, pois era grande e não cabia na minha geladeira.

À noite fomos de volta para o Gabian, agora para comer um pernil de cabra que a Chantal havia trocado por um vinho. A Chantal cortou o pernil em pequenos pedaços e cozinhou com molho na panela de pressão. Ficou também delicioso! Não podemos reclamar muito da comida por aqui... está ficando cada vez melhor...

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