segunda-feira, julho 08, 2013

Custo de manutenção de motor Yanmar que pode ser evitado!

Vou dedicar essa matéria a alguns dos problemas de manutenção que tive com o motor Yanmar do Matajusi.

Tudo começou, e só foi preciso isso, com uma instalação mal feita pelo estaleiro que fabricou o Matajusi e montou o motor no barco, seguida por uma vistoria mal feita pelo representante Yanmar da região, que não percebeu a montagem errada, e pronto, como “uma coisa leva a outra”, o problema foi aumentando e se agravando até a situação de hoje.

Na instalação inicial do motor feita pelo estaleiro, o cabo de acelerador e engate da transmissão foi montado muito curto. Com isso, todas as vezes que o engate a frente era acionado, não acionava corretamente a transmissão, faltando mais de um centímetro para a transmissão ser acionada na forma como devia, e isso, com o tempo, foi provocando um desgaste desnecessário do cone da transmissão.
Esse problema poderia ter sido evitado, se, primeiro, o estaleiro tivesse montado corretamente o cabo, segundo, se a inspeção da Yanmar tivesse reconhecido o erro e promovido o acerto, mesmo antes de eu receber o barco e motor novos, e terceiro, se eu entendesse alguma coisa sobre isso quando recebi o barco, e por isso escrevo essa matéria, pois muitos serão os novos proprietários que poderão reconhecer esses problemas e ajustarem o cabo de engate antes do problema piorar.
Um problema que na pratica pode ser identificado e corrigido, tendo-se o conhecimento para tal, acabou gerando um custo enorme e desnecessário, acumulado com o risco do motor nos deixar na mão,  e pior ainda se em uma hora onde isso não pode acontecer, ou seja, quando a gente realmente estiver precisando contar com o motor em bom funcionamento. Não adianta o motor ligar e funcionar bem, a transmissão tem que engatar e funcionar bem também para o barco poder ter algum seguimento a motor.

Lembro que em algum momento na nossa travessia pelo Pacifico, comecei a perceber que a velocidade do barco não mais correspondia com a velocidade do motor, ou Rotações Por Minuto do motor (RPM). Primeiro pensei que o hélice ou o eixo estavam soltos, pois não conhecia o sistema o suficiente para poder diagnosticar o que estava acontecendo. O que eu percebia era que o hélice girava mais lento do que deveria estar girando. Para entender melhor, eu olhava no volume de água que era empurrado para trás pelo hélice, para empurrar o barco para a frente, e aquilo não parecia corresponder com o RPM do motor.
Como em travessias usamos o motor somente ajudando o seguimento à vela, sempre em baixa rotação, algo entre 1.200 e 1.800 RPM, pois nessa velocidade o consumo é bem menor  e a distancia que podemos percorrer aumenta bastante. Com os três tanques de diesel do Matajusi, com um total de 330 litros de diesel, consigo fazer algo em torno de mil milhas ajudando o seguimento à vela com o motor.

Minha experiência mostra que o consumo seria na ordem de vinte e cinco litros por vinte e quatro horas de motor, ou seja, pouco mais de hum litro por hora, o equivalente a  um quarto de tanque por dia, o que me daria na ordem de doze dias de ajuda com o motor, que a uma media de cem milhas por dia, ou seja, muito pouco vento a favor ou talvez vento ou  corrente contra, me daria as mil milhas iniciais. Mas, o problema com usar o motor nessa baixa rotação, é que não se percebe quando a transmissão esta patinando, pouco ou muito, pois o barco continua com algum seguimento com o vento ou corrente, dai a importância de se conhecer esse problema para podermos identifica-lo antes do problema piorar a ponto de perdermos qualquer possibilidade de seguimento á motor.

No meu caso, a situação ficava mais complexa pois o barco usava um hélice Kiwi Prop, que se alinhava à agua para diminuir o arrasto quando o seguimento era a vela. Primeiro pensei que o hélice não estava armando corretamente, e cheguei a mergulhar  seguro a um cabo amarrado à proa, com o barco e motor em seguimento, para ver o que acontecia e foi aí que percebi que o problema era que o hélice não girava na velocidade que deveria girar em relação à rotação do motor, somente quando o motor era acelerado, e ai percebia-se um “tum” em algum lugar do sistema,  com o barco voltando a se comportar como deveria.

Sem conhecer ainda o sistema, ficava difícil identificar de onde vinha o  “tum”, e até chegarmos na Nova Zelândia, quando tirei o Kiwi Prop e re-instalei o hélice original do barco, de bronze com duas pás, que percebi, mais isso somente depois de voltar o barco para a água, então resolvi deixar ainda com o “tum” até Fiji, onde tinha outro representante Yanmar.
Em Fiji, conversando com outro navegador que já tinha tido esse problema, aprendi sobre os cones do sail drive da Yanmar, como funcionavam, e os problemas que davam, mas isso, mais comum nos sail drives anteriores ao do Matajusi,que tem o SD50. Escrevi para o David, um amigo da Yanmar de Opua na Nova Zelandia e ele me mandou copia do manual do SD50, com instruçoes de como consertar o problema da derrapagem do cone das rabetas Yanmar (Sleepering Cones). O problema era tão grave nos sail drives anteriores que a Yanmar desenhou um sistema onde o eixo pode ser desacoplado da caixa de transmissão, com um simples soltar de quatro parafusos e empurrar  o eixo para fora do cone, muito simples, e permite que se retire a caixa de transmissão, agora sem o eixo espetado no meio dela. Dentro da caixa de transmissão, fica esse cone, parecido com um ioio de bronze. 

Uma vez retirada e limpa a caixa de transmissão dava para ver o desgaste no cone original, de ficar patinando, e de dar e tomar o tranco ( “tum”) quando a transmissão engatava em maiores rotações do que a de marcha lenta.  Feito isso, levei a caixa inteira para a BaoBab, representante Yanmar em Lautoka, Fiji, e pedi para eles trocarem o cone, pois havia conseguido um novo com meu amigo Mike Dawson do Shellette, que tinha dois de reserva, pois ja tinha passado por esse problema também. Lá eles desmontaram a caixa, trocaram os cones, e me devolveram para eu re-instalar no barco.
Feito tudo isso, a transmissão voltou a funcionar normalmente, ou seja, engatava e não dava o “tum”. Mas, o problema não estava lá, somente a consequência, o problema continuava a ser a do cabo de engate, mas eu não conhecia o suficiente para saber disso. Resultado, não demorou muito e a patinação começou de novo! 

Pensei ter sido um serviço errado na montagem da caixa de transmissão pela BaoBab, mas, resolvi estudar mais profundamente o sistema. Escrevi novamente para o David de Opua explicando a nova situação, e ele então sugeriu olhar no cabo de engate, e dito e feito, foi ai que descobri que eles não estavam ajustados corretamente. Não deu muito trabalho ajustar, foi desmontar os cabos no engate e acelerador no motor, acionar o engate com a mão mesmo, e acionar o cabo em paralelo, fora do engate, para ver se o cabo e o engate acabavam no mesmo lugar, e não acabavam! Faltava pouco mais de um centímetro para o cabo chegar onde o engate chegava! Se eu soubesse disso antes?!  Teria economizado muito dinheiro, tido muito menos problemas, menos preocupações e dores de cabeça, tudo por causa de um centímetro de cabo!

Bom, ajustei o cabo, chequei bem, e o engate voltou a funcionar corretamente, mas, e sempre tem um mas,  como ele havia funcionado errado por um tempo, provavelmente desgastou o novo cone também, pois no meio da travessia do Atlântico, a transmissão começou a patinar pela terceira vês na minha volta ao mundo!

Cheguei em Angra, contratei o pessoal da Náutica Porto Novo, representantes Yanmar para fazer uma revisão completa no motor do Matajusi, e aí vieram as novas surpresas! O acoplador do motor, uma peça que fica entre o volante e a transmissão, estava quase que derretido pelos “tums” que teve que aguentar durante essas trinta e duas mil milhas e mais de quatro mil horas que levaram para eu dar uma volta ao mundo! Isso ia me custar mais uma revisão do motor, não fosse o fato de que, meu motor Yanmar veio com um defeito de fabricação onde o retentor de óleo que fica atras do volante vazava desde novo. Na época, a Yanmar tinha autorizado a troca, mas não tinham tempo de fazer a troca antes de sairmos com o Cruzeiro Costa Leste de 2008 a caminho do norte do Brasil, a acabou ficando sem fazer. Quando separamos o motor da transmissão, para trocar esse retentor, descobrimos o acoplador destruído pelos “tums”.


Moral da historia, tivesse o cabo sido instalado corretamente, ou, tivesse a inspeção de entrega da Yanmar identificado o problema, ou, tivessem todos os outros distribuidores Yanmar ao redor do mundo devidamente reconhecido a origem do problema, ou, tivesse eu todo o conhecimento que tenho hoje sobre esse assunto, e não teríamos tido todo esse custo desnecessário na manutenção do motor do Matajusi. Tomara que essa matéria ajude outros navegadores a reconhecer e sanar esse problema antes de terem o custo por não fazê-lo.

domingo, março 03, 2013

Travessia do Atlantico, dia a dia

terça-feira, janeiro 29, 2013
MATAJUSI Navegation Information:
Nesse dia 1/29/2013 a essa hora 16:42 (utc),
nossa posição é 33°23.96'S 017°40.44'E,
no rumo 308T,
velocidade de 4.7 nós,
vento de NNW de até 10 nós,
ressaca tripla (S, SW, NW) de até 2 mts.
Saímos hoje as 09:00 (UTC+2) de Cape Town
com destino a Sta Helena.
quarta-feira, janeiro 30, 2013
MATAJUSI Navegation Information:
Nesse dia 1/30/2013 a essa hora 12:05 (utc),
nossa posição é 32°09.59'S 015°45.34'E,
no rumo 313T,
velocidade de 6.3 nós,
vento de SW de até 15 nós,
ressaca SW de até 2 mts,
138 milhas percorridas no dia 1 de travessia.
quinta-feira, janeiro 31, 2013
MATAJUSI Navegation Information:
Nesse dia 1/31/2013 a essa hora 09:37 (utc),
nossa posição é 30°43.68'S 013°27.88'E,
no rumo 307T,
velocidade de 6.9 nós,
vento de SW de até 25 nós,
ressaca SW de até 2.5 mts,
164 milhas percorridas no dia 2 de travessia.
sábado, fevereiro 02, 2013
MATAJUSI Navegation Information:
Nesse dia 2/2/2013 a essa hora 07:09 (utc),
nossa posição é 27°07.52'S 010°04.78'E,
no rumo 324T,
velocidade de 6.6 nós,
vento de S de até 20 nós,
ressaca SSW de até 4 mts (estourando na popa!),
145 milhas percorridas no 4 dia da travessia de Cape Town para Sta Helena.
Noite bem dormida para mim, Lilian levou uma onda que molhou tudo!
domingo, fevereiro 03, 2013
MATAJUSI Navegation Information:
Nesse dia 2/3/2013 a essa hora 06:31 (utc),
nossa posição é 25°12.80'S 008°50.84'E,
no rumo 329T,
velocidade de 6.2 nós,
vento de SE de até 20 nós,
ressaca SSE de até 3mts,
133 milhas percorridas no 5 dia da travessia de Cape Town para Sta Maria Helena Perrelli
segunda-feira, fevereiro 04, 2013
MATAJUSI Navegation Information:
Nesse dia 2/4/2013 a essa hora 06:45 (utc),
nossa posição é 23°22.66'S 007°06.08'E,
no rumo 304T,
velocidade de 6.7 nós,
vento de SE de até 30 nós,
ressaca SSW de até 5mts,
148 milhas percorridas no 6 dia da travessia de Cape Town para Sta Helena.
terça-feira, fevereiro 05, 2013
MATAJUSI Navegation Information:
Nesse dia 2/5/2013 (mm/dd/yyyy) a essa hora 06:32 (utc),
nossa posição é 21°51.58'S 005°07.40'E,
no rumo 276T,
velocidade de 5.3 nós,
vento de SE de até 20 nós,
ressaca (tripla) S/SE/SW de até 7mts,
150 milhas percorridas no 7 dia da travessia de Cape Town para Sta Helena.
700 milhas para Sta Helena,
quarta-feira, fevereiro 06, 2013
MATAJUSI Navegation Information:
Nesse dia 2/6/2013 (mm/dd/yyyy) a essa hora 04:52 (utc),
nossa posição é 20°48.96'S 003°16.60'E,
no rumo 299T,
velocidade de 5.3 nós,
vento de SE de até 12 nós,
ressaca SE de até 2mts,
140 milhas percorridas no 8 dia da travessia de Cape Town para Sta Helena.
590 milhas para Sta Helena,
quinta-feira, fevereiro 07, 2013
MATAJUSI Navegation Information:
Nesse dia 2/7/2013 (mm/dd/yyyy) a essa hora 06:32 (utc),
nossa posição é 19°36.21'S 000°57.55'E,
no rumo 298T,
velocidade de 5.8 nós,
vento de SE de até 15 nós,
ressaca SE de até 2mts,
140 milhas percorridas no 9 dia da travessia de Cape Town para Sta Helena.
435 milhas para Sta Helena,
sexta-feira, fevereiro 08, 2013
MATAJUSI Navegation Information:
Nesse dia 2/8/2013 (mm/dd/yyyy) a essa hora 08:32 (utc),
nossa posição é 18°14.54'S 001°30.40'W,
no rumo 300T,
velocidade de 6.2 nós,
vento de SE de até 15 nós,
ressaca SE de até 2mts,
140 milhas percorridas no 10 dia da travessia de Cape Town para Sta Helena.
273 milhas para Sta Helena,
sábado, fevereiro 09, 2013
MATAJUSI Navegation Information:
Nesse dia 2/9/2013 (mm/dd/yyyy) a essa hora 08:50 (utc),
nossa posição é 17°00.64'S 003°42.85'W,
no rumo 300T,
velocidade de 5.6 nós,
vento de SE de até 12 nós,
ressaca SE de até 1,5mts,
143 milhas percorridas no 11 dia da travessia de Cape Town para Sta Helena.
134 milhas para Sta Helena, chegamos amanha cedo.
Tudo bem a bordo.
segunda-feira, fevereiro 11, 2013
MATAJUSI Navegation Information:
Nesse dia 2/11/2013 (mm/dd/yyyy) a essa hora 03:52 (utc),
nossa posição é 15°55.55'S 005°43.57'W,
no rumo 008T,
velocidade de 0.0 nós,
vento de E de até 12 nós,
ressaca E de até 0,2mts,
147 milhas percorridas no 12 dia da travessia de Cape Town para Sta Helena.
Chegamos a Sta Helena.
sexta-feira, fevereiro 15, 2013
MATAJUSI Navegation Information:
Nesse dia 2/15/2013 (mm/dd/yyyy) a essa hora 09:08 (utc),
nossa posição é 16°03.74'S 007°59.58'W,
no rumo 265T,
velocidade de 5.7 nós,
vento de SE de até 12 nós,
ressaca SE de até 2 mts,
133 milhas percorridas no 1 dia da travessia
de Sta Helena ao Bracuhy, Angra dos Reis, Brasil.
sábado, fevereiro 16, 2013
MATAJUSI Navegation Information:
Nesse dia 2/16/2013 (mm/dd/yyyy) a essa hora 09:01 (utc),
nossa posição é 16°36.75'S 010°10.34'W,
no rumo 252T,
velocidade de 4.5 nós,
vento de SE de até 15 nós,
ressaca SE de até 2 mts,
133 milhas percorridas no 2 dia da travessia
de Sta Helena ao Bracuhy, Angra dos Reis, Brasil.
domingo, fevereiro 17, 2013
MATAJUSI Navegation Information:
Nesse dia 2/17/2013 (mm/dd/yyyy) a essa hora 08:34 (utc),
nossa posição é 17°12.23'S 012°25.25'W,
no rumo 264T,
velocidade de 6.3 nós,
vento de SE de até 15 nós,
ressaca SE de até 2 mts,
136 milhas percorridas no 3 dia da travessia
de Sta Helena ao Bracuhy, Angra dos Reis, Brasil.
Conectar no Sailmail esta cada dia mais dificil.
Estamos no SSB 8143 todos os dias as 08:00 e 18:00 UTC.
segunda-feira, fevereiro 18, 2013
MATAJUSI Navegation Information:
Nesse dia 2/19/2013 (mm/dd/yyyy) a essa hora 03:10 (utc),
nossa posição é 17°41.89'S 016°58.20'W,
no rumo 265T,
velocidade de 6.2 nós,
vento de SE de até 32 nós,
ressaca SE de até 2.5 mts,
144 milhas percorridas no 4 dia da travessia
de Sta Helena ao Bracuhy, Angra dos Reis, Brasil.
terça-feira, fevereiro 19, 2013
MATAJUSI Navegation Information:
Nesse dia 2/19/2013 (mm/dd/yyyy) a essa hora 15:52 (utc),
nossa posição é 17°48.34'S 018°18.97'W,
no rumo 266T,
velocidade de 5.7 nós,
vento de SE de até 32 nós,
ressaca SE de até 2.5 mts,
153 milhas percorridas no 5 dia da travessia
de Sta Helena ao Bracuhy, Angra dos Reis, Brasil.
quarta-feira, fevereiro 20, 2013
MATAJUSI Navegation Information:
Nesse dia 2/20/2013 (mm/dd/yyyy) a essa hora 09:50 (utc),
nossa posição é 17°58.05'S 020°14.02'W,
no rumo 265T,
velocidade de 6.0 nós,
vento de SE de até 18 nós,
ressaca SE de até 2 mts,
148 milhas percorridas no 6 dia da travessia
de Sta Helena ao Bracuhy, Angra dos Reis, Brasil.
quinta-feira, fevereiro 21, 2013
MATAJUSI Navegation Information:
Nesse dia 2/21/2013 (mm/dd/yyyy) a essa hora 13:10 (utc),
nossa posição é 18°28.96'S 023°19.58'W,
no rumo 244T,
velocidade de 7.6 nós,
vento de SE de até 35 nós,
ressaca SE de até 3 mts,
159 milhas percorridas no 7 dia da travessia
de Sta Helena ao Bracuhy, Angra dos Reis, Brasil.
Noite mal dormida, muitos pirajas.
Quebrou o suporte do Duo Gen... Gambiarrado! Vamos ver se aguenta.
quinta-feira, fevereiro 21, 2013
MATAJUSI Navegation Information:
Nesse dia 2/21/2013 (mm/dd/yyyy) a essa hora 19:12 (utc),
nossa posição é 18°44.16'S 023°59.68'W,
no rumo 251T,
velocidade de 5.3 nós.
Algo errado na transmissão... engata mas derrapa na frente e na ré.
Se não for uma cabo no hélice, possível que fiquemos sem transmissão.
Motor funciona OK.
Parece que vai ser mais uma noite mal dormida, vejo 3 CBs vindo para cima.
Gambiarra no suporte do Duo Gen por enquanto funcionando.
sexta-feira, fevereiro 22, 2013
MATAJUSI Navegation Information:
Nesse dia 2/22/2013 (mm/dd/yyyy) a essa hora 12:34 (utc),
nossa posição é 19°22.98'S 025°43.13'W,
no rumo 252T,
velocidade de 5.4 nós,
vento de SE de até 15 nós,
ressaca SE de até 1 mts,
155 milhas percorridas no 8 dia da travessia
de Sta Helena ao Bracuhy, Angra dos Reis, Brasil.
Hoje ultrapassamos a marca de 30.000 milhas navegadas no Matajusi!
200 milhas até Trindade onde vamos parar para verificar hélice, 1100 milhas até o Bracuhy.
sabado, fevereiro 23, 2013
MATAJUSI Navegation Information:
Nesse dia 2/23/2013 (mm/dd/yyyy) a essa hora 08:51 (utc),
nossa posição é 19°51.03'S 027°37.46'W,
no rumo 256T,
velocidade de 5.3 nós,
vento de SE de até 15 nós,
ressaca SE de até 1 mts,
137 milhas percorridas no 9 dia da travessia
de Sta Helena ao Bracuhy, Angra dos Reis, Brasil.
Um dos barcos do BRally (Cat's Pawn IV) parou em Trindade pois estavam sem água e foram muito bem recebidos pela Marinha lá, que levou 100L de agua para eles.
Seguiram viagem para o Bracuhy e as 20:30H (Brasil), na pos: 20 40s 29 58w foram abordados por um
BARCO MILITAR CAMUFLADO com aprox 100mts e sem identificação, que chegou MUITO próximo (20mts),
pois holofote dos dois lados do veleiro, e NÃO respondeu radio contato no 16VHF.
Peço ao pessoal de terra informar a Marinha sobre os barcos do BRally se aproximando.
sábado, fevereiro 23, 2013
MATAJUSI Navegation Information:
At 2/23/2013 21:16 (utc), Position was 20°10.67'S 028°44.44'W, Direction was 250T, Speed was 5.7
Primeira terra brasileira avistada!
Hoje as 19:12 (UTC) avistamos Martins Vaz. Mais um pouco e Trindade também já estava a vista! Pena que vamos passar por essas duas ilhas à noite! Eu queria parar, dar uns mergulhos, conhecer o pessoal da Marinha, mas com a transmissão com problema, corro risco na ancoragem em caso de precisar sair rápido.
Quem sabe um dia voltamos...
domingo, fevereiro 24, 2013
MATAJUSI Navegation Information:
Nesse dia 2/24/2013 (mm/dd/yyyy) a essa hora 08:27 (utc),
nossa posição é 20°31.87'S 029°49.24'W,
no rumo 249T,
velocidade de 6.0 nós,
vento de SE de até 8/12 nós,
ressaca SE de até 2 mts,
144 milhas percorridas no 10 dia da travessia
de Sta Helena ao Bracuhy, Angra dos Reis, Brasil.
Motor sailing a 1200RPM.
segunda-feira, fevereiro 25, 2013
MATAJUSI Navegation Information:
Nesse dia 2/25/2013 (mm/dd/yyyy) a essa hora 09:24 (utc),
nossa posição é 21°12.29'S 032°06.22'W,
no rumo 254T,
velocidade de 5.4 nós,
vento de E de até 8 nós,
ressaca E de até 2 mts,
145 milhas percorridas no 11 dia da travessia
de Sta Helena ao Bracuhy, Angra dos Reis, Brasil.
Motor sailing a 1200RPM.
Pino do braço do piloto quebrou durante a noite! Pus o barco em capa
e fui fazer um pino novo. Fiz com parafuso um pouco mais fino pois não tenho
reserva desse pino, que mandei fazer em Curaçao. Vamos acompanhar...
Cansados, mas tudo bem a bordo.
terça-feira, fevereiro 26, 2013
MATAJUSI Navegation Information:
Nesse dia 2/26/2013 (mm/dd/yyyy) a essa hora 09:32 (utc),
nossa posição é 21°53.25'S 034°29.53'W,
no rumo 253T,
velocidade de 5.6 nós,
vento de NE de até 15 nós,
ressaca NE de até 1.5 mts,
138 milhas percorridas no 12 dia da travessia
de Sta Helena ao Bracuhy, Angra dos Reis, Brasil.
Continuamos motor sailing a 1200RPM.
Pino do braço do piloto segurando (knock, knock, knock na madeira!). Ainda sem muito vento, que chega forte entre hoje e amanhã. Previsão de chegada do BRally ao Bracuhy para esse domingo! Chegam os primeiros 3 barcos, Cat's Pawn IV, Matajusi, Milo One. Dois outros a caminho, Mr Curly e Prynee. Os outros ainda estão em Sta Helena ou Namíbia
Falamos as 08:00 e 18:00 UTC todos os dias no SSB 8143 USB. Vamos ver se alguém de terra se coneta com a gente!
quinta-feira, fevereiro 28, 2013
MATAJUSI Navegation Information:
Nesse dia 2/28/2013 (mm/dd/yyyy) a essa hora 09:51 (utc),
nossa posição é 23°11.32'S 039°19.05'W,
no rumo 262T,
velocidade de 6.4 nós,
vento de SO de até 15 nós,
ressaca NE e de até 1.5 mts,
135 milhas percorridas no 13 dia da travessia
de Sta Helena ao Bracuhy, Angra dos Reis, Brasil.
Velejamos bem, mas continuamos motor sailing a 1200RPM para garantir chegada. Queimou o ventilador do motor (blower). Segundo da viagem. Sem reserva a bordo.
Velas mostrando sinal do esforço de 30 dias no mar.
Motor vazando óleo por vários lugares. Transmissão com barulho forte em baixo RPM. Passamos por todos os tipos de tempo, chuva e vento esse ultimo dia! Parece que a Natureza quer nos lembrar de quem manda no pedaço, antes da nossa chegada de volta ao Brasil!
Pino do braço do piloto re-ajustado e ainda segurando.
Previsão de chegada do BRally ao Bracuhy para esse domingo!
Falamos as 09:00 e 18:00 UTC todos os dias no SSB 8143 USB. Vamos ver se alguém de terra se conecta com a gente!
sexta-feira, março 01, 2013
MATAJUSI Navegation Information:
Nesse dia 3/1/2013 (mm/dd/yyyy) a essa hora 08:59 (utc),
nossa posição é 23°19.70'S 041°53.01'W,
no rumo 275T,
velocidade de 5.4 nós,
vento de SO de até 10 nós,
sem ressaca,
150 milhas percorridas no 14 dia da travessia
de Sta Helena ao Bracuhy, Angra dos Reis, Brasil.
Ao través de Cabo Frio! Pouco vento, ajudando no motor...
Previsão de chegada do BRally ao Bracuhy para esse domingo!
Falamos as 09:00 e 18:00 UTC todos os dias no SSB 8143 USB. Vamos ver se alguém de terra se conecta com a gente!
sabado, março 02, 2013
MATAJUSI Navegation Information:
Nesse dia 3/2/2013 (mm/dd/yyyy) a essa hora 00:23 (utc),
nossa posição é 23°09.92'S 043°32.52'W,
no rumo 269T,
velocidade de 6.0 nós,
vento, teve de tudo, pelas divergências na convergência (!).
Completando a circunavegação nesse 15 dia da travessia
de Sta Helena ao Bracuhy, Angra dos Reis, Brasil, onde estamos chegando
em mais algumas horas.
Ao través da Restinga de Marambaia, ajudando no motor...
Tudo bem a bordo.
Previsao de chegada dos três primeiros barcos do BRally ao Bracuhy para esse domingo!

segunda-feira, janeiro 28, 2013

Port Elizabeth a Cape Town, Africa do Sul:

Ficamos uma semana em Port Elizabeth, sempre muito preocupados com a famosa ressaca que quando  entra pode danificar barcos no Iate Clube. Lá passamos o Natal, primeiro com uma ceia com amigos novos que moram em Durban e conhecemos durante nossa estada lá, que estavam fazendo um passeio de férias que coincidia com as cidades que íamos parar a caminho de Cape Town. Depois, para o almoço de Natal, preparei um coelho ao molho de vinho tinto e comemos com nossos amigos do Ainia. Nos próximos dias, contratamos um motorista e fomos visitar o Addo Elephant Park e o Wild Cat’s World, uma fazenda de criação de Guepardos. No Addo, vimos mais de cem elefantes e um particularmente com as maiores presas que já vi em um elefante, simplesmente enorme e magnifico, e depois, na fazenda de guepardos, pudemos acariciar uma fêmea já adulta que foi criada no parque e era muito confortável com a presença e toque de humanos, além de ver muitos tipos de felinos africanos, inclusive com dois filhotes de leopardo, lindíssimos  três filhotes de leão que deixavam a gente tocar neles e lambiam as nossas mãos, uma experiência inesquecível.


Knysna:

Com o vento, o mar, e a previsão propícios para a travessia entre Port Elizabeth e Knysna, e calculando a maré em Knysna para chegarmos uma hora antes da maré cheia, partimos de Port Elizabeth, acompanhados pelo Ainia. Eles são um barco mais pesado que o Matajusi então foram ficando para trás, e como nós tínhamos hora de chegada na barra de Knysna, seguimos ajudando com o motor para garantir a entrada. Quer dizer, garantia não tínhamos nenhuma pois se a ressaca estiver do lado errado ou com a altura errada, também não iríamos poder entrar, só se sabe quando se chega lá. Chegamos na barra de Knysna na hora, maré, e vento corretos, mas a ressaca estava um pouco alta, e para não errar, ligamos para um voluntario lá que ajuda barcos a entrarem. Ele foi ate o penhasco na frente da barra para olhar a ressaca e disse que podíamos entrar, mas que deveríamos seguir as luzes de alinhamento à risca, mesmo passando a poucos metros de recifes rasos com ondas arrebentando em cima.

Nessa altura, nossos amigos do Mr Curly ja estavam no penhasco e nos ligaram no celular para nos orientar na entrada da barra. Fiquei parado fora da arrebentação para me familiarizar com a barra, ver onde as ondas arrebentavam, ver onde estavam as luzes de alinhamento, e, na hora que achei correta, decidi entrar. Na primeira tentativa, quando estava já passando por cima da primeira barra, de fora e mais funda, percebi uma onda bem maior do que as outras que haviam passado enquanto observávamos a barra e decidi abortar a entrada, virando cento e oitenta graus e encarando a onda de frente. Nossos amigos gritavam no telefone que não devíamos virar e ficar de lado para a arrebentação, mas, como quem manda é o capitão, virei, encarei a onda, subi alto e desci rápido do outro lado, mas sem bater o casco, perfeito!

Ficamos mais um tempinho observando a barra, e na hora que achei que dava, arremeti a frente, logo atras da maior onda de um grupo de ondas. Demorou para o barco ganhar velocidade, mas logo estávamos entrando no meio de duas ondas. 

Passamos a primeira barra, depois o recife que fica a alguns metros do barco, e tudo isso com os nossos amigos gritando que eu devia ir mais para a esquerda, mas como eu estava perfeitamente alinhado com as luzes, segui nessa rota mais segura. Passamos assim pela segunda barra com fundo a dois metros e oitenta, ondas estourando dos dois lados, e logo estávamos dentro. A partir desse ponto seguimos as boias de sinalização de meio de canal, e chegamos na área de ancoragem na frente do Iate Clube. Lá, ancorei e re-ancorei cinco vezes, pois a ancora não firmava. No final, não forcei muito na ré e deixei a ancora com quarenta metros de corrente em fundo de três metros, ou seja, mais do que o suficiente, fomos tomar banho e se arrumar para a ceia de Ano Novo com o Mr. Curly, jantar que a Kathy preparou e estava somente esperando nós chegarmos para celebrarmos juntos a passagem.

Knysna, dita a cidade mais bonita da Africa do Sul, realmente é uma joia, com muitos restaurantes e lojas de artesanatos africanos. Enquanto o Mr Curly estava lá, curtimos Knysna junto com eles, depois, quando eles sairam para Cape Town, pusemos as bicicletas para fora e fomos curtir Knysna de bicicleta, aproveitando para fazer algum exercício, antes da grande travessia do Atlântico de volta para o Brasil.

Uma manha, enquanto a Lilian havia saído com a Kathy do Mr Curly e eu continuei dormindo no barco, fui acordado com uma sacudida do barco, que virou de lado para um vento acima de trinta nós que entrou, e percebi que estávamos correndo soltos na ancoragem. Sem um segundo a perder, pois logo atras do barco tinha um lugar muito raso e ainda de pijamas e meias, corri para o cockpit, liguei o motor e já acelerei tudo para virar o barco contra o vento. Estávamos a apenas alguns metros do raso! Com a ancora ainda na água  e o cabo de nylon que prende a corrente para evitar trancos no guincho ainda instalado na corrente voltei contra o vento e fui no motor contra o vento que já passava dos trinta e cinco nós. Sem instrumentos, pois não tive tempo de liga-los, com o gancho do cabo de nylon prendendo a corrente, não conseguia recolher a ancora e fiquei em situação desesperadora, mas, temos que encontrar a saída  então  no final da corrente, quando senti que o barco queria virar, virei o barco, engatei a ré, e fui de ré contra o vento, arrastando a ancora. A situação era agravada pelo fato da nova coberta do cockpit estar totalmente instalada, pois além de não me deixar ver bem, ainda expunha uma grande área velica ao vento.  Enquanto arrastava a corrente e ancora contra o vento, mas sem poder largar o leme, pois não tinha o piloto ligado, fui tirando a que alcançava da lona de cobertura. Eventualmente, cheguei ao máximo que conseguia ir, pois tinha outro raso na direção que o vento me permitia ir de ré. Lá, resolvi virar o barco de novo e ir soltando corrente. Com o sobe e desce, consegui tirar o gancho que prendia a corrente que agora corria solta, mas sempre com o risco de prender de novo no gancho. Peguei todos os sessenta e cinco metros de corrente, segurando a velocidade do barco no motor e evitando um tranco no final da corrente para ver se a ancora firmava, mas quando a corrente esticou, segurou somente por uns segundos, e soltou de novo, com o barco novamente correndo solto pela ancoragem! Passei mais uma vez por cima da corrente e ancora deixei esticar a corrente, virei de novo o barco e fui recolhendo a ancora pelo comando do guincho do cockpit, conseguindo finalmente recolher completamente a ancora. Ufa! Ainda estava em meus pijamas e de meia, que nessa altura já estavam completamente molhados de água salgada que respingava com o vento forte.

Passei perto de outro veleiro na ancoragem com o capitão olhando minhas manobras, e perguntei se estava tudo bem com a minha ancora, pois do cockpit não conseguia ver. Ele disse que sim, então perguntei se ele tinha alguma sugestão sobre onde parar o barco e ele recomendou uma ancoragem logo depois da entrada da barra que disse ser protegida do vento sudoeste, e para lá me dirigi. 

Sem instrumentos e com rasos pela área  resolvi achar um lugar onde conseguia por o barco em capa (arrastando de lado para o vento) e em três manobras de ir contra o vento, soltar o barco em capa e enquanto isso, tirar o pijama e meias, ligar os equipamentos, tirar completamente a cobertura do cockpit, abaixar o dog-house para reduzir o atrito com o vento, preparar uma segunda ancora com corrente de quinze metros e cabo de nylon de sessenta metros, beber um copo de água  pois minha garganta estava completamente seca da adrenalina e esforço do momento, consegui estar pronto para tentar ancorar o barco novamente.

Decidi por ancorar na baia antes da ancoragem oficial de Knysna, pois alem de não ter nenhum barco, ainda tinha uma área onde, se a ancora garrasse (largasse) eu tinha como manobrar o barco. Com tudo preparado, fui na área escolhida, lancei ancora pagando sessenta metros de corrente, e finalmente o barco parou, isso depois de quase duas horas de combate entre natureza e experiencia! Ufa!

Sem parar para descansar e por maior segurança, preparei a segunda ancora para posiciona-la com o botinho,  em V com a primeira ancora, mas, quando amarrei o cabo na proa, parte dele caiu na água e a forte corrente de maré carregou ele por baixo do barco, agora prendendo o leme e o hélice  Sem vacilar, tirei completamente a roupa e mergulhei nas águas geladas da baia para soltar o cabo. 

Com a corrente forte, não consegui desvencilhar o cabo completamente, então voltei ao barco, soltei a ponta do cabo da proa e deixei ele correr solto na corrente de maré, com a outra ponta com corrente e ancora já no botinho, voltei a mergulhar e consegui soltar todo o cabo, deixando ele solto na corrente de maré e preso ao botinho.

Voltei para o barco, tomei uma banho de água doce, vesti a bermuda de novo, tomei mais dois copos de água  e fui posicionar a segunda ancora em V com a primeira, operação que correu sem incidentes. Voltei ao barco, sentei re-lembrando o incidente todo  analisando o que eu poderia ter feito melhor, até acalmar e descansar bastante, e assim, com o barco integro para seguir com a circunavegação.

Depois disso, resolvi parar na parede de dentro da marina de Knysna e por lá ficamos ate nossa partida. Lá conhecemos novos amigos, o Wayne e Tracy do Margaret Anne, que gostaram muito da ideia do Brally e se juntaram ao grupo de amigos cruzeiristas que estão indo para o Brasil juntos. Fizemos alguns passeios juntos, pois eles tem carro e nos levaram para conhecer lugares interessantes a volta de Knysna, isso enquanto esperávamos a condição de vento, maré e ressaca corretas para sair de Knysna.

Chegado o dia com condições corretas, preparamos o barco, soltamos amarras e partimos de Knysna, não sem antes passar por mais algumas preocupações  enfrentando algumas ondas com mais de três metros de altura que estavam entrando pela barra. De novo, fiquei dentro até a hora correta, e ajudado pelo Wayne no penhasco avisando a gente pelo celular das condições das ondas la fora, saímos, passando muito bem e sem arrebentação pela primeira barra, encontrando uma onda alta na segunda barra, que atravessamos com uma bela subida e descida sem bater o casco, e depois disso, mar grosso pelas primeiras vinte e quatro horas, depois uma travessia tranquila de dois dias até Cape Town, passando pelo famoso e temido Cabo das Agulhas, que decidi passar a vinte milhas ao largo evitando dois bancos de areia que ficam tenebrosos durante ressaca e vento forte, depois passando pelo Cabo da Boa Esperança, que não pareceu oferecer qualquer perigo e passando do oceano Indico para o Atlântico.

Cape Town:

Chegamos pela manha do terceiro dia em Cape Town e pelo telefone confirmamos onde o Mr Curly tinha atracado, nos dirigindo para a V&A Waterfront Marina, uma marina com apartamentos com fama de caríssima, mas onde conseguimos negociar um preço compatível com as outras opções em Cape Town. Essa marina fica no meio de uma área de elite de Cape town, com restaurantes, shoppings, supermercados, cinemas, enfim, tudo a uma distancia compatível para se ir a pé então nem tiramos as bicicletas do barco.

A Lilian se divertiu com as lojas de roupas da área  e curtimos muito os restaurantes e mercados de comidas típicas locais. Alugamos um carro para fazer algumas compras em lugares mais distantes, ir no passeio do carrinho que sobe a montanha que fica no meio da Cidade de Cape Town,  e fazer uma visita à área das fazendas de vinho perto de Cape Town, onde fizemos uma excelente compra de bons vinhos da Africa do Sul, sempre acompanhados do Richard e Kathy do Mr Curly.

Aproveitamos o carro e fizemos a documentação de saída da Africa do Sul e estamos esperando a janela certa para sair. Íamos sair ontem mas o vento passou dos quarenta e cinco nós nos últimos dois dias então decidimos esperar um pouco para a ressaca acalmar. Estamos provisionados, e prontos para sair, mas quando fiz uma ultima revisão no barco depois de um sonho que o estai de proa havia quebrado, achei que o pino que segura o enrolador da genoa no deck estava inchado na área do pino de segurança, então passei o dia, primeiro tentando encontrar um pino mais longo, o que encontrei com um especialista em mastros trabalhando em um barco na mesma marina e depois soltando os brandais e estais de popa para caçar o mastro para a frente usando as duas adriças de balão, soltando o estai de proa para soltar o pino inchado, trocando-o pelo pino maior.

Pronto, barco revisado, pronto para sair e devemos estar saindo amanha cedo, esperando ter uma noite melhor dormida porque na de ontem o vento passava dos quarenta e cinco nós, sacudindo muito o barco dentro da marina.

quinta-feira, dezembro 27, 2012

Durban a Port Elizabeth, Africa do Sul:

2012-12-26 Durban a Port Elizabeth, Africa do Sul:
Chegamos a Durban depois de quinze horas de uma travessia tranquila com vento e mar a favor, vindos de Richard's Bay, acompanhando o Scorpio e o Prynee II, com a unica exceção sendo a entrada no porto, pois vim muito aberto para aproveitar melhor a corrente assim como evitar navegar proximo às dezenas de navios ancorados fora, e acabei tendo que forçar muito de lado com as ondas que estavam na área de tres metros de altura, para chegar na boca do porto. O Fred Coelho do Estrela do Mar, um brasileiro que vive em Durban a mais de 30 anos, estava nos esperando já com uma vaga na marina de Durban.

Confortaveis e bem atracados em um pier da marina, mergulhamos na nossa maratona de serviços agendados para o barco, uma lista enorme de consertos, acertos e mudanças, que nos tomou trinta e seis dias de tempo integral, uma façanha que não teriamos conseguido sem o suporte fantastico que o Fred e a Cristina Coelho nos deram no tempo total que ficamos em Durban. Desses trinta e seis dias, somente tres dias nós não jantamos juntos, e durante a semana que o barco ficou no seco pintando e polindo, o Fred e a Cris nos acolheram na sua casa, onde eu e a Lilian tivemos o prazer de preparar alguns dos nossos pratos especiais como meu polvo e rabada, e a Lilian com seu frango no alho poró, cassarola de filet mignon, farofa, e pastas com molhos elaborados. O Fred e a Cris também prepararam alguns dos seus pratos preferidos, como a perna de carneiro, macarrao com molho branco, entre outros. Foi uma estadia maravilhosa com esses dois novos amigos.

Haviamos reservado com o Bowman no proprio Iate Clube a pintura e polimento do barco, mas no dia e hora marcados por ele, aproveitando a maré alta, faltou quinze centimetros para o barco subir na carreta, o que nos forçou a procurar alternativas diferentes e que no final, foram melhores e mais em conta do que se tivessemos feito no Bowman. Essa é uma situaçao preocupante, pois, mesmo existindo uma marina de serviços na baia com capacidade de guindaste para barcos até sessenta toneladas, a imagem plantada pelo pessoal do Iate Clube e o prórpio Bowman em interesse próprio, é que esse guindaste cobra preços explorativos, e que confirmamos não ser verdade. Na verdade, essa marina pertence ao Consul Dinamarques em Durban, que infelizmente não entende muito de marketing, então os comentários maldosos feitos pelo pessoal do Iate Clube acabam afugentando potenciais fregueses desses serviços em Durban, que procuram alternativas em Cape Town, causando uma perda de potencial receita para Durban.

Enquanto o barco estava no seco, contratei a raspagem e pintura do casco juntamente com um polimento completo do barco, com aplicaçao de cera no final, troquei o helice fixo de duas pás pelo KiwiProp com tres pás e pitch regulavel, além de dar uma checada geral na quilha, leme e sail drive. Aproveitei para retirar os adesivos de nome antigos que ja estavam completamente sem côr somente tres anos depois de colocados, e contratar a fabricaçao dos novos adesivos, agora com uma cor só e uma expectativa de vida acima de sete anos. No dia de descer o barco choveu a cantaros e isso promoveu que o guindaste encalhasse na lama que se formou no patio da marina. Entrei para coordenar o desencalhe, pois tinhamos hora certa para sair da marina com a maré na alta, e na euforía acabei dando uma cabeçada no helice, que só não abriu um belo corte na testa e na bôca porque eu estava usando um boné de aba larga que protegeu meu rosto na batida, mas sai tontinho.

Com a minha ajuda e coordenaçao, conseguimos desencalhar o guindaste e puzemos o barco na agua, deixando-o preso nos cabos até eu testar se tinha algum vazamento de aguá para dentro e se o helice estava funcionando corretamente. Com tudo parecendo normal, saimos da marina a caminho de volta para o Iate Clube, uma navegada em vento Sudoeste de quase trinta nós, o que ajudou quando, no meio do porto, o motor parou por falta de combustivel! Esquecemos de checar o nivel de diesel no tanque conectado! Foi um corre-corre danado para abrir velas, por o barco navegando a vela dentro da area do porto, conectar outro tanque e bombar o diesel até o motor, mas logo resolvemos isso e colocando o barco de volta no motor, para em seguida tentarmos entrar novamente na nossa vaga na marina, vaga que eu havia deixado paga mesmo sem o barco nela, para garantir que teriamos uma vaga quando retornassemos com o barco, mas o Iate Clube deu a vaga para outro barco... Isso nos deu algumas dorzinhas de cabeça, pois a proxima vaga cedida pelo Iate Clube não tinha profundidade para o barco na mare baixa, e acabamos sentados na quilha durante a proxima maré baixa. Olhando a tabua de mares, a proxima baixa iria ser trinta centimetros ainda mais baixa, entao foi correria para achar outra vaga. Mudamos para a nova vaga cedida pelo Iate Clube, mas dez minutos depois do barco atracado com segurança, veio o dono da vaga e pediu para a gente mudar de novo! Aceitei pois a explicaçao dele foi que a vaga do lado era usada para treino de controle de manejo de barco e ficava com estudantes entrando e saindo da vaga o dia todo e todos os dias! Na hora de pagar nossa estadia, não concordei em pagar por vaga ocupada por outro barco...

Enfim na vaga onde ficamos até nossa partida de Durban, que acabou atrasando por conta da demora do Clyde em entregar a cobertura nova do bimini, dog-house, conexão entre eles e fechamento da popa, proporcionando agora um fechamento total do cockpit, um conforto que deviamos ter feito desde o primeiro dia do barco na agua, mas que por falta de conhecimento, acabou demorando cinco anos para decidirmos a melhor forma de conseguir isso.

Com o barco pronto para sair, ficamos na dependencia de uma janela de tempo propício para as proximas pernas, nesse caso, a perna mais longa e uma das mais perigosas da Africa do Sul, chamada de Costa Selvagem, pois em um espaço de duzentas e cinquenta milhas não tem nenhum abrigo para o caso de mal tempo. Mal tempo nessa area quer dizer um Sudoeste entrando forte, o que pode formar ondas de até vinte metros de altura e que já causaram a perda de muitos barcos e navios, criando o maior cemitério de barcos do mundo. Nessa costa selvagem, o maior problema é que a corrente de Agulhas passa muito próximo da costa em alguns lugares onde a plataforma continental é curta, ficando impossivel para barcos procurarem aguas rasas para evitar as ondas enormes.

No dia vinte e um, abriu uma janela propícia e, depois de fazer a papelada de saida de Durban, zarpamos com a intençao de ir até Knysna se a janela permitisse, mas acabamos tendo que entrar em East London por recomendaçao da NET PERIPERI que entra no ar pelo SSB 8101khz todos os dias as sete e desessete horas, ajudando todos os barcos navegando pela costa Leste da Africa com informaçao de tempo e mar, e alternativas disponiveis em caso de problema ou perigo.
East London:
Entramos facilmente em East London, com uma arrancada ajudado pelo motor a 90% para descarbonizar e para conseguir entrar antes da saida de um navio atracado dentro que zarparia as dezessete horas, chegando na area de ancoragem na frente do Iate Clube de Buffalo River antes da saida do navio. Logo atrás entrou o Ainia, um barco do Canada tripulados pelo Bruce e a June. Depois de uma noite bem dormida, desci o bote e montei o motor para ir conhecer os outros três barcos ancorados por ali tambem, o Ainia que havia chego junto conosco e que vimos em Durban mais ainda não os conheciamos pessoalmente, o Camara que haviamos também visto em Durban, e o Jargo que já conheciamos de Mauricios. Organizei que ficariamos em contato no canal oito do VHF, e tentei organizar uma ceia de Natal juntos, caso ficassemos retidos em East London por conta do tempo. A tarde, fomos dar uma volta subindo o Buffalo River de botinho, voltando depois para receber no barco a visita do Ricardo e Paula mais seus dois filhos, sogro e sogras, outros brasileiros residentes de Durban que conhecemos através do Fred e Cristina, e que estavam passando férias, coincidentemente nas mesmas cidades onde poderiamos estar parando por conta do tempo.

Aproveitando uma janela propícia, levantamos ancora e preparamos para partir para Port Elizabeth, com o Ainia nos seguindo. Quando aviso o Controle do Porto que estavamos saindo, ele pergunta se haviamos feito o plano de viagem e entregue na policia local, um procedimento que desconheciamos, além de termos já subido bote e motor e preparado o barco para a próxima travessia. Depois de uma discussão no radio de mais de quinze minutos, veio um barco local que estava escutando tudo e se ofereceu para levar-nos até a policia local, ali mesmo na margem do rio, para fazer essa documentaçao de saida. Aceitei, desci um pouco de corrente da ancora, entendendo que a Lilian tinha deixada a ancora no fundo, mas com pouca corrente, e passei para o barco deles para ir fazer a papelada, que fizemos bem rapidinho, por sorte, pois a ancora não estava no fundo e o barco estava correndo solto dentro do porto! Com a Lilian dentro se despedindo pelo Skype, ela não notou que o barco estava quase batendo na parede do porto. Cheguei a tempo de ligar motor e voltar para o meio do porto, e terminei de levantar ancora, partindo em seguida, agora com a permissão do Controle do Porto.

A travessia de cento e trinta milhas entre East London e Port Elizabeth foi feita em vinte e duas horas, com mar calmo e quase que cem porcento no motor, pois o vento era fraco de Sudoeste, somente com o Staysail aberto no meio do barco e seguro pelas duas escôtas, para ajudar a diminur o balanço lateral. Na reta final, quando acelerei a noventa porcento para descarbonizar, a temperatura subiu muito. Isso pode ter causado por algum plastico que tenha tampado a entrada de ar do motor, entao, depois de abrir o filtro de agua dentro do motor e checar que nao estava entupido, desengatei esperando o barco diminuir bem a velocidade, engatei ré acelerando um pouco para empurrar o que quer que estivesse tampando a entrada de agua na rabeta para fora, voltando a engatar frente e acelerar para chegar no porto, mas a temperatura nao desceu rapido como eu esperava. Mais uma manutençao a ser feita na proxima marina...

Chegamos na marina de Algoa Bay em Port Elizabeth no final da tarde do dia vinte e quatro, prendemos o barco, tomamos um banho e ligamos para o Ricardo e Paula que ja estavam em Porto Elizabeth, ja em um restaurante local. Pedimos um taxi e fomos nos juntar a eles para a ceia de vespera de Natal voltando para o barco alimentados e cansados da travessia na noite anterior, fizemos internet, falamos com familia e amigos pelo Skype, postamos algumas mensagens no FB, e fomos dormir.

No dia de Natal, conbinamos um almoço juntos com o Bruce e June do Ainia, atracado do nosso lado, e preparamos um coelho ensopado no molho de vinho tinto mais uma salada, com eles contribuindo com o arroz, vegetais e sobremesa que foi um pudim de leite com pessegos em calda, nada mal para uma ceia de Natal improvisada de ultima hora, que estava ótima por sinal! Com a comida toda pronta fomos para a sede do Iate Clube onde outros cruzeiristas locais e internacionais se reuniram para a ceia, cada qual com sua comida. Lá conhecemos o Dinho, um mexicano criado no Colorado, que hoje vive de filmes documentarios que faz durante sua volta ao mundo e que é comprado pelas TVs de turismo no mundo. O Dinho, viuvo de sua esposa Russa que morreu em um acidente de automóvel, estava acompanhado de sua filha de doze anos, de quem é pai e professor e nos convidou para participar de um dos documentarios sobre as particularidades dos muitos cruzeiristas que encontra pelo caminho e devemos estar gravando entrevista por esses dias, enquanto aguardamos uma janela para seguir até Knysna onde nossos amigos do Mr Curly se encontram esperando a gente desde o Natal que já passou e agora para o Ano Novo, um encontro comprometido pelo tempo ruim anunciado por todos os sites e modelos de tempo que estudamos. Parece mais que nenhum barco vai estar navegando por essas aguas na proxima semana...

MATAJUSI Navegation Information:
At 12/27/2012 07:10 (utc), Position was 33°57.99'S 025°38.12'E, Direction was 015T, Speed was 0.2

----------
radio email processed by SailMail
for information see: http://www.sailmail.com

sexta-feira, novembro 16, 2012

Travessia da Corrente de Agulhas e Primeiros Safáris na Africa:

2012-11-14 Richards Bay, Africa do Sul:
A travessia do canal de Madagascar demorou seis dias, sem grandes problemas para atravessar a corrente de Agulhas que nos ajudou com quase cinco nós de corrente a favor, pondo-nos na entrada do Porto de Richards Bay no final da tarde do dia seis. Chamei o Port Control pelo radio no canal doze, e recebi permissão para entrar na area do porto. Logo em seguida ouvimos o Orca, um veleiro de trinta pés que tomou um knock-down de uma onda maior e perdeu algumas coisas do cockpit para o mar agitado. A apenas seis horas de Richards Bay, eles não puderam atravessar a corrente de Agulhas pois o vento estava de Sudoeste com até cinquenta nós e nessas condiçoes as ondas podem chegar a trinta metros, então tiveram que desviar para Moçambique e velejar outras seissentas milhas para esperar o tempo melhorar. Eles estavam logo à nossa frente, e combinamos de parar lado a lado na parede do International Quay. Ficamos assim até ontem a tardezinha, pois vamos partir para Durban hoje e eles sairam para os safaries hoje pela manha, entao rearranjamos os barcos para ficarmos prontos para zarpar hoje as dezesseis horas. São noventas e tantas milhas até Durban, e com a corrente ajudando, estimamos fazer em menos de doze horas, planejando chegar lá entre seis e oito da manha de amanha.

O Fred do Estrela do Mar, um brasileiro que vive em Durban vai estar nos esperando para nos guiar até o lugar na marina onde o barco dele fica. Temos varios serviços no barco agendados para fazer em Durban, pintar novamente o fundo, polir o barco todo, trocar o helice fixo de duas pás pelo KiwiProp, mais leve, com tres pás, e que abre as pás para diminuir o arrasto enquanto velejando. Isso vai contar bastante durante a travessia do Atlantico. Chamei o tecnico da Raymarine para ver porque o profundimetro desliga do sistema E80, uma praga que estamos vivendo desde a Nova Zelandia. A geringoncia só funciona quando quer, e nunca quando precisamos! Enfim, vamos deixar o barco bonito de novo, com nome refeito, brilhando, para chegarmos no Brasil com o mesmo barco que saimos, novinho saido da forma, mas agora com uma bagagem imensa de memorias e experiencias, depois das mais de trinta mil milhas navegadas desde que saimos com ele de Joinville, onde foi construido.

Safaris com adrenalina!
As principais razões de virmos para Richards Bay foram a facilidade de dar entrada na Africa do Sul, e a proximidade com varios parques dessa parte da Africa. Temos o Thula Thula a apenas quarenta e cinco minutos de carro da marina, o iMfolozi e Hluhluwe a duas horas a Norte daqui, e o Lake St Lucia com seus hipopotamos e crocodilos, e passamos os ultimos tres dias visitando esses parques.

Thula Thula:
Alugamos um carro juntos com o Henrick e a Mala do Scorpio, com ele dirigindo, e fomos primeiro passar o dia no Thula Thula, um parque particular de quarenta e cinco mil hectares, com os animais vivendo livres pelo parque, cercado com cerca eletrica. Os animais procurados por caçadores ilegais pelos seus chifres e outras partes acreditadas com alguns poderes de cura, sempre protegidos vinte e quatro por sete por guardas armados. Chegamos cedo para o café da manha no parque, acompanhados por macacos ladrões que não disperdiçavam uma oportunidade de tirar algo da mesa ou mesmo da sala onde o cafe estava servido. Depois do café fomos para a caminhonete de safari, aberta, com tres assentos altos e cintos de segurança para os turistas não cairem nas sacudidas causadas pelas trilhas mais desniveladas. Os primeiros animais avistados foram os Impalas, sempre em abundância em todos os parques, e chamados de hamburger da Africa, por serem o prato preferido dos carnivoros. Em seguida, de longe, ja avistei os elefantes. Durante todos os safaris que fizemos, quem mais avistava animais era sempre eu, com meus olhos treinados pelo incentivo do meu saudoso pai, quando eu ainda era criança e íamos caçar de estilingue. Estranhamente, ou não, me sinto mais no meu habitat natural quando estou em lugares como esses, tanto que, um dos lugares da nossa volta ao mundo que mais me atraiu foi Vanuatu, onde a vida ainda é selvagem, onde o homem sai para caçar e trazer comida para a familia.

De volta para o safari, seguimos os elefantes até chegarmos bem proximos de dois machos e por ali ficamos um pouco, curtindo a presença desses outros habitantes do nosso planeta. Por ali vimos mais impalas, alguns wilderbeasts, kudus, babuinos, e algumas aves. Proxima parada foi para ver porque um Ganso Egyptian estava se arrastando por terra. Paramos e o nosso motorista chamou um guarda-parque que estava pelas imediaçoes, que chegou e logo agarrou o ganso, notando que ele tinha um arame farpado enrolado em uma das suas patas, provavelmente brincadeira de algum nativo local que tentou domesticar essa ave selvagem, ou simplesmente usa-lo como decoy para atrair outros, sabe-se lá. Arame retirado, ganso solto, e fomos procurar mais animais, logo vendo na distancia as cabeças salientes das girafas sobre a copa das arvores. No caminho para onde vimos as girafas, passamos por um grupo de zebras e logo adiante chegamos onde as girafas estavam, um grupo com umas oito girafas, mas com dois bebês-girafas de alguns meses. Tiramos muitas fotos e uma em particular com quatro girafas, duas a duas, formando o M do Matajusi que depois posto no blog.

Ficamos por um tempo perto desses animais gentis e curiosos, que nos olham tanto quanto nós olhamos para eles, depois seguindo para onde o motorista ouviu que estavam os rinocerontes. Não conseguimos chegar muito perto e só conseguimos ver um, sempre acompanhado do guarda-parque armado para defendê-lo contra caçadores de chifres. De lá fomos a uma area alagada onde vimos alguns crocodilos, tartarugas e um lagarto de agua.

iMfolosi & Hluhluwe:
E assim foi nosso primeiro safari na Africa, retornando para Richards Bay para jantar e dormir no barco e partir cedo na manha seguinte para os parques de iMfolozi e Hluhluwe. Esses dois parques ficam a umas duas horas de carro de Richards Bay, assim partimos as seis e meia da manha para chegar la ainda sem sol muito forte, aumentando nossa probabilidade de ver animais antes deles se esconderem do calor dentro de florestas e areas densas de vegetaçao. No caminho, uma serie de coincidencias que promoveram nos perdermos por um tempo, indo parar em uma agregaçao religiosa africana, abarrotada de carros e gente, e nós, os unicos quatro brancos em muitos quilometros a nossa volta! Aconteceu porque, em uma area onde a estrada estava em conserto, seguimos o fluxo de carros que viraram para o que parecia ser um retorno, mas na verdade era essa congregação religiosa. Eu não percebi, pois o GPS apontava para um Z na estrada exatamente onde saimos com os outros carros. Outra coincidencia foi o conserto na estrada exatamente nesse ponto, dando a impressão que não se podia ir em frente. Enfim, meia hora depois, voltamos a seguir a estrada correta, chegando no primeiro parque lá pelas nove e meia da manha.

Ali mesmo decidimos pernoitar no HillTop Hotel, dentro do Hluhluwe, e por pura sorte, tinha um chale que estava disponivel, pois nessa epoca do ano estao sempre lotados. Com o hotel garantido, seguimos pelo parque adentro onde fui logo avistando e reconhecendo animais africanos. Como sempre, Impalas e Gazelas sempre abundantes, mas logo vi um grupo de babuinos andando perto da estrada, paramos para umas fotos. Em seguida, avistei dois rinocerontes, abundantes nesses dois parques. No final da nossa visita tinhamos visto uns trinta rinocerontes! Seguindo, consegui ver um desses lagartos de cabeça verde, que fica balançando a cabeça, mas fui o unico que conseguiu ver, então tirei fotos para mostrar depois. Mais alguns rinos e consegui ver dois leões em cima de uma arvore meio distante, com mais uma fêmea no chão. Dos big five, ja tinhamos visto dois! Rinos e leões! Esses parques são abundantes em animais africanos, e foi um animal depois de outro o dia inteiro. Antilopes de muitos tipos, porcos selvagens, zebras, elefantes, mais babuinos, mais rinos, mas dessa vez bem de perto, pois, sempre abusando, desci do carro e entrei no mato para ver de perto quatro Rinos que estavam deitados em um buraco de agua. Olhei bem e fui com cuidado e com todos os sentidos em alerta, mas a unica coisa que vi, na verdade ouvi, foi um guarda-parque gritando dizendo que eu não podia sair do carro! Fiquei mais preocupado com os rinos, que ouvindo o barulho ficaram mais atentos e em alerta. Voltei de mansinho para o carro e seguimos com o safari.

Wahlberg's eagle, Helmeted Guinefowl, Hamerkop, Crested Francolin, Black Crake, African Fish Eagle, Hadedah Ibis, Woolly-necked Stork, Black-Headed Oriole, Cape-Turtle Dove, African Hoopoe, Thumpeter Horbill, Village Weaver, White-Browed Scrub-Robin, foram alguns dos passaros avistados e reconhecidos usando os livros de passaros africanos.
Continuamos avistando muitos animais, até encontrarmos um bando grande de elefantes, metade de um lado e a outra metade do outro lado da estrada de terra que usávamos. Paramos o carro, e eu sugeri ao Henrick para ficar atento, pois tem um numero razoavel de incidentes entre elefantes e visitantes desses parques. Dito e feito, uma fêmea que estava muito perto começou a demonstrar desconforto. Eu percebi e avisei o Henrick para ficar esperto. Logo em seguida ela atacou! Gritei para o Henrick, GO! GO! GO! Ele acelera tudo e solta a embreagem em primeira... ou seja, não fomos a nenhum lugar e ficamos patinando os pneus dianteiros fazendo um pó tremendo, e isso, assustou a elefoa, que foi para um lado enquanto nós fomos para outro... Ufa! Essa foi por pouco!

Um pouco mais adiante e já entrando no entardecer, ou seja, hora de carnivoro sair para a caça, encontramos um buraco de agua, onde animais se agregam para beber no final do dia, e carnivoros se escondem por perto para caçar sua janta. Saimos da estrada e entramos nessa area, cheia de grandes buracos, e o Henrick distraido, acabou caindo dentro de um! Rapidamente olhei em volta e nao vendo carnivoros pedi para todos sairem do carro para eu tentar tirar o carro de lá, mas em vão, as duas rodas da frente estavam completamente no ar, e o carro preso pelo chassi, não parecendo possivel sair de lá sem ajuda. Mesmo assim não desisti e pus todos a empurrar o carro para trás, o que conseguimos fazer um pouco, mas não o suficiente para ele sair do buraco. Entao pus a Lilian dentro, marcha-a-ré engatada, com instruçao de soltar devagar a embreagem enquanto todos nós do lado de fora empurravamos o carro, e isso funcionou! Ufa! De novo! Ja estava pensando nos head-lines locais: "casais estupidos saem do carro em water-whole e são comidos por leões!".

Vimos também alguns búfalos, animais responsaveis pelo segundo maior numero de mortes de humanos na Africa, mas esses não nos deram muita atençao. Nessa altura ja tinhamos visto quatro dos grandes cinco africanos, só faltava agora um leopardo.

Ja anoitecendo fomos para o hotel, nos ajeitamos no chale que reservamos e fomos jantar.O chale tem dois quartos, um em cada extremo, com uma sala e cozinha no meio, facil de fazer a nossa própria comida, mas cansados, o buffet do hotel foi uma opçao bem mais confortavel, e saborosa.

Dormimos bem, levantamos, tomamos um otimo café da manha, e fomos ver o parque de Hluhluwe que fica ao norte do iMfolozi. Esse parque tem mais florestas do que savanas, e em florestas fica muito mais dificil ver animais, mas mesmo assim consegui ver antilopes, porcos selvagens, mais rinos, girafas, e finalmente, demos de cara com um bando de bufalos! Eles se assustaram e formaram a frente usual de combate a inimigos, e nós ficamos prontos para cair fora se algum atacasse. Mas eles mantiveram distancia confortavel e ficamos um tempo por ali para tirar boas fotos.

Lake Sta Lucia:
Com isso encerramos nossa visita a esses dois parques, e rumamos para o Lago St Lucia, que tem hipopotamos e crocodilos vivendo soltos. Mais umas duas horas de carro com o Henrick dirigindo e chegamos a St Lucia. Fomos a pé ver os hipos e crocs, mas como eles estavam do outro lado do alagado que por ali passa, demos a volta e fui chegando perto, até que um macho grande resolveu mostrar quem mandava por ali, e por que os hipos são o animal que mais causam mortes humanas na Africa, e levantou me encarando, como dizendo, vai abusando, vai?! Não abusei mais e depos de umas fotos, fui retrocendendo calmamente, o que tranquilizou o bando.

Logo em seguida avistei um saltie, crocodilo de agua salgada, que também parecia ter os olhos fixos em mim, e decidi voltar para areas mais tranquilas...

Hoje estamos zarpando para Durban, pois ja fizemos o que viemos fazer em Richards Bay, uma area que lembra muito a Florida, pelas planicies, construçoes, estradas, areas populadas e shopping centers. Bom provisionamento, barco lavado de graça, pois ficamos na parede que pertence à cidade e não à marina, que supre agua e eletricidade de graça. Eu quase nunco ligo em eletricidade de cais, pois o barco é tão bom em energia solar e baixo consumo que nunca precisamos ligar em tomada de cais. Estamos saindo em 30 minutos.

MATAJUSI Navegation Information:
At 11/16/2012 06:59 (utc), Position was 29°51.87'S 031°01.51'E

----------
radio email processed by SailMail
for information see: http://www.sailmail.com

segunda-feira, novembro 05, 2012

Outras experiencias em Madagascar:

Chegamos a Minorodo no dia seguinte da saida de Galions Bay, no meio do dia, depois de velejada tranquila, a maior parte somente de genaker. Passamos pelo passe sem incidentes, mas o vento rondou em seguida e tivemos um trabalhinho para recolher a genaker, pois o lugar onde o cabo da camisinha estava amarrado arrebentou e tive que trazer na marra, o que me custou alguns roxos nos dois braços.

Logo estavamos recebendo as boas vindas dos outros oito barcos ancorados na baia pelo VHF e o convite para drinks (BYOB) no Contrails não tardou muito depois disso. Demos uma ajeitada no barco, recebemos as primeiras canoas, mas sem artefatos para troca, somente pedindo algo. Acabamos distribuindo mais lapis com papel, e esmalte com acetona.

Ao entardecer, o pessoal do Taipan, Baraka, Elaine, e nós, nos reunimos no Contrails para drinks , aproveitando para trocar bastante experiencias sobre as nossas travessias. Nenhum de nós ia parar em Madagascar, mas o tempo estava anormal, sem possibilidades de atravessar para a Africa, entao os muitos barcos que partiram de Mauricio e Reunion, foram amontoando em Madagascar e Moçambique.

O vento na ancoragem de Minorodo estava forte, algumas vezes ultrapassando os trinta e cinco nós. Estavamos ancorados em cinco metros, com quarenta metros de corrente, mas naquela noite, entre a mudança de um vento Nordeste e um vento Sudoeste, o barco que estava com os quarenta metros esticados para Oeste, foi empurrado pelo vento, esticando oitenta metros para o Leste, dando um tranco bem forte na corrente. Sem saber, um elo da corrente se partiu nesse impacto, e ficamos amarrados no resto da corrente e na ancora por esse elo partido. Só soubemos disso no dia seguinte pela manha, quando resolvemos procurar ancoragens mais para o Norte e levantamos ancora. Foi de uma sorte incrivel a ancora não ter sido perdida, e não ficarmos sem ancora durante o resto da noite, com ventos acima dos trinta nós. Mais sorte ainda que nos dias seguintes o vento chegou aos cinquenta nós em Minorodo!

Pela manha, rumamos para Tulear, um porto de entrada de Madagascar a umas cento e trinta milhas mais ao norte de Minorodo, com ventos entre os vinte e cinco e trinta e cinco nós de Sudoeste, nem mexi na mestra. Fui somente com a genoa risada, e quando o vento apertou mais ainda, enrolei a genoa e abri a staysail até o final da travessia, na manha do dia seguinte.

Chegamos a Tulear e ancoramos ao Norte do porto, mas logo chegaram dois locais com uma canoa e disseram que ali era perigoso a noite, pois os bandidos da mafia local costumavam atacar barcos naquela area. Quando ele se apresentou como José, logo perguntei se ele era taxista, o que confirmou. Ai disse que já o conhecia de relatos de outros barcos que passaram por Tulear no ano passado. Com isso começamos uma amizade que durou até nossa partida. O Jose fazia de tudo que precisavamos e queriamos. Nos levou para fazer a documentacao de entrada, foi comprar diesel, trouxe duzentos e cinquenta litros de agua doce para cada barco, nos levava de manha para a cidade, nos levava ao mercado e supermercado, e combinamos uma viagem ao parque nacional de Isalo, a uns duzentos e cinquenta quilometros terra adentro. Fomos de manha e voltamos a noite do dia seguinte, pernoitando em um hotel perto do parque.

O parque custou vinte e cinco mil Airiares (1US$ = 2000A), mas para entrar tinha que contratar um carro, mais quarenta mil airiares, e tinha que ser acompanhado por um guia por mais quarenta mil airiares, ou seja, meio carinho. No parque vimos varios tipos diferentes de lemures e alguns pássaros unicos de Madagascar, tirando muitas fotos. Entravamos no parque de carro, e uns tres quilometros adentro, o carro para em um estacionamento e continuamos a pé. Existem muitas trilhas e muitas atraçoes, mas nosso interesse era somente nos lemures, então caminhamos não mais do que uns tres quilometros entre ida e volta da area dos lemures. No caminho consegui ver um lemur de rabo com aneis branco e preto, da raça Maki, mas no parque não conseguimos encontrar nenhum, por mais que eu tenha entrado mata adentro.
Depois de uma noite relativamente bem dormida, por conta de um pernilongo que conseguiu entrar dentro da tela que cobre a cama, mas como as luzes se apagam as vinte e uma horas, entao foi caça ao pernilongo á luz de vela e finalmente conseguimos dormir em paz depois de esmagar o abusado.

Mais duzentos e cinquenta quilometros de volta, uma viagem que passa por varias aldeias das mais diversas, desde as mais pobres, até as bem ricas, nas areas de mineraçao de safiras. Na chegada de volta a Tulear, o Jose, que ficou chateado por não termos conseguido ver os Makis no parque, nos levou ao Hotel LaLa, onde havia um casal dentro de uma pequena jaula, que para nossa surpresa tinha tido um bebê Maki recentemente. Fui logo comprar bananas para alimentar o casal, pois o bebê ficava mamando quase que o tempo todo, e os animais não aparentavam estarem bem alimentados. Durante os dias que ficamos em Tulear, sempre que possivel, eu comprava bananas e ia alimentar o casal de Makis no Hotel. Eles me ofereceram levar o bebê, e a tentaçao era grande, mas, imaginem, eu com um lemur Maki em São Paulo, então, mesmo sabendo que aquele bebê teria uma vida muito melhor comigo do que naquela jaula, entendi que lugar de lemur é em Madagascar.

Almoçamos todos os dias no Bo Beach, um bar-restaurante onde os estrangeiros se encontram em Tulear. Sempre muitos estrangeiros, e muitas mocinhas locais procurando arrimo... Tulear é uma cidade com sessenta mil habitantes, muitos morando em casebres minusculos, alguns feitos somente com arbustos secos, com muita gente nas ruas, andando de lá para cá, e um veiculo bastante interessante, os push-push, pequenas carroçinhas movidas por um homem a pé, que podem levar até tres pessoas. Não esperimentamos uma por falta de oportunidade. Os produtos do mar são abundantes, mas, sem refrigeraçao não duram muito. Carne de cabra esta sempre disponivel, mas também sem refrigeraçao e com muitas moscas em cima. Fomos muito bem recebidos em Tulear, e não tivemos qualquer incidente desconfortavel. O Chefe de Policia local, que fêz a nossa entrada, dedicou dois seguranças para tomarem conta dos barcos dia e noite, e os pôs responsaveis por qualquer problema. Documentação de entrada e saida foi rapida e sem complicaçoes.

No total ficamos uma semana em Tulear, sempre esperando uma janela de tempo para atravessar para a Africa do Sul e finalmente zarpamos numa quinta-feira onde a janela estava ruim para a saida, mas parecia ser boa para a chegada em Richards Bay. Com ventos acima dos vinte nós, saimos de Tulear as quatorze horas, só para encontrar um tremendo swell logo fora dos recifes que cobriam a area do porto. Foram dois dias de muita ondulação e ventos fortes, mas como a janela prometia, seguimos direto na direçao de Richards Bay na Africa do Sul, ao invés de seguir na direcáo mais a Oeste da costa de Moçambique que oferece algumas ancoragens mais protegidas. Muitos barcos já estavam por lá, e quase todos sairam dois dias depois que saimos de Tulear, mas nós tinhamos umas quatrocentas milhas a mais para atravessar, pois estavamos vindo do Oeste de Madagascar. Hoje, segunda-feira, quatro dias depois da nossa saida de Tulear, estamos atravessando a temerosa corrente de Agulhas, a cento e cincoenta milhas de Richards Bay, onde chegaremos amanha a noite. Nossa janela foi bem escolhida, e fora a dureza da saida, o resto da travessia foi bastante confortavel.
MATAJUSI Navegation Information:
At 11/5/2012 08:56 (utc), Position was 27°23.62'S 035°38.62'E, Direction was 233T, Speed was 5.4

----------
radio email processed by SailMail
for information see: http://www.sailmail.com

sexta-feira, outubro 26, 2012

Primeiras experiencias em Madagascar

A travessia para Madagascar durou quatro dias. O primeiro com algum desconforto de mar, o segundo e terceiro perfeitos, não fosse a cabeçada da baleia, e o quarto, com ventos fortes, mar alto e ondas quebrando, enfim, uma boa mistura. Hoje mergulhei e chequei o barco por baixo, e encontrei uma marca de batida uns três metros da proa, do lado direito do barco, na altura da linha dágua, o que para mim confirma ter sido uma baleia, tecido mais mole do que um container ou um tronco ou árvore. Acredito que o barco passou do lado dela, tocando a barbatana lateral esquerda, ao primeiro barulho, ela reagiu jogando a cabeça para aquele lado, batendo no barco. Concluo que tivemos mais do que sorte, pois quando se bate em uma baleia, ela bate o rabo com força para sair fora, e se esse rabo bate no barco, pode enfiar o sail-drive para dentro, causando quase que certamente o afundamento do barco. Considero essa a parte mais frágil de um veleiro com rabeta. Mesmo os com pé de galinha, se empurrados com força, quebram também o casco, podendo causar o afundamento.

Na noite de terceiro dia, falando com o Scorpio e o Elaine pelo SSB, entendemos que eles iriam parar na Galions Bay, no Sudeste de Madagascar e mesmo já estando em outra rota, uma que nos levaria por fora do Banco de Etoile até passarmos por todo ele, e ai rumando para Noroeste, procurando abrigo na Baia de Minorodo, resolvemos nos juntar a eles em Galions Bay, uma rota que nos punha com ventos acima dos vinte e cinco nós no través, e ondas até três metros de altura, e quebrando, mas duas horas depois, estavamos ancorados, molhados mas seguros dentro da Galions Bay. O Erica já tinha estado aqui antes e tinha postado as coordenadas de entrada e ancoragem, embora tenha perdido a ancora com sessenta metros de corrente pois não conseguiu recolhê-la, por isso me passou as coordenadas da garrafa pet que deixou amarrada na ponta da corrente, para ver se eu conseguia trazer no mergulho. Eu bem que tentaria, mas, água muito suja, apenas um metro de visibilidade, e eu não conheço os tubarões ou outros perigos por aqui, então, não tentei.

Entrei na baia ainda com luz do dia, segui até a área de seis metros de profundidade e virei a direita, para ir para tras de uma ponta, e assim ficar fora da ondulação, ancorando em seis metros, com trinta metros de corrente, o suficiente para ventos até trinta nós, e fomos arrumar o barco, ou tentar. Explico: assim que entramos na baia as canoas com os nativos já começaram a sair de terra vindo na nossa direção. Nem bem ancoramos e já estávamos rodeados de canoas, todos pedindo algo, em uma língua onde não conseguimos entender absolutamente nada. Através de gestos, entendemos que eles queriam camisas e linhas de pesca. Eu respondi que queria fazer trocas, pois queriamos peixes, côcos e banana. Logo estavam chegando canoas com peixes, côcos, bananas, mangas e tomates, e ficamos fazendo trocas até quase o anoitecer. Espero que, no entusiamo, tenham sobrado algumas camisas para mim!

Quando anoiteceu, ficamos curtindo o visual a nossa volta, com uma vila em frente onde ancoramos, duas enseadas com praias, um delas com ondas quebrando fazendo o barulho usual, montanhas por toda a volta, fora a entrada da baia, mas a aparência de um lugar arido, parecido com o nordeste brasileiro, fora as montanhas.

A Lilian preparou o peixe frito com cuscuz, jantamos e fui fazer as NETs do SSB e acessar o email do barco. Depois de toda essa atividade, ficamos com sono e fomos dormir, apenas para acordar meia hora depois com o vento passando dos trinta nós. Por segurança, desci mais quinze metros de corrente, e dormimos até as seis e meia da manhã, quando novas canoas chegaram para fazer mais trocas! Mais côcos e tomates, pois nos peixes não deu troca... percebi que as trocas estavam ficando mais caras... ai começamos a recusar as ofertas.

O Andrei, com quem já tinhamos feito trocas ontem, veio e foi falando uma palavra ou outra em ingles, e entendi que ele tinha feito varias atividades com o Erick, do Erica, então sugeri irmos no meu bote até a desembocadura de um rio que tinha visto pelo Google Earth para subir o rio de bote, único problema que a praia ficava acima da água do rio, e as ondas estavam altas, quebrando na praia, mas nada que nos empedia de tentar. Escolhi o melhor lugar para aterrar, onde as ondas eram menores e quebravam com menos força, mas isso era um tanto longe da saida do rio, e lá fomos nós, no meio de duas ondas, rumo a praia. La chegando, virei o bote contra as ondas e pulamos para fora, segurando com as mãos. Conseguimos manter o bote batendo de frente nas ondas enquanto fomos levando ele mais proximo da praia. Nisso apareceram mais dois nativos para ajudar, tirei o motor, que o Andrei levou nas costas, e em quatro, levantamos o bote e o levamos para a praia. De lá, para a entrada do rio foram uns duzentos metros de carregar o bote e o motor, mas logo estavamos com o bote no rio. Os dois que vieram nos ajudar pularam também para dentro do bote, e agora, em cinco, subimos o rio cuja água era salobra.

O Andrei me apontou para uma área onde eu podia mergulhar e lá fui eu para dentro dágua, antes mesmo de pensar se em Madagascar haviam salties, os famosos crocodilos de água salgada. Depois de tentar acertar algum peixe, com uma visibilidade menor do que trinta centímetros, voltei para o bote, mas não consegui me fazer entender com o Andrei, sobre a existência ou não de salties...

Nisso vimos um grupo de nativos puxando uma rede mais para o meio dessa area alagada do rio, e para lá fomos nós, curioso em conhecer os tipos de criaturas que eles tirariam daquela água. Peixes pequenos, enguias, siris, e camarões. Perguntei para o Andrei se eu podia comprar um pouco de camarões, e ele logo negociou mais ou menos um quilo, ou oito latinhas de massa de tomate, a medida que eles usavam para medir quantidade de camarões, cujo preço ficou em hum mil Ariary, equivalentes a dois mil Ariarys igual a um dollar, ou seja, um Real por quilo, outra moda que podia pegar no Brasil.

Mais uma aventura levando o bote de volta para o mar, mas conseguimos voltar para o Matajusi ainda secos. No caminho perguntei para o Andrei onde podia mergulhar, e ele me indicou uma área que separava as duas enseadas a Leste dentro da pequena Galions Bay. Parei no Matajusi para deixar o camarao e a Lilian já ir tratando do almoço, e fui mergulhar na área indicada pelo Andrei. Quando chegamos na praia, já tinham varios nativos com coisas para trocar, e acabei trocando tres polvos e uma lagosta por mais tres camisas. E eu achando que as camisas ja tinham acabado! No mergulho, vi budiões, mas estava com o estilingue havaiano de pequeno alcance, então fui a procura de vieras da pedra, e me diverti pegando algumas grandes e comendo, oferecendo para o Andrei que comeu uma.

Quando retornei do mergulho fui descansar e ficamos no barco trabalhando, lendo e escrevendo emails. Depois de uma noite bem dormida, no dia seguinte, depois dos afazeres no barco, fomos visitar a vila, chamada Italy. Nunca havia visto gente tão pobre, nem mesmo no Nordeste brasileiro! Alguns tinham apenas um trapo cobrindo seus genitais. Eles falam malagashi, mas alguns trocavam palavras em francês, uma ótima oportunidade para treinar o nosso. Visitamos a vila inteira, conhecendo a escola, uma construçao em alvenaria, mas só com metade do telhado, as duas igrejas, catolica e protestante, e as pequenas casinhas de não mais que 3m x 2m onde moravam uma familia inteira. As casas eram feitas de paus, com telhados e parede que pareciam de pau de caraguata amassado. A vila tem trezentos e cincoenta habitantes, com muitas crianças, e por todo lugar que íamos, éramos seguidos por quase uma centena de crianças de todas as idades. Eu e a Lilian estávamos de óculos escuros, então as crianças não conseguiam ver para onde estavamos olhando, elas andavam na nossa frente, olhando para trás, e dando trombadas em coisas pelo caminho, observando cada detalhe da nossa roupa, pele e fisionomia.

Além dos óculos, eu estava com um chapel de abas largas, camuflado em verde, e eventualmente, quando o sol deixou de bater forte, tirei o chapel. Foi uma gritaria total! As crianças me rodearam e gritavam sorrindo. Entendi que eles nunca tinham visto um branco calvo, pois todos os homens por aqui tinham cabelo. Aproveitei para tirar também os oculos, e lá veio de novo grande estardalhaço feito pelas crianças, que finalmente conseguiram ver meus olhos. Incrivel como coisas tão simples e corriqueiras podem ser de tanto interesse.

Depois de dois dias e meio em Galions Bay, partimos com destino a Minorodo Bay, a cento e trinta milhas de distancia e para onde ja haviam ido sete outros barcos, aguardando uma janela propicia para atravessar as oitocentas milhas até Richard's Bay.

MATAJUSI Navegation Information:
At 10/26/2012 04:41 (utc), Position was 23°22.53'S 043°39.74'E, Direction was 124T, Speed was 0.2

----------
radio email processed by SailMail
for information see: http://www.sailmail.com

sábado, outubro 20, 2012

Batemos em uma baleia!!!

Hoje às 2h da manhã, em uma noite sem lua, completamente escura, navegando a 4.5 nós, com 8 a 12 nós de vento de popa, com as velas armadas em asa de pombo, tivemos um forte impacto no barco, que imaginamos ter sido uma baleia, em abundância por aqui nessa época do ano. Um pouco de falta e muita sorte combinaram para que tenhamos passado por esse susto enorme, mas aparentemente sem consequências para o barco. Não diria o mesmo de nós dois! O susto de passar por essa situação em alto mar, distante de tudo e todos, é indescritível, e dá uma gelada no nosso ânimo... Aproveitamos para relembrar as ações de cada um em uma situação de abandono de barco, mas não se fala muito por aqui hoje... Aproveito então para escrever.

Ilha Mauricio:
Acabamos ficando bem mais tempo na Ilha Mauricio, por conta das mudanças nas empresas no Brasil, onde eu tive que acompanhar de perto algumas situações, e por já ter internet fácil e barata no barco via um celular pré-pago da Emtel, pude me dedicar ao trabalho por mais umas semanas, aproveitando e amaciando bem o novo motor de popa do botinho que comprei, um Tohatsu 8HP. Motor aprovado, plaina o bote bem facilmente com os dois dentro, mais carga, agora podemos ir pescar mais longe quando ancorados.
La Reunion:

Quando tudo resolvido, barco devidamente provisionado e time preparado, partimos para Richard's Bay na Africa, mas, nossa travessia em passagem por La Reunion, onde haviamos decidido não parar e ir direto para Richard's Bay, foi uma combinação de mar bravo, vento indefinido, falta de prática, que depois de provocar quatro jibes indesejados, me promoveu a por o barco em capa e ir dormir. Lá pelas duas da manhã pus o barco de novo em movimento, depois de avaliar os problemas que já tinhamos tido nessa pequena travessia de vinte e quatro horas. Resolvi ir para St Pierre, no Sul da Ilha, pois lá se encontravam alguns amigos que ainda não haviam partido para Madagascar ou Africa. Depois de tentar por algumas horas, percebi que não íamos chegar com luz do dia e mudei rumo para Le Port, ao Norte da Ilha, onde chegamos as quatro e meia da tarde.

Pedimos autorização para entrar no porto e informação sobre para onde ir, e seguimos direto para a marina. Incrivél que, essa foi a única vez que conseguimos falar com uma autoridade de La Reunion. Os oficiais de Emigração e Alfandêga não vieram registrar nossa entrada e saida! Soube pelo gerente da marina que eles ligaram para saber de onde éramos, nossa aparência e do barco e nosso comportamento, e com isso concluiram que tudo bem ficarmos em La Reunion sem documentação. Eles só pediram uma cópia do documento de entrada na marina, que tinha basicamente todos os dados que eles estariam colhendo da gente. Puxa! Como gostaria que essa moda pegasse no Brasil!

Bom, já que estamos aqui, por que não conhecer o lugar? Alugamos um carro por uma semana e acho que dirigi mais de seicentos quilometros, conhecendo basicamente a ilha inteira! Os destaques são: os vulcões, os penhascos, alguns cobertos de quedas d'água, chegamos a contar doze quedas em um desses penhascos, sem esquecer do pão, genuinamente o baguete francês, uma delícia!

O maior problema de La Reunion é a falta de ancoragens, não tem nenhuma, portanto, tem-se que ficar em marinas pagas o tempo todo, onde aproveitamos para dar uma boa limpada no barco. Provisionamos novamente com frutas e vegetais frescos, e muito queijo, e saimos dia quinze no final da tarde com destino a Richard's Bay na Africa, uma travessia de mil e quatrocentas milhas com tempo estimado de doze dias. As primeiras vinte milhas tem muita influência da ilha no vento, depois, quando o vento ficou normal, estava ventando em média vinte nós, vindo do Sudeste, e seguimos com esse vento as primeiras vinte e quatro horas, sacudindo bastante com um mar agitado, mudando depois para vento entre dez e quinze nós, de Leste Sudeste, com mar mais baixo. Durante esses três primeiros dias de travessia, passamos pelas situações normais em uma travessia nessas latitudes, com um mar nervoso que a qualquer momento pode mudar, com a única diferença entre outras travessias a batida no que pensamos ser uma baleia, pois não vimos nenhuma marca no barco. Assim que puder vou mergulhar pra ver se identifico mais algum sinal do que foi que aconteceu.

O barco estava com motor desligado pela primeira vez, desde que saímos de La Reunion, pois estava tentando ganhar tempo e alcançar outros barcos amigos que haviam saído de La Reunion na parte da manhã, e quando chegamos próximos a eles, desliguei o motor. Acredito que se foi uma baleia, não nos viu pela noite totalmente escura, e não nos ouviu, pelo motor desligado e o barco navegando a apenas quatro nós e meio. Eu estava dormindo na cabine da frente, e a Lilian tinha acabado de entrar da ronda a cada hora, e estava deitada na sala, esperando pegar no sono. Na batida, eu fui projetado para a frente da cabine e do barco, mas levantei rápido e sai correndo, já pensando no pior, que iríamos afundar. A Lilian já estava saindo para o cockpit, mas eu pedi para ela levantar os painéis do chão echecar se estavam entrando água. Enquanto ela fazia isso, eu chequei estaiamento e velas, e depois fui na proa ver se tinha algum furo no casco. Não encontrei nada errado, e a Lilian não encontrou nenhum lugar no barco entrando água. Depois fui procurar no motor, também tudo normal, e liguei o motor, com tudo continuando normal. Enfim, fora o tremendo susto, parece que estamos bem.

Estamos agora rumando para o sul de Madagascar, onde pretendo dar a volta, aproveitando a corrente e ir para uma ancoragem do lado Sudoeste de Madagascar para dar uma descansada e checar o barco por baixo.

A partir de amanhã e por 3 dias, nenhum barco consegue chegar a Richard's Bay, por conta de um Sudoeste forte que está entrando, e vai levantar ondas enormes na corrente de agulhas. Todos os dias, duas vezes por dia, entramos na NET SSB Peri Peri, na frequencia 8101 as 05:00 e 15:00 ZULU (UTC), mudando depois de meia hora para 12353, onde o Paul fala com todos os barcos que estão navegando na costa da Africa do Sul, passando instruções. Imaginem, ele faz isso todos os dias, duas vezes por dia, sete dias por semana, e não ganha nada por isso!

Estamos juntos com uns quinze barcos, quase todos interessados em participarem do primeiro BRally, só espero que os pessoal de terra esteja trabalhando em fazer dessa oportunidade de termos tantos cruzeiristas estrangeiros, uma experiência memorável, que eles possam reportar para os próximos barcos a virem conhecer o Brasil.

MATAJUSI Navegation Information:
At 10/19/2012 14:26 (utc), Position was 25°09.00'S 046°45.17'E

----------
radio email processed by SailMail
for information see: http://www.sailmail.com