terça-feira, setembro 01, 2009

Passando a noite de vigia...

Posição S16 46.191 W151 02.296 31/08/09 22h14minh Local (-10 UTC)
Dia (e noite) difícil hoje, cheio de dificuldades por causa dos ventos fortíssimos que estão provocando os barcos a soltarem das suas ancoragens. Os ventos estão acima dos vinte nós, mas com rajadas de até quarenta e oito nós.

Havíamos saído de manha e fomos conhecer a aldeia de Fare. Aproveitamos para sacar algum franco polinésio no banco local, pois o que tínhamos acabou, e comprar alguns itens na casa de ferragens local e no enorme supermercado que tem em Fare. Ficamos surpreendidos com o tamanho do supermercado e a qualidade dos seus produtos, e os preços são inferiores ao do Carrefour que fica do lado da Marina Tainá em Papeete. Choveu o tempo todo e estávamos encharcados, usando as capas de mau tempo do barco.

Quando retornamos ao barco, não percebi que ele havia saído um pouco do lugar onde estava, mas mais tarde, olhando os pontos de referencia a nossa volta percebi que estávamos mais próximos do catamaran PuraVida que estava atrás de nos, e não estávamos mais do lado do Spica, onde havíamos ancorado.

Vestimos correndo nossa roupa de chuva e saímos para recolher a ancora e ancorar novamente. Com vento muito forte, pedi para a Lilian cuidar do barco enquanto eu cuidava de recolher a ancora. Quando a ancora veio, veio junto com um pedaço de coral cravado no meio da ancora. Assim ela não fincaria na areia mesmo e iria arrastar. Arranquei o coral da ancora e ancoramos novamente, agora com sessenta metros de corrente em oito metros de profundidade. Mergulhei e fui ver a ancora. Ela estava firme, bem enterrada na areia, e ainda passei a corrente por baixo de um coral, pensando que iria dar trabalho tirar a ancora de lá depois.

Ficamos de olho, e não deu outra, depois que começou a escurecer, para dificultar as coisas, percebi que estávamos mais próximos do catamaran novamente, ou seja, estávamos garrando (ancora correndo no fundo). Enquanto preparávamos o barco de novo para recolher novamente a ancora, percebi que o catamaran PuraVida estava garrando também e já havia passado por cima da primeira barreira de corais do lado de dentro. Sem tempo para mais nada, comecei a assobiar muito alto, como sei fazer e para sorte do Dallas, que estava sozinho com sua esposa no catamaran, pois seu irmão Wess e sua namorada estavam em terra, ele ouviu os assobios e foi para fora ver o que estava acontecendo. Sinalizei que ele estava indo para os corais da arrebentação de fora da ilha, e fui cuidar do Matajusi.

Deu muito trabalho recolher sessenta metros de corrente, porque não conseguia manter o barco na linha do vento enquanto a Lilian recolhia a corrente e a ancora. A proa virava de lado com a força do vento e o motor não conseguia trazer a proa de volta a tempo. Não podia acelerar tudo e sair dali, pois a ancora estava ainda no fundo, então fizemos algumas manobras até recolher uns cinquenta metros de corrente, e depois virei o barco de re e fui contra vento de ré, arrastando a corrente para fora da área de menor profundidade. A Lilian não entendeu minha manobra e ficava gesticulando que era para eu ir para cima da ancora, e não conseguíamos escutar um ao outro com o barulho do vento, motor e ondas batendo na popa. Então, arrastei a ancora para fora dali, e a Lilian recolheu mesmo com a corrente esticada por causa da minha velocidade de ré. No final, recolhemos toda corrente e ancora, e fomos procurar um outro lugar para ancorar.

Três outros barcos também garraram e vieram atrás da gente para ver o que nós íamos fazer. Quando entramos em Huahine pela primeira vez e dei uma volta para ver onde ancorar, passei por cima de um local onde a profundidade era de dez metros, mas subia rapidamente para os três a quatro metros. Joguei ancora nos dez metros e dei setenta metros de corrente, passando por cima de uma área de corais mais rasa ate chegar a um local com quatro metros de profundidade. A teoria é que a corrente não garra em fundo com subida íngreme. Vamos testar essa teoria, mas sei também que, se a ancora garrar (correr) para cima, ainda vai ter que passar pelos corais antes de soltar de vez. Acho que vai segurar.

Passei a informação pelo VHF dezesseis e dois outros barcos fizeram o mesmo, vindo ancorar próximo ao Matajusi. Nisso recebemos uma chamada do Spica pelo VHF dezesseis, perguntando se nós estávamos vendo o barco Frances que estava ancorado na frente do Spica. Eu havia notado que vinha outro barco atrás da gente quando fomos para esse novo ancoradouro, mas não o vimos ancorar. Depois percebemos que eles saíram para fora da barreira de corais, em mar aberto. Nisso o Spica nos informou que eles haviam segurado o botinho do barco Frances que havia desprendido, um ato de coragem visto que o Spica usa um botinho de madeira a remo... Conjeturamos que o barco frances perdeu o botinho e soltou a ancora para ir buscar, e ficou sem ancora e sem botinho, pois ele foi para Mar aberto e entro em capa (deixar o barco atravessado ao vento, arrastando a quilha). Amanha vamos saber melhor o que se passou.

Enquanto isso liguei alarme de ancoragem (se sair 0.02 milhas do lugar de ancoragem soa alarme), de profundidade (se chegar a dois metros e meio soa alarme), de vento (se chegar aos quarenta nós soa alarme), e vamos passar a noite assim. A previsão para amanha é que os ventos vão aumentar!!! Mas amanha vai ser um novo dia, que com claridade, ajuda a ver se estamos bem ancorados.

Até amanha, quando reportarei como passamos a noite.

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