domingo, outubro 03, 2010

O Oceano Indico nos mostrando o que temos pela frente:

Fora aquele mar bravo que pegamos logo na saída de Port Moresby, o pior da nossa experiência, essa travessia tem sido uma maravilha, com ventos bons e mar bom. Com isso, aprendemos a usar a Genaker, que tem ficado armado o dia todo, só descendo durante a noite, e a exemplo, ontem estávamos com o genaker e a genoa armados, andando entre sete e nove nós, mas no meio da tarde, o vento começou a crescer, chegando, e as vezes passando dos vinte e cinco nós. Eu fiquei entre a cruz e o caldeirão, a cruz sendo o Mario Buckup, que me ensinou a usar o balão e, respondendo à minha pergunta sobre até que velocidade de vento eu poderia usá-lo, respondeu "até uns trinta nós", e o caldeirão sendo o Marçal Ceccon, que sempre diz que, se eu tiver que fazer alguma coisa e não fizer, que pago o preço depois...
O preço dessa vez foi muito esforço, muita adrenalina, e um pouco de experiência em sair voando junto com a vela!
A coisa se passou mais ou menos assim: Vento passando dos vinte e cinco nós, vindo pela popa, com genoa e genaker armados. Mar engrossando, com ondas entre dois e quatro metros. O barco estava andando perto dos dez nós, quando veio uma onda mais forte e jogou o barco de lado, expondo mais a genaker e tirando o vento da genoa, que estava armada no pau de spinaker. A genaker encheu de lado para o barco, e adernou o barco a ponto do deck começar a correr debaixo d'água. Nisso a genoa aquartelou e armou do outro lado. Tomei o controle do piloto, e, com genoa e genaker agora empurrando o barco de lado, não estava conseguindo voltar a condição de vento de popa, então pedi para a Lilian soltar a escota do genaker. Assim que ela fez isso, o genaker desinflou e foi para a frente do barco, e consegui voltar a velejar com a genoa. Correndo, expliquei para a Lilian o que eu precisava que ela fizesse com os cabos, pus o cinto e as luvas, e corri para a frente do barco. Desamarrei o cabo da camisinha, a que se usa para encamisar a genaker e tira-la do vento, e comecei a baixa-lá. Veio bem até a metade, depois o vento era tão forte que, somente a camisinha no vento e estava me levantando do deck! Tive que soltar o conjunto para não voar para fora do barco. A Lilian percebendo meu apuro, soltou mais um pouco da escota de barla, a que fica presa no púlpito do barco (bico da frente), o que fez o conjunto todo voar mais alto, mas parou de armar um balãozinho na base do genaker. Fui pegar a escota de sota, que estava presa pelo nó no moitão armado no cunho de spring, e voltei para a frente puxando o conjunto todo pela escota de sota. Consegui trazer o conjunto para baixo, com a Lilian ajudando e soltando um pouco da adriça (segura a genaker no topo do mastro) e prendi em um elástico com ganchos que havia posto no guarda-mancebo exatamente para o caso de eu não conseguir ficar segurando o conjunto, e fui baixando o conjunto para dentro do saco da genaker com a Lilian dando cabo na adriça. Ufa!!!
Ensaquei a genaker e deixei tudo preso no guarda-mancebo, e retornei ao cockpit, somente aí notando que, mesmo estando com o cinto, não o havia prendido em nenhum lugar!
Mantive a genoa no pau de spinaker e armei a staysail em asa de pombo.
Outros acontecimentos do dia incluíram o Bizul (Gaivota de bico azul) que já estava conosco a mais de um dia, saia para voar, mergulhava, se limpava todo na água e retornava ao barco, me procurando. Onde eu ia ele vinha atrás. Ficava lá em cima do bimini olhando para baixo para ver onde eu estava. Deve ter sido amor à primeira vista, que correspondi enquanto não havia notado seu terrível habito de levantar a traseira e cuspir (longe) por trás! O cockpit inteiro estava ficando, comprometido, e tínhamos que ficar fora da mira. Acho que era uma fêmea, e estava com ciúmes da Lilian, pois ficava mirando nela e as vezes ate conseguia acertar!!!
Essa noite, durante as constantes atravessadas do barco no mar bravo, ela se foi, e de manhã não retornou, ainda!!! Não posso dizer que estou com saudades! Estou sim, contente, de ter aceitado a Bizul fraquinha, ter alimentado ela com mahi-mahi e atum, e ter proporcionado para ela a chance de se fortalecer e continuar lutando pela vida.
Estamos a um dia de Bali, com previsão de chegada por volta das nove da manha, velejando com a genoa e a staysail armadas em asa de pombo, com uma escôta preguiçosa na amura da staysail para segura-lá por fora do brandal, mantendo-a assim mais aberta ao vento de popa que continuamos tendo. O mar esta melhorando, com os ventos agora na área dos quinze nós, e o barco velejando entre seis e sete nós. Vou mantê-lo assim, pois é a media que preciso para chegar amanha perto das nove horas em Bali. Se aumentarmos a velocidade, com o uso da genaker, vamos chegar muito cedo e ter que esperar fora antes de entrar, então não faz sentido ir mais rápido agora.
Não pude deixar de notar todos os mares que navegamos desde Vanuatu. Começamos pelo Mar de Salomão, vindo depois Mar de Coral, Mar de Arafura, Mar de Timor, Mar de Savu, Mar de Flores e Mar de Java.
Uma coisa importante, aos que estiverem planejando uma viagem desse tipo, são os remédios de bordo, dentre eles, um remédio para matar os vermes do intestino, que deve ser tomado a cada seis meses. Pergunte ao seu medico que remédios trazer.
Um caso interessante que me esqueci de mencionar foi quando estávamos em Port Moresby e eu reclamei de uma coceira nos pés e o Brian me indicou seu medico de medicina chinesa, o Dr. Ma. Eu já havia discutido esse problema com minha dermatologista, mas não encontramos solução, mesmo porque, não fiz nenhum exame de fungus para saber se tinha algum. Fato é que, essa vida de barco, de muita umidade e todos andando descalços, uns acabam passando fungus para outros e é preciso estar sempre atento a essas mudanças, que devem ser examinadas e tratadas. No caso do Dr. Ma, ele me receitou um frasco de remédio chinêz, que tem sido tiro e queda! Usei nos pés, nas unhas, no buço, que estava com umas marcas vermelhas, nas narinas que estavam coçando e descascando, e tem eliminado tudo. Não sei do que se trata, mas é tiro e queda.
-----
At 4/10/2010 08:29 (local) our position was 09°56.20'S 117°35.94'E, our course was 292T and our speed was 5.7.
No dia 4/10/2010 as 08:29 horas (local) nossa posição era 09°56.20'S 117°35.94'E, nosso curso era 292T e nossa velocidade era 5.7.
----------
radio email processed by SailMail
for information see: http://www.sailmail.com/