quinta-feira, novembro 18, 2010

Karimata, um paraiso perdido:

Conforme estimado, chegamos a Karimata por volta das nove da manha, mas sem o sol a pino, ficava difícil localizar os muitos recifes que cercam a ilha. Além disso, as cartas não são precisas e elas estão posicionadas fora do lugar correto. Sem problemas, usei a função de Chart Offset do E80 para posicionar a carta em cima do reflexo do radar, e fui entrando pelos recifes adentro, com a Lilian postada na proa. Ainda muito longe de terra, escuto a Lilian gritar que estávamos já em cima de um recife. Dei maquinas a ré rapidinho, mas chegamos a ficar em cima daquele recife. Sem alternativa melhor, decidi ancorar por ali por perto e esperar o sol do meio dia para tentar mais aproximação de terra. Do barco podíamos ver muitos barcos pesqueiros, alguns de maior porte, ou seja, havia um caminho.
Ancoramos com seis metros de profundidade com ancora Bruce de vinte quilos e quarenta metros de corrente. Entrei para dentro para ajudar a ordenar a cabine depois da travessia desde Gelam, mas não demorou muito e ouvi alguém chamando do lado de fora.
Hey mister?
Sai para ver do que se tratava, e conheci pela primeira vez o Tomi, um pescador nativo de Karimata. Ele perguntou se eu não preferia ancorar dentro da baia, atrás da linha dos recifes, o que logo aceitei. Ele se ofereceu para vir no Matajusi mostrando o caminho, e mesmo assim ainda seguimos seu barco, comandado por outro pescador nativo local.
Ajustei o tracking do E80 para guardar mais detalhes da rota, e fui seguindo o barco do Tomi, enquanto ele ficava na proa ajudando a apontar o caminho com sinais de mão. Em pouco tempo estávamos do lado de dentro dos recifes, ancorados em seis metros de água com quarenta metros de corrente, em águas calmas e ainda estamos no mesmo lugar.
Nossa estadia na ilha tem sido uma seqüência de experiências surpreendentes. Assim que chegamos, Tomi me convidou para conhecer sua casa, de frente para o mar, uma casa simples de madeira, metade em terra e metade em cima do mar. Ele estava voltando do seu trabalho, e trazia um monte de peixes de varias espécies diferentes, e algumas garopetas entre um e dois quilos, que mantinha vivas dentro de um barril de plástico, alimentado com água corrente da bomba de refrigeração do motor.
Ele me apresentou para sua família, pai, mãe e duas irmãs gêmeas, muito bonitas e me convidou para entrar em sua casa para tomarmos um chá com bolo verde, uma família muito simpática, que logo nos adotou e passamos a fazer muitas coisas juntos. Todos os dias passamos pelo menos algum tempo com ele e a família na casa deles, batendo papo e tomando chá com bolo. Convidei as irmãs e uma prima dele para conhecerem o barco e a Lilian, que havia ficado a bordo, e as levei de bote até lá. Elas passaram a tarde conversando, enquanto a Lilian preparava um bolo e alguns brigadeiros e beijinhos, para comemorarmos o aniversário do Manu, que havia completado vinte e oito anos durante nossa ultima travessia.
Ao final do dia, ainda com um pouco de luz, chegou o QOVOP, e logo passei as coordenadas que havia tirado do tracking do barco, com seis waypoints. Não demorou muito para eles estarem ancorados do nosso lado.
Logo levei todos, agora incluindo a Lilian, para conhecer o Tomi e sua família. Depois de muito papo e mais um chá com bolo, combinamos de ir com o Tomi no barco dele no dia seguinte, quando ele fosse pescar, e depois de uma noite bem dormida, estávamos prontos as sete da manha para acompanhá-lo.
Pontualmente as sete da manha, o Tomi passou com seu barco de pesca, motor de um cilindro a diesel, para nos apanhar e fomos eu e os três garotos do QOVOP, junto com nossos equipamentos de mergulho, para acompanhar esse tipo de pescaria que alguns pescadores da ilha fazem, o de apanhar peixes em covos feitos de tela de galinheiro com uma armação de madeira meio mole, mais parecida com um cipó. O covo tem uma abertura na frente, dobrada para cima, e eles o põem de lado, colado na parede do recife, com a boca para a frente, apanhando os peixes que porventura entram dentro do covo, pois eles não usam qualquer tipo de isca para atrair os peixes. Eu acredito que o primeiro peixe entra, por acaso, e outros procuram também entrar, pois vêem o outro lá dentro. Com isso algumas garopinhas também entram, e esse é o peixe que mais interessa, pois eles as apanham vivas, mantém vivas em um barril com água corrente do motor a bordo, e transportam para umas redes em forma de saco que eles amarram em uma armação de madeira próximo às suas casas, depois sendo colhidas pelo "Boss" um chinês que compra todos os peixes vivos que saem da ilha. Os outros peixes eles deixam morrer, e vendem para as pessoas da ilha que salgam peixes para vender. Eles tem um compressor, também impulsionado pelo motor do barco, que alimenta uma mangueira de até trinta metros, adaptada em uma mascara grande que cobre nariz e boca juntos, e usam para mergulhar segurando uma pedra, nadando sem pés de pato ate onde o covo esta, eles seguram o covo com as mãos e dão dois puxões na mangueira, sinal para o ajudante de bordo puxar a mangueira com mergulhador e covo juntos.
Nós demos uns mergulhos por perto para ver como eles trabalham, aproveitando para caçar mais peixes, alguns para nosso consumo, e outros para o Tomi juntar com sua pesca de salga, mas acredito que eles usaram para fazer um "bacar ican di pantai" ou, churrasco de peixe na praia. Aos poucos vamos entendendo uma palavra ou outra da língua Bahasa Indonésia. "Semalat malam", boa noite, "terima kasih" obrigado, "samasama" de nada, "capal turist" barco de turista, entre outras.
A comunicação por aqui é muito difícil, pois só uma minoria entende algum inglês, e só encontramos dois, o Tomi e um primo, que falam alguma coisa, então, nossa reuniões familiares à noite na casa do Tomi são hilárias! Todos nos fazem perguntas, que o Tomi traduz do jeito dele, e nós também satisfazemos nossa curiosidade sobre a ilha e a cultura deles, também traduzidas pelo Tomi, que esta brilhando radiante de felicidade com os novos amigos.
No dia seguinte da pescaria com o Tomi, fomos visitar uma cachoeira que corre pela mata e deságua em uma lagoa na praia a algumas milhas da vila que estamos, lugar ainda totalmente natural, sem caminho por terra, aonde só se chega de barco, e pelo caminho fomos apreciando as pequenas praias e costa rochosa que muito se parece com a Ubatuba ainda quase virgem que conheci na minha infância. Com maré cheia, entramos de bote até onde a água cai na lagoa, que na parte de cima tem água doce e na de baixo, salgada. Aproveitamos muito por lá, tomando duchas de cachoeira, lavando roupas, banhos, nadando, e explorando o lugar, o que chamei um lugar dos Deuses, pela beleza e pureza do lugar. Uma pena termos que voltar de lá antes das duas da tarde, pois fomos convidados para uma galinhada que a mãe do Tomi preparou para a gente.
Voltamos para a casa do Tomi, e passamos pela rotina de lavar nossos pés na entrada da casa, deixando as sandálias do lado de fora. Pisamos com os pés lavados e molhados em uma toalha no chão do lado de dentro e entramos na casa, sentando todos no chão em forma de roda. A galinhada foi servida, um ensopado de galinha em leite de côco e pimenta, arroz cozido em umas caixinhas individuais, feitas de folha de coqueiro na noite anterior, enquanto conversávamos. Eles amarram as caixinhas juntas e cozinham em água, com o arroz dentro. Para servir, pega-se um desses pacotinhos individuais, corta-se no meio com uma faca, e tira-se o arroz de dentro, usando-se as mãos para comer. Molha-se uma pequena porção do arroz no molho, levando à boca, e a galinha, cortada em pedaços pequenos, come-se também com as mãos. Teria sido muito melhor se toda a família tivesse comido junto com a gente, pois eles sentaram a nossa volta e ficaram observando como fazíamos para comer, trocando comentários e risadas falando de algo que não compreendíamos enquanto o Tomi se esforçava para ajudar cada um, mantendo os pratos sempre cheios enquanto comíamos. Logo enchemos a pança, mas evitando comer muito, pois havíamos sido convidados para jogar um vôlei contra o time da aldeia local.
Jogamos ao todo quatro partidas, e saímos todos cansados, e eu, com uns arranhões no pé e joelho de uma escorregada que dei, jogando descalço em quadra cimentada, cheia de areia e pedrinhas.
Ontem passamos o dia mergulhando na frente da ilha, tentando varias áreas de coral diferentes, para conhecer. No final tínhamos uma caranha de uns três quilos e mais um tipo de badejo com dente, mas com as cores da salema, peixe comum na costa brasileira.
Fico pensando na vida, como tem sido boa para mim. Poucos jamais tiveram a oportunidade de curtir o que temos curtido, ver o que temos visto, fazer o que temos feito, e em quanto isso melhorou a qualidade da nossa vida. A propósito, no mês passado, mesmo estando fora do escritório, dei inicio a um novo negócio que tem como objetivo melhorar a qualidade de vida dos nossos clientes. A área a ser explorada é muito extensa, então estamos primeiro focalizando na área de terapia física para melhorar o bem estar pessoal, oferecendo para empresas, serviços que incluem massagens, auriculoterapia, acupuntura, shiatsu, e ginástica laboral para ajudar trabalhadores principalmente em áreas de telemarketing e data-entry, ou outros tipos de atividades que são muito repetitivos, a alongar e relaxar de forma correta.
Nosso objetivo final é ter uma academia que vai incluir, além desses serviços, mais vários tipos de danças e ginásticas, pilates e circo, e no futuro também incluir cabeleireiros e esteticistas, para trabalhar na estima própria, finalizando com a disponibilização de palestras sobre qualidade de vida, incluindo charters e cursos de viver a bordo e circunavegação a vela para aqueles que querem explorar também essa oportunidade de se viver bem. Vejam detalhes no site http://www.managementgroup.com.br/ <http://www.managementgroup.com.br/>.
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At 17/11/2010 21:08 (local) our position was 01°39.52'S 108°55.76'E, our course was 013T and our speed was 0.1.
No dia 17/11/2010 as 21:08 horas (local) nossa posição era 01°39.52'S 108°55.76'E, nosso rumo era 013T e nossa velocidade era 0.1.

Veja nossa posição no Google Maps
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