quarta-feira, novembro 03, 2010

A caminho da Malásia - Ancoragem 1 - Ilha Raas:

Temos novecentas milhas de Bali até a ancoragem que escolhemos na Malásia, perto de Singapura, por isso definimos uma rota aonde vamos parando a cada um ou dois dias, assim conhecemos mais lugares. Levantamos ancora de Lovina as vinte horas, umas duas horas depois do QOVOP. Calculei que eles iriam navegar a umas cinco milhas e nós a seis, então com duas horas de diferença na partida, eu teria que ganhar dez milhas, e com uma milha a mais por hora, levariam dez horas para alcançá-los, então fiquei completamente surpreso quando passamos por eles a apenas três horas depois. Depois soube que eles tiveram um problema de aquecimento no motor, resolvido com a troca do rotor da bomba de água salgada do motor.
Cheguei a Pulau (ilha) Raas por volta das nove da manha, com o QOVOP ancorando do nosso lado umas três horas depois. Na chegada, tentei ir entrando por onde vi um pescador saindo, mas logo ficou raso demais, e enquanto procurava por um passe, chegou um pescador com sua canoa típica da área e me pediu para segui-lo. Ele foi fazendo um ziguezague atrás de outro ate chegarmos a uma área onde eu podia jogar ancoras. Nunca tive menos do que três metros debaixo da quilha, mas vimos alguns cabeços de coral que vinham quase até a superfície. Teria sido uma aventura passar por ali só na tentativa e erro! Enquanto estava tentando sozinho, teve uma hora que tive que por em marcha a ré e acelerar tudo, para evitar um cabeço bem na nossa proa. A Lilian estava ajudando de pé na proa, mas ela não tem muita experiência em julgar profundidades. Dessa vez ela viu que não ia passar e gritou para eu dar ré!
Depois de ancorados, o pescador que me guiou até a ancoragem chegou ao barco, e tentamos conversar. Difícil, pois ele não entendia inglês e nós não entendemos a língua da Indonésia, então foi só nas gesticulações, mas entendi muito bem quando ele mostrou um polvo recém pescado, o qual ele pediu RP100.000 (dez dólares). Disse a ele que estava muito caro, no que ele logo baixou para Rp50.000 (cinco dólares). Ele acabou levando também vários artefatos que guardamos para essas horas, camisetas, sapatos, revistas, etc. Combinamos via gestos que ele viria me buscar para um mergulho com ele depois que o QOVOP chegasse, mas ele não retornou mais.
No lugar dele, veio o Abu, que falava um inglês razoável e combinamos que ele nos levaria para mergulhar no dia seguinte. Preparei o polvo a vinagrete, a Lilian fez um feijão, e os garotos do QOVOP fizeram arroz e uma salada de pepinos com abacate. Jantamos fartamente e fomos dormir cedo, pois tínhamos navegado a noite anterior e íamos acordar cedo para o mergulho com o Abu.
Abu chegou umas sete e meia, e já estávamos quase prontos para sair. Ele deixou sua canoa motorizada amarrada no Matajusi e fomos eu, ele e o Manu no meu bote. Mergulhamos das oito e meia às treze e trinta! Eu não parei nem um segundo! Peguei uns doze peixes de tamanho médio e pequeno, pois é só o que tem por lá. Percebi muito coral destruído, depois sabendo que no passado alguns pescadores usavam dinamite. Hoje é ilegal usar dinamite, e já tem uns doze pescadores dessa ilha na cadeia por usar. Por outro lado, na demanda de hoje, eles precisam vender o peixe vivo, então usam um liquido (acho que é cianeto) para o peixe dormir, aí eles pegam o peixe e põem em um tanquinho de água cuja água eles trocam frequentemente. No final do mergulho, não vimos nenhum polvo, somente uma lagosta, mas era pequena e deixamos ela lá. Os garotos do QOVOP ficaram com duas garopas e um budião, e eu fiquei com um badejo e uma garopa, e dei o resto para o Abu. Durante o mergulho, vi como eles pegam polvos! Eles constroem caranguejos com anzóis e arrastam com as canoas os caranguejos perto das pedras. O polvo vê o caranguejo que parece estar nadando e ataca. O pescador sente o peso do polvo e puxa a linha para cima. O polvo fica preso nos anzóis nas costas do caranguejo de mentira!
Na volta para o barco, pedi para ver os caranguejos que o Abu tinha, feitos por ele mesmo, e comprei um para levar para o Brasil e mostrar para os pescadores da ilha do Montão de Trigo, meus amigos. Em área de polvo, essa é uma forma honesta de um pescador tirar polvos...
Acabamos jantando cada um em seu barco, e nos preparamos para sair na primeira luz do dia para atravessar as cento e trinta milhas entre a Ilha de Raas e a Ilha de Bawean, onde estimamos chegar amanha durante o dia.
Estamos com pouco vento, então estou ajudando no motor. Na saída, tínhamos um ventinho de popa entre seis e dez nós e armei o genaker, logo ganhando velocidade e deixando o QOVOP mais para trás. Eles estavam com três velas, a genoa e a mestra na sota, e uma genoa menor armada como a adriça de barla do balão, montada no pau de spinaker. Isso deu para eles um pouco mais de área velica, mas mesmo assim acabamos os perdendo de vista. Encontraremos-nos novamente na ancoragem de amanhã...
-----
At 3/11/2010 15:45 (local) our position was 06°44.97'S 113°58.44'E, our course was 301T and our speed was 3.7.
No dia 3/11/2010 as 15:45 horas (local) nossa posição era 06°44.97'S 113°58.44'E, nosso curso era 301T e nossa velocidade era 3.7.
----------
radio email processed by SailMail
for information see: http://www.sailmail.com/