sexta-feira, novembro 26, 2010

Aos proximos visitantes de Karimata...

Deixamos um presente para a próxima geração de visitantes de Karimata, plantamos cinco coqueiros na orla da praia, na entrada leste do riacho da cachoeira. Em alguns anos, esses coqueiros poderão ser identificados de longe, tipo o coqueiro que identifica a praia Oeste de La Blanquilha na Venezuela. Incentivamos o Tomi a plantar mais arvores, pensando no futuro, e também a começar um planejamento para quando da vinda de mais barcos, com a idéia de se criar um tipo de Iate Clube de Karimata, na frente da cachoeira, e de prestar serviços para os barcos que venham visitar a ilha. Sugerimos a venda de peixes, ovos e frangos, vegetais e frutas, lavanderia, água potável, saídas de barco para mergulhos, excursões pelas florestas da ilha, entre outros. Ensinamos ele também a queimar os plásticos que aterram nas praias de Karimata, e começar a incentivar os vizinhos a fazerem o mesmo.
Ficamos somente dois dias na ancoragem de Pejantan. Acho que teria muito mais a ser explorado na ilha, mas temos que seguir viagem, pois já temos passagem marcada de vôo para SP no dia vinte de Dezembro, então temos que chegar logo na marina em Johor Bahru na Malásia, e preparar o barco para dormir por muitos meses.
Saímos cedo junto com o QOVOP de Pejantan, rumo a uma pequena ilha chamada Merapas, no Leste de Bintan, ilha que fica de frente para Singapura, velejando primeiro com um bom vento de popa, depois mudando para um través de boreste, depois uma orça de boreste, virando para vento na cara, comum por essas bandas nessa época do ano, o chamado, Nortwest Monsoon. De novo, optei pela rota mais direta, usando o vento quando dava, e ajudando no motor. Tenho mesmo que acabar com o diesel dos tanques, pois vamos fazer uma boa limpeza neles quando estivermos na marina.
Tivemos algumas situações interessantes nessa passagem, algumas, pela primeira vez. A primeira teve a ver com um navio a noite, que mesmo com o AIS ligado, veio direto em cima da gente. Com o AIS, estou tão acostumado a ver os navios desviando, que deixei para ultimo minuto chamar esse pelo radio. Eu estava dormindo no cockpit e a Lilian fazendo o turno dela, quando ela me acordou e disse que um navio estava chegando muito perto. Olhei e vi as duas luzes, verde e encarnada, ou seja, direto na nossa direção. Peguei o radio e chamei três vezes o navio pelo VHF dezesseis, e já fui logo continuando, perguntando em voz ríspida que tipo de CPA (Ponto de aproximação mais próximo) ele estava me dando! Ele respondeu com voz de sono, Boreste com Boreste (Starbord to Starbord), ou seja, pensou que eu estivesse vindo na direção contraria da dele, não tinha nem visto a gente no AIS dele, mas logo percebi que ele desviou, pois sumiu a luz verde. Ele passou a Oitocentos e Sessenta e Quatro pés do Matajusi, o record de aproximação de um navio ao nosso barco! Estava a doze nós! Anotei os dados do navio e vou procurar a quem pertence, para reportar o incidente. Para registro, o navio era o CEC ACCORD, MMSI 235061302, Call Sign 2ANM3, IMO 9148805, o incidente ocorreu na posição 00.24.593N 106.10.420E, as 3h local do dia 25/11/2010.
Logo em seguida, outro navio vindo em nossa direção, desviou, mas assim que passou a gente, deu uma meia volta e voltou pelo mesmo caminho que havia vindo. Difícil de entender...
Depois disso, a maior tempestade de água pela qual já passamos a bordo, com ventos acima de vinte e cinco nós e água que mais parecia uma cachoeira! O vento virava a cada quinze minutos, então não tinha como ajustar as velas, e com menos de cem metros de visibilidade, então tinha que confiar no AIS e no radar, que em chuva tão intensa, também tem dificuldade em localizar outros alvos. Toquei o barco na mão por umas duas horas, mas cansei de brigar contra o vento, ondas e enxurrada, então resolvi pôr o barco na capa pela segunda vez e ir dormir. Dormi uma hora e meia, a tempestade passou, o mar continuou mexido, e dei continuidade em direção a Merapas, mas briguei contra corrente, ondas e vento, e resolvi passar a noite na capa, ou melhor, simplesmente boiando na deriva, ao invés de tentar ancorar durante a noite e ainda com tempo ruim. Baixei a grande, enrolei trinqueta, recolhi cabos, amarrei timão, liguei luz de popa e luz piscando no alto do mastro, chequei nossa direção, Norte, mar aberto pela frente, com única preocupação os navios, mas eu já estava um pouco fora da rota principal deles. Mesmo assim deixei somente o AIS ligado, e fomos dormir. A Lilian fez vigília de trinta em trinta minutos, e me acordava se tinha alguma coisa preocupante. Dormimos das nove da noite as sete da manha do dia seguinte, com o barco a deriva. Deixei o PC ligado, rodando o Maxsea, e quando chequei nossa deriva durante a noite, vi que havíamos ido para Norte, virando para Oeste, depois para Sul e andamos algumas vinte milhas na deriva. No final, ficamos a duas milhas de um farol que indicava área rasa, que já havíamos passado na tarde do dia anterior.
Pus o barco novamente em movimento, para variar contra vento, corrente e swell, e toquei até Merapas, onde ancoramos em doze metros de profundidade, fundo de areia, com sessenta metros de corrente. Agora no final da tarde, começaram a aparecer barcos de pesca, que vieram ancorar bem do nosso lado. Aparentemente esse é um lugar de ancoragem desses barcos para passar a noite.
Enquanto esperamos o QOVOP chegar, arrumamos o barco, escrevemos, fazemos um pouco de manutenção, enfim, vida a bordo como sempre.
Uma boa novidade que recebi pelo email foi o fechamento do primeiro contrato de serviços na nova unidade de Life Quality da MG, empresa da qual sou o maior acionista e Sócio Diretor, atividade que exerço do próprio barco.
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At 23/11/2010 16:17 (local) our position was 00°06.52'N 107°12.74'E, our course was 284T and our speed was 0.0.
No dia 23/11/2010 as 16:17 horas (local) nossa posição era 00°06.52'N 107°12.74'E, nosso rumo era 284T e nossa velocidade era 0.0.
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