domingo, junho 14, 2009

Galapagos (San Cristobal):

Galapagos (San Cristobal):
(Fotos por Silvio Ramos e Lilian Monteiro).

Conforme havíamos combinado com o Fernando no dia da nossa chegada a San Cristobal, contratamos (US$60/pessoa) um tour da ilha, incluindo visita à cratera com um lago de água doce no topo, a área de criação em cativeiro das tartarugas gigantes, a praia da loberia com seus muitos lobos do mar e iguanas marinhas, e terminamos com um almoço servido na casa dele.

Lá pelas 8h30min chamamos um taxi marítimo ($.50 por pessoa de dia e $1 a noite), que transporta gente entre barcos e porto, e caminhamos até o lugar de encontro, a quitanda Don Victor, onde trabalha a Carmela, sócia do Fernando.

Não demorou e chegou o Fernando de carro com o Carlos, um guia local. Seguimos com o Carlos para fazer o tour, acompanhados também pela Ann, uma jovem americana do Colorado que estava passando um tempo no Equador e agora em Galapagos.

Fomos primeiro visitar a cratera no topo da ilha, onde se formou um lago de água doce que é de onde se abastece de água a cidade de San Cristobal. Foi minha primeira visita a uma cratera de vulcão. Uma coisa muito interessante foi ver as fragatas virem beber e se lavar na água doce do lago. Como o lago fica em cima do topo da ilha, tem sempre uma corrente forte de vento, e elas conseguem se manter em um meio vôo meio mergulho. Vimos plantas únicas de Galapagos e aprendemos que um fazendeiro há muitos anos atrás, introduziu goiabas e amoras na ilha, e que numa certa ocasião, massacrou um menino que apanhou uma goiaba do pé para comer. A lenda diz que a mãe do menino jogou uma praga de que as goiabas iam tomar conta da ilha, e dito e feito, a ilha esta repleta de goiabeiras. Na época da fruta, os pássaros comem os frutos e defecam em outros lugares, aumentando cada vez mais a expansão das goiabeiras pela ilha. Tudo que se vê do topo é goiabeira ou amoreira! Agora, tem-se o maior trabalho para manter algumas áreas da ilha livres das goiabeiras e amoreiras, principalmente onde vivem as galapagueiras, as tartarugas gigantes da ilha, pois as goiabeiras se expandiriam sobre as arvores de manzanillo, a comida preferida das galapagueiras. Essa arvore é nociva aos humanos, parecida com uma urtiga e as vimos em muitas das ilhas por onde passamos. Elas dão um fruto meio no formato de uma maçanzinha, daí o nome.

Do topo da ilha são vistos três moinhos de vento, e hoje, cinquenta por cento da energia da ilha já vem dos moinhos. Isso para evitar a geração do monóxido de carbono, produto das usinas a diesel, assim como evitar um derrame de diesel pelas ilhas, com o transporte de quantidades grandes de diesel dos navios para terra.

Da cratera, fomos para a área de criação das galapagueiras. Existem umas 45 tartarugas adultas soltas nesse ambiente natural cercado, e da primeira cria só sobrou uma, a Genesis, que está agora com 4 anos de idade. Existem quatro grupos de tartaruguinhas apenas, dos 6 anos que eles estão criando os filhotes. A Genesis com quatro anos, um grupo com 1 ano, um grupo com 6 meses, e um grupo com 3 meses. Estas ultimas, o maior grupo, com seis filhotinhos. Eles são alimentados 3 vezes por semana para que cresçam rápido e para que não mordam uns aos outros, um problema para os filhotes dessa idade. Eles comem as unhas dos outros o que os acaba matando.

Em um grupo com umas oito galapagueiras que estavam se alimentando, tinha uma bem agressiva que mordia todas que passavam por perto. Ela até tinha um pouco de sangue que não parecia ser dela, em cima da sua carapaça. Eu peguei uma folha do alimento delas e dei na boca dela. Ela aceitou, mas veio para a sobremesa, meu dedo! Fui surpreendido pela velocidade da segunda mordida dela!

No meio da trilha, encontramos uma enorme, que assim que nos viu tentou desaparecer para dentro dos arbustos, mas chegamos próximos e tiramos muitas fotos com ela.

Na volta da galapagueira, paramos em uma fazenda que tinha um restaurante. Eles penduram um cacho grande de bananas maduras na parede, para os visitantes se servirem a vontade. Como a garçonete estava comendo umas laranjas, pedimos para experimentar. Ela disse que podíamos ir buscar nas arvores no pomar, e para lá fomos. Ficamos um bom tempo experimentando frutas e legumes locais, e colhemos muitas laranjas para levar de volta para o barco. Um dos vegetais foi uma espécie de tomate que eles chamam de tomate de arvore, que dá em uma arvore, é vermelho quando maduro, mas tem o formato de um ovo. Morde-se uma das pontas, tirando a casca que é grossa, e chupa-se o interior, que lembra ao tomate, mas não é a mesma coisa. Por aqui se usa muito para fazer sucos. Suco de tomatillo.

Bebemos água e voltamos para o carro, seguindo para a praia da loberia, uma praia de ondas fortes, onde se podiam ver muitas tartarugas marinhas dentro das ondas. No caminho, paramos em um lugar onde tem uma arvore única em Galapagos, muito grande, onde construíram uma casa em cima, que eles alugam por US$15/dia. Chegando à praia, tinha leão marinho por todo lado, com muitos filhotes mamando. Os iguanas marinhos estavam meio que escassos esse dia, mas fomos procurando mais longe e acabamos encontrando alguns. Eles são totalmente dóceis, permitindo aproximação de até centímetros deles. Tiramos muitas fotos deles nas pedras, perto da arrebentação, e depois dentro dos arbustos, se escondendo do sol.

Com isso completamos o nosso tour pela ilha, e fomos todos para a casa do Fernando, que nos esperava com o almoço pronto. Nada especial, mas deu para se ter uma idéia da comida local. Depois do almoço, o Fernando trouxe muitos cadernos de log de barcos que passaram por San Cristobal, e ficamos deliciados de encontrar uma pagina escrita pelo Aleixo Belov em Junho 1989, durante sua segunda viagem volta ao mundo em solitário. Tiramos fotos das anotações do Aleixo, que nem ele deve ter! Vamos mandar para ele depois. Deixamos nossas anotações para serem fotografadas pelos próximos brasileiros que por aqui passarem.

Da casa do Fernando fomos caminhar um pouco pela cidade. Ficamos maravilhados com a qualidade e quantidade de frutas e vegetais, assim como o tamanho avantajado de muitos deles. Será que foi por isso que as tartarugas cresceram tanto? Nunca vi um mamão tão grande, ou um repolho, e as toranjas, cenouras, cebolinha, entre outros.

A cidade é muito limpa, e demonstra ter uma administração muito bem organizada. Como exemplo podemos citar que todas as latas de lixo são iguais, obrigatório na ilha. Todas as casas tem três latas de lixo, cada uma na sua cor padronizada, a azul para papeis e plásticos, a preta para latas e vidros e a verde para resíduos orgânicos. Eles tem uma área de separação do lixo da cidade, onde todo o lixo é separado por trabalhadores. Os vazilhames, latinhas de alumínio, vidros, papelões entre outros matérias recicláveis são vendidos em Guayaquil. A cidade inteira tem os mesmos bancos de madeira, as mesmas lixeiras de madeira, todas na mesma cor e mesma madeira. Os taxis são todos carros tipo Hilux, na cor branca. Isso tudo nos deixou muito bem impressionados com San Cristobal. Ouvimos que durante Dezembro, muitos brasileiros surfistas vêm à ilha para pegar as ondas enormes que se formam nos recifes da frente do porto.

Os lobos marinhos fazem parte da vista local, e estão por toda parte. Alguns até deitam nos bancos da cidade. A praia na frente da cidade esta repleta deles. Alguns, gostaram muito da hospitalidade do Matajusi, que até serviu peixe, mas começaram a ficar muito folgados, pois durante a noite, entravam no cockpit a faziam a maior sujeira. Éramos mais tolerantes com a Monique, mas ela não vinha sempre. No seu lugar vinha a Vicky, um bebe muito antipático, que rosnava para a gente e fingia nos atacar. Aí instalamos uma mangueira de água salgada sobre pressão, que podíamos ligar de dentro da cabine em cima das focas que estavam na plataforma quando não eram simpáticas. Chegamos a ter três focas dentro do barco. No começo, tudo é novo, mas depois de termos de limpar a sujeirada toda manhã, ficamos meio que adversos a termos focas dentro do cockpit. Dei um jeito no assento que abaixa para dar passagem ao cockpit pela popa, e o pus em uma posição que tapava o buraco que fica quando o assento esta no lugar. Alias, um problema grande dos ROs em mar de popa, pois qualquer ondinha entra para dentro do barco por baixo desse assento, e vai até a portinhola de entrada, que se não estiver com o primeiro acrílico montado, acaba deixando água entrar dentro da cabine. Pretendo construir uma placa de acrílico ou algo similar, com um trilho para descer a placa e tampar esse buraco, um dia desses...

A nossa rotina era dormir até acordar, sem horário, e depois disso, nos preparávamos para ir para a cidade caminhar, fazer compras, comer fora e conhecer mais gente. Ficamos amigos da dona de uma padaria local, com um pão delicioso e pães doces saborosíssimos, que passamos a comer quase todos os dias.

Até então não havíamos conhecido nenhuma tripulação de veleiros no porto, então acenei para o casal do Annete Ann, cujo barco estava mais para fora do que o nosso, e eles pararam para uma introdução. Através deles conhecemos também o Gram e a Caroline, dois kiwis do Red Herring II, que estava ancorado ao nosso lado. Nesse dia fomos fazer uma caminhada por umas trilhas que nos levaram por dentro de um museu da historia de Galapagos, e depois seguiam até uma baiazinha bem mansa, onde todos fomos fazer uma mergulho. Não era meu primeiro contato com a água de Galapagos, pois já havia mergulhado em volta do Matajusi para limpar o costado e verificar aquele espinhel que havia ficado no hélice. A água é fria, mas não desconfortável, mas como estava sem roupa de neoprene, não consegui ficar mais do que uns quarenta minutos na água. Mesmo assim, fui o ultimo a sair. Mergulho interessante, pois algumas focas do local gostavam de assustar os mergulhadores com ataques fingidos, onde chegavam até alguns centímetros da gente, e se desviavam. Filmei esse comportamento para incorporar no meu documentário filmado. Interessante notar que, na mesma semana, aparentemente a mesma foca acabou mesmo atacando um turista que ficou com uma bela dentada nas costelas. Não sei se ele provocou o ataque, mas de qualquer forma agora fico mais esperto com elas por perto. Do nosso lado tinham uns garotos locais mergulhando. Perguntei o que pescavam e eles responderam que procuravam por polvos. Eu procurei polvo por todo canto, mas não distingui nenhum. Quando voltei do mergulho, os garotos já tinham cinco cavaquinhas de bom tamanho, e eu também não vi nenhuma no meu mergulho. Acho que cada lugar tem um aspecto diferente, e até que você se ambiente com o lugar, não vai distinguir os crustáceos.
Aproveitei para tirar muitas fotos submarinas com a câmera que a Tatiana me trouxe. Essa câmera é mesmo ótima! Temos tirado muitas fotos e filmes com ela.

Na volta da área de mergulho, fizemos outra trilha, passando por uma estatua de Darwin, bem onde os mergulhões de pata azul ficavam. Como são bonitos esses pássaros! E os mergulhos que eles dão, nunca vi nada parecido! Vem de muito alto com tudo na água, e vão fundo. No final da tarde, eles vem em bandos e mergulham juntos, sincronizados. Incrível como não se machucam.

A nossa rotina na ilha era ir para terra de taxi marítimo lá pelas 11h, caminhar, procurando por uma coisa ou outra, comer um pão doce na padaria, tomar um suco de frutas, e depois ir para o Muana, um restaurante/bar com internet wireless, e meio que o ponto de encontro dos cruzeiristas. Em uma das visitas a terra, caminhamos até uma praia que vemos todos os dias, pois fica bem ao nosso traves de bombordo. Lá tem uma faculdade que é uma extensão da Faculdade de São Francisco nos EUA. Muitos estudantes jovens, felizardos de poderem estudar aqui em Galapagos.

O Red Herring partiu para Marquesas na quinta-feira, e combinamos de falar as 15UTC todo dia no SSB, freqüência 8.143.0 USB, usada pela Net Pacifico as 14 UTC. Essa rede anota posição de todos os barcos cruzando o Pacifico Leste, e se auto ajudam com informação de mar e ventos. Nós entramos todas as manhas as 8h, ouvimos os relatórios de posições e condições, e esperamos as 9h para falar com o Red Herring.

Depois da saída do Red Herring, levantamos ancora e fomos mais próximos do píer, tentando alcançar as redes sem fio locais. Conseguimos algumas, mas não conseguimos a que queríamos, do bar dos cruzeiristas.

Ancoramos em seis metros de água, com trinta e cinco metros de corrente. A maré aqui varia perto de dois metros.

Íamos partir no Domingo, pois Sábado é dia de feira e faríamos o abastecimento do barco, mas, na sexta-feira começou um desarranjo intestinal em mim, e passei sexta, sábado e domingo de cama no barco, a base de bolachinhas e batata cozida. Próxima estimativa de partida é terça-feira, depois da feira.

Agora algumas dicas sobre Galapagos:

Um barco só pode entrar em um porto de Galapagos, o primeiro que chegar. Ele tem que ficar ancorado ali e só sair para um porto estrangeiro. Toda movimentação entra as ilhas tem que ser feita usando-se os barcos locais. Então é importante se escolher bem onde se quer entrar pela primeira vez.

Todo barco precisa de uma agente. Em San Cristobal existem dois, o Bolívar, e o Fernando. Não trabalhamos com o Bolívar, então não sei como ele trabalha, mas o Fernando tenta tirar o máximo possível de você. Tem que pechinchar. O agente se encarrega de todos os tramites referentes ao barco e à tripulação. Ele registra a entrada na Capitania, e carimba os passaportes na Emigração. Na saída, ele cuida do zarpe e dos passaportes e entrega pronto no barco. Isso tudo nos custou na ordem de US$220. No nosso caso ele também levou nossas roupas sujas para lavar em casa e cobrou US$1/k.

O diesel só pode ser fornecido pelo agente ou pela capitania. Pela capitania, você tem que ir buscar no posto, com um documento da capitania autorizando, e tem que levar ao barco e carregar os galões.
Esse custa US$2.45 o galão de quatro litros. O agente entrega no barco, ajuda a passar para os tanques, mas cobra US$2.60. Como referência, no posto custa US$1.8.

Um taxi para fazer todos os pontos turístico da ilha, cobra US$45, e podem ir ate cinco pessoas. O Fernando nos cobrou US$60 cada.
È proibido fazer pesca submarina, mas se você for com um nativo fica considerado consumo individual. Tem muita cavaquinha. Em geral se pesca a noite, no mergulho, atrás do farol. Elas ficam todas em cima das pedras e são facilmente coletadas.

Eu sempre fui muito curioso no tocante a usar as bandeiras locais e evitar a discussão sobre armas a bordo. Na verdade, nunca nos cobraram a bandeira e simplesmente não temos bandeira para os países que estamos visitando. Na Polinésia Francesa, vou ver se subo uma, pois ouvi dizer que eles são mais severos. Sobre armas a bordo, somente na Guiana Francesa nos perguntaram.

No próximo relato vou contar sobre nossa travessia entre a Ilha de San Cristobal em Galápagos, até Fatu-Hiva nas Ilhas Marquesas.

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