sábado, março 14, 2009

De Natal a Ilhas de Salut - Texto:

Natal a Illes Du Salut – A Partida!
(Fotos por Silvio Ramos, Lilian Monteiro, Nelson Matos Filho).

Passamos os meses de Outubro a Dezembro nos preparando para partir e posso dizer que não foi fácil. Estou escrevendo do barco ancorado em Ilê Royale, parte do arquipélago de Salut, na costa da Guiana Francesa. Nesse arquipélago fica a Ilha do Diabo, onde Papillon ficou preso e de onde conseguiu escapar em um saco de côcos. Paramos aqui para descansar pois tivemos dois dias de tempestades constantes e estamos muito cansados. Mas, sobrevivemos nossa primeira tempestade, e estamos aqui para contar mais essas aventuras no Matajusi.

Escrevo daqui, pois é a primeira oportunidade que tenho para escrever, porque a partida esta cheia de tarefas e quando se percebe, já estamos navegando, e não consigo escrever com o barco em movimento.

Para partir tivemos que cuidar de uma lista enorme de pendências, como testamento, transferência de patrimônio para meu filhos, documentação, vacinas, remédios, bancos, contas, credores, devedores, família, amigos, colegas de trabalho, entre outras muitas, mas uma importante foi a finalização da minha negociação com a empresa. Não foi bem como eu queria mas ficou de bom tamanho. Como já tinha guardado o dinheiro para a viajem, o que ficar no Brasil fica como patrimônio adicional ao invés de ter que cobrir nossas despesas de viajem e isso tira uma preocupação da cabeça.

O sentimento da saída é uma combinação de preocupações que precisam de uma dose forte de determinação para continuarmos em frente. Vamos passar por muitas situações, incluindo experiências positivas de vida, mas com os riscos inerentes em uma aventura desse porte. Minha preocupação com baleias diminuiu, depois desses primeiros oito dias em alto mar. Isso porque, quando o barco esta em movimento a noite, ele gera uma luz incrível de ardentia, micro organismos que brilham quando agitados, e isso vai avisar qualquer animal do mar, que estamos passando.

Natal:
Voamos para Natal no dia 09/01/09, e chegamos ao Iate Clube por volta do meio-dia. Fui direto para o barco, pois havia estado preocupado com os pequenos furtos comuns naquela área. O que achei me deixou tremendamente transtornado! Nenhum furto, mas o estado do barco depois de 3 meses era critico! Tudo enferrujado! O interior embolorado e enferrujado! Todas as torneiras cromadas, estavam enferrujadas! As capotas todas rasgadas! As velas desgastadas pelas capotas que foram soltando e não foram ajustadas pelo marinheiro contratado! Mergulhei e fui ver o casco, também, cheio de cracas e das grandes! Comecei a preparar para recolher as ancoras, pois as duas estavam bem firmes no fundo. Depois de algum trabalho e a ajuda dos marinheiros do clube, pois nada do meu marinheiro aparecer, consegui, mas elas tiveram que ser lavadas com jato de pressão, pois estavam completamente tomadas de algas e cracas.

Ai começamos a faxina, que não havia sido feita pelo Claudio. No dia seguinte, lá vem ele, que lógico, queria seu ordenado combinado de R$400,00/mês, o que de forma nenhuma eu estava disposto a pagar. Quando mostrei para ele o estrago que ele havia deixado causar no barco, a sua resposta foi, “mas o senhor só pediu para eu “olhar” o barco, e fiquei todos os dias “olhando” o barco lá de terra”!!! Tem cara que é folgado mesmo! Paguei menos da metade do combinado, mas mesmo assim com desgosto, pois a despesa que a falta de atenção dele me causou ficou muito mais caro do que isso. E não acabou por aí! O Claudio é capitão do barco Mar e Sub, que fica atracado no píer. Quando o Ilha do Mel saiu do píer e sobrou uma vaga, o Bosco, gerente do Iate Clube, sugeriu que eu pegasse aquela vaga para facilitar o embarque das provisões e manutenções que estava fazendo antes de sair para Tobago. Aceitei, só que a vaga era do lado do Mar e Sub. As 8:00h da manha do dia seguinte, quando o Mar e Sub estava saindo para um mergulho com passageiros, o Claudio pega as duas poitas e cordame sujos onde estava amarrado o Mar e Sub, e joga, não, atira contra o deck do Matajusi, fazendo um barulho enorme e sujando a capota e o deck, que tínhamos acabado de pagar um marinheiro (esse de verdade) para limpar!!! Peguei no radio e chamei o comandante do Mar e Sub, o Claudio, e disse que não tinha “entendido” a manobra das poitas, dele atirar as poitas no deck do meu barco. Ele respondeu que era a pratica do lugar!!! Eta cabra safado! Mas, parece que ele já esta meio que “pendurado” no clube, pois esta sempre “folgando” com os outros, fazendo marolas desnecessárias e sacudindo tudo por perto. Bom ,chega disso e vamos falar das coisas boas, mesmo porque, com certeza a sua própria atitude é seu maior inimigo.

Manutenções:
As capotas tiveram que ser consertadas (R$250) e eu mesmo consertei a vela mestra, que ficou com alguns furos do atrito das capotas que ficaram soltas por muito tempo. Além disso, minha maior preocupação com furtos no barco fica por conta dos instrumentos de navegação instalados na mesa do cockpit, então, mandei fazer uma peça de aço inox (R$700) que cobre os instrumentos quando eu não estiver por perto do barco. Uma outra alteração por conta de um buraco enorme que o barco tinha entre a tampa do paiol de ancora e o suporte da ancora, por onde entrava mais água do que tinha capacidade de vazão quando o barco caturrava muito e com isso tínhamos um vazamento para dentro do armário da cabine de proa, provavelmente pelos conduites, então mandei fazer uma adição à tampa (R$ 200) para cobrir esse buraco, mais um erro na construção do barco que tive que corrigir, além de tampar os conduites com sicaflex. Parece que isso resolveu o vazamento, pois com o mar que pegamos já teríamos visto algumas roupas molhadas.

Provisionamento:
Depois de tudo pronto no barco, fomos fazer o provisionamento, com uma carona do Nelson Matos Filho, cruzeirista atracado em Natal. O Nelson escreve uma coluna sobre o cruzeirismo para o jornal local. Ele e a Lucia, sua mulher, são super simpáticos e prestativos. Estão sempre a ajudar os cruzeiristas de passagem com caronas e ajuda com facilidades do local, que conhecem muito bem. A compra de supermercado foi grande (R$800), acho que a maior que já fiz, mas o barco estava vazio depois da subida da costa do Brasil. Não fizemos nada muito especial, pois era nossa primeira estocagem para uma perna mais longa, então fomos aprendendo pelo caminho e vendo o que funciona e o que não funciona. A próxima estocagem vai ser em Tobago pois aqui nas Ilhas Salut não tem supermercado. Tem sim um hotel e um restaurante, que espero conhecer amanhã quando desembarcarmos.

Primeira perna internacional:
Saímos de Natal por volta das 10h do dia 19/01 e logo fomos ganhando altura para passar o que chamo da curva do Brasil, mas é na verdade o Cabo Calcanhar. Minha rota previa singramento de 164 milhas diárias, ou seja, media de 7 nós, mas no primeiro dia só conseguimos 147 milhas, com media de 6.5 nós, e ventos Sueste entre 10 e 15 nós. Nesse primeiro dia usamos o motor por 7 horas para carregar as baterias. A primeira noite a bordo é sempre um problema pois estamos desacostumados com o balanço, mas depois vamos acostumando. No dia seguinte estávamos bem cansados, mas o caminho é longo e temos que persistir. Daqui que podemos admirar o tamanho do feito do Marçal Ceccon e outros como ele, que fizeram isso antes dos eletrônicos de hoje. Foram homens de coragem, que se sujeitaram a ficar muito tempo no mar, isso em tempos onde o conhecimento era mais precário e a informação quase inexistente.

Já no segundo dia, o calor era insuportável, assim quando vi uma chuva no radar, corri atrás dela, nos preparando para nosso primeiro banho de chuva, mas, cheguei um pouco atrasado e tomamos banho de água salgada mesmo. Com ventos Nordeste entre 15 e 25 nos, singramos 169 milhas nesse dia, e já pegamos o rumo 330° direto até Tobago. Isso nos leva a uma distancia da foz do Amazonas de 250 milhas, o que é bom para evitarmos troncos flutuando. O corpo todo dolorido de bater nos cantos, o que é comum nos primeiros dias de embarcado. Depois vamos evitando bater tanto. Nesse dia usamos 6,5 horas de motor para carregar baterias. Faltam só 1.484 milhas!

O terceiro dia nos viu 158 milhas mais próximo de Tobago, no rumo 343°, alterado um pouco para subir mais e evitar calmarias da zona de convergência. Motoramos um pouco durante as calmarias, usando o motor por 12 horas nesse dia. Com a ajuda do Igor do veleiro URUZ que chegou do Caribe com seu pai, o Alexandre Paraíba, aprendi a usar o radio SSB para baixar as previsões de tempo. Com isso consegui ver exatamente onde estava a zona de convergência e conseguimos passar sem qualquer problema, chegando a uma área onde os ventos aumentaram para 25 a 35 nós. Considerando o zig-zag, até que singramos bem esse dia. Durante a noite, finalmente pegamos chuva forte mas os ventos quase que acabaram.

Nosso quarto dia de viagem com ventos variando entre 5 e 35 nós, exigiu muito da gente, com os ajustes constantes das velas, mas conseguimos ganhar mais 139 milhas, agora no rumo 322°. Durante a noite, cruzamos pela primeira vez (na vela) a linha do Equador, mas perdemos a oportunidade de umas boas fotos pois dormíamos exaustos. Nesse dia, com a ajuda do Marcelo Richter, fizemos nossa primeira ligação pelo radio e falamos com o próprio Marcelo, para testar o phone patch que ele esta usando conectado ao radio, e ligamos para a mãe da Lilian. Eram umas 2:30h e ela pensou que era trote, mas fizemos a segunda ligação e ela reconheceu a voz da Lilian. Todos bem por la e por aqui. Tenho deixado o radio ligado a noite, em freqüência pré-combinada com o Marcelo e ele entra e chama a cada alguns dias. Outra ajuda que temos tido com rádios é do Fernando da Paraíba. Eu o apelidei de “Anjo da Comunicação”. Ele entra na freqüência quase todas as noites, e tem nos ajudado com recados de e para terra. Nossa rede de amigos do radio cresce a cada dia, e hoje inclui além do Marcelo e Fernando, o Américo, de Tocantins, e o Hugo de Salvador, com quem falamos freqüentemente. Alem desses, entram também o Doutor, o GG, o Boiadeiro, e outros mais. Nesse quarto dia tomamos pela primeira vez um banho de chuva, com direito a shampoo e sabonete, lavamos roupas e captamos a água que acumulava na saia da mestra risada, conseguindo transportar uns 8 baldes para os tanques de água. Preciso bolar algum método mais fácil de capturar a água da chuva. A comida tem estado muito boa, aos cuidados da Lilian.

No rumo 322° com ventos Leste entre 5 e 25 nós, com mar curto e picado, ondas de 2 a 4 metros, singramos 165 milhas no quinto dia, nossa melhor media (7.3). Temos variado entre 6 e 12 horas o uso do motor, que é usado principalmente para carregar baterias, mas nos dias de calmarias, ajuda a empurrar o barco para uma área com mais ventos. Nesse quinto dia, fazemos uma analise das comidas estocadas a bordo.

Na área de frutas, as maças são a grande vencedora, pois duram bastante tempo e são ótimas para manter o estomago sempre com algo para evitarmos marear. Os abacaxis e limões também sobrevivem bem, assim como as melancias e melões. Já as bananas, laranjas e mamões duram muito pouco e devem ser consumidos nos primeiros dias.

Quanto às verduras e legumes, alfaces duram muito pouco e a maior parte do que compramos foi perdida. Já a couve, mantida na geladeira, durou mais. Os tomates devem ser comprados verdes, pois amadurecem e ficam saborosos. Cenouras duram até uma semana, depois murcham, mas são ainda aproveitáveis. Os campeões são repolho, alho, cebolas e batatas.

As carnes e frangos, somente se mantidas bem congelados. Acabei comprando mais do que cabia no congelador e perdemos algumas. Peixes, somente para os dois primeiros dias, depois o negocio é mesmo pescar, a melhor forma de se obter peixe fresco a bordo. Um campeão são as latas de atum, que sempre podem suprir a área de proteínas e omega3. Salames são outra boa opção. Frios sobrevivem a primeira semana, mas compramos pouco (300g cada) e devíamos ter comprado mais, pois são ótimos para as refeições rápidas.

Alem desses itens, temos cupnoodles e miojos que misturados com ovos fazem uma boa refeição. Massas são sempre uma boa opção, mas nos primeiros oito dias só fizemos pasta uma vez.

Na área de bebidas, água tem sido a mais consumida, pois os sucos que a Lilian comprou dessa vez foram light, e para mim parece que o aspartame fica realçado quando estou embarcado. Já não bebo aspartame nem em terra, no mar fica impossível, pois o gosto me acompanha por dias, então fiquei pela água além de limonada fresca. Por conta da minha intolerância a lactose, eu bebo leite de soja e a Lilian bebe leite desnatado. Café da manha varia entre sanduíches, torradas com geléia ou patê de atum.

No sexto dia singramos 164 milhas no rumo 321°, com ventos Leste de 10 a 20 nós. Nesse dia tive que fazer manutenção nos parafusos do enrolador, que mesmo depois de fixados pelo Telles com sicaflex em Recife, soltaram novamente. Dessa vez não perdi nenhum, pois estou sempre de olho neles, e, depois de limpos, fixei com loctite. Vamos ver se seguram agora. Durante a noite, tivemos um pássaro como visitante, que além de não aceitar o pedaço de pão integral que, depois de uma semana, acho que nem os pássaros conseguem digerir, ainda deixou alguns presentes escrementados nas placas solares. Tive que vestir o colete e subir na targa com o barco em movimento para limpar a sujeira e melhorar a carga das baterias pelas placas solares. Nesse dia, armei a genoa junto com a trinqueta e funcionou bem. Só tive que ajustar a genoa algumas vezes, pois a intensidade do vento mudava com alguma freqüência. A mestra seguiu risada no segundo riso e a genoa alternada entre inteira, primeiro riso e segundo riso. A trinqueta permaneceu fixa.

Chegamos à metade na nossa perna, com somente 1/3 do diesel e 2/5 da água consumidos. Estamos considerando parar na Ilhas Salut da Guiana Francesa para conhecer o lugar. Isso nos tiraria da rota umas 80 milhas, a um custo de 11 horas mais um ganho de conhecer mais uma ilha pelo caminho.

Já o sétimo dia foi mais pesado, com uma tempestade como não havia passado a bordo antes, que me forçou a ficar acordado quase a noite toda. Ventos que passaram dos 35 nós, e ondas curtas e grossas, estourando, com altura entre 4 e 6 metros. Tive que mudar a rota para encarar as ondas, que passavam por cima do barco e fiquei a 35 graus do vento e das ondas pela maior parte da noite. Regulei as velas com uma pequena parte da genoa e a mestra no segundo riso, mas totalmente aberta para permitir ao vento passar. Regulei a velocidade para uns três a quatro nós e seguimos assim quase que toda a noite. Com a antena do SSB molhada não consegui capturar a previsão (estou capturando da estação de New Orleans, SSB 8.502.0, as 12:00h UTC) então não sabia o que tínhamos pela frente. Como a tempestade continuou pela manha, resolvi seguir com ela ao invés de contra, pois de dia conseguimos ver por onde andamos e podemos controlar o barco melhor nas maiores velocidades alcançadas quando vento e ondas entram pela aleta. Tenho usado o piloto em Response 1 para economizar bateria, mas nessa situação mudei para Response 3 que usa mais bateria mas corrige o barco mais rápido.

Com o cansaço decidimos pelo rumo 298° e aterrar para Illes Du Salut nas Guianas Francesas. Mais um dia para chegar lá, mas a quase certeza da oportunidade de descanso, pois não conhecemos o lugar e as cartas não são detalhadas.

Singramos 168 milhas nesse sétimo dia. Já no oitavo dia, a caminho das Ilês Du Salut, singramos 161 milhas com ventos nordeste entre 10 e 20 nós, mais uma forte corrente de três a quatro nós depois que alcançamos a plataforma marítima. Chegamos nas ilhas e ancoramos as 6:30h na cobertura da Ilê Royale, parte do arquipélago Salut. Notei que ultrapassamos o nosso recorde anterior de velocidade, que era 12.1 e passou a ser 13.8.
Dormimos o que tínhamos direito e levantei à tarde para fazer mais manutenções no barco. A correia do alternador Balmar estava cantando então ajustei corretamente. Também tirei 1 litro do óleo da rabeta, e repus com óleo novo, já que não tenho a ferramenta correta para tirar o óleo todo. Veio com o motor, mas a ILS não me passou esse item.

No por do sol, fomos agraciados pela visita de golfinhos com barriga cor de rosa. São menores dos que vimos frequentemente no Brasil.

Nosso anjo da comunicação, o Fernando, entrou na freqüência lá pelas 10 da noite e conversamos bastante. Depois ele fez um patch entre meus filhos e eu, ele usando o Skype para falar com meus filhos e transferindo para o radio pelo microfone, então consegui falar com os dois. A Tatiana esta vindo para Tobago e irá nos acompanhar até Curaçao, de onde retornara ao Brasil. Ela esta trazendo alguns itens de trabalho e peças reserva de radio. O Marcio recuperou bem da cirurgia que fez no nariz para acertar um desvio e tirar uma carne esponjosa que estava obstruindo sua respiração. Eu também operei disso nos EEUU, e foi um martírio! Ate hoje sinto ansiedade de ter ficado com o nariz entupido por mais de uma semana. Não deu outra, ele também sofreu a mesma coisa, mas agora já esta melhorando. Sugeri a ele para vir passar as férias de Julho comigo no Pacifico, mas ele já se comprometeu com umas ferias de sacolão na Europa com um amigo da faculdade, então vamos tentar para o final do ano na África.

Que maravilha poder compartilhar com meus filhos dessa aventura. Nada me faria mais feliz do que essa oportunidade de passarmos algum desse tempo juntos. Tenho até certa inveja quando vejo pais e filhos curtindo anos no barco juntos e acho essa experiência de valor imensurável, mas, cada um é cada um, faz-se o que se pode e isso é o melhor que podemos fazer nesse momento. Quem sabe se no futuro eu vou continuar com essa bala toda e eles vão ter mais tempo e oportunidade de virem curtir um pouco dessas aventuras comigo.

A Lilian construiu a bordo nossa primeira bandeira fabricada, a “Q” ou bandeira de quarentena. Ela é toda amarela e deve ser hasteada quando se entra em território estrangeiro. Isso sinaliza às autoridades locais e eles em geral vêm ao barco para fazer a papelada de entrada no país. Depois disso, é só manter a bandeira do país visitado no brandal de bombordo, com a bandeira do pais de origem no estai de popa. Dito e feito, a Gerdarmerie veio nos visitar e foram super corteses. Eles pediram documentação do barco, passaportes e visto de saída, quiseram ver o VHF funcionando, e completamos a papelada. Perguntei se podíamos ficar alguns dias, e eles responderam que podíamos ficar alguns meses! Informaram-nos que havia restaurante e hotel na Ilê Royale e vamos visitá-los hoje.

Com as preocupações e problemas inerentes nessas travessias, o espaço a bordo começou a ficar pequeno, e eu e a Lilian estamos nos desentendendo cada vez mais, então aproveitei hoje para fazer uma reavaliação com ela sobre nossas atribuições e responsabilidades no barco. Vamos ver se as coisas melhoram, pois vão ficar muito difícil desentendimentos em espaço de 12 x 4 por 12 meses.

Acabamos de voltar da visita a Ilê Royale. Lugar bonito, mas consigo sentir o sofrimento que se passou por la. As ruínas das celas e solitárias ainda mostram como deviam viver em sofrimento aqueles detentos que por la passaram e la ficaram. Os que morriam, eram jogados ao mar. Muito côco pelo caminho, mas todos comidos por algo. Achei logo que ia experimentar aqueles caranguejos do côco que o Marçal menciona no seu livro, mas, no fim, outra surpresa, a ilha esta forrada de cotias! Acho que são naturais, não sei, mas são muitas e estão por todo o lugar. Vimos também caimans, araras, lagartos, pavões, faisões, macacos, que vieram pedir parte da barrinha Nutry que eu estava comendo, tudo solto e livre. Esses não são naturais, mas vivem por lá naturalmente, soltos, as aves voando livremente. Bonito, mas ainda achei o lugar meio fúnebre.

Procuramos pelo Auberge du Ilê, e tentamos pegar um quarto, assim poderíamos lavar as roupas na pia ou melhor se tivesse uma banheira, mas o preço assustou. Pediram 235 Euros por dia para um simples quarto com cama de casal e banheiro, toda a comida incluída. Por um quarto mais simples, sem comida, pediam 70 Euros por dia. Assim decidimos em somente almoçar por la e voltarmos para dormir de graça mesmo no nosso barco. O almoço custou 29,10 Euros, mas a garçonete era brasileira e foi sugerindo a forma de pagar menos e comer mais! Depois do almoço fomos passear pela ilha, visitando a capela e as ruínas das celas. Por la conhecemos um casal de Sul Africanos com suas duas filhas. Ele é capitão de navios petroleiros e ficamos bastante tempo conversando sobre coisas do mar. Falei com ele sobre o AIS, e ele planeja instalar um no barco dele, pois como capitão de navio reconhece o valor da identificação pelo AIS. Ele fez uma sugestão que achei digna de se passar para a frente. Ele sugeriu que a melhor luz para se usar no mastro em alto mar, em rota de navios, é uma strobe, pois disse que é a luz que mais chama a atenção do piloto, pois se parece mais com redes que também tem strobes ligados, e em geral os pilotos desviam até 6 milhas dessas luzes. Sei que vai ter bronca do Macanudo, mas fica aí a dica.

Amanha partimos para Tobago.

Espero que o Igor e o Nelson Mattos tenham mandado as fotos da nossa partida de Natal, assim ficam todos informados que já saímos.

Convido meus leitores a se comunicarem comigo pelo e-mail matajusi@gmail.com.

Se quiserem receber automaticamente informação sobre novas colunas online, registrem seu e-mail no FeedBlitz, pelo link, http://www.feedblitz.com/f/?Sub=449533