terça-feira, março 31, 2009

De Curaçao a San Blas

De Curaçao a San Blas:

MuitosGolfinhos
(Fotos por Silvio Ramos e Lilian Monteiro).

Curaçao:

Queria chegar logo a Curaçao, pois meu AIS não estava funcionando, havia comprado alguns itens para entrega na Curaçao Marina por volta do dia 20 de Fevereiro e não conhecia bem o procedimento da Aduana quanto a artigos importados para entrega a barcos em trânsito passando por Curaçao.

Quando cheguei à marina, vi que um dos três pacotes já estava lá, o que continha itens da minha lista de abandono do barco que comprei da LandsFall e os outros dois tive que esperar alguns dias, pois, era Carnaval em Curaçao.

Tinha uma goteira para dentro da mesa de cockpit, onde ficam instalados os equipamentos de navegação do barco e o AIS. Por uma incrível coincidência, instalei o AIS de painel para cima, e a goteira, mesmo que pequena, ficou bem em cima da janela de luzes indicativas, a única parte do AIS que não é a prova d'água! Não deu outra, ele se afogou, não funcionou mais e eu não queria passar pela rota de navios entrando e saindo do Panamá sem um AIS funcionando, então, no dia 23/02, mandei um email para o Norberto, diretor da Cash, de quem havia comprado o meu AIS SRT. Ele somente me respondeu no dia 6/03. Nesse meio tempo comecei a negociar diretamente com a SRT em Londres, mesmo porque, não estava mais no Brasil, território coberto pela Cash, e seria muito difícil para a Cash me dar suporte em Curaçao. No fim, a SRT me deu muita atenção e enviou um AIS novo, que funcionou perfeitamente no meio dos muitos navios que cruzamos na nossa rota para o Panamá, ou seja, um final feliz para eu como consumidor. Mas, durante as negociações, informei a SRT, pois a Cash já sabia, que escrevo sobre minhas experiências com fornecedores e equipamentos e isso causou um mal estar com a Revista Náutica, pois o Norberto disse à eles que eu estava ameaçando-os.  No fim, a diretoria da Náutica resolveu tirar do ar as minhas colunas. Melhor assim; publicadas no meu blog eu não fico com rabo preso ou dependendo de censura para descrever as minhas experiências, pois não quero privar meus leitores do acesso aos relatos.

Isso me custou mais 4 dias em Curaçao para postar no blog pelo menos os relatos referentes à nossa partida, que haviam sido tiradas da Náutica Online. Depois com tempo organizo melhor todas as colunas desde o início.

Nesse meio tempo, aproveitamos para andar um pouco pela cidade e fomos ver os carros alegóricos passarem na Otrabanda, o outro lado da cidade que divide o canal de entrada dos barcos. Para chegar lá, atravessamos a ponte que abre para dar passagem aos barcos e navios. Muito interessante essa ponte. Ela bóia, em uma extremidade tem um motor com hélice que anda para frente ou para trás, e a outra extremidade é presa do outro lado. Quando eles querem abrir a ponte, fecham ela para a passagem de pedestres, e aceleram o hélice que empurra a ponte em um meio circulo. Para fechar, revertem o hélice e a ponte volta para encaixar na parte fixa e vira ponte novamente.

Na terça-feira, quando a marina abriu, pegamos o pacote da LandsFall, conferimos o conteúdo e tudo estava em perfeita ordem. Com ele, montamos o nosso pacote de abandono de barco, se necessário, e esperamos nunca ter que usá-lo, mas, se for preciso, está pronto.

Na quarta-feira chegou o pacote com as placas solares de 130W. Quando estava abrindo, com vários cruzeiristas em volta, um deles notou que haviam pegadas em cima do pacote, e não deu outra, a primeira placa estava completamente quebrada!  Deu um trabalhão, mas a empresa de quem comprei as placas mandou outra a custo deles, pois havia pedido por escrito para eles mandarem com seguro e eles mandaram sem. O problema ficou entre a empresa e a UPS. Foi vandalismo puro, pois haviam quatro marcas de pulos com botas em cima da caixa. De qualquer forma, problema deles. Só tive que esperar mais 4 dias para chegar a placa de reposição. Como comparativo, o problema com o AIS demorou do dia 23/2 até o dia 12/3 para ser resolvido, pois a decisão sobre uma solução tinha que passar pela Cash.
Nessa altura já havia desinstalado as placas de 32W e instalado uma nova de 130W. Logo notamos a diferença na carga das baterias, pois os seis amps que carregavam as três placas de 32W agora já eram 10 amps com uma placa de 32W e uma de 130W.

Quando chegou a terceira placa, em reposição da que havia quebrado, instalei ela também e a carga por placas solares subiu para 18 amps contra os 6 que tinha antes.

Mais alguns dias e chegou o pacote com o DuoGen, o gerador de arrasto que comprei da Ecletic na Inglaterra. Instalei ele também, e pus uma chave de baterias que pode separar as cargas solares das por arrasto, ou deixá-las juntas, para poder ter todas as opções.

Enquanto esperava pelos equipamentos que ainda não haviam chego, fui fazendo outras manutenções no barco. Desmontei o suporte do piloto, aquele que tinha um parafuso falso e que era muito pequeno para o espaço onde foi montado, assim como o parafuso que prende o braço do piloto ao quadrante e mandei fazer um suporte do tamanho certo, mas agora de aço inox, mais uma peça única em inox para prender o braço do piloto ao quadrante. Os dois me custaram US$500, mas agora tenho muito mais confiança de que não vão mais quebrar.

Também desmontei as duas bacias da pia da cozinha que vazavam muito desde novas. O estaleiro havia tentado vedá-las depois delas montadas e não quando estavam encaixando na pia, pois não havia sicaflex entre as bordas das bacias e a pia, somente em volta das bacias por baixo. Aproveitei também para vedar a geladeira, usando espuma expansiva para fechar os espaços em volta dela. Na parte da frente, com um acesso mais fácil, colei duas placas de isopor depois de aplicada a espuma.

Outra manutenção necessária foi a instalação de um calço para não deixar a pia cair. Já havia cedido 1 ½ cm, pois não havia nenhum suporte entre a pia e a parede onde ela fica apoiada.

Também troquei as mangueiras de exaustão de água dos paióis e do piso do cockpit, junto aos lemes, pois eram de qualidade inferior e estavam completamente deterioradas e vazando para dentro do barco.

Colei, agora com araldite, os furos no pescoço de ganso do escapamento, pois mesmo depois de soldados pela segunda vez, continuavam vazando. Agora, o vazamento continua, mas é muito pequeno, e vou remendando de quando em quando com araldite.

Me lembro que quando era para o estaleiro me entregar o barco, pois havia o compromisso de correr a regata de Caras/Revista Náutica, soube que alguns dos componentes feitos fora,  não haviam sido pagos aos fornecedores originais (Nautos, Farol, NorthSails) e tive que pagar eu mesmo para que esses itens fossem entregues e o barco pudesse ficar pronto. Uma conclusão óbvia é a que o estaleiro ficou sem capital de giro e, além de não pagar suas contas, pois já tinham muitos protestos, e começaram a usar produtos de baixa qualidade. Um exemplo são as mangueiras que foram usadas no barco, que vieram de muitos fornecedores diferentes, com algumas de muito baixa qualidade que chegavam a inchar quando se ligava a bomba de água doce. Outro exemplo é a corrente da âncora, que já está completamente enferrujada. Tenho corrente de âncora do meu outro barco a mais de quinze anos, sem qualquer ferrugem, mas a do Matajusi, já manchou a proa inteira de ferrugem. Vou trocar quando puder e adicionar outros 50 metros, pois a que tenho tem somente 50 metros e as ancoragens por aqui e no Pacifico são algumas vezes bem mais profundas.

Outra manutenção necessária foi a de desmontar os equipamentos Raymarine de dentro do paiol de eletricidade, pois os fios estavam completamente encharcados de água salgada! Não consegui encontrar ainda por onde esta entrando água, então forrei com plástico duro os equipamentos, começando por trás, dando a volta por cima e pela frente, até o piso do paiol. Usei o mesmo plástico que uso para cobrir os equipamentos do cockpit, e sequei todos os fios e a água acumulada no piso do paiol.

Mais alguns serviços mal feitos e produtos de baixa qualidade usados pelo estaleiro, resolvidos.

Aproveitei a oportunidade e instalei um equipamento de MOB (Man OverBoard, ou homem ao mar) que consiste de uma pulseira para cada tripulante no deck, que se conecta via rádio com um receptor na cabine, ligado ao sistema SeaTalk da Raymarine. Caso um tripulante se afaste do barco por mais de 30 metros, ou caso ele caia na água, pois nesse caso a pulseira detecta a água, o sistema automaticamente começa um procedimento de MOB na carta e no radar, e soa um alarme de MOB.

Outra novidade foi uma antena para rede sem fio que alcança muito mais longe os sinais, assim podemos fazer internet do próprio barco. Depois de instalar o SW da antena, conecto-a pela entrada de USB do notebook, e a levanto pelo cabo de bandeira de boreste, até o limite do cabo da antena e conseguimos uma recepção muito melhor dessa forma.

Passamos quase um mês em Curaçao, mas não fizemos muito mais do que manutenção no barco. Trabalhei todos os dias em algum projeto do barco. O principal problema que tínhamos era de falta de energia, e isso me forçava a usar muito o motor para carregar as baterias. Com isso consumia muito óleo diesel e adicionava muitas horas no motor, o que causava uma necessidade de manutenção muito mais freqüente, como trocas de óleo e filtros, além de não ser o melhor uso do motor, pois carrego as baterias quase que em marcha lenta, e isso carboniza o motor, causando uma fumaça branca muito intensa quando acelero no RPM correto de uso do motor, que no caso do meu seria 2.600 RPM.

Com a instalação das placas, para dias ensolarados, não precisamos mais ligar o motor, e para as noites, passei a usar o gerador de arrasto, mas isso somente depois que consertei um problema na instalação que não havia percebido até tentar usar o gerador. O problema era que o fio positivo do gerador encostava no soquete que instalei para conectar o lado de fora do barco com o lado de dentro, onde instalei o regulador de voltagem do gerador de arrasto e com isso não passava corrente. Notei o problema na primeira vez que fomos usar o gerador, e o consertei navegando mesmo. A partir daí, praticamente não usamos o motor quando estamos em navegação. Sobrou à noite quando estamos ancorados, pois não podemos usar o de arrasto, e as placas solares não funcionam a noite, então, estou vendo a possibilidade de instalar o outro componente do DuoGen, que funciona com vento. Ele usa o mesmo alternador, mas trocando-se o componente de arrasto em água pelo componente eólico.

Outra consideração é a de se ter um gerador a diesel ou a gasolina. Tentaremos encontrar uma solução no Panamá.

Aha! E não podemos nos esquecer de falar sobre a nossa nova capacidade de mandar e receber email do próprio barco, usando o rádio SSB e o sistema SailMail, que suporta emails por SSB em quase todo o mundo. Primeiro baixei o SW AirMail e todas as instruções do site do SailMail, depois tive que fazer um registro de rádio para o Matajusi. Com o registro, me cadastrei no SailMail e esperei para ser aceito, após isso feito encomendei o modem (US$1500) de St. Marteen, e quando chegou, percebi que seria melhor usar um cabo pronto para conectar o modem com o SSB do que fazer um, então encomendei o cabo (US$60) também de St. Marteen. Depois disso tudo, passei uma semana inteira instalando e tentando fazer funcionar o sistema, como não conseguia conectar, pedi ajuda ao Andre, um holandês que mora em Curaçao e conhece muito sobre rádios SSB. Ele veio ao barco, mexeu no rádio e no notebook, e de primeira, conseguiu conectar! De lá para frente, fui lendo mais e me familiarizando mais com o sistema, e hoje faço emails duas vezes por dia. O sistema tem capacidade de ler e responder emails em outros sistemas, então implementei ao meu SailMail a capacidade de ler e responder emails do Matajusi no Gmail. Muitos emails do Matajusi que respondo hoje são feitos pelo meu email do barco usando Sailmail. Em pouco me tornei um bom conhecedor do SailMail e agora ajudo outros barcos a conectarem seus emails pessoais ao SailMail.

De tudo que queria fazer no barco só ficou faltando um dessalinizador, que pretendo fazer quando estiver no Panamá.

Fizemos a documentação de saída na sexta-feira e o provisionamento do barco no fim de semana, com um pequeno incidente na última visita ao supermercado para comprar últimos itens. Um amigo me levou para um supermercado holandês, de classe mais alta, realmente os produtos eram bons e muito variados, separei o que estava na lista, pus numa daquelas cestinhas de supermercado e fui para o caixa. Pus a cesta na esteira, e quando chegou a minha vez, na frente do caixa, a atendente falou qualquer coisa comigo em holandês. Com um sorriso, respondi em inglês se ela poderia falar em inglês ou espanhol. Ela insistiu em falar algo em holandês. Como não entendi o que falava, respondia em inglês e espanhol. De repente, ela pegou a cesta com meus produtos e sacudiu para cima, jogando todos os produtos na esteira, e continuou batendo a cesta em cima até amassar completamente os dois sacos grandes de fritas que eu havia separado. Olhei para ela, que me olhava com uma expressão do tipo, “e daí?!”, e disse que não apreciava a atitude dela, mas que a ia ajudar um pouco na sua atitude. Peguei a cesta e joguei-a no meio do supermercado, por cima da cabeça dos que estavam na fila. Sem tocar em ninguém, lá ficou a cesta no meio do corredor! Em seguida perguntei ao caixa se ela queria mais ajuda para desmanchar os produtos que havia separado! Ela ficou lá, me olhando com cara de surpresa, e eu pedi que ela fosse trocar os sacos de batata que havia esmagado de propósito.  Ela sumiu, e lá vêm os gorilas da segurança... Perguntaram o que havia se passado e lhes disse o que ela havia feito e como eu havia respondido. Como a coisa começou a ficar mais complicada, com um cliente na fila tomando as dores da atendente e me chamando para conversar “lá fora”, resolvi deixar tudo como estava e sair sem comprar nada. Senti um racismo mais forte do que quando estive na África do Sul na época do Apartheid!  Mas isso foi uma atitude singular da atendente e do cliente e não de todos da ilha.

Na nossa estada em Curaçao, como sempre fizemos muitos amigos relâmpagos. Assim que chegamos conhecemos o Lui e a Janet  do Scapatela de bandeira americana, e como eles tinham um carro alugado, nos levaram para sair algumas vezes. Em troca fizemos um jantar de despedida quando eles partiram. Depois conhecemos o Ric e a Moss, do Sojourner de bandeira americana. Eles primeiro nos convidaram para um vinho com aperitivos no barco deles, e depois os convidamos para uns aperitivos no Matajusi. Outro casal muito simpático e também amigos do Bob e da Cristina do Insuisanse foram os franceses Jean Claude e Monique, do La Fer Verte de bandeira francesa. Com eles também trocamos jantares e eles ainda fizeram uma reunião de despedida nossa no barco deles. Tiveram também o Dan e a Carla, do Alegria de bandeira americana. Por ultimo chegou o Prieto do Tutatis, barco irmão do Matajusi. Ele teve uma operação nas costas que esta dando trabalho e além disso sua filha também foi operada então ele não vai poder dar seguimento à sua viagem esse ano. Ele me ajudou com cartas e GPS para o IPAQ HP 6945 que uso como celular. Mais um GPS a bordo.

A Partida:
Partimos para San Blas no Panamá na segunda-feira, dia 17 de Março as 8h, depois de 24 dias em Curaçao. A previsão era boa e logo montamos todas as velas e alcançamos boa velocidade.  Testei o gerador de arrasto e notei o problema do curto, então refiz toda a instalação com o barco em movimento. Funcionou bem depois do acerto, gerando os catorze amps prometidos a 8 nós. Com isso, só ligamos o motor duas vezes a caminho de San Blas, para virar o barco contra o vento e ajustar a mestra.  Nesse primeiro dia singramos 166 milhas no rumo 295° a uma média de 6.9 milhas/hora, com ventos de popa entre 15 e 30 nós, e mar médio com ondas entre dois e três metros. Em 24 horas, passamos pelas águas territoriais de quatro países, Curaçao, Aruba, Venezuela e Colômbia.  Tivemos muitos navios pelo caminho, e teria sido muito complicado sem o AIS SRT. Chegamos a ter 7 navios em um espaço de 10 milhas, com dois pela proa, três alcançando, um cortando por bombordo e outro por boreste.  Com o uso do AIS, chamei vários navios para sugerir manobras para evitar perigo de colisão. Todos os pilotos responderam aceitando nossas sugestões. O fato deles poderem nos ver no AIS deles ajuda muito, pois o sistema deles não permite navegar em rota de colisão com um outro alvo de AIS.

No segundo dia de navegação, o mar piorou, com ondas mais altas, vento entre 15 e 30 nós, e uma corrente contra que estimei em 1,5 nós. Nesse dia passamos por um apuro quando as velas estavam armadas em asa de pombo, com a mestra presa pelo preventer, nós dois tirando uma soneca e o piloto soltou. O barco atravessou, e de repente, estávamos velejando para trás! Essa não era uma situação que eu conhecia, ou havia previsto, então, muito stress para sair dela. Primeiro ligamos o motor e aceleramos forte, para ganhar de novo o controle do barco. Mas, o vento estava forte, e conseguimos dar uma segunda atravessada.  Enquanto eu tentava manter o controle do barco, a Lilian soltou a adriça da genoa. Pedi para ela controlar o barco e fui para frente para tirar o pau da genoa. Consegui fazer isso e enrolamos a genoa. Depois foi só cuidar da mestra, que aproveitamos para risar mais. Ufa! Que adrenalina! Fiquei uns minutos respirando e revisando tudo que havia se passado. Sentei com a Lilian e discutimos o que fizemos e o que podíamos ter feito.  Acho que poderia ter posto o barco de novo em posição de navegar normalmente, e só depois cuidar das velas, se ainda fosse necessário, pois na hora no perigo, fui logo desmontar as velas. Mas, funcionou e conseguimos dominar o problema. Não quero estar nessa de novo! O barco velejando para trás, pode encher de água muito rápido e afundar. Não sei como não inundamos o cockpit! Nesse dia singramos 130 milhas no rumo 255° com média de 5,4 nós, uma das mais baixas que já fizemos.

O terceiro dia foi mais “punk”, com mar grosso, ondas de até oito metros, ventos entre 20 e 35 nós, muitos navios pelo caminho, corrente contra, mas conseguimos passar o dia sem incidentes. Ao anoitecer, eu estava cansado e estressado, e tinha que tomar a decisão de baixar a mestra e usar somente a genoa, pois ventava forte e o barco estava voando só de mestra no terceiro riso. Tínhamos 3 opções: virar o barco de frente para o vento e as ondas, e elas estavam altas, no piloto automático; deixar a Lilian controlando o barco e eu ir abaixar a mestra; ou eu controlando o barco e a Lilian ir abaixar a mestra. Acho que fiquei uma boa hora considerando os prós e contra de cada opção, até que a Lilian se ofereceu para ir abaixar a mestra. Demorei a concordar, mas entendi que essa era realmente a melhor opção, pois seria muito mais fácil para eu controlar o barco naquelas condições do que a Lilian. Pedi para ela vestir o colete, se amarrar no cabo de vida, levar uma lanterna de cabeça, e se abaixar quando eu falasse, pois as ondas estavam realmente altas e potentes. Fizemos tudo sem incidentes, armamos a genoa e fomos em frente noite adentro.

No nosso quarto dia de travessia, estávamos os dois muito cansados então deixamos o Jarbas, nosso piloto automático trabalhar forçado. Ele se comportou bem, mesmo com as horas extras. Nosso rumo nos punha meio de través com as ondas e o borrifo molhava tudo por perto.  Isso fora a chuva de peixes voadores que batiam contra o casco e dentro do cockpit. Um me acertou de cheio no peito! Já soube de caso do peixe entrar dentro da boca de cruzeiristas! À medida que eles iam caindo dentro do barco, íamos jogando-os de volta ao mar.

Singramos 139 milhas nesse ultimo dia, com média de 5,8 milhas/hora. Os ventos eram de 15 a 25 nós, de aleta de boreste, e o mar era médio com ondas até 4 metros.  Avistamos as primeiras iolhas de San Blas por volta das 10 horas, e nos preparamos para entrar pelo canal do holandês, para dentro do abrigo do Cayo Holandês.

Soubemos depois que essa travessia entre Curaçao e San Blas é considerada a quinta travessia mais difícil em todo o mundo. Não foi a toa que o mar estava fervendo!

Na próxima coluna vou relatar mais das nossas aventuras no Panamá.

Convido meus leitores a se comunicarem comigo pelo e-mail matajusi@gmail.com, e a acompanharem notícias sobre o Matajusi no site do projeto, www.matajusi.blogspot.com<http://www.matajusi.blogspot.com>.

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