terça-feira, julho 07, 2009

Posição 06/07 - Chegamos, ancoramos, batemos em outro barco.


10°27'646S 138°40'135W
Ancorado em Fatu-Hiva
Chegamos as 04:30 da manha, depois de um dia e uma noite de Pirajás constantes. Muito vento, muita onda, muito mar, pouca disposição.
Pus o barco na rota para o sul da ilha de Fatu-Hiva, liguei radar e AIS e fui dormir. Acordei para reduzir velas no meio de um Pirajá, e fui dormir novamente. Acordei novamente com a Lilian me chamando, pois havia terra a vista. Eram quatro da manha.

Entramos na baia, depois de enfrentar umas ondas bem altas na ponta sul da ilha, e fui procurar um lugar para ancorar. Teria escolhido outro lugar, mas o Otis do Independence havia me passado um email com direções para ancoragem. Ele sugeria jogar ancora logo atras de um barco de alumínio alemão. Só haviam três barcos na baia. É uma baia pequena, muito funda, e com muito vento.

Depois da primeira ancoragem, sem muita noção da distancia das pedras por ser noite ainda, o Yhogan, do barco alemão de alumínio, me disse que achava que eu estava muito próximo das pedras. Como ele estava mais familiarizado com o local, suspendi ancora e fui ancorar onde ele sugeriu, apontando uma lanterna. Ancoramos, preparamos o barco para irmos dormir, tomei banho quente, vesti pijama, e ja esta indo para a cama quando senti um balançar lateral esquisito. Sai para fora, e estávamos navegando de novo! Com quarenta e cinco metros de corrente pendurados, já estávamos a mais de 300 metros de profundidade.

Vesti minha roupa de navegação na chuva, pois estava começando a chover torrencialmente, e voltei a motor para a pequena baia. Ali escolhi um lugar logo atras do Green Coral, e lancei ancora. Agora ficou firme, pensei. Dei corrente, e dai a pouco notei que estava cada vez mais próximo do Independence. Liguei motores de novo e vamos para a quarta tentativa, mas isso, só se a ancora soltasse do que quer que a tenha prendido ao fundo!

Tentei ao limite do guincho liberar a ancora, fui para frente e para trás, e nada dela soltar. Bom, o que não tem remédio remediado está! Dei mais corrente e comecei de novo a preparar para ir dormir. Só que, notei que estava cada vez mais próximo do Independence!

Com rajadas de vento chegando aos trinta nós, chuva torrencial, sem ver ou ouvir direito, e a gritaria acordou a baia inteira. Notei a Jenny, do Independence, na proa do catamaran deles, so olhando as nossa manobras. Eu mesmo não entendi porque estava me aproximando mais e mais do Independence, até que acendeu a luz! Na cabeça! Eu estava enroscado na corrente da ancora do Independence!

O Otis, do Independence, saiu de bote e veio ver o que diabos eu estava aprontando, quando lhe disse que estava enroscado na corrente da ancora dele! Ele entendeu o problema rapidinho.

Nessa altura o Matajusi estava de lado para o vento, com a proa comprometida pela corrente entrelaçada, e só me sobrou a ré. Sai forçando tudo, de ré, mas ja estávamos perto demais, e os barcos se tocaram. Com a proa mais alta do que o Matajusi, o bico da proa do Independence praticamente arrancou uma coluna do guarda-mancebo do Matajusi, e por muito pouco não acertou o brandal de boreste (lado direito).

Não tive nenhuma outra alternativa senão deixar os barcos se encostarem de lado. Controlei o máximo que consegui, e gritei para a Lilian e a Jenny para porem defensas entre os barcos, e encostamos...

Assim ficamos por mais uma hora, até amanhecer de vez. A Jenny estava super estressada, gritando, e nós não tínhamos muito o que fazer. Precisávamos mais gente para ajudar a desentrelaçar as ancoras.

Acordamos o Peter do Green Coral e pedimos para ele vir ajudar com o botinho. Minha idéia era usar os botinhos para rabear o Matajusi de volta para o outro lado do Independence, depois empurramos o Independence para tirar a corrente dele de cima da minha, e eu recolher e ancorar de novo, agora, de dia, em um lugar melhor. E assim o fizemos. Tudo deu certo, e finalmente ancorei corretamente e fui dormir. Nisso já eram umas oito e trinta da manha.

Que chegada nas Marquesas!!! Cruzamos as três mil milhas em dezenove dias, e pegamos de tudo um pouco, mas muito pouco de Pacifico!

Depois conto sobre a beleza que é essa ilha, que mais parece um monumento dos deuses. Mas agora, vou dormir…