segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Trabalhando a Bordo!

Depois de dois anos trabalhando nesse projeto, está chegando à hora de pormos em prática alguns dos nossos planos, principalmente no que toca à continuidade do meu trabalho como gerente geral da Harte-Hanks (www.harte-hanks.com.br) para a América Latina, a bordo do MaTaJuSi.

Na semana que vem, vou sair de férias para participar do lançamento do barco na água no Joinville Iate Clube (JIC), estimando passar perto de um mês fora do escritório, mas sem deixar de cumprir com minhas atividades profissionais.

Para tanto, desenvolvi uma metodologia de trabalho que venho testando e praticando já por alguns meses e tem se mostrado eficiente para resolver o problema de eu estar fisicamente ausente do escritório, mas em plena atuação das minhas atividades profissionais.

Atualmente, 90% do meu trabalho é feito pela internet, os 10% restantes consistem de situações onde minha presença é necessária para a assinatura de contratos e outros documentos legais. Quanto às situações legais, estou transferindo essa responsabilidade para um diretor da empresa aqui no Brasil, e quanto à internet, contanto que eu tenha acesso de onde estiver, posso continuar com minhas atividades normalmente.

Hoje em dia, já existe muita tecnologia que permite o acesso à internet de onde o usuário estiver. Uma tecnologia que uso para trabalhar pela internet como se estivesse no escritório é a VPN, ou Virtual Private Network, que permite que eu acesse os sistemas do meu escritório, como se estivesse nele, mas usando uma rede definida dentro da banda da internet, diretamente ligada aos sistemas do meu escritório, e passando por todos os sistemas de segurança para garantir que nenhum usuário desconhecido consiga acessar nossa rede ou sistemas e arquivos internos.

Para acessar a internet, ou mandar e receber e-mails ou mesmo poder me comunicar por telefone, existem algumas tecnologias discutidas a seguir.

Comunicação á internet via cabo ou sem-fio:

De um internet café, com meu notebook, dependendo da velocidade de conexão suportada no local, posso navegar pela internet tão bem quanto do próprio escritório. Essa conexão seria melhor para transferência de arquivos e abertura de anexos grandes, tipo propostas, contratos, planilhas, etc.

Quando em uma marina que suporta rede sem fio, posso acessar do notebook do próprio barco. Nesse caso, também posso trabalhar como se estivesse no próprio escritório. Esse tipo de serviço esta cada vez mais disponível pelas marinas internacionais.

Essas duas possibilidades permitem que eu trabalhe com os dados de mais alto volume quando estiver atracado em portos que suportem esses tipos de conexão.

Comunicação via celular:

A próxima opção seria trabalhar via um computador de mão, que hoje em dia, também suporta acesso GPRS e telefonia celular. Durante meus testes recentes, testei um TREO 650 e conectei na minha linha de celular, com uma simples troca de chip. Tenho tido sucesso acessando meus vários e-mails via celular. Meu provedor de celular cobre praticamente todo o Brasil, diretamente ou através de acordos de roaming.

O roaming internacional também é suportado. Nesse caso, contanto que eu esteja perto da costa onde a rede celular tem suporte e alcance, posso receber e mandar e-mails, além de poder me comunicar por telefone.

No caso dos e-mails, desenvolvi uma metodologia e um protocolo, onde uma assistente que já esta em treinamento no meu escritório, recebe meus e-mails originais, sumariza, e passa para um e-mail de comunicação, do barco e para o barco, para minha informação, consultoria, ou decisão. Essa assistente tem muitas outras atribuições, como preparar releases e manter contatos com a imprensa, editar meus relatos, manter o site do projeto e lista de contatos, além de estar sempre navegando (pela internet) na frente da minha rota, me ajudando com decisões de saída ou chegada em novos portos, documentação, informação de acidentes geográficos ou políticos que eu deveria saber antes de aterrar em um novo porto, reserva de bóia, cais, hotel, oficina e outras mais, pagamento de taxas e o que mais for de ajuda de uma pessoa de fora do barco, com acesso a todas as facilidades de comunicação internacional como telefone, fax, transferências bancárias, internet, notícias, etc.

Para evitar receber volumes altos de informação via e-mail, o e-mail do barco somente recebe e-mails da minha assistente, então, qualquer comunicação via e-mail com o barco, tem necessariamente de passar por ela.

Além das formas de acessar a internet descritas acima, existem também soluções mais especificas para a navegação transoceânica.

Comunicação via SSB:

A próxima solução alternativa para e-mails é o uso do radio SSB (HF) juntamente com um equipamento de radio SSB que tem a capacidade de mandar e receber e-mails automaticamente como o Icom M802.

Esse sistema tem integração com outros equipamentos a bordo, inclusive com o notebook.

Esse radio, em conjunto com um serviço internacional de e-mails via SSB como o SailMail (www.sailmail.com), permitem que e-mails sejam transferidos do notebook de bordo e para o notebook de bordo, sem interferência humana. Isso facilita bastante à troca de informação via e-mails, mas ainda não suporta grandes volumes de dados transmitidos, existindo inclusive um máximo de volume de dados permitidos por usuário. A cobertura desse sistema é quase global, e fica aí uma oportunidade para a comunidade de radio amadores do Brasil de adicionar uma estação de retransmissão também por aqui, pois hoje não existe uma.

Comunicação via satélite:

A próxima e última opção seria o uso de serviços de satélites de comunicação, uma opção que esta melhorando a cada ano, além dos preços também decrescendo na medida em que o volume de uso aumenta, ajudando a distribuir melhor os custos de manutenção dos satélites. Essa opção tem várias variáveis a serem consideradas, as primeiras sendo custo de utilização e o volume da antena. Em um barco de 40 pés como o MaTaJuSi, não tem espaço para pormos uma antena de acesso de alta velocidade como a que vemos nos barcos de 70 pés das regatas de volta ao mundo. Além disso, esses serviços de alta velocidade são caríssimos, ficando fora do orçamento de um projeto como o MaTaJuSi, a não ser que fosse patrocinado, e mesmo assim, a volume da antena seria uma dificuldade.

Veja abaixo dentro do circulo vermelho, o tamanho da antena usada para acesso de banda larga dos barcos da Volvo Ocen Race:


Outra variável é a cobertura dos satélites, que, mesmo que seja excelente em algumas áreas de maior trafego e população do mundo, ainda é bastante escassa em regiões mais afastadas, como no oceano Indico, por onde passarei.

Depois de muitas pesquisas e consultas, cheguei à conclusão que uma boa opção para um barco de 40 pés fazendo uma volta ao mundo é o sistema Inmarsat Mini M (http://maritime.inmarsat.com). Esse é um sistema bem compacto que permite mandar e receber dados, inclusive e-mail e outros arquivos como informação sobre o tempo, fotos e vídeos, além de suportar uso de comunicação de telefone por satélite.

Durante minhas férias, onde farei o lançamento do barco na água, a viagem inaugural de Joinville à Angra para participar na regata de CARAS, retornando para São Paulo para a apresentação do barco para patrocinadores, família, amigos e imprensa, estarei utilizando somente as opções de uso da internet em marinas além do uso do meu computador de mão para falar por celular, mandar e receber e-mails e me comunicar com minha equipe. A opção de SSB será implementada em mais uns dois meses, e a de satélite somente quando eu fechar patrocínio que cubra o custo do aparelho e da minutagem, orçado em US$24.000 para o período da viagem de volta ao mundo.

Até meu próximo relato quando estarei comentando sobre as minhas primeiras experiências navegando com o MaTaJuSi!