quinta-feira, janeiro 11, 2007

Mudanças com relação ao plano original

Como não poderia deixar de ser, pois nossos planos são projetados para serem adaptados as novas condições que vamos aprendendo no decorrer das nossas pesquisas, já têm uma serie de mudanças no barco, nos equipamentos e na agenda de testes, ficando, por hora, a rota quase que inalterada com relação ao nosso planejamento, mas o mesmo não podendo ser dito sobre outras áreas do projeto.

Estamos chegando numa fase do projeto onde praticamente todo dia se toma alguma decisão e compramos mais algum item. Posso dizer que o trabalho no projeto tem sido bastante extenso nessas ultimas semanas, com decisões de construção, de equipamentos, de enxoval do barco, de itens variados que acho interessante mencionar para ajudar aos que ainda vão traçar esse caminho pela primeira vez como eu.

Nessa altura do projeto posso dizer que sinto certa ansiedade de ver concretizado o lançamento do barco na água, com o começo dos testes. Estimei que preciso de no mínimo um ano para me familiarizar com o barco, antes de me lançar ao mar para uma volta ao mundo e agora, cada mês que passo sem o barco, é um mês de testes e treinos que podem vir a faltar na hora da partida.

A Construção do Barco:
Na área de construção do Matajusi, erramos na previsão do término do barco. Prevíamos entrega no final de Outubro/06 e já estamos no meio de Janeiro/07, com ultima previsão para final de Janeiro/07. Eu pessoalmente penso que o barco só estará pronto e mesmo assim ainda com itens para serem complementados depois, na semana anterior à regata de CARAS. Estamos inscritos e vamos participar, mesmo se alguns itens do barco não estiverem prontos, mas que não comprometam a navegabilidade e segurança a bordo.

Uma surpresa financeira foi o custo de pintura anti-craca do casco, um item caro, na ordem de R$6.000, que não estava incorporado ao preço original do barco. Seria importante se conhecer essas surpresas quando da negociação do barco para evitarmos erros de orçamento na reta final.

Esses projetos são assim mesmo, pois vamos modificando um pouco aqui e um pouco ali, e isso vai comprometendo a agenda planejada, então, recomendo não definir participação em eventos antes de o barco estar na sua mão. Originalmente havia planejado uma viagem inaugural à Argentina, mas tive que cancelar com o atraso na entrega do barco. Sem problema, deixamos para outra oportunidade.

Equipamentos:
Com relação aos equipamentos planejados, também fomos mudando nosso plano à medida que fomos pesquisando, lendo e discutindo mais sobre esses itens.

Geradores:
Como exemplo, pensávamos em utilizar um gerador de energia de arrasto, parecido com um torpedo que vai rebocado atrás do barco em movimento, mas, revisando as implicações e dificuldades de se usar aparelhos desse tipo, procuramos por outras opções e encontramos o gerador de energia fixo movido a arrasto e a vento, chamado DUAL GEN (www.duogen.co.uk).

Esse gerador vai instalado no espelho de popa do barco e pode ser inclinado para a água atrás da embarcação em movimento e isso promove o movimento da água a acionar a hélice, e essa, por meio de um eixo, faz movimentar o gerador, que pela especificação, gera 20 amperes/hora na velocidade de cruzeiro do barco de 8,5 nós.

Isso seria suficiente para suportar toda a energia necessária para o radar, GPS, sonda, e piloto automático quando em cruzeiro e com vento. Esse gerador pode ser usado também com o vento. Nesse caso, trocamos a hélice pelas pás de vento e inclinamos o eixo para cima, prendendo-o na targa. Essa seria uma solução para manter baterias carregadas quando estivermos ancorados.

Incorporamos também, como ultimo recurso se todas as opções de carga de baterias tiverem falhado por uma razão ou outra, um gerador dois tempos a gasolina (Yamaha ET 950) que poderia carregar a bateria de arranque do motor, que uma vez funcionando, poderá gerar até 180 amperes/hora com os dois alternadores disponíveis.

Dessalinizadores:
Outra mudança que fizemos ao plano original foi com relação ao dessalinizador. Pensávamos em usar também um de arrasto, mas cheguei a conclusão que seria difícil de gerenciar esses equipamentos arrastados atrás do barco, principalmente em áreas mais rasas ou mesmo com objetos flutuantes não identificados, para não mencionar um tubarão pensando que aquilo poderia ser um atum digital. Então pesquisei outros modelos e achei um que pode ser acionado pela energia solar, ou pela bateria.

Como é um equipamento portátil, pode também ser usado na balsa salva-vidas no caso de necessidade de abandono da embarcação. Esse equipamento não tem um volume muito grande de produção de água, mas cheguei à conclusão que, com os 400 litros que já tenho nos tanques do Matajusi, não precisaria de muito mais do que isso para as grandes travessias. O dessalinizador que estou interessado agora é o Spectra Aquifer 150SP (www.spectrawatermakers.com), que funciona com placas solares próprias, assim não precisa da energia do barco mas podendo operar também das baterias do barco, gerando até 24 litros de água doce por hora, ou seja, em um dia pode repor toda a água dos tanques de água doce do Matajusi (400L).

Segundo os especialistas no assunto, cada tripulante consome entre 20 e 30 litros de água por dia. Poderemos então repor esse consumo diário, com duas horas de operação solar do dessalinizador.

Um dos problemas de se usar dessalinizadores é que a qualidade da água gerada pode não ser boa por motivo de sujeira nos filtros do equipamento, ou mesmo pela qualidade da água na área onde se esta captando a água salgada para ser tratada, então o plano é termos um bujão de 40L separado dos tanques e usarmos esse bujão para carregarmos com água dessalinizada que, uma vez testada e talvez tratada quimicamente, pode ser incorporada no tanque selecionado para receber essa água, sem o perigo de contaminar a água que já estava no tanque.

Bote de apoio:
Depois de muitas discussões e consultas, escolhemos o Flexboat MiniFlexS (www.flexboat.com.br/produtos_miniflex_s.php) para bote de apoio do Matajusi. A razão principal é que esse bote pode ser desinflado e enrolado facilmente, para ser guardado no paiol quando em grandes travessias, e dessa forma, não ficar atrapalhando os cabos em cima do deck como também não ficar exposto ao sol e as ondas. Esse bote foi construído especialmente para o Matajusi pela Flexboat, pois usa um material mais grosso do que o bote original. Além disso, estamos fazendo alguns reforços na área dos tubos que podem entrar em contato com objetos cortantes como corais, pedras, pedaços de madeira boiando, etc. Para motorização escolhemos o Mercury 5HP dois tempos. Preferimos Mercury pela cobertura mundial de serviços dessa marca de motor, e, portanto maior disponibilidade de componentes no caso de precisarmos fazer serviços nele durante a viagem. Escolhemos 5HP, mesmo estando acima da especificação de motorização do bote escolhido, pois em alguns lugares da nossa rota, enfrentaremos correntes muito fortes que devem ser vencidas pelo motor de apoio do bote. Depois de recebidos o bote e o motor, fomos testar no rio de Barra do Una. Ficamos satisfeitos com a escolha, mas decidimos pelos reforços adicionais na FlexBoat somente como medida de precaução.

Equipamento de salvatagem:
O Matajusi, como vai ser usado para dar a volta ao mundo, é considerado um veleiro oceânico e, portanto precisa de equipamento de salvatagem extra, definidos para barcos oceânicos. Pesquisamos bastante sobre onde comprar, pois a diferença é no custo, e chegamos à conclusão de que a Real Marine (www.realmarine.com.br) em São Paulo tem os melhores preços. Fechamos o pacote inteiro com eles e só estão faltando alguns coletes especiais para embarcação oceânica. Aproveitamos e compramos as defensas também por lá, pois a qualidade e preço estavam convidativos.

Enxoval:
Essa é uma decisão difícil, pois cada barco tem formatos e dimensões diferentes para lençóis. Toalhas podem ser as comuns, usadas em casa, mas lençóis não são encontrados nas dimensões das camas dos barcos. Primeiro tomamos as medidas com o estaleiro, depois fomos visitar vários fornecedores de cama e mesa. Também, depois de muitas consultas, optamos pela MMartan (www.mmartan.com.br) e compramos dois conjuntos de cama e banho para a cabine do comandante e um conjunto para cada uma das outras duas cabines do Matajusi. Compramos também travesseiros e cobertas. Com isso, quando em solitário, eu teria vários conjuntos de cama e banho para ir trocando durante longas travessias. Quando ancorado ou atracado, os conjuntos podem ser usados pelas visitas. Como presente por ter feito essa compra volumosa na MMartan, ganhei um roupão de algodão Egípcio que tinha experimentado e adorado, mas optado a não levar pelo preço! Eles demonstraram saber tratar com clientes de porte!

Na área de cozinha e banheiros, ainda estou pesquisando os itens que preciso comprar, mas com certeza, material a prova de ferrugem, prático, necessário, e compacto.

Equipamentos de pesca:
Como já tenho barco há muito tempo, meu equipamento de pesca de vara, linha, arremesso, fundo e pesca submarina está bem completo, então, estou simplesmente mudando de um barco a motor para um veleiro. Tenho também churrasqueira, mesa de limpar peixes, ancoras de reserva, dois equipamentos completos de mergulho autônomo, então, todos esses equipamentos também serão incorporados ao Matajusi. Lembro de ter lido no livro do Andre Homem de Mello sobre os 100 metros de corrente e ancora que foram perdidos a 10 metros de água, problema que poderia ter sido solucionado com um equipamento de mergulho autônomo, ou, no meu caso, em um simples mergulho em apneia, pois pesco normalmente aos quinze metros em apneia então ir a 10 metros é muito fácil para mim.

Outros equipamentos diversos:
Além da lista de equipamentos acima, também estou incorporando ao Matajusi mais dois GPS portáteis, dois medidores da velocidade do vento, umidade do ar, e pressão atmosférica, dois rádios VHF portáteis, aparelho de pressurização de água para lavar o barco e equipamentos, quando atracado a marinas com suporte de energia de 220V, binóculos, fita e equipamento de conserto de velas, cadeira de subir na mastreação, correias para segurar velas quando baixadas, EPIRB 406mhz, categoria II, manual, com GPS, balsa salva-vidas, radio SSB, antena de televisão, antena de satélite, antena de SSB, tambor de equipamentos de abandono do barco, duas bicicletas de dobrar e se possível a motor, luneta de visão noturna, e a lista continua.

No dia 24 de Fevereiro, o Matajusi vai participar da regata de CARAS, e será apresentado para a mídia pela primeira vez. Estamos nessa altura tratando da documentação do barco, seguro, carta de Capitão Amador, e, a ansiedade continua crescendo...

Até o próximo relato onde continuarei a documentar situações na preparação final do barco antes de ir para a água.