quarta-feira, outubro 18, 2006

Matéria publicada na revista Mercado Brasil:

Outubro de 2006 - Mercado Brasil - Pág. 46
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Velejar e trabalhar


Lidar com altos níveis de risco. É assim que Sílvio dos Passos Ramos, gerente comercial da Harte-Hanks para a América Latina, define a ousadia que fará em 2007 a bordo de um RO 400 sem deixar de trabalhar. Numa fase de resultados, uma vida confortável e da prospecção da aposentadoria, Ramos decidiu diminuir o ritmo de adrenalina que ele gosta como dirigir carros, motos, barcos e tudo que inclui alta velocidade.

Incluindo as corridas de Kart há cinco anos – tempo de conquistas em alguns campeonatos – e participar das 500 milhas de Kart da Granja Viana com os melhores pilotos da atualidade como Rubinho Barrichello, Felipe Massa, Kannan e Juan Pablo Montoya. “Quero usufruir daquilo que construí até então, mas continuo agregando bastante valor à empresa para a qual trabalho e, por isso, não quero parar agora. Portanto, a única opçãoseria montar um escritório a bordo” , explica. A escolha pelo mar vem de uma paixão antiga, desde os 17 anos ele mergulha em muitos lugares do Brasil e do mundo, pratica também apnéia e caça submarina. “Minha idéiaé diferente de outros velejadores como Aleixo Belov, que conheci há pouco em Bracui e que já deu sua terceiravolta ao mundo a vela, e da família Cecon, que decidiu morar num barco ao dar a volta ao mundo”. Ramos afirma não ter nascido e crescido com esse objetivo.

Ele conta que tudo começou como resultado do crescente interesse pela navegação à vela, combinado pelo gosto por risco. “O risco da alta velocidade vai diminuir, mas outros riscos a serem discutidos nos próximos capítulos devem substituir a alta velocidade”, acredita. A maior experiência na vela Ramos realizou no Caribe em 2003, da ilha de Granada até a Ilha de Union, quando, sem nunca ter saído sozinho em um barco à vela, alugou um de 40 pés, e, na companhia então da esposa, Julie, passaram 10 dias navegando entre Granada, Carriacou, Union, PSV, e de volta a Granada.

O projeto atual chamado Matajusi – iniciais dos nomes dos filhos Márcio e Tatiana e da ex-mulher e companheira de muitos anos, Julie. “Já encontrei o barco e fiz a seleção de estaleiro. Estamos no momento finalizando o desenvolvimento da rota”.

Atualmente, o gerente comercial intensifica os estudos e pesquisas necessárias para preparar a realização do projeto, somado aos ajustes iniciais, documentação, seguros e outras providências do ponto de vista financeiro. Nos preparativos finais está a partida oficial, que será do Guarujá, em São Paulo, estimada para o início do próximo inverno. Ramos deseja aproveitar ventos e correntes mais favoráveis para a subida da costa do Brasil.

Aos 58 anos e com muita disposição para encarar mais uma aventura, ele conta que a família está acostumada com os projetos dele, considerado perigosos. "Coincidentemente, com esse eles estão mais apreensivos. Mas também me conhecem e sabem que quando decido por um projeto, tem duas posições que eles podem tomar, vem comigo, ou saem da frente", brinca.

Quanto ao nome do projeto – Matajusi –, foi uma forma que ele encontrou para carregar a família junto nesta empreitada.

Para montar um escritório dentro do barco de 40 pés, construído no estaleiro ILS, foram necessárias algumas modificações. “As principais alterações são com relação aos reforços de vela, mastro e estaiamento, a inclusão de uma vela de tempestade (tormentim), a preparação dos conduites de cabos para as diferentes opções de cargas das baterias e conexões via satélite para ter acesso a e-mail durante toda a viagem”, explica.

Ramos também fala da atenção especial aos equipamentos de abandono do barco em caso de necessidade, como uma balsa, mantimentos e um dessalinizador manual. “Estou treinando um recurso na empresa onde trabalho, para centralizar toda a correspondência de mim e para mim, assim os e-mails que vou ler e responder já terão sido filtrados e sumarizados, para facilitar na comunicação via satélite e diminuir custos de comunicação”. Outras necessidades são os espaços para guardar os mantimentos e equipamentos que levará, além do uso de uma das três cabines do barco como uma oficina e paiol.