segunda-feira, julho 08, 2013

Custo de manutenção de motor Yanmar que pode ser evitado!

Vou dedicar essa matéria a alguns dos problemas de manutenção que tive com o motor Yanmar do Matajusi.

Tudo começou, e só foi preciso isso, com uma instalação mal feita pelo estaleiro que fabricou o Matajusi e montou o motor no barco, seguida por uma vistoria mal feita pelo representante Yanmar da região, que não percebeu a montagem errada, e pronto, como “uma coisa leva a outra”, o problema foi aumentando e se agravando até a situação de hoje.

Na instalação inicial do motor feita pelo estaleiro, o cabo de acelerador e engate da transmissão foi montado muito curto. Com isso, todas as vezes que o engate a frente era acionado, não acionava corretamente a transmissão, faltando mais de um centímetro para a transmissão ser acionada na forma como devia, e isso, com o tempo, foi provocando um desgaste desnecessário do cone da transmissão.
Esse problema poderia ter sido evitado, se, primeiro, o estaleiro tivesse montado corretamente o cabo, segundo, se a inspeção da Yanmar tivesse reconhecido o erro e promovido o acerto, mesmo antes de eu receber o barco e motor novos, e terceiro, se eu entendesse alguma coisa sobre isso quando recebi o barco, e por isso escrevo essa matéria, pois muitos serão os novos proprietários que poderão reconhecer esses problemas e ajustarem o cabo de engate antes do problema piorar.
Um problema que na pratica pode ser identificado e corrigido, tendo-se o conhecimento para tal, acabou gerando um custo enorme e desnecessário, acumulado com o risco do motor nos deixar na mão,  e pior ainda se em uma hora onde isso não pode acontecer, ou seja, quando a gente realmente estiver precisando contar com o motor em bom funcionamento. Não adianta o motor ligar e funcionar bem, a transmissão tem que engatar e funcionar bem também para o barco poder ter algum seguimento a motor.

Lembro que em algum momento na nossa travessia pelo Pacifico, comecei a perceber que a velocidade do barco não mais correspondia com a velocidade do motor, ou Rotações Por Minuto do motor (RPM). Primeiro pensei que o hélice ou o eixo estavam soltos, pois não conhecia o sistema o suficiente para poder diagnosticar o que estava acontecendo. O que eu percebia era que o hélice girava mais lento do que deveria estar girando. Para entender melhor, eu olhava no volume de água que era empurrado para trás pelo hélice, para empurrar o barco para a frente, e aquilo não parecia corresponder com o RPM do motor.
Como em travessias usamos o motor somente ajudando o seguimento à vela, sempre em baixa rotação, algo entre 1.200 e 1.800 RPM, pois nessa velocidade o consumo é bem menor  e a distancia que podemos percorrer aumenta bastante. Com os três tanques de diesel do Matajusi, com um total de 330 litros de diesel, consigo fazer algo em torno de mil milhas ajudando o seguimento à vela com o motor.

Minha experiência mostra que o consumo seria na ordem de vinte e cinco litros por vinte e quatro horas de motor, ou seja, pouco mais de hum litro por hora, o equivalente a  um quarto de tanque por dia, o que me daria na ordem de doze dias de ajuda com o motor, que a uma media de cem milhas por dia, ou seja, muito pouco vento a favor ou talvez vento ou  corrente contra, me daria as mil milhas iniciais. Mas, o problema com usar o motor nessa baixa rotação, é que não se percebe quando a transmissão esta patinando, pouco ou muito, pois o barco continua com algum seguimento com o vento ou corrente, dai a importância de se conhecer esse problema para podermos identifica-lo antes do problema piorar a ponto de perdermos qualquer possibilidade de seguimento á motor.

No meu caso, a situação ficava mais complexa pois o barco usava um hélice Kiwi Prop, que se alinhava à agua para diminuir o arrasto quando o seguimento era a vela. Primeiro pensei que o hélice não estava armando corretamente, e cheguei a mergulhar  seguro a um cabo amarrado à proa, com o barco e motor em seguimento, para ver o que acontecia e foi aí que percebi que o problema era que o hélice não girava na velocidade que deveria girar em relação à rotação do motor, somente quando o motor era acelerado, e ai percebia-se um “tum” em algum lugar do sistema,  com o barco voltando a se comportar como deveria.

Sem conhecer ainda o sistema, ficava difícil identificar de onde vinha o  “tum”, e até chegarmos na Nova Zelândia, quando tirei o Kiwi Prop e re-instalei o hélice original do barco, de bronze com duas pás, que percebi, mais isso somente depois de voltar o barco para a água, então resolvi deixar ainda com o “tum” até Fiji, onde tinha outro representante Yanmar.
Em Fiji, conversando com outro navegador que já tinha tido esse problema, aprendi sobre os cones do sail drive da Yanmar, como funcionavam, e os problemas que davam, mas isso, mais comum nos sail drives anteriores ao do Matajusi,que tem o SD50. Escrevi para o David, um amigo da Yanmar de Opua na Nova Zelandia e ele me mandou copia do manual do SD50, com instruçoes de como consertar o problema da derrapagem do cone das rabetas Yanmar (Sleepering Cones). O problema era tão grave nos sail drives anteriores que a Yanmar desenhou um sistema onde o eixo pode ser desacoplado da caixa de transmissão, com um simples soltar de quatro parafusos e empurrar  o eixo para fora do cone, muito simples, e permite que se retire a caixa de transmissão, agora sem o eixo espetado no meio dela. Dentro da caixa de transmissão, fica esse cone, parecido com um ioio de bronze. 

Uma vez retirada e limpa a caixa de transmissão dava para ver o desgaste no cone original, de ficar patinando, e de dar e tomar o tranco ( “tum”) quando a transmissão engatava em maiores rotações do que a de marcha lenta.  Feito isso, levei a caixa inteira para a BaoBab, representante Yanmar em Lautoka, Fiji, e pedi para eles trocarem o cone, pois havia conseguido um novo com meu amigo Mike Dawson do Shellette, que tinha dois de reserva, pois ja tinha passado por esse problema também. Lá eles desmontaram a caixa, trocaram os cones, e me devolveram para eu re-instalar no barco.
Feito tudo isso, a transmissão voltou a funcionar normalmente, ou seja, engatava e não dava o “tum”. Mas, o problema não estava lá, somente a consequência, o problema continuava a ser a do cabo de engate, mas eu não conhecia o suficiente para saber disso. Resultado, não demorou muito e a patinação começou de novo! 

Pensei ter sido um serviço errado na montagem da caixa de transmissão pela BaoBab, mas, resolvi estudar mais profundamente o sistema. Escrevi novamente para o David de Opua explicando a nova situação, e ele então sugeriu olhar no cabo de engate, e dito e feito, foi ai que descobri que eles não estavam ajustados corretamente. Não deu muito trabalho ajustar, foi desmontar os cabos no engate e acelerador no motor, acionar o engate com a mão mesmo, e acionar o cabo em paralelo, fora do engate, para ver se o cabo e o engate acabavam no mesmo lugar, e não acabavam! Faltava pouco mais de um centímetro para o cabo chegar onde o engate chegava! Se eu soubesse disso antes?!  Teria economizado muito dinheiro, tido muito menos problemas, menos preocupações e dores de cabeça, tudo por causa de um centímetro de cabo!

Bom, ajustei o cabo, chequei bem, e o engate voltou a funcionar corretamente, mas, e sempre tem um mas,  como ele havia funcionado errado por um tempo, provavelmente desgastou o novo cone também, pois no meio da travessia do Atlântico, a transmissão começou a patinar pela terceira vês na minha volta ao mundo!

Cheguei em Angra, contratei o pessoal da Náutica Porto Novo, representantes Yanmar para fazer uma revisão completa no motor do Matajusi, e aí vieram as novas surpresas! O acoplador do motor, uma peça que fica entre o volante e a transmissão, estava quase que derretido pelos “tums” que teve que aguentar durante essas trinta e duas mil milhas e mais de quatro mil horas que levaram para eu dar uma volta ao mundo! Isso ia me custar mais uma revisão do motor, não fosse o fato de que, meu motor Yanmar veio com um defeito de fabricação onde o retentor de óleo que fica atras do volante vazava desde novo. Na época, a Yanmar tinha autorizado a troca, mas não tinham tempo de fazer a troca antes de sairmos com o Cruzeiro Costa Leste de 2008 a caminho do norte do Brasil, a acabou ficando sem fazer. Quando separamos o motor da transmissão, para trocar esse retentor, descobrimos o acoplador destruído pelos “tums”.


Moral da historia, tivesse o cabo sido instalado corretamente, ou, tivesse a inspeção de entrega da Yanmar identificado o problema, ou, tivessem todos os outros distribuidores Yanmar ao redor do mundo devidamente reconhecido a origem do problema, ou, tivesse eu todo o conhecimento que tenho hoje sobre esse assunto, e não teríamos tido todo esse custo desnecessário na manutenção do motor do Matajusi. Tomara que essa matéria ajude outros navegadores a reconhecer e sanar esse problema antes de terem o custo por não fazê-lo.