domingo, maio 10, 2009

Ilha Linton (2) - Panama

Ilha Linton (2) - Panama:
(Fotos por Silvio Ramos e Lilian Monteiro).

Amanha vamos partir para Cristobal, Colon, para começarmos os procedimentos para a travessia do canal, então, melhor escrever mais sobre nossa estadia na ilha Linton enquanto me lembro.

Precisava ir a Panamá City para pegar os equipamentos que havia comprado (dessalinizador, peças de reposição do guincho) então ofereci para a Sarah alugar seu carro para ir ao Panama pegar meus equipamentos. A Sarah é uma americana cruzeirista, que a exemplo do Roger e Binnie, ficou por aqui permanentemente. A conhecemos através do Don, pois ela lava roupas para muitos dos barcos ancorados aqui.  Nesse dia choveu torrencialmente, mas tivemos a sorte de ser o primeiro dia da via pedagiada para Panamá City. Pedi para a Sarah ir junto, pois não conhecia nada dos caminhos a serem percorridos. Acabou que ela também não conhecia, então fomos perguntando pelo caminho. No final do dia, tínhamos achado tudo da minha lista de compras, mais algumas coisas que encontrei em uma marina do lado do Pacifico. Ainda passamos pelo supermercado em Sabanitas e por um posto de gasolina, onde comprei 80 litros de diesel e 10 litros de gasolina para o gerador.

Ficamos na Ilha Linton exatamente hum mês e três dias, e aproveitamos pra continuar com as manutenções no barco. Instalei o dessalinizador e agora não mais precisamos carregar água em garrafões para encher os tanques do barco. Fiz isso tantas vezes que não me surpreenderia se sentir saudades! Ele faz perto de 35 litros/hora, e isso é mais do que suficiente para nos dois no barco. De agora em diante, banhos todos os dias! Não que não tomássemos banhos antes, mas eram banhos de toalhinha. Uma meia pia de água com sabonete para a esfregagem, e mais uma meia pia para a lavagem final, ou seja, com uma pia tomamos banho.  Estou mandando fotos do sistema instalado para apreciação dos leitores. Depois de instalado, no primeiro teste, um pequeno vazamento em uma coneção, das muitas que o sistema tem. Isso ajustado e agora só manutenção. Hum, tenho a impressão de que já usei essa palavra antes! Meus leitores devem pensar que só se faz manutenção quando se vive em um barco! O fato é que você esta sempre arrumando isso ou aquilo.

Alem do dessalinizador, desenvolvi um colhedor de água de chuva com uma capota velha do meu barco a motor, e com ela, enchi um dos tanques do barco. Estamos entrando em temporada de chuva e água não vai faltar. A água não me preocupa muito, mas os raios sim. Todos por aqui tem uma historia ou outra para contar sobre raios nos seus barcos.  O Guillermo do Tin Tin sugere que se tenha um cabo grosso preso aos brandais com presilhas duplas, sem curvas de ângulos agudos, e a ponta do outro lado descascada e trançada, com no mínimo um metro dentro d'água. Isso supostamente descarrega a eletricidade estática do barco, o tornando neutro na água, e com isso diminui a probabilidade do raio cair no barco, mas, se um cair, que o cabo ajuda a descarregar a carga para a água. Estou mandando fotos dos cabos que preparei. Agora os tenho permanentemente instalados, e os atiro na água no caso da incidência de raios por perto.

Como habito, vamos todos os dias no final da tarde alimentar os macacos e eles já se acostumaram conosco, acho. Pelo menos não nos atacam mais. Bom, pode ser que também não nos arriscamos mais! O único incidente novo foi quando eu estava alimentando a fêmea jovem, e a Lilian saiu da água, onde agora sempre ficamos, e entrou na ilha. A macaca simplesmente levantou, correu atrás da Lilian, e segurando ela com as duas mãos, tentou morder o traseiro dela! Dei um grito de !NÂO! e a macaca parece que ouviu, pois virou-se e fingiu que não tinha acontecido nada... A Lilian teve sorte, pois a mordida não conseguiu passar pela calça lisa que ela estava usando...

Fomos ficando cada vez mais amigos do Don. Ele vai todos os dias para a ilha de caiaque, levando sua cadelinha, a Babakuna, uma cachorrinha negra difícil de se ver a noite, que é tão temperamental quanto seu dono. Tem dia que me faz a maior festa, tem dia que me ataca sem qualquer motivo.  Numa das visitas ao barco do Don, o Windancer, conheci a jibóia que ele havia achado na ilha e estava agora criando no barco. Tiramos algumas fotos com ela, que ele chamou de Lili, em homenagem à Lilian.

Retornamos à casa do Roger e da Binnie, mas agora com a câmera que havíamos esquecido na ultima visita, conseguindo algumas fotos muito simpáticas dos bichos-preguiça, peixes, beija-flores e outros pássaros comuns na sua casa.

A rotina diária não muda muito, ou seja, não fazemos quase nada todos os dias, além dos afazeres normais como preparar comida, lavar louça, arrumar cama e limpar o barco, mas, sempre encontramos tempo para um mergulhinho. Num desses, encontrei um cavaquinho (tipo de lagosta) bem grande, como nunca havia visto no Brasil antes. Preparei e comemos. Estava delicioso! Uma carne meio adocicada e firme. Melhor do que a nossa lagosta de antenas.

Bom, para não dizer que não fazemos nada, fazemos mais um pouco de manutenção no barco! Dessa vez, o SSB começou a fazer muito ruído e quase não conseguia mais conectar no SailMail, o que sempre faço de manha e a noitinha. Primeiro pensei que era o cabo do controle do tuner. Desmontei e refiz. Como não melhorou, resolvi tirar o SSB de onde eu o havia instalado, logo abaixo do painel elétrico, e não deu outra! Lembram aquele vazamento de água salgada dentro do painel elétrico? Pois é, agora sabemos por onde escorre a água salgada que passa por ali! Bem dentro do SSB!!! Toca a desmontar a coisa toda, cheinho daquelas bolinhas e rolinhos comuns dentro de rádios, cuja função eu não faço a menor idéia, mas, como decidi ser capitão, tenho que topar qualquer parada dentro do barco! Limpei e lubrifiquei todo o radio com Corrosion X, principalmente as conexões e áreas onde  a corrosão parecia estar maior, remontei, e fui testar novamente. Melhorou, mas não resolveu. Então fui trabalhar no antena tuner. Limpei e lubrifiquei todas as conexões externas, e percebi que o final da antena, onde ela conecta no tuner, estava um pouco quebrado, e mais duro que o resto do fio, então refiz a conexão. Continuou melhorando, mas ainda não resolveu.  Então tentei uma experiência, aterrar o antena tuner por fora, usando um daqueles cabos de baterias que havia comprado em Colon, e percebi uma melhora significativa no radio. Isso me fez limpar a placa de cobre debaixo do barco, além de adicionar mais um cabo terra, só que dessa vez, no outro extremo da placa. A instalação original só tinha um cabo em um dos quatro parafusos da placa, e o Guillermo havia mencionado que a sua placa era conectada nos quatro parafusos.

O conjunto de todas essas coisas melhorou muito o uso do radio SSB. Como referencia, eu agora conecto ao SailMail e navego a velocidades muito acima das conseguidas pelos outros barcos por aqui. Foi bom ter trabalhado nisso tudo, pois descobri que o problema de serviço porco do estaleiro, onde entra água salgada dentro do paiol de eletricidade afeta outras áreas do barco, abaixo do painel. Agora fiz um saco plástico que deve segurar a água antes dela escorrer pelos equipamentos, além de cobrir o SSB e o Pactor Modem com capas plásticas para evitar que a água pingue em cima deles.

E por falar em serviço porco do estaleiro, estou mostrando uma foto do escapamento do barco, onde o contato entre a borracha do escapamento e o corte feito na estrutura de madeira do barco que esta rústica como uma lixa, com a vibração do motor, faz a borracha atritar com a madeira rústica, cortando a borracha. Acho que todos podem ter uma idéia da bomba relógio que isso é, pois quando cortasse a borracha toda, a água do escapamento sairia para dentro do barco, com a possibilidade de afundar o barco se o problema não fosse visto a tempo. A pergunta na cabeça continua, o que mais pode acontecer de errado devido ao serviço porco do estaleiro!

Seria ótimo se, ao invés do estaleiro ficar todo defensivo e ofendido com as minhas criticas, eles fossem ajustando esses problemas para evitar que os barcos novos tivessem esses mesmos problemas, além de revisando os barcos existentes para garantir que esses problemas não existem nesses barcos e se existirem que sejam sanados a tempo.

Mas, nem tudo é trabalho, nós também nos divertimos um pouco. Quase todas as manhas, enquanto o tempo estava ótimo por aqui, um cardume de bonitos vinha ao barco caçar os peixinhos que se escondiam na sua sombra. A velocidade dos peixes era tanta que chegávamos a perceber o impacto da água contra o casco do barco. Tentei um dia caçar um desses rápidos peixes, mas eles perceberam e se foram rapidinho. Mas, um dia da caça e outro do caçador, pois percebi que o que os espantava era meu pé de pato gigante, então, mergulhei pela plataforma do barco só de calção, mascara e arbalete, e rapidinho tínhamos peixe para o sashimi.

Aos que vem atrás de mim, um incidente com a Panamarina que vale reportar. Tem um aviso bem na cozinha da Panamarina onde diz que almoço é servido até as quatorze horas. Combinamos com o Guillermo de ir almoçar por lá e fazermos internet. Eles chegarem bem mais cedo, e nós seguíamos atrás. As 13:32h, estávamos os quatro prontos para almoçar, quando o Jean Paul começou a falar que ali não era self-service, que ele não ia servir ninguém àquela hora, bem embaixo da placa que dizia até as 14:00h. Fomos embora sem almoçar, e nos dirigimos ao restaurante do Hans, em Porto Lindo, onde comemos um belo polvo. Espalhamos a noticia dos maus tratos recebidos na Panamarina para todos na Ilha Linton, e o Jean Paul perdeu um bom negocio. Dizem que ele não era assim, que esta piorando a cada dia, e que tem preferência aos franceses.

Outro dia tivemos a visita do barco patrulha da guarda costeira Panamenha. Eles ancoraram na baia da Ilha Linton, mas não se acercaram de nenhum dos barcos. No dia seguinte seguiram viajem, acenando para alguns barcos mais próximos. Até hoje, nunca nos pediram qualquer documento do barco ou pessoal nosso, por nenhum lugar que passamos. Essa era uma duvida que eu tinha antes de estar aqui, se a policia viria com cães farejadores e coisas desse tipo, mas não vimos ou ouvimos nada de nenhum dos cruzeiristas que conhecemos. Na verdade, hoje sabemos que muitos estão ilegais com seus papeis. Melhor assim, não que queiramos ficar ilegais, mas o stress de policia vir a bordo não combina com o resto. A idéia é, sem stress!

Bom, como disse, amanha rumamos para o canal. Na segunda, vem um despachante que contratamos para cuidar da gente, sem stress! Ele se chama Tito e por aqui todos o conhecem. Ele cuida dos papeis, aluga os cabos de amarras e pneus para proteger os barcos, além de ajudar com transporte e outras necessidades para quando estivermos ancorados nos baixios designados para os veleiros que estão aguardando sua vez de atravessar o canal.  O Claudio Carillo e sua esposa, a Marília, meus amigos de infância, estão vindo de São Paulo para fazer a travessia conosco. Para a travessia, precisamos no mínimo de quatro ajudantes com amarras, aptos a ajustar as amarras, mais o capitão, mais um consultor do canal. Estamos em quatro, então nos falta mais um ajudante. Alguém se voluntaria?

Amanha levantamos ancora depois de 33 dias ancorados na baia da Ilha Linton. Vamos direto para Cristobal, na entrada do canal do Panamá do lado do Caribe. Serão 28 milhas, e o tempo esta tudo menos o que a meteorologia sugere. Mas, já passamos por muitas situações com mares bravos, e não deve chegar a tanto.

Na próxima coluna vou relatar mais das nossas aventuras no Panamá incluindo a travessia para o Pacifico.

Convido meus leitores a se comunicarem comigo pelo e-mail matajusi@gmail.com, e a acompanharem notícias sobre o Matajusi no site do projeto, www.matajusi.blogspot.com<http://www.matajusi.blogspot.com>.

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