segunda-feira, novembro 05, 2012

Outras experiencias em Madagascar:

Chegamos a Minorodo no dia seguinte da saida de Galions Bay, no meio do dia, depois de velejada tranquila, a maior parte somente de genaker. Passamos pelo passe sem incidentes, mas o vento rondou em seguida e tivemos um trabalhinho para recolher a genaker, pois o lugar onde o cabo da camisinha estava amarrado arrebentou e tive que trazer na marra, o que me custou alguns roxos nos dois braços.

Logo estavamos recebendo as boas vindas dos outros oito barcos ancorados na baia pelo VHF e o convite para drinks (BYOB) no Contrails não tardou muito depois disso. Demos uma ajeitada no barco, recebemos as primeiras canoas, mas sem artefatos para troca, somente pedindo algo. Acabamos distribuindo mais lapis com papel, e esmalte com acetona.

Ao entardecer, o pessoal do Taipan, Baraka, Elaine, e nós, nos reunimos no Contrails para drinks , aproveitando para trocar bastante experiencias sobre as nossas travessias. Nenhum de nós ia parar em Madagascar, mas o tempo estava anormal, sem possibilidades de atravessar para a Africa, entao os muitos barcos que partiram de Mauricio e Reunion, foram amontoando em Madagascar e Moçambique.

O vento na ancoragem de Minorodo estava forte, algumas vezes ultrapassando os trinta e cinco nós. Estavamos ancorados em cinco metros, com quarenta metros de corrente, mas naquela noite, entre a mudança de um vento Nordeste e um vento Sudoeste, o barco que estava com os quarenta metros esticados para Oeste, foi empurrado pelo vento, esticando oitenta metros para o Leste, dando um tranco bem forte na corrente. Sem saber, um elo da corrente se partiu nesse impacto, e ficamos amarrados no resto da corrente e na ancora por esse elo partido. Só soubemos disso no dia seguinte pela manha, quando resolvemos procurar ancoragens mais para o Norte e levantamos ancora. Foi de uma sorte incrivel a ancora não ter sido perdida, e não ficarmos sem ancora durante o resto da noite, com ventos acima dos trinta nós. Mais sorte ainda que nos dias seguintes o vento chegou aos cinquenta nós em Minorodo!

Pela manha, rumamos para Tulear, um porto de entrada de Madagascar a umas cento e trinta milhas mais ao norte de Minorodo, com ventos entre os vinte e cinco e trinta e cinco nós de Sudoeste, nem mexi na mestra. Fui somente com a genoa risada, e quando o vento apertou mais ainda, enrolei a genoa e abri a staysail até o final da travessia, na manha do dia seguinte.

Chegamos a Tulear e ancoramos ao Norte do porto, mas logo chegaram dois locais com uma canoa e disseram que ali era perigoso a noite, pois os bandidos da mafia local costumavam atacar barcos naquela area. Quando ele se apresentou como José, logo perguntei se ele era taxista, o que confirmou. Ai disse que já o conhecia de relatos de outros barcos que passaram por Tulear no ano passado. Com isso começamos uma amizade que durou até nossa partida. O Jose fazia de tudo que precisavamos e queriamos. Nos levou para fazer a documentacao de entrada, foi comprar diesel, trouxe duzentos e cinquenta litros de agua doce para cada barco, nos levava de manha para a cidade, nos levava ao mercado e supermercado, e combinamos uma viagem ao parque nacional de Isalo, a uns duzentos e cinquenta quilometros terra adentro. Fomos de manha e voltamos a noite do dia seguinte, pernoitando em um hotel perto do parque.

O parque custou vinte e cinco mil Airiares (1US$ = 2000A), mas para entrar tinha que contratar um carro, mais quarenta mil airiares, e tinha que ser acompanhado por um guia por mais quarenta mil airiares, ou seja, meio carinho. No parque vimos varios tipos diferentes de lemures e alguns pássaros unicos de Madagascar, tirando muitas fotos. Entravamos no parque de carro, e uns tres quilometros adentro, o carro para em um estacionamento e continuamos a pé. Existem muitas trilhas e muitas atraçoes, mas nosso interesse era somente nos lemures, então caminhamos não mais do que uns tres quilometros entre ida e volta da area dos lemures. No caminho consegui ver um lemur de rabo com aneis branco e preto, da raça Maki, mas no parque não conseguimos encontrar nenhum, por mais que eu tenha entrado mata adentro.
Depois de uma noite relativamente bem dormida, por conta de um pernilongo que conseguiu entrar dentro da tela que cobre a cama, mas como as luzes se apagam as vinte e uma horas, entao foi caça ao pernilongo á luz de vela e finalmente conseguimos dormir em paz depois de esmagar o abusado.

Mais duzentos e cinquenta quilometros de volta, uma viagem que passa por varias aldeias das mais diversas, desde as mais pobres, até as bem ricas, nas areas de mineraçao de safiras. Na chegada de volta a Tulear, o Jose, que ficou chateado por não termos conseguido ver os Makis no parque, nos levou ao Hotel LaLa, onde havia um casal dentro de uma pequena jaula, que para nossa surpresa tinha tido um bebê Maki recentemente. Fui logo comprar bananas para alimentar o casal, pois o bebê ficava mamando quase que o tempo todo, e os animais não aparentavam estarem bem alimentados. Durante os dias que ficamos em Tulear, sempre que possivel, eu comprava bananas e ia alimentar o casal de Makis no Hotel. Eles me ofereceram levar o bebê, e a tentaçao era grande, mas, imaginem, eu com um lemur Maki em São Paulo, então, mesmo sabendo que aquele bebê teria uma vida muito melhor comigo do que naquela jaula, entendi que lugar de lemur é em Madagascar.

Almoçamos todos os dias no Bo Beach, um bar-restaurante onde os estrangeiros se encontram em Tulear. Sempre muitos estrangeiros, e muitas mocinhas locais procurando arrimo... Tulear é uma cidade com sessenta mil habitantes, muitos morando em casebres minusculos, alguns feitos somente com arbustos secos, com muita gente nas ruas, andando de lá para cá, e um veiculo bastante interessante, os push-push, pequenas carroçinhas movidas por um homem a pé, que podem levar até tres pessoas. Não esperimentamos uma por falta de oportunidade. Os produtos do mar são abundantes, mas, sem refrigeraçao não duram muito. Carne de cabra esta sempre disponivel, mas também sem refrigeraçao e com muitas moscas em cima. Fomos muito bem recebidos em Tulear, e não tivemos qualquer incidente desconfortavel. O Chefe de Policia local, que fêz a nossa entrada, dedicou dois seguranças para tomarem conta dos barcos dia e noite, e os pôs responsaveis por qualquer problema. Documentação de entrada e saida foi rapida e sem complicaçoes.

No total ficamos uma semana em Tulear, sempre esperando uma janela de tempo para atravessar para a Africa do Sul e finalmente zarpamos numa quinta-feira onde a janela estava ruim para a saida, mas parecia ser boa para a chegada em Richards Bay. Com ventos acima dos vinte nós, saimos de Tulear as quatorze horas, só para encontrar um tremendo swell logo fora dos recifes que cobriam a area do porto. Foram dois dias de muita ondulação e ventos fortes, mas como a janela prometia, seguimos direto na direçao de Richards Bay na Africa do Sul, ao invés de seguir na direcáo mais a Oeste da costa de Moçambique que oferece algumas ancoragens mais protegidas. Muitos barcos já estavam por lá, e quase todos sairam dois dias depois que saimos de Tulear, mas nós tinhamos umas quatrocentas milhas a mais para atravessar, pois estavamos vindo do Oeste de Madagascar. Hoje, segunda-feira, quatro dias depois da nossa saida de Tulear, estamos atravessando a temerosa corrente de Agulhas, a cento e cincoenta milhas de Richards Bay, onde chegaremos amanha a noite. Nossa janela foi bem escolhida, e fora a dureza da saida, o resto da travessia foi bastante confortavel.
MATAJUSI Navegation Information:
At 11/5/2012 08:56 (utc), Position was 27°23.62'S 035°38.62'E, Direction was 233T, Speed was 5.4

----------
radio email processed by SailMail
for information see: http://www.sailmail.com